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sábado, 15 de maio de 2010

Com integradores como esses, nao precisamos de "desintegradores"...

Acho que realmennte não é preciso. Nós nos desintegramos por nossa própria conta (e incompetência).
A Argentina prova que é possível, sim, graças à inteligência e a memória prodigiosa que possuem certas pessoas, reincidir várias vezes nos mesmos erros, tanto em matéria de economia interna -- vocês sabem, controle de preços, de câmbio, dirigismo, essas coisas -- como em matéria de economia internacional: política comercial, cambial, de investimentos, etc.
Os argentinos vem fazendo as mesmas bobagens, repetidamente, há pelo menos 80 anos: não surpreende, assim, que o país ande cada vez mais para trás.
Agora, nessa questão da integração, tanto argentinos quanto brasileiros, erraram e continuam errando, falando em retaliações comerciais (inclusive um ministro de Estado).
My God, as pessoas não sabem que existem regras multilaterais que comandam os processos de tarificação, de defesa comercial, de simples relacionamento comercial. Elas ainda estão naquela fase pré-histórica, em que um ataque da tribo inimiga comandava a formação de um batalhão de voluntários para ir lá e desmantelar com os atacantes.
A lei da selva, na verdade, vive na cabeça das pessoas: ela fala espanhol, portugiês, inglês...
Por vezes me pergunto se as pessoas são alfabetizadas...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina teme retaliação
Da Redação
Diário do Comércio e Indústria,
Quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os empresários brasileiros ganharam ontem uma parceria de peso contra as novas barreiras alfandegárias que o governo argentino está programando e que poderá entrar em vigor no início de junho. É que empresários argentinos de grande porte na participação no PIB daquele país temem represálias brasileiras à importação de alimentos. Em reunião ontem, na câmara de empresas alimentícias da Argentina, os empresários defenderam claramente a necessidade de se respeitarem os acordos comerciais internacionais diante da possibilidade de imposição de barreiras do governo à importação de alimentos, o que poderia provocar represálias.

A Coordenadoria de Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal) frisou que sustenta firmemente a urgência de que toda medida de política comercial respeite os critérios dos tratados internacionais dos quais a Argentina faz parte. O respeito aos acordos é uma das garantias necessárias para evitar represálias no comércio mundial, ressaltou o comunicado oficial da entidade.

A reação ocorreu assim que se confirmaram informações segundo as quais a Secretaria de Comércio argentina pediu às grandes redes de supermercados que deixem de importar produtos alimentícios, o que afeta exportadores do Brasil e da União Europeia (UE). As barreiras comerciais para proteger a indústria alimentícia argentina ante uma eventual avalanche de importações decorrente da desvalorização do euro favoreceriam os exportadores da UE e desviariam à Argentina parte do comércio entre Brasil e o bloco europeu.

O ministro da Economia argentino, Amado Boudou, disse que é preciso cuidar do mercado interno e dos produtores nacionais, mas evitou falar de medidas concretas.

Brasil e UE são os principais parceiros comerciais da Argentina. O Brasil exporta anualmente US$ 22 bilhões em alimentos à Argentina e importa US$ 1 bilhão, segundo dados da Copal. Os alimentos importados representam cerca de 3% dos que oferecem os supermercados no mercado argentino, segundo cálculos de fontes do setor. O assunto causou mal-estar no Brasil e de países da União Europeia.

A Secretaria de Comércio começaria a aplicar barreiras à importação de uma lista de alimentos, dentre os quais frangos do Brasil.

2 comentários:

Glaucia disse...

Bem, professor, o tit-for-tat e uma pratica nao apenas tolerada mas recomendada pela teoria dos jogos como a melhor forma de garantir a cooperacao. Se a cada ameaca de quebra da palavra o outro lado responder com contramedidas dissuasivas, diz a teoria que o custo da defeccao se torna menor que o da cooperacao.

Nao compreendo por que em casos como esse o professor, versado como bem demonstra em teoria economica, espera que a cooperacao seja fruto de inspiracoes mais altas, quase uma dadiva de Eiwa. As organizacoes que emprestam funcionalidade a cooperacao, caso exemplar da OMC, sao inclusive cobradas e criticadas quando seus mecanismos nao permitem a resposta rapida e eficaz capaz de desincentivar a transgressao as normas estabelecidas de comum acordo.

A melhor alternativa que foi inventada e o uso da forca, e entendo que o professor concordara comigo que isso saiu de moda ja ha algum tempo...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
A "teoria dos jogos" -- se se pode chamar de teoria uma simples analise combinatoria com algumas regras simples e excludentes -- é muito bonitinha na academica, mas ela simplesmente não tem o que fazer no mundo real, onde ações de governos dependem da vontade e das loucuras dos homens (e mulheres, o que é o caso, se ninguém ainda reparou, da Argentina, mesmo se o K marido tem mania de continuar mandando), e portanto estão sujeitos a todo o caráter errático e aleatório dos ditos e das ditas cujas, sempre prontos a exercer o seu tantinho de criatividade para o caos. Digamos que se trata de um Schumpeter surrealista, voire dadaista, se não for outra coisa ainda pior, um Pollock do suburbio.
A OMC é um pouquinho melhor do que esse mundo dantesco porque os mais fracos resolvem obedecer, do contrario levam um grande porrete dos mais fortes. Ou seja, se trata de uma "cooperação" induzida, com todas as aspas a que voce tem direito. Os grandes continuam transgredindo as normas, e continuariam a fazer isso, caso alguns não tivessem poder de retaliacao.
A força JAMAIS saiu de moda, continua a imprimir sua marca mesmo nos casos de cooperação.
O que é então esse festival de medidas argentinas contra o comércio do Brasil senão uma demonstração de força?
Como explicar o recuo, se não pela ameaça de contra-medidas do Brasil afetando as exportações argentinas?
Isso é força, no mais puro estado.

E, no entanto, está errado, pois se supõe que as "normas" (todas as aspas, etc...) do Mercosul já deveriam prevenir esse tipo de medida, e o Brasil jamais poderia pensar em retaliação, pois se supõe que exista um sistema de solução de controvérsias no Mercosul. Se não funciona, é outra coisa, e caberia consertar.
Se ninguem liga, para normas e para solução de controvérsias, então é porque, como eu disse desde o início, estamos em fase de desintegração, e como disse um editorial do Estadão e um dos candidatos à presidência, ESSE Mercosul não serve.
Em vez de ficar tapando o sol com a peneira -- um candidato teve sua equipe que escreveu "tampar o sol", não preciso dizer quem foi -- basta reconhecer a realidade e partir para outra: ou as normas são cumpridas, ou bye-bye, até logo,
As simple as that...
Paulo Roberto de Almeida