O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador filmes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador filmes. Mostrar todas as postagens

sábado, 5 de setembro de 2020

Grandes filmes de temática conservadora, segundo a Gazeta do Povo

Gazeta do Povo é um jornal declaradamente conservador, e até pode ser acusado de direita e reacionário. Os filmes que o jornal considera como sendo conservadores, não precisam ter essa vertente política ou filosófica para serem grandes filmes, basta serem grandes obras de arte para que se possa apreciá-los.
Paulo Roberto de Almeida


 

“Onde Está Segunda?”

Com ares de superprodução, este título da Netflix traz um futuro distópico muito parecido com o período da política do filho único da China . Ninguém pode ter mais que um filho e o Estado totalitário controla todos de forma rígida para que isso seja cumprido. Um bom exemplo de um filme cheio de ação e com grandes atores que pode funcionar como um alerta para algo que pode ocorrer no futuro. Duvida? Pergunte aos chineses que conviveram com esse regime entre 1980 e 2016.
 

“A Morte de Stalin”

Como retratar um dos piores tiranos da história da humanidade? Como fazer um filme sobre alguém que matou milhões de pessoas? Assim como Charles Chaplin fez o retrato definitivo de Hitler como caricatura, “A Morte de Stalin” usa o humor da mesma forma com o regime soviético, ao revelar sua mesquinhez e a maneira sórdida como seus líderes agiam. Funcionou tão bem que o governo Putin proibiu seu lançamento nos cinemas russos.
 

“Estrada Sem Lei”

À primeira vista, “Estrada Sem Lei” é apenas mais uma obra sobre o casal de ladrões e assassinos Bonnie e Clyde, que aterrorizaram os EUA nos anos 1930 . Ao contrário de outros filmes que pintaram um retrato simpático ao casal, esta obra não faz nenhum tipo de relativismo moral: define bem os heróis e vilões da história. O diretor John Lee Hancock mostra como Bonnie e Clyde, apesar de bonitos e bem-vestidos, não passam de assassinos cruéis, dispostos a matar por sadismo e preocupados apenas com o próprio bem-estar.
 

“Uma Vida Oculta”

A história do heroísmo na Segunda Guerra Mundial não se conta apenas com os milhares de soldados que lutaram para enfrentar o nazismo. Há histórias de pessoas que não precisaram pegar em armas para desafiar Hitler. Este é o caso do austríaco Franz Jägerstätter, que, convocado a lutar pelo exército nazista, se recusou a ir para o campo de batalha. Obedecer à própria consciência custou a Franz um preço que poucas pessoas se disporiam a pagar. Por isso seu exemplo, retratado neste belíssimo filme, vale tanto.
 

“O Destino de Uma Nação”

Como as coisas mudam em três anos. Em 2017, quando estreou, “O Destino de Uma Nação” fez justiça com a história de Winston Churchill , um homem que, apesar de todos os seus defeitos, guiou a Inglaterra, praticamente sozinho por um bom tempo, contra o domínio alemão na Europa. Foram tempos difíceis, que o filme mostra com precisão. Por isso, em tempos nos quais autoproclamados antifascistas atentam contra a estátua de Churchill em Londres, “O Destino de Uma Nação” tenha seu valor renovado justamente por enaltecer o maior antifascista de todos os tempos.
 

“A Promessa”

O Holocausto promovido pelos nazistas é lembrado, com razão, como uma atrocidade imperdoável e inapagável. Mas poucas pessoas sabem que, duas décadas antes, os armênios foram vítimas de uma barbárie semelhante perpetrada pelo Império Otomano, no território da atual Turquia. “A Promessa” mostra, de forma comovente e até chocante, como 1,5 milhão de armênios foram exterminados, no episódio que motivou a criação do termo “genocídio”. Bom como entretenimento, o filme é ainda mais valioso como peça de educação.
 

“Missão de Honra”

A História da Segunda Guerra Mundial costuma ser contada pela perspectiva dos americanos e dos britânicos – com razão, já que, ao lado dos soviéticos, eles deram a maior contribuição para a vitória dos aliados. “Missão de Honra” apresenta uma perspectiva diferente: a dos pilotos poloneses que, com sua terra-natal já dominada pelos alemães, foram incorporados à Força Aérea Britânica . O filme mostra como, sob desconfiança, eles obtiveram o respeito dos ingleses e se tornaram peças importantes na estratégia militar dos aliados. É uma história de perseverança, lealdade e coragem em meio à destruição da guerra.
 

“O Anjo do Mossad”

Parece pura ficção, mas é baseado em uma história real: “O Anjo do Mossad” conta a história de Ashraf Marwan, que era genro do presidente do Egito e se transformou em um espião a serviço do Mossad, o serviço secreto de Israel . Os dois países haviam entrado em guerra anos antes, com uma derrota humilhante para o Egito. Marwan queria evitar um novo conflito do tipo. Apesar de mostrar o esforço de Israel por sua sobrevivência rodeado por vizinhos pouco amigáveis, o filme tem o mérito de não adotar um tom simplista diante de um assunto tão complexo quanto a geopolítica do Oriente Médio.
  

“Fire on the Hill”

Um bairro negro na periferia de Los Angeles provavelmente não é o primeiro lugar que vêm à mente das pessoas quando alguém fala em caubóis americanos. Mas, como mostra o documentário “Fire on the Hill”, o bairro de Compton, um dos mais violentos do país, é um celeiro de peões de rodeio . O filme conta a história do estábulo conhecido como “The Hill”, formado para dar uma alternativa de vida aos jovens da comunidade. Além de mostrar que a força moral do indivíduo é capaz de superar a influência negativa do meio, o documentário desmonta alguns mitos da esquerda americana sobre o chamado racismo sistêmico. Vale a audiência.
 

“Nada é Para Sempre”

Conhecido como o filme que alçou Brad Pitt à fama, “Nada é Para Sempre” é muito mais do que isto: a obra lançada em 1992 consta da lista dos clássicos do diretor Robert Redford . O filme conta a história dos irmãos Norman e Paul MacLead, criados em meio às belas paisagens do estado de Montana. “Nada é Para Sempre” não traz reviravoltas imprevisíveis: em vez disso, flui suavemente, permitindo ao telespectador contemplar a beleza da existência e a inevitabilidade da passagem do tempo enquanto os protagonistas tomam rumos diferentes em suas vidas. As duas horas de filme valem a pena.
 

“A Geração da Riqueza”

Quanto dinheiro é dinheiro demais? O documentário “A Geração da Riqueza” mergulha no universo dos super-ricos – ou dos super-fúteis – para explorar essa pergunta. A diretora Lauren Greenfield, reuniu 25 anos de material neste filme, o que permite acompanhar a evolução de algumas das pessoas retratadas. Spoiler: a obsessão pelo dinheiro, pela fama e pela aparência não costuma levar a grandes resultados. E, embora essa crítica seja feita mais pela esquerda do que pela direita, é bom lembrar que existe uma longa tradição conservadora contra o materialismo exacerbado. Como dizia Aristóteles, a felicidade não depende do acúmulo de dinheiro, mas do cultivo das virtudes.
 

“Mr Jones”

Dos muitos crimes cometidos por Stalin no comando da União Soviética, o mais terrível talvez tenha sido o Holodomor, a “Grande Fome” que ceifou a vida de aproximadamente 4 milhões de ucranianos nos anos 30. O filme “Mr Jones”, baseado numa história real, faz justiça ao jornalista Gareth Jones, que enfrentou não apenas a ditadura comunista quanto o ceticismo dos próprios colegas para denunciar o genocídio ao mundo. Ilustrado por cenas aterradoras, o filme é recomendado a todos, sobretudo, aos que ainda enxergam algo de positivo no comunismo soviético.
 

“Milada”

Pouco conhecida fora da República Checa, Milada Horakova foi uma heroína cuja história ainda impressiona: perseguida por nazistas e por comunistas, ela não se dobrou - e pagou caro por isso. “Milada”, que conta esta história, também funciona como uma alegoria da então Checoslováquia, que foi violada tanto pelo exército de Hitler quanto pelos soviéticos (embora estes, em tese, se apresentassem como libertadores). Poucas pessoas enfrentaram tão abertamente os dois regimes mais assassinos que a Europa já conheceu. “Milada” é, por isso, uma ode ao valor da convicção individual e do amor à pátria diante do totalitarismo.
 

“Uma Viagem Extraordinária”

São poucos os filmes que conseguem retratar a riqueza do universo infantil sem, entretanto, serem filmes infantis. “Uma Viagem Extraordinária” está nesta lista. A obra gira em torno de T.S. Spivet, um garoto de inteligência rara que vive em uma fazenda em Montana. Ao ganhar um prêmio científico, ele decide atravessar o país sozinho para receber a comenda. Com uma fotografia belíssima e atuações cativantes, “Uma Viagem Extraordinária” mostra que as luzes da cidade grande não são capazes de substituir o afeto da família.
 

“O Contador de Auschwitz”

Um dos grandes debates morais provocados pelo terror do Holocausto envolveu os limites da responsabilidade individual. Se uma engrenagem oficial foi montada para exterminar judeus, cada indivíduo é apenas uma peça nesse sistema. O mal se torna banal, como descreveu a filósofa Hannah Arendt. O documentário “O Contador de Auschwitz” acompanha o julgamento de Oskar Gröning, que aos 93 anos de idade finalmente foi levado ao tribunal por ter atuado no campo de concentração . A pergunta-chave do filme vem de um dos entrevistados: “Se você pune um homem de 93 anos por algo que ele fez quando tinha 23, você ainda está punindo a mesma pessoa que cometeu o crime?” O documentário responde a pergunta mostrando o depoimento de vítimas do nazismo.
  

“Partida Fria”

Em plena Crise dos Mísseis (o momento mais tenso da Guerra Fria), o melhor enxadrista americano viaja à Polônia para enfrentar o campeão soviético. Esta é a trama de “Partida Fria”, que é menos sobre o jogo de xadrez e mais sobre os subterfúgios das duas potências para descobrir segredos de Estado do inimigo. Embora a história seja fictícia, o filme dirigido pelo polonês Lukasz Kosmicki retrata com realismo a brutalidade e falta de princípios do regime comunista. Além disso, tomando a partida de xadrez como uma metáfora da Guerra Fria, a obra também destaca o papel da Polônia no jogo de interesses da geopolítica do pós-guerra.
 

“Dezessete”

O filme “Dezessete”, é uma espécie de Dom Quixote da Espanha pós-recessão econômica . Nele, dois irmãos desajustados, acompanhados pela avó moribunda, viajam pelo território espanhol em busca de um cachorro desaparecido. Na jornada, eles acabam estreitando os laços e se deparando com os próprios defeitos. O filme retrata, com um certo ar de desolação, uma geração sem vínculos com o lugar de origem e sem grandes propósitos na vida. Ao seu modo, “Dezessete” reforça o argumento conservador em favor de famílias fortes e comunidades fortes - e demonstra que é possível aprimorar as virtudes mesmo em situações pouco propícias.
 

“18 presentes”

Inspirado em uma história real, mas com uma boa dose de ficção, o filme italiano “18 presentes” conta a história de uma mãe que, ao ser diagnosticada com câncer, decide comprar um presente para ser dado à sua filha até que ela atinja 18 anos . Centrada na vida familiar e na ternura materna, a obra dá testemunho da permanência do amor materno, que ultrapassa até mesmo a própria vida. A interpretação comovente de Vittoria Puccini, uma das musas do cinema italiano, é outro ponto positivo do filme, que tem potencial para arrancar lágrimas dos espectadores mais sensíveis. 


terça-feira, 8 de abril de 2014

Filme: O Dia que Durou 21 Anos - minha avaliacao (PRA)

Assisti ontem, na Universidade de Yale, a este filme, e o cartaz remete à próxima apresentação na Universidade de Princeton. No intervalo, ele deve ser exibido na Universidade Brown, em Providence, RI, onde devo participar de um seminário, "Brazil: from Dictatorship to Democracy", sobre os cinquenta anos do golpe de Estado que deu início ao regime militar no Brasil (já postei aqui o programa).


Dou a minha opinião sobre o filme.
Trata-se de um filme extremamente simplista, redutor, deformado, ainda que tecnicamente bem feito.
Ele parte justamente dessa ideia simplista de que antes, no Brasil, havia uma democracia, que os perversos americanos armaram uma conspiração com os militares, os grandes grupos econômicos, a direita brasileira, para dar um golpe contra um presidente progressista, que só estava querendo fazer reformas de base, em beneficio dos brasileiros, mas que os americanos e a direita o derrubaram, e implantaram a ditadura. Depois vem, num sucessão desonesta de imagens, cenas de tortura, de repressão, e vários depoimentos de personagens ligados ao golpe ou ao regime militar, alguns contra, outros a favor, mas numa completa barafunda de temas, épocas, imagens, sem qualquer sequenciamento correto do processo histórico.
A única coisa válida, penso eu, são as transcrições dos telegramas de Lincoln Gordon, então embaixador dos EUA no Brasil, na fase imediatamente anterior e posterior ao golpe.
Na verdade, Lincoln Gordon tinha sido designado por Kennedy para lidar com um presidente que os americanos consideravam "reformista", que era o Jânio Quadros (na verdade, um maluco com tendências autoritárias). Jânio renunciou assim que Gordon foi designado, e ele teve de lidar com um regime confuso, anárquico, incapaz de fazer reformas, apenas aprofundando a crise brasileira. Nada no filme revela o caos administrativo que era o governo Goulart, a espiral inflacionária, a deterioração das instituições.
Em primeiro lugar, não se pode caracterizar o processo histórico como sendo um de "democracia-golpe-regime militar-ditadura-volta à democracia". Isso é simplismo, sobretudo no que se refere à conspiração americana para derrubar Goulart.
O Brasil tinha motivos suficientes para fazer aquilo que já tinha sido feito em 1930, 1937, 1945, diversas vezes nos anos 1950, 1961 e finalmente 1964: crises políticas, incapacidade das elites, intervenção militar.
Os americanos entram pelo lado da Guerra Fria, mas como não considerar a crise dos foguetes em Cuba, em 1962, e as simpatias do governo Goulart pelos regimes socialistas?
Enfim, um filme simplista, redutor, historicamente deformado.
Paulo Roberto de Almeida

PS.:
Como disse, no filme, não há nada sobre o quadro econômico e social dos anos Goulart, com inflação indo para os 100% ao ano, sem qualquer correção, seria bom relembrar.
Tampouco existe uma palavra sequer sobre as ações guerrilheiras que vieram antes, muito antes, que o governo autoritário virasse uma ditadura.
Permito-me reproduzir aqui um trecho, apenas um trecho do manifesto divulgado durante o sequestro do embaixador Burke Elbrick:
"Este ato (...) se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores. Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural."