Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
Eu nunca chamaria os diplomatas que rejeitam a atual política externa, do governo Bolsonaro, de "desalentados". Ao contrário, se trata de resistentes à subissão da diplomacia bolsolavista ao governo Trump, suas posturas antidiplomáticas em praticamente todas as vertentes da agenda internacional, multilateral, regional e bilateral.
Esse trabalho de resistência vai continuar.
Eu mesmo pretendo lançar mais um livro proximamente.
Paulo Roberto de Almeida
"Desalentados", grupo de diplomatas propõe política externa pós-Bolsonaro
Os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros líderes mundiais, o alinhamento aos EUA e a maneira como o governo tem lidado com a Amazônia e a pandemia de covid-19 têm deixado um grupo de diplomatas preocupado com a reputação do país no exterior. Por isso, lançarão na próxima semana um documento com sugestões para "reconstruir" a política externa após o fim do atual governo.
Na próxima terça-feira (8), às 15h, os ex-embaixadores Celso Amorim e Rubens Ricupero, que não participaram da construção do documento, mas interpretam a iniciativa como uma forma de demonstrar "desalento" com o momento atual vivido pelo Itamaraty, participam de debate virtual para o lançamento da carta de metas. A mediação será da professora Suhayla Khalil, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e a transmissão ocorrerá pelo YouTube, Facebook e no UOL.
"Isso reflete um momento de tremendo desencanto com o que está ocorrendo na política externa", opina o ex-chanceler Celso Amorim em entrevista ao UOL. "A gente tem visto outros diplomatas veteranos que estão todos muito chocados com os rumos que o Brasil tem tomado. Eu acho que isso chegou aos jovens diplomatas também. Os jovens estão muito desalentados."
Antonio Cottas, diplomata licenciado que idealizou o projeto, explica que o documento reúne sugestões de outros diplomatas, servidores públicos e especialistas na área de relações internacionais para "recuperar" a reputação do Itamaraty. "O primeiro projeto público de uma política externa pós-bolsonarista parte da constatação de graves danos à reputação e aos interesses do Brasil causados pelo atual governo", diz a nota de divulgação do evento.
"Já passado um ano e meio, o governo não tem sido capaz de apresentar resultados concretos. Pelo contrário, tem colocado o Brasil em grandes dificuldades com países parceiros", afirma Cottas.
"Esse pessoal de agora fez uma mudança radical no organograma logo no começo do mandato. Isso causou uma dor de cabeça enorme para um monte de gente, para o funcionamento do ministério, e obteve resultados muito duvidosos. Muitas pessoas estão se sentindo constrangidas em defender algumas políticas desse governo e estão preferindo ir para postos ou designações um pouco mais 'low profile'".
Entre os descontentamentos, o diplomata aponta o alinhamento automático aos Estados Unidos, defendido pelo presidente brasileiro. Segundo ele, o comportamento do país arranha a imagem até mesmo aos olhos dos EUA.
"Vamos ter uma política externa sensata. Nada de alinhamento automático e submissão aos Estados Unidos. Primeiro porque eles não respeitam isso. Para um país com as dimensões do Brasil, não tem como você se alinhar a uma grande potência. Fora que isso é constrangedor e humilhante", diz.
"Isso não é um alinhamento. Alinhamento foi na época do Castelo Branco, do Juracy Magalhães. Isso é submissão", concorda Amorim. "Nas grandes questões globais, que o Brasil não teria um grande interesse, ele seguia os Estados Unidos. Agora não. Mesmo em coisas importantes. Por exemplo, o Brasil tinha um candidato ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Os EUA, rompendo com uma tradição de 60 anos, lançam um candidato e o Brasil solta uma nota elogiando. Isso aí não tem paralelo", exemplifica.
A questão ambiental é outro ponto citado pelos diplomatas que afeta, inclusive, o acordo Mercosul-União Europeia, celebrado pelo governo. Países europeus se mostram inseguros de firmar o acordo após o episódio das queimadas na floresta Amazônica, negadas pelo presidente. O próprio vice-presidente Hamilton Mourão já disse que vê o acordando "naufragando".
"Eu creio que nem os europeus, nem o Mercosul deseja propriamente liquidar a possibilidade de que o acordo venha a existir no futuro. Mas ele está condicionado a que haja uma mudança real na política de meio ambiente do Brasil", diz Rubens Ricupero, que também foi ministro do meio ambiente durante o governo Itamar Franco.
"Quem criou o problema foi o Brasil, porque o acordo estava indo muito bem. A Alemanha tinha interesse em levar adiante, mas o que aconteceu na Amazônia, evidentemente, paralisou tudo. E já houve dois parlamentos, o da Holanda e o da Irlanda, que votaram resoluções contrárias ao acordo", completa.
"O governo todo festejou o acordo Mercosul-União Europeia. O próprio chanceler festejou porque estávamos negociando há vinte anos. Depois, tudo o que o Brasil fez foi para sabotar o acordo. Brigou com a França. Brigou com a Alemanha. Tratam de mudança climática de maneira vexatória que nos expõe no mundo inteiro. Tudo isso torna o acordo impossível", opina Amorim.
Segundo os embaixadores, o histórico pragmatismo do Itamaraty, que antes tornava o Brasil um país amigável para participar de inúmeras discussões sensíveis da política internacional, se perdeu com a chegada da ideologia encampada por Bolsonaro, em especial em temas de direitos humanos, desmatamento e saúde. Com a pandemia de covid-19 e a consolidação do país como epicentro da doença, a reputação foi novamente afetada.
"Já tínhamos uma imagem péssima por muitas razões", diz Ricupero. "O fato de que o presidente faz apologia da ditadura e da tortura; que tem essa atitude hostil à política de gênero; o problema dos povos indígenas; os incêndios da Amazônia. E agora em cima de tudo isso, é o país percebido como o pior do mundo no combate à pandemia. Nenhum país do mundo mudou três vezes de ministro da Saúde em plena pandemia. E agora, como se não faltasse ainda, essa declaração sobre a vacina, que é a única esperança que se tem agora."
O ex-embaixador diz que recuperar a reputação pode ser um processo lento. "Ainda que daqui dois, três anos se tenha outro governo e uma política externa muito superior à atual, as pessoas no exterior vão sempre lembrar deste momento de mergulho e vão dizer 'que confiança nós podemos ter um país que teve oscilações tão grandes?'".
Ambos os embaixadores enfatizam que leram o documento a ser divulgado e não concordam necessariamente com todos os pontos, mas consideram importante a ação. "Eu fico com muita admiração pela coragem desses jovens. Entendo que muitos deles provavelmente estão em serviço ativo", completa Amorim.
De seus povos, de sua água, dos animais, daquela imensidão toda. Como transformar esse patrimônio em motivo de orgulho e preservação? Líderes indígenas, cientistas e fotojornalistas indicam caminhos possíveis para evitar que ela seja devastada.
Neste dia 5 de setembro celebramos a Amazônia, um dos maiores patrimônios naturais da humanidade.
A seguir, conteúdos de Semana da Gama e indicações de leitura do Nexo Jornal que falam sobre preservação, desmatamento, os povos tradicionais que ali habitam, passado, presente e futuro da maior floresta tropical do planeta.
Gazeta do Povo é um jornal declaradamente conservador, e até pode ser acusado de direita e reacionário. Os filmes que o jornal considera como sendo conservadores, não precisam ter essa vertente política ou filosófica para serem grandes filmes, basta serem grandes obras de arte para que se possa apreciá-los. Paulo Roberto de Almeida
“Onde Está Segunda?”
Com ares de superprodução, este título da Netflix traz um futuro distópico muito parecido com o período da política do filho único da China . Ninguém pode ter mais que um filho e o Estado totalitário controla todos de forma rígida para que isso seja cumprido. Um bom exemplo de um filme cheio de ação e com grandes atores que pode funcionar como um alerta para algo que pode ocorrer no futuro. Duvida? Pergunte aos chineses que conviveram com esse regime entre 1980 e 2016.
Como as coisas mudam em três anos. Em 2017, quando estreou, “O Destino de Uma Nação” fez justiça com a história de Winston Churchill , um homem que, apesar de todos os seus defeitos, guiou a Inglaterra, praticamente sozinho por um bom tempo, contra o domínio alemão na Europa. Foram tempos difíceis, que o filme mostra com precisão. Por isso, em tempos nos quais autoproclamados antifascistas atentam contra a estátua de Churchill em Londres, “O Destino de Uma Nação” tenha seu valor renovado justamente por enaltecer o maior antifascista de todos os tempos.
Um bairro negro na periferia de Los Angeles provavelmente não é o primeiro lugar que vêm à mente das pessoas quando alguém fala em caubóis americanos. Mas, como mostra o documentário “Fire on the Hill”, o bairro de Compton, um dos mais violentos do país, é um celeiro de peões de rodeio . O filme conta a história do estábulo conhecido como “The Hill”, formado para dar uma alternativa de vida aos jovens da comunidade. Além de mostrar que a força moral do indivíduo é capaz de superar a influência negativa do meio, o documentário desmonta alguns mitos da esquerda americana sobre o chamado racismo sistêmico. Vale a audiência.
Quanto dinheiro é dinheiro demais? O documentário “A Geração da Riqueza” mergulha no universo dos super-ricos – ou dos super-fúteis – para explorar essa pergunta. A diretora Lauren Greenfield, reuniu 25 anos de material neste filme, o que permite acompanhar a evolução de algumas das pessoas retratadas. Spoiler: a obsessão pelo dinheiro, pela fama e pela aparência não costuma levar a grandes resultados. E, embora essa crítica seja feita mais pela esquerda do que pela direita, é bom lembrar que existe uma longa tradição conservadora contra o materialismo exacerbado. Como dizia Aristóteles, a felicidade não depende do acúmulo de dinheiro, mas do cultivo das virtudes.
Pouco conhecida fora da República Checa, Milada Horakova foi uma heroína cuja história ainda impressiona: perseguida por nazistas e por comunistas, ela não se dobrou - e pagou caro por isso. “Milada”, que conta esta história, também funciona como uma alegoria da então Checoslováquia, que foi violada tanto pelo exército de Hitler quanto pelos soviéticos (embora estes, em tese, se apresentassem como libertadores). Poucas pessoas enfrentaram tão abertamente os dois regimes mais assassinos que a Europa já conheceu. “Milada” é, por isso, uma ode ao valor da convicção individual e do amor à pátria diante do totalitarismo.
“Uma Viagem Extraordinária”
São poucos os filmes que conseguem retratar a riqueza do universo infantil sem, entretanto, serem filmes infantis. “Uma Viagem Extraordinária” está nesta lista. A obra gira em torno de T.S. Spivet, um garoto de inteligência rara que vive em uma fazenda em Montana. Ao ganhar um prêmio científico, ele decide atravessar o país sozinho para receber a comenda. Com uma fotografia belíssima e atuações cativantes, “Uma Viagem Extraordinária” mostra que as luzes da cidade grande não são capazes de substituir o afeto da família.
“O Contador de Auschwitz”
Um dos grandes debates morais provocados pelo terror do Holocausto envolveu os limites da responsabilidade individual. Se uma engrenagem oficial foi montada para exterminar judeus, cada indivíduo é apenas uma peça nesse sistema. O mal se torna banal, como descreveu a filósofa Hannah Arendt. O documentário “O Contador de Auschwitz” acompanha o julgamento de Oskar Gröning, que aos 93 anos de idade finalmente foi levado ao tribunal por ter atuado no campo de concentração . A pergunta-chave do filme vem de um dos entrevistados: “Se você pune um homem de 93 anos por algo que ele fez quando tinha 23, você ainda está punindo a mesma pessoa que cometeu o crime?” O documentário responde a pergunta mostrando o depoimento de vítimas do nazismo.
“Partida Fria”
Em plena Crise dos Mísseis (o momento mais tenso da Guerra Fria), o melhor enxadrista americano viaja à Polônia para enfrentar o campeão soviético. Esta é a trama de “Partida Fria”, que é menos sobre o jogo de xadrez e mais sobre os subterfúgios das duas potências para descobrir segredos de Estado do inimigo. Embora a história seja fictícia, o filme dirigido pelo polonês Lukasz Kosmicki retrata com realismo a brutalidade e falta de princípios do regime comunista. Além disso, tomando a partida de xadrez como uma metáfora da Guerra Fria, a obra também destaca o papel da Polônia no jogo de interesses da geopolítica do pós-guerra.
“Dezessete”
O filme “Dezessete”, é uma espécie de Dom Quixote da Espanha pós-recessão econômica . Nele, dois irmãos desajustados, acompanhados pela avó moribunda, viajam pelo território espanhol em busca de um cachorro desaparecido. Na jornada, eles acabam estreitando os laços e se deparando com os próprios defeitos. O filme retrata, com um certo ar de desolação, uma geração sem vínculos com o lugar de origem e sem grandes propósitos na vida. Ao seu modo, “Dezessete” reforça o argumento conservador em favor de famílias fortes e comunidades fortes - e demonstra que é possível aprimorar as virtudes mesmo em situações pouco propícias.
A capa da Foreign Affairs é bastante eloquente: Trump criou um mundo fragmentado, dividido, esfacelado. Essa é a sua herança. Se ele continuar mais quatro anos, o mundo estará irremediavelmente pior do que antes. O mesmo ocorre no Brasil: se tivermos continuidade do atual desgoverno, o Brasil se atrasará por um delegando período de retrocessos. Paulo Roberto de Almeida
What’s Inside
After nearly four years of turbulence, the United States is increasingly isolated and prostrate—but there’s no going back.
How will historians judge President Donald Trump’s handling of American foreign policy? Not kindly, writes Margaret MacMillan in this issue’s lead package. After nearly four years of turbulence, the country’s enemies are stronger, its friends are weaker, and the United States itself is increasingly isolated and prostrate.
Richard Haass notes that “Trump inherited an imperfect but valuable system and tried to repeal it without offering a substitute.” The result, he claims, “is a United States and a world that are considerably worse off.” Dragging his party and the executive branch along, the president has reshaped national policy in his own image: focused on short-term advantage, obsessed with money, and uninterested in everything else.
His opponent has pledged to repudiate Trump’s approach if elected, embracing international cooperation and restoring American global leadership. But is that even possible now? Most of the world looks at Washington with horror and pity rather than admiration or respect, and the one thing many of Trump’s domestic supporters and critics agree on is there’s no going back.
“Washington cannot simply return to the comfortable assumptions of the past,” argues Nadia Schadlow, a former deputy national security adviser in the Trump administration. Great-power competition is inevitable, and multilateral cooperation is for suckers. Ben Rhodes, who also served as a deputy national security adviser, but in the Obama administration, agrees that the liberal international order is defunct. Rather than try to revive it, he wants Washington to shape a new and better one by checking its privilege, avoiding hypocrisy, and attacking global inequality.
From that perspective, the mass protests against racism that erupted this past spring after the police killings of George Floyd and other Black Americans represent not just a national reckoning but also a call to arms, as the issue’s second package explains. Keisha Blain shows that the struggle for civil rights in the United States has always been part of a global struggle for human dignity. Suzanne Mettler and Robert Lieberman observe that tense debates over national identity grow even more dangerous when played out against a backdrop of political polarization, economic inequality, and concentrated executive power. Fortunately, Laurence Ralph points out, at least in the case of police reform, there are good international models to follow—although little evidence yet that Americans are prepared to adopt them.
“America is not a lie; it is a disappointment,” the political scientist Samuel Huntington once wrote. “But it can be a disappointment only because it is also a hope.” The challenge now is to keep that hope alive.