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sábado, 5 de setembro de 2020

Grupo de diplomatas propõe política externa pós-Bolsonaro - Carolina Marins (UOL)

Eu nunca chamaria os diplomatas que rejeitam a atual política externa, do governo Bolsonaro, de "desalentados". Ao contrário, se trata de resistentes à subissão da diplomacia bolsolavista ao governo Trump, suas posturas antidiplomáticas em praticamente todas as vertentes da agenda internacional, multilateral, regional e bilateral. 
Esse trabalho de resistência vai continuar.
Eu mesmo pretendo lançar mais um livro proximamente.
Paulo Roberto de Almeida

"Desalentados", grupo de diplomatas propõe política externa pós-Bolsonaro

Carolina Marins
Do UOL, em São Paulo
05/09/2020 04h00


Os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros líderes mundiais, o alinhamento aos EUA e a maneira como o governo tem lidado com a Amazônia e a pandemia de covid-19 têm deixado um grupo de diplomatas preocupado com a reputação do país no exterior. Por isso, lançarão na próxima semana um documento com sugestões para "reconstruir" a política externa após o fim do atual governo.
Na próxima terça-feira (8), às 15h, os ex-embaixadores Celso Amorim e Rubens Ricupero, que não participaram da construção do documento, mas interpretam a iniciativa como uma forma de demonstrar "desalento" com o momento atual vivido pelo Itamaraty, participam de debate virtual para o lançamento da carta de metas. A mediação será da professora Suhayla Khalil, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e a transmissão ocorrerá pelo YouTube, Facebook e no UOL.
"Isso reflete um momento de tremendo desencanto com o que está ocorrendo na política externa", opina o ex-chanceler Celso Amorim em entrevista ao UOL. "A gente tem visto outros diplomatas veteranos que estão todos muito chocados com os rumos que o Brasil tem tomado. Eu acho que isso chegou aos jovens diplomatas também. Os jovens estão muito desalentados."
Antonio Cottas, diplomata licenciado que idealizou o projeto, explica que o documento reúne sugestões de outros diplomatas, servidores públicos e especialistas na área de relações internacionais para "recuperar" a reputação do Itamaraty. "O primeiro projeto público de uma política externa pós-bolsonarista parte da constatação de graves danos à reputação e aos interesses do Brasil causados pelo atual governo", diz a nota de divulgação do evento.
"Já passado um ano e meio, o governo não tem sido capaz de apresentar resultados concretos. Pelo contrário, tem colocado o Brasil em grandes dificuldades com países parceiros", afirma Cottas.
"Esse pessoal de agora fez uma mudança radical no organograma logo no começo do mandato. Isso causou uma dor de cabeça enorme para um monte de gente, para o funcionamento do ministério, e obteve resultados muito duvidosos. Muitas pessoas estão se sentindo constrangidas em defender algumas políticas desse governo e estão preferindo ir para postos ou designações um pouco mais 'low profile'".
Entre os descontentamentos, o diplomata aponta o alinhamento automático aos Estados Unidos, defendido pelo presidente brasileiro. Segundo ele, o comportamento do país arranha a imagem até mesmo aos olhos dos EUA.
"Vamos ter uma política externa sensata. Nada de alinhamento automático e submissão aos Estados Unidos. Primeiro porque eles não respeitam isso. Para um país com as dimensões do Brasil, não tem como você se alinhar a uma grande potência. Fora que isso é constrangedor e humilhante", diz.
"Isso não é um alinhamento. Alinhamento foi na época do Castelo Branco, do Juracy Magalhães. Isso é submissão", concorda Amorim. "Nas grandes questões globais, que o Brasil não teria um grande interesse, ele seguia os Estados Unidos. Agora não. Mesmo em coisas importantes. Por exemplo, o Brasil tinha um candidato ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Os EUA, rompendo com uma tradição de 60 anos, lançam um candidato e o Brasil solta uma nota elogiando. Isso aí não tem paralelo", exemplifica.
A questão ambiental é outro ponto citado pelos diplomatas que afeta, inclusive, o acordo Mercosul-União Europeia, celebrado pelo governo. Países europeus se mostram inseguros de firmar o acordo após o episódio das queimadas na floresta Amazônica, negadas pelo presidente. O próprio vice-presidente Hamilton Mourão já disse que vê o acordando "naufragando".
"Eu creio que nem os europeus, nem o Mercosul deseja propriamente liquidar a possibilidade de que o acordo venha a existir no futuro. Mas ele está condicionado a que haja uma mudança real na política de meio ambiente do Brasil", diz Rubens Ricupero, que também foi ministro do meio ambiente durante o governo Itamar Franco.
"Quem criou o problema foi o Brasil, porque o acordo estava indo muito bem. A Alemanha tinha interesse em levar adiante, mas o que aconteceu na Amazônia, evidentemente, paralisou tudo. E já houve dois parlamentos, o da Holanda e o da Irlanda, que votaram resoluções contrárias ao acordo", completa.
"O governo todo festejou o acordo Mercosul-União Europeia. O próprio chanceler festejou porque estávamos negociando há vinte anos. Depois, tudo o que o Brasil fez foi para sabotar o acordo. Brigou com a França. Brigou com a Alemanha. Tratam de mudança climática de maneira vexatória que nos expõe no mundo inteiro. Tudo isso torna o acordo impossível", opina Amorim.
Segundo os embaixadores, o histórico pragmatismo do Itamaraty, que antes tornava o Brasil um país amigável para participar de inúmeras discussões sensíveis da política internacional, se perdeu com a chegada da ideologia encampada por Bolsonaro, em especial em temas de direitos humanos, desmatamento e saúde. Com a pandemia de covid-19 e a consolidação do país como epicentro da doença, a reputação foi novamente afetada.
"Já tínhamos uma imagem péssima por muitas razões", diz Ricupero. "O fato de que o presidente faz apologia da ditadura e da tortura; que tem essa atitude hostil à política de gênero; o problema dos povos indígenas; os incêndios da Amazônia. E agora em cima de tudo isso, é o país percebido como o pior do mundo no combate à pandemia. Nenhum país do mundo mudou três vezes de ministro da Saúde em plena pandemia. E agora, como se não faltasse ainda, essa declaração sobre a vacina, que é a única esperança que se tem agora."
O ex-embaixador diz que recuperar a reputação pode ser um processo lento. "Ainda que daqui dois, três anos se tenha outro governo e uma política externa muito superior à atual, as pessoas no exterior vão sempre lembrar deste momento de mergulho e vão dizer 'que confiança nós podemos ter um país que teve oscilações tão grandes?'".
Ambos os embaixadores enfatizam que leram o documento a ser divulgado e não concordam necessariamente com todos os pontos, mas consideram importante a ação. "Eu fico com muita admiração pela coragem desses jovens. Entendo que muitos deles provavelmente estão em serviço ativo", completa Amorim.

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De seus povos, de sua água, dos animais, daquela imensidão toda. Como transformar esse patrimônio em motivo de orgulho e preservação? Líderes indígenas, cientistas e fotojornalistas indicam caminhos possíveis para evitar que ela seja devastada.
Neste dia 5 de setembro celebramos a Amazônia, um dos maiores patrimônios naturais da humanidade.
A seguir, conteúdos de Semana da Gama e indicações de leitura do Nexo Jornal que falam sobre preservação, desmatamento, os povos tradicionais que ali habitam, passado, presente e futuro da maior floresta tropical do planeta.
 
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Grandes filmes de temática conservadora, segundo a Gazeta do Povo

Gazeta do Povo é um jornal declaradamente conservador, e até pode ser acusado de direita e reacionário. Os filmes que o jornal considera como sendo conservadores, não precisam ter essa vertente política ou filosófica para serem grandes filmes, basta serem grandes obras de arte para que se possa apreciá-los.
Paulo Roberto de Almeida


 

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Quanto dinheiro é dinheiro demais? O documentário “A Geração da Riqueza” mergulha no universo dos super-ricos – ou dos super-fúteis – para explorar essa pergunta. A diretora Lauren Greenfield, reuniu 25 anos de material neste filme, o que permite acompanhar a evolução de algumas das pessoas retratadas. Spoiler: a obsessão pelo dinheiro, pela fama e pela aparência não costuma levar a grandes resultados. E, embora essa crítica seja feita mais pela esquerda do que pela direita, é bom lembrar que existe uma longa tradição conservadora contra o materialismo exacerbado. Como dizia Aristóteles, a felicidade não depende do acúmulo de dinheiro, mas do cultivo das virtudes.
 

“Mr Jones”

Dos muitos crimes cometidos por Stalin no comando da União Soviética, o mais terrível talvez tenha sido o Holodomor, a “Grande Fome” que ceifou a vida de aproximadamente 4 milhões de ucranianos nos anos 30. O filme “Mr Jones”, baseado numa história real, faz justiça ao jornalista Gareth Jones, que enfrentou não apenas a ditadura comunista quanto o ceticismo dos próprios colegas para denunciar o genocídio ao mundo. Ilustrado por cenas aterradoras, o filme é recomendado a todos, sobretudo, aos que ainda enxergam algo de positivo no comunismo soviético.
 

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Pouco conhecida fora da República Checa, Milada Horakova foi uma heroína cuja história ainda impressiona: perseguida por nazistas e por comunistas, ela não se dobrou - e pagou caro por isso. “Milada”, que conta esta história, também funciona como uma alegoria da então Checoslováquia, que foi violada tanto pelo exército de Hitler quanto pelos soviéticos (embora estes, em tese, se apresentassem como libertadores). Poucas pessoas enfrentaram tão abertamente os dois regimes mais assassinos que a Europa já conheceu. “Milada” é, por isso, uma ode ao valor da convicção individual e do amor à pátria diante do totalitarismo.
 

“Uma Viagem Extraordinária”

São poucos os filmes que conseguem retratar a riqueza do universo infantil sem, entretanto, serem filmes infantis. “Uma Viagem Extraordinária” está nesta lista. A obra gira em torno de T.S. Spivet, um garoto de inteligência rara que vive em uma fazenda em Montana. Ao ganhar um prêmio científico, ele decide atravessar o país sozinho para receber a comenda. Com uma fotografia belíssima e atuações cativantes, “Uma Viagem Extraordinária” mostra que as luzes da cidade grande não são capazes de substituir o afeto da família.
 

“O Contador de Auschwitz”

Um dos grandes debates morais provocados pelo terror do Holocausto envolveu os limites da responsabilidade individual. Se uma engrenagem oficial foi montada para exterminar judeus, cada indivíduo é apenas uma peça nesse sistema. O mal se torna banal, como descreveu a filósofa Hannah Arendt. O documentário “O Contador de Auschwitz” acompanha o julgamento de Oskar Gröning, que aos 93 anos de idade finalmente foi levado ao tribunal por ter atuado no campo de concentração . A pergunta-chave do filme vem de um dos entrevistados: “Se você pune um homem de 93 anos por algo que ele fez quando tinha 23, você ainda está punindo a mesma pessoa que cometeu o crime?” O documentário responde a pergunta mostrando o depoimento de vítimas do nazismo.
  

“Partida Fria”

Em plena Crise dos Mísseis (o momento mais tenso da Guerra Fria), o melhor enxadrista americano viaja à Polônia para enfrentar o campeão soviético. Esta é a trama de “Partida Fria”, que é menos sobre o jogo de xadrez e mais sobre os subterfúgios das duas potências para descobrir segredos de Estado do inimigo. Embora a história seja fictícia, o filme dirigido pelo polonês Lukasz Kosmicki retrata com realismo a brutalidade e falta de princípios do regime comunista. Além disso, tomando a partida de xadrez como uma metáfora da Guerra Fria, a obra também destaca o papel da Polônia no jogo de interesses da geopolítica do pós-guerra.
 

“Dezessete”

O filme “Dezessete”, é uma espécie de Dom Quixote da Espanha pós-recessão econômica . Nele, dois irmãos desajustados, acompanhados pela avó moribunda, viajam pelo território espanhol em busca de um cachorro desaparecido. Na jornada, eles acabam estreitando os laços e se deparando com os próprios defeitos. O filme retrata, com um certo ar de desolação, uma geração sem vínculos com o lugar de origem e sem grandes propósitos na vida. Ao seu modo, “Dezessete” reforça o argumento conservador em favor de famílias fortes e comunidades fortes - e demonstra que é possível aprimorar as virtudes mesmo em situações pouco propícias.
 

“18 presentes”

Inspirado em uma história real, mas com uma boa dose de ficção, o filme italiano “18 presentes” conta a história de uma mãe que, ao ser diagnosticada com câncer, decide comprar um presente para ser dado à sua filha até que ela atinja 18 anos . Centrada na vida familiar e na ternura materna, a obra dá testemunho da permanência do amor materno, que ultrapassa até mesmo a própria vida. A interpretação comovente de Vittoria Puccini, uma das musas do cinema italiano, é outro ponto positivo do filme, que tem potencial para arrancar lágrimas dos espectadores mais sensíveis. 


Dia da Amazônia: maior floresta tropical do mundo não tem o que comemorar

Dia da Amazônia: maior floresta tropical do mundo não tem o que comemorar
Levantamento do Inpe indica que desmatamento acumulado na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020 cresceu 34,49%. Dia da Amazônia é comemorado neste 5 de setembro

Por Tiemi Osato - iG Último Segundo  Atualizada às 


Nos últimos anos,a Amazônia tem enfrentado um cenário crítico.
Divulgação/Imazon
Nos últimos anos,a Amazônia tem enfrentado um cenário crítico.
Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia possui grande relevância devido à enorme biodiversidade e aos povos tradicionais que abriga. Importante também para a estabilidade climática, ela influencia e impacta regiões que ultrapassam as suas fronteiras. Apesar de toda importância, nos últimos anos a floresta vem enfrentando um cenário preocupante  e, neste 5 de setembro, Dia da Amazônia , não tem tanto a comemorar.
Dados do DETER (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), levantamento feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), indicam que o desmatamento acumulado na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020 cresceu 34,49% em comparação ao período anterior — de agosto de 2018 a julho de 2019. Em relação à média dos últimos quatro anos, o aumento foi de 71,80%.

Esforços para conter o desmatamento

Com taxas cada vez mais alarmantes, não há dúvidas de que a Amazônia tem sofrido um aumento considerável no aumento de queimadas e desmatamento. A professora Mariana Vale, chefe do departamento de Ecologia da UFRJ, aponta para o fato de que essa tendência não é exclusiva do governo Bolsonaro e vem desde 2013, durante o governo Dilma Rousseff.
Vale lembra que, no período de 2005 a 2012, o Brasil teve uma redução expressiva, em torno de 70%, do desmatamento na Amazônia . “É um caso de sucesso e reconhecimento internacional no controle de desmatamento de uma floresta tropical”, observa. Claudia Azevedo-Ramos, professora associada do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA, atribui essa conquista a “pressões internacionais e estratégias federais de combate que envolveram ações de comando e controle, regularização fundiária e promoção de atividades econômicas sustentáveis ”.
Referente a esse período, Vale destaca que a implementação do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), em 2004, durante o governo Lula, “reduziu substancialmente as taxas de desmatamento”. O controle foi realizado com auxílio de diversos elementos, como o monitoramento por satélites pelo Inpe, a fiscalização pelo Ibama e incentivos às boas práticas de pequenos produtores através da Bolsa Verde. “Com esse plano, a gente criou toda uma estrutura institucional”, pontua.
Em 2012, porém, o plano perdeu força e o cenário começou a mudar. “Houve a reforma do Código Florestal Brasileiro e muito do que se considerava antes como desmatamento ilegal passou a ser legalizado”. E, desde 2013, o desmatamento vem aumentando.
Apesar de não ser o pior momento da floresta em termos de devastação  — posto atribuído ao ano de 1995, durante o governo FHC —, Vale pontua que a tendência de alta segue, em grande parte, “em função da postura do governo e do Ministério do Meio Ambiente em relação a questões ambientais”.
Na análise de Vale, a perspectiva governamental considera as questões ambientais como “problema e entrave para o desenvolvimento ao invés de entendê-las como uma grande riqueza e diferencial do Brasil, que pode dar protagonismo ao país em termos de conservação ambiental e explorada de maneira sustentável”.


"Passar a boiada"

Um dos momentos em que mais ficou claro o projeto do governo Bolsonaro para o meio ambiente foi durante a reunião ministerial de 22 de abril. Na ocasião, o ministro do Meio Ambiente,  Ricardo Salles, defendeu utilizar a pandemia de Covid-19 como oportunidade para “passar a boiada” e realizar mudanças infralegais na legislação ambiental brasileira.
“Se o ministro não caiu depois desta fala, só pode sinalizar que ele está fazendo o que foi demandado”, afirma Azevedo-Ramos. Ela também diz que grileiros , desmatadores e garimpeiros ilegais se sentem “confiantes para agir” quando há um discurso nas esferas federal e estadual que estimula a impunidade.


Imagem do Brasil no exterior

Paulo Roberto de Almeida, diplomata e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), explica que, principalmente a partir da Conferência Rio-92, formou-se uma grande consciência ecológica mundial. Almeida ressalta também que o evento marcou o início de um período “bastante positivo” para o Brasil quanto à liderança no cenário ambiental. Ao longo dos anos 90 e 2000, o país mudou consideravelmente sua política de meio ambiente, deixando para trás a perspectiva da ditadura militar.
Até 2018, o Brasil possuía posições avançadas. Almeida aponta que a nação “fez um esforço de cooperação internacional na pesquisa e nos projetos de sustentação”. O resultado das eleições, porém, mudaram o cenário. “A chegada de Bolsonaro e suas concepções primitivas ao poder foi um choque para todos, para os ambientalistas no Brasil e no mundo, para a opinião pública internacional e para o próprio agronegócio”, diz o diplomata.
Ele observa que houve uma deterioração da imagem brasileira durante o governo Bolsonaro. “O Brasil virou um pária internacional, um país marginalizado e desprezado. É uma coisa muito triste para nós”, diz. Almeida coloca Ernesto Araújo e Ricardo Salles, respectivamente ministro das Relações Exteriores e ministro do Meio Ambiente, como “os dois protagonistas dos grandes problemas nas relações internacionais do Brasil”.
Almeida diz que “ainda que de vez em quando se faça um anúncio de que está preservando, isso é muito retórica”. Ele explica que a comunidade internacional “sabe exatamente o que está se passando no Brasil”, pois os dados do Inpe são universais e diferentes países têm satélites através dos quais é possível coletar informações sobre o desmatamento.
O posicionamento do Brasil quanto ao meio ambiente sinaliza, inclusive, possíveis impactos econômicos . No dia 21 de agosto, a chanceler alemã Angela Merkel declarou ter “sérias dúvidas” quanto à implementação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul devido ao aumento do desmatamento na Amazônia.
“Há uma chance sim de que esse acordo não entre em vigor e de que novas sanções sejam aprovadas”, analisa o diplomata Paulo Almeida. “E não precisam ser sanções oficiais, porque não são os governos que fazem exportação e importação”, acrescenta. Para ele, a pressão da opinião pública tem um papel relevante nesse âmbito.
“A opinião pública pode pressionar empresas e varejistas inteiros”, afirma Almeida. “Cadeias de importação podem simplesmente boicotar a compra de produtos brasileiros, como grãos, carnes ou qualquer outra coisa que lhes pareça suficientemente ofensivo. Grandes campanhas internacionais podem ocorrer. A opinião pública vai determinar grande parte de movimentos políticos, acordos de cooperação e, sobretudo, fluxos de comércio e de investimento”.
“A nossa imagem atual é muito negativa no mundo do meio ambiente e acredito que, enquanto o governo não mudar a sua postura, não haverá muita condescendência do mundo para com o Brasil”, conclui Almeida.

Luz no fim do túnel?

A professora Claudia Azevedo-Ramos observa que “em um mundo globalizado, as opções políticas internas têm repercussão externa”. Esse fator, aliado às preocupações crescentes com cadeias produtivas sustentáveis e com mudanças climáticas, faz com que a reação internacional pela Amazônia seja “esperada”.
“Quando mega investidores dizem que vão retirar seus investimentos do Brasil ou países compradores de nossos produtos dizem que não comprarão mais, cria-se uma pressão interna para mudanças”, constata Claudia. “É o que se viu em agosto com a carta de 60 assinaturas de organizações brasileiras endereçada a lideranças políticas e investidores pedindo pela moratória do desmatamento e fortalecimento dos órgãos ambientais. Ou com a recente decisão de bancos privados de se unirem para encontrar soluções sustentáveis a seus financiamentos”.
Para além da pressão de questões externas e econômicas, as especialistas afirmam que o Brasil possui capacidade para conter o desmatamento na Amazônia. “Temos sistemas integrados, pessoal qualificado, monitoramento por satélites e ferramentas econômicas para coibir o mal feito e incentivar o bem feito”, diz Claudia.
“A gente foi capaz de controlar o desmatamento de forma exemplar entre 2005 e 2012, a gente tem a capacidade institucional e científica para isso”, destaca Mariana. “Eu acredito que as coisas podem ser revertidas, eu acredito que o eleitorado brasileiro pode ter consciência e votar de maneira adequada nas próximas eleições pensando no país como um todo, com todos os seus problemas econômicos, sociais e também ambientais”, finaliza.


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The World Trump Made - Foreign Affairs


A capa da Foreign Affairs é bastante eloquente: Trump criou um mundo fragmentado, dividido, esfacelado. Essa é a sua herança. Se ele continuar mais quatro anos, o mundo estará irremediavelmente pior do que antes. 
O mesmo ocorre no Brasil: se tivermos continuidade do atual desgoverno, o Brasil se atrasará por um delegando período de retrocessos.
Paulo Roberto de Almeida

What’s Inside
After nearly four years of turbulence, the United States is increasingly isolated and prostrate—but there’s no going back.
Foreign Affairs, September/October 2020

How will historians judge President Donald Trump’s handling of American foreign policy? Not kindly, writes Margaret MacMillan in this issue’s lead package. After nearly four years of turbulence, the country’s enemies are stronger, its friends are weaker, and the United States itself is increasingly isolated and prostrate.
Richard Haass notes that “Trump inherited an imperfect but valuable system and tried to repeal it without offering a substitute.” The result, he claims, “is a United States and a world that are considerably worse off.” Dragging his party and the executive branch along, the president has reshaped national policy in his own image: focused on short-term advantage, obsessed with money, and uninterested in everything else.
His opponent has pledged to repudiate Trump’s approach if elected, embracing international cooperation and restoring American global leadership. But is that even possible now? Most of the world looks at Washington with horror and pity rather than admiration or respect, and the one thing many of Trump’s domestic supporters and critics agree on is there’s no going back. 
“Washington cannot simply return to the comfortable assumptions of the past,” argues Nadia Schadlow, a former deputy national security adviser in the Trump administration. Great-power competition is inevitable, and multilateral cooperation is for suckers. Ben Rhodes, who also served as a deputy national security adviser, but in the Obama administration, agrees that the liberal international order is defunct. Rather than try to revive it, he wants Washington to shape a new and better one by checking its privilege, avoiding hypocrisy, and attacking global inequality. 
From that perspective, the mass protests against racism that erupted this past spring after the police killings of George Floyd and other Black Americans represent not just a national reckoning but also a call to arms, as the issue’s second package explains. Keisha Blain shows that the struggle for civil rights in the United States has always been part of a global struggle for human dignity. Suzanne Mettler and Robert Lieberman observe that tense debates over national identity grow even more dangerous when played out against a backdrop of political polarization, economic inequality, and concentrated executive power. Fortunately, Laurence Ralph points out, at least in the case of police reform, there are good international models to follow—although little evidence yet that Americans are prepared to adopt them.
“America is not a lie; it is a disappointment,” the political scientist Samuel Huntington once wrote. “But it can be a disappointment only because it is also a hope.” The challenge now is to keep that hope alive.
—Gideon Rose, Editor