O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 13 de abril de 2019

Visita à Casa Stefan Zweig em Petropolis, 13/04/2019

Aproveitando uma estada em Petrópolis para um seminário da Liberty Foundation sobre temas de economia e direito, fui visitar, neste sábado, a famosa casa onde morou, por poucos meses, e morreu (em duplo suicídio, com sua segunda esposa Lotte) o famoso escritor austríaco Stefan Zweig, de quem já li inúmeras obras.
Vale a pena a visita, a despeito de a Casa ser pequena, mas acolhedora:
http://www.casastefanzweig.org/sec_casa.php
Estão ali livros e pertences pessoais de SZ, inclusive a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul, que lhe foi concedida postumamente pelo governo brasileiro.
Aproveitei para comprar mais um livro (já tenho vários) de SZ, este aqui:

O site da Casa SZ tem muitos materiais interessantes. Acabo de assistir a um curto documentário sobre o embaixador Souza Dantas:
http://www.casastefanzweig.org/sec_video_view.php?id=26
Também tem uma exposição temporária em curso:

Paulo Roberto de Almeida
Petrópolis, 13 de abril de 2019

Diplomacia: a improvavel demissao do titular nominal

Improvável porque sua permanência preenche um serviço aos verdadeiros donos do “pedaço”, como diriam os chefes de milícias. Mantém as aparências.


Por incompetência, Ernesto Araújo pode ser o próximo a ser demitido. Por Ivanir José Bortot

Publicado originalmente em Os Divergentes:
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se colocou na linha de tiro do Presidente Jair Bolsonaro que, como tem dito o Porta-voz do Planalto, Rêgo Barros, “é muito bom de pontaria”.
A demissão do Presidente da Agência Brasileira de Promoções de Exportação e Investimentos (Apex), o embaixador Mário Vilalva, e o afastamento do embaixador, Sergio Amaral, da Embaixada de Washington, feitas nesta semana por Ernesto Araújo, contribuiu para lhe colocar nesta posição indesejada.
A insatisfação com o desempenho de Ernesto Araújo envolve outras trapalhadas, algumas que acabaram prejudicando o próprio presidente da República em suas viagens ao exterior e outros o desempenho do próprio Itamaraty.
No primeiro caso, a mais emblemática falha de Ernesto Araújo, que afetou o desempenho de Bolsonaro, foi na sua viagem ao Chile. O Itamaraty não brifou e preparou as intervenções de Jair Bolsonaro na reunião da cúpula do Prosul, com presidentes de diversos outros países. As falas de Bolsonaro não tinham foco, informações e dados, o que acabou o deixando mal na foto diante dos demais presidentes da República em reuniões reservadas.
O embaixador Sérgio Amaral, tido como pessoa competente por militares do Planalto para ficar em Washington, vai cuidar de um escritório em São Paulo. A mesma sorte não tiveram outros embaixadores que foram destituídos de seus postos no exterior e hoje são obrigados a dar expediente em uma sala do Itamaraty, onde nada têm a fazer.
Neste caso é no mínimo um desperdício de recursos públicos e experiência profissional de um País que está cortando na carne para equilibrar suas contas.
A única atuação diplomática de impacto econômico esta semana, não teve o protagonismo do Itamaraty. O jantar do Presidente Jair Bolsonaro com 37 embaixadores Islâmicos de países importadores de alimentos do Brasil foi organizado pela Confederação Nacional da Agricultura e o Ministério da Agricultura. Ambos estão preocupados com o impacto nas exportações do Brasil em função dos acordos feitos com Israel. As palavra de diálogo e manifestação de confiança nas relações de comércio foram de Bolsonaro e Tereza Cristina. Chamou a atenção dos embaixadores Islâmicos que o ministro Ernesto Araújo não disse uma só palavra.
Apesar de inúmeros alertas da área militar do Planalto de que falta a Ernesto Araújo as atribuições para bem representar o Itamaraty e cuidar dos negócios do Brasil no exterior, informações de fontes do Planalto são de que Bolsonaro só ainda não apertou o gatilho por atender a apelo de seus filhos.


Peter Hakim e Ricupero falam sobre os 100 dias na diplomacia - RFI

Publicado em • Modificado em 

Política externa nos 100 primeiros dias de Bolsonaro provoca danos à imagem do Brasil

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O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington (EUA).19/03/19 Alan Santos/PR
           

Simon Schwartzman sobre o ensino secundario - Academia Brasileira de Letras

Cientista político Simon Schwartzman fala na ABL sobre o tema ‘Perspectivas do novo ensino médio brasileiro’

O cientista político Simon Schwartzman faz na Academia Brasileira de Letras, a segunda palestra do ciclo de conferências “A educação no Brasil de hoje”, sob coordenação do Acadêmico e professor Arnaldo Niskier. O evento está programado para o dia 18 de abril, às 17h30min, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro). Entrada franca.
Serão fornecidos certificados de frequência.
A Acadêmica Ana Maria Machado é a Coordenadora-Geral dos ciclos de conferências de 2019.

Acadêmico Arnaldo Niskier convida para o ciclo "A educação no Brasil de hoje"
O ciclo terá mais uma palestra, dia 25 de abril, também uma quinta-feira, no mesmo local e horário, intitulada Os desafios da educação a distância, com Celso Niskier.
Schwartzman adiantou, sobre seu tema que, em setembro de 2017, foi sancionada a nova lei que reformula o ensino médio brasileiro, com a previsão de que ela deveria começar a ser implementada em 2021. Essa lei teve por objetivo lidar com o grave problema dos altos níveis de evasão e a falta de qualificação profissional para os milhões de jovens que todos anos buscam o ensino médio, mas não continuam estudando no nível superior. Ao invés de um currículo único, a nova legislação permite que os estudantes escolham um entre vários “itinerários formativos”, entre eles o de formação vocacional de nível médio que até então era tratada como formação complementar.
“Às vésperas de sua implementação, existem muitas dúvidas e incertezas sobre como esta lei será implementada. Essas incertezas têm como pano de fundo a grande quantidade de jovens que chegam ao ensino médio com graves deficiências de formação em áreas fundamentais como o uso da língua e o manejo de operações matemáticas simples. Nessa apresentação, pretendo discutir alguns dos dilemas centrais que devem ser enfrentados nesta transição, que se referem à maneira pela qual os diferentes públicos que chegam ao ensino médio devem ser atendidos, a divisão e posterior relacionamento entre a parte geral e as partes diferenciadas do novo currículo, a questão da transição entre o ensino convencional, organizado por disciplinas, e a atual proposta de organizar a educação em termos de habilidades e competências, e a questão de como lidar com o ensino técnico, ou vocacional, no contexto do novo ensino médio”, afirmou o palestrante.
O CONFERENCISTA
Simon Schwartzman estudou sociologia e ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais, tem um mestrado em sociologia pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO, Chile), e é doutor em ciências políticas pela Universidade da California, Berkeley. Nos últimos anos, tem trabalhado em temas de educação, ciência e tecnologia e políticas sociais. Foi professor da Universidade Federal de Minas Gerais, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas.
Na Universidade de São Paulo, foi professor de Ciência Política e diretor científico do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior entre 1990 e 1994, e Presidente do IBGE entre 1994 e 1998. Foi professor visitante nas Universidades de Columbia, Stanford, California/Berkeley e Harvard, nos Estados Unidos. É membro da Academia Brasileira de Ciências, Grão Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e Comendador da Ordem Nacional do Mérito Educativo. Seu livro mais recente é Situação e Caminhos do Ensino Médio e Técnico no Brasil, São Paulo, Fundação Santillana 2016.
Schwartzman é autor de, entre outros, Education in South America. London: Bloomsbury, 2015; Higher Education in the BRICS Countries - Investigating the Pact between Higher Education and Society (com Romulo Pinheiro e Pundy Pilay), Springer, 2015; Brasil: A Nova Agenda Social (com Edmar Bacha). Rio de Janeiro, LTC, 2011; Políticas Educacionais e Coesão Social – Uma Agenda latino-americana (com Cristian Cox), Rio de Janeiro, Elsevier; São Paulo: iFHC, 2009; University and Development in Latin America. Successful Experiences of Research Centers. Global Perspectives on Higher Education volume 14. Rotterdam: Sense Publishers, 2008; Os Desafios da Educação no Brasil (com Colin Brock), Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2005; Pobreza, exclusão social e modernidade: uma introdução ao mundo contemporâneo. São Paulo, Augurium Editora, 2004; As causas da pobreza, Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2004; A Escola vista por dentro, com João Batista Araújo e Oliveira, Belo Horizonte, Alfa Educativa, 2002; Bases do Autoritarismo Brasileiro, Editora Unicamp, 5ª edição, 2015; Um Espaço para a Ciência: Formação da Comunidade Científica no Brasil, 4ª edição, Editora da Unicamp, 2015e The New Production of Knowledge (com Michael Gibbons, Martin Trow, Peter Scott, Helga Nowotny e Camille Limoges, Sage,1994.
11/04/2019

Governo Bolsonaro: entre o mediocre e o desastroso - seminário IBRE-FGV/Estadao


Realmente preocupante que o governo, com pouco mais de 3 meses, já esteja sendo classificado entre o medíocre e o desastroso.
Paulo Roberto de Almeida


Mediocridade estável ou ruptura?
Fernando Dantas 
O Estado de S. Paulo, 12 de abril de 2019 | 21h37

No seminário “100 dias do governo Bolsonaro”, realização conjunta do FGV/Ibre e Grupo Estado, predominou uma visão bastante sombria sobre as perspectivas do Brasil no mandato do atual presidente.
O seminário “100 dias do governo Bolsonaro”, realização conjunta do Grupo Estado e FGV/Ibre, não foi exatamente animador para a plateia que acorreu nesta sexta-feira (12/4) ao auditório do Centro Cultural da FGV, no Rio, para ouvir a análise de especialistas do Ibre e outros convidados. A mediação dos debates ficou a cargo dos jornalistas do Grupo Estado Celso Ming e Adriana Fernandes.
Talvez, para mostrar de forma mais clara o pessimismo predominante, seja preferível começar pelos pontos positivos do governo até agora apontados pelos participantes – e em seguida indicar como o lado negativo sobrepuja amplamente os primeiros.
Assim, verificou-se quase consenso entre os debatedores, a partir do diagnóstico inicial de Armando Castelar, do Ibre, de que houve uma surpresa positiva em relação a Paulo Guedes e sua equipe econômica, que se revelaram mais competentes e disciplinados do que se entrevia no fragor da campanha.
Uma área também considerada satisfatória – embora bem aquém do prometido – foi a de concessões e privatizações. De fato, como notou Manoel Pires (Ibre), não havia a menor chance de privatizar R$ 1 trilhão no primeiro ano, como prometido. Mas houve avanços nas concessões e não foi nessa seara que o governo tropeçou nos seus 100 primeiros dias.
A reforma da Previdência, um copo meio cheio e meio vazio, é um bom tópico para passar dos acertos para os muitos erros e problemas acumulados por Bolsonaro neste início de governo.
Houve consenso no seminário na previsão de que o Congresso aprovará uma versão substancialmente desidratada do projeto enviado pelo governo, e que a aprovação final tomará bem mais tempo do que gostaria a equipe econômica – talvez em torno de um ano, na visão de Pires.
Alguns debatedores, como Bruno Ottoni (Ibre), opinaram que teria sido melhor tentar aprovar rapidamente, no início do governo, o projeto de Temer que já tinha passado na Comissão Especial da Câmara.
O raciocínio é que o nível de desidratação da proposta de Bolsonaro – que na forma original visa economia fiscal de R$ 1,1 trilhão em dez anos – acabará levando o ganho para perto dos mesmos R$ 600 bilhões do projeto de Temer aprovada na comissão.
Então, para que perder tempo? Esta é uma pergunta relevante dado que, como notou Silvia Matos (Ibre), a onda de otimismo com a eleição de Bolsonaro no final do ano passado se esvaziou.
Os prognósticos de crescimento do PIB em 2019 saíram de 2,5% para 2%, e têm cara de estar rumando para 1,5%. Castelar notou que o momento em que as projeções começam a cair fortemente do patamar de 2,5% coincidiu com a recente briga entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Um sinal de que a incerteza sobre a Previdência – e, consequentemente, sobre o futuro da solvência pública – está pesando na confiança de investidores e consumidores, e freando a já combalida recuperação econômica. Nesse sentido, a perspectiva de que a aprovação vai demorar, sem que saiba qual o teor de desidratação da versão final, deve prolongar incertezas e machucar ainda mais a economia.
Isto, por sua vez, tende a piorar a popularidade de Bolsonaro, que caiu muito rapidamente e já está num nível bastante baixo para um presidente que supostamente estaria gozando da sua lua de mel com o eleitorado.
O que nos leva à política, a área em que o quase consenso do debate foi de que as coisas estão indo muito, muito mal.
Tanto Carlos Pereira quanto Octavio Amorim Neto, ambos cientistas políticos da Ebape, consideram um erro gravíssimo de Bolsonaro ignorar as regras do jogo do presidencialismo de coalização e tentar governar sem uma base estável no Congresso.
Para Pereira, é grande insensatez demonizar o que considera como “moedas de troca legítimas” do presidencialismo multipartidário na relação entre Legislativo e Executivo: distribuição, proporcional ao peso dos partidos na base, de cargos no Ministério e na burocracia federal; e liberação de emendas orçamentárias de interesse local para os parlamentares da base. Bolsonaro nem base montou.
Discutiu-se, no encontro, sobre como o Congresso pode estar ocupando o vácuo deixado pela não participação do governo na “velha política”, com a emenda – aprovada em tempo relâmpago nas duas Casas – do Orçamento impositivo (e como isto acaba com uma das “moedas de troca”).
E cogitou-se que Bolsonaro talvez esteja conseguindo, de fato, jogar um pouco sobre o Congresso a responsabilidade pela aprovação da Previdência, mas numa estratégia temerária, já que ao fim e ao cabo é o Executivo que acaba recebendo a conta de perda de popularidade se a economia vai mal.
Neste ponto, Roberto Fendt, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil China – e único dos debatedores com uma visão menos pessimista – sustentou que Bolsonaro estaria efetivamente, e com razão, forçando o Congresso a assumir também sua parte de responsabilidade pela gestão do País. Mas foi uma posição isolada no debate.
Pereira notou que a literatura de ciência política mostra que presidentes populistas como Bolsonaro são bem-sucedidos apenas no início de mandato em emparedar o Congresso, com apelos plebiscitários à população, para conseguir a aprovação de suas medidas. O mais grave neste início de governo para o pesquisador, no entanto, é que nem esse poder inicial Bolsonaro parece ter conseguido. O capital político derrete sem nenhuma vitória com a estratégia plebiscitária.

O Velho e o Mar
Já Amorim Neto foi muito feliz ao usar como metáfora o conto “O Velho e o Mar”, de Hemingway, para definir o que seria uma suposta “vitória” de Bolsonaro na reforma da Previdência e na agenda liberal, com a estratégia de formar maiorias no varejo a cada votação no Congresso. Nesse caso, os parlamentares ficam livres para “encarecer” os seus votos à cada nova rodada.
“O governo vai lutar muito para pescar o Marlim, mas quando o barco voltar a porto só vai chegar o esqueleto, porque os tubarões de sempre terão, de naco em naco, devorado toda a carne”, disse o cientista político.
Os “tubarões” são uma óbvia referência aos grupos de pressão que lutam para manter seus privilégios no âmbito das mudanças na Previdência e outras medidas de teor liberal (como o combate aos subsídios).
Mas se, de fato, o pessimismo predominante no seminário se confirmar, onde vai desembocar o governo Bolsonaro?
Para Pessôa, vai dar numa mediocridade com baixo crescimento, mas sem “ruptura”, porque há quatro importantes amortecedores: grandes reservas internacionais (com posição líquida em dólares do setor público), baixos juros e inflação, a provável aprovação de uma reforma da Previdência (ainda que muito desidratada) e a emenda do teto dos gastos.
Veloso, no entanto, contrapôs que a previsão de mediocridade estável de Pessôa está olhando apenas o mercado. Na opinião de Veloso, um eventual (e bastante possível) fiasco do governo Bolsonaro, numa situação de penúria econômica e grandes tensões sociais, tem boas chances de levar a um desfecho desastroso. Pessôa concordou que sua visão de estabilidade olhava fundamentalmente para o mercado, e não para a sociedade.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/4/19, sexta-feira.