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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Itamaraty: 'a beira de um ataque de nervos, ou em estado depressivo?

Notícias ruins para e sobre o Itamaraty nesta segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
As pessoas vão passar o final de ano com a angústia da dúvida quanto ao futuro funcional, ou poderão esperar algo melhor em 2015?
Pode também acontecer situações ainda mais depressivas, se as atuais já não bastassem...
Paulo Roberto de Almeida

Itamaraty terá novo 'vendedor do Brasil' 
 LISANDRA PARAGUASSU
O Estado de S.Paulo, 15 Dezembro 2014

Luiz Figueiredo deve deixar Ministério por falta de afinidade com comércio exterior

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, está prestes a sair do cargo. Nomeado há apenas um ano e meio para substituir Antonio Patriota, Figueiredo perdeu o lugar com a decisão da presidente Dilma Rousseff, influenciada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de fazer o governo brasileiro retomar os caminhos do comércio exterior.
Com um déficit nas contas externas de US$ 4 bilhões, o Brasil precisa voltar, de novo, os olhos para a promoção comercial - uma área com a qual o ministro não tem qualquer familiaridade.
Antônio Patriota (à esq.) transmite o cargo a Luiz Alberto Figueiredo, em Brasília
Fontes ouvidas pelo Estado confirmaram que Figueiredo só não sai se Dilma não conseguir nenhum substituto, o que seria improvável, apesar de nenhum nome forte circular no momento. Mais do que isso, pela primeira vez, desde que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi chanceler do governo de Itamar Franco, o cargo pode voltar às mãos de um político, se vencer a tese que está sendo defendida por Lula, de onde vem a maior pressão pela substituição de Figueiredo sem que haja, no entanto, um forte candidato.
Lula, que tem sido o principal interlocutor de Dilma na montagem do próximo governo, acha que ao ministro faltam iniciativa e preparo para lidar com questões comerciais - avaliação compartilhada por Dilma - e que um nome político forte traria ao Itamaraty o prestígio que hoje lhe falta. Dentro do próprio ministério, essa é uma vertente que ganhou força nos últimos meses. Apesar de há anos defenderem um chanceler de carreira, diplomatas vêm um nome político como uma solução para a falta de voz do ministério no governo de uma presidente que tem pouca vocação internacional.
'Caixeiro-viajante'. O ex-presidente tem afirmado a Dilma que a situação atual é semelhante à de quando ele próprio assumiu o governo, em 2003, sendo necessário mostrar ao mercado a decisão pela estabilidade econômica, como foi feito com a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. E também de compromisso com a indústria brasileira. O ministro das Relações Exteriores precisa ser, segundo o ex-presidente, um "caixeiro-viajante" e retomar a política de "vender o Brasil" da mesma forma como ele e seu chanceler, Celso Amorim, o fizeram. É preciso também, na perspectiva de Lula, retomar cooperações com a África, Oriente Médio e América Central.
A avaliação do ex-presidente é compartilhada com outros setores, especialmente a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mostra desânimo com a falta de apetite pela promoção comercial, não só no Itamaraty, mas em outros setores do governo. A confederação chegou a se unir à Associação dos Analistas de Comércio Exterior, funcionários de carreira do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) para propor a criação de uma adidância de promoção comercial nas embaixadas brasileiras - ideia já descartada pela presidente por considerá-la "desnecessária".
A contraproposta do governo, até agora, é dar mais peso aos setores de promoção e defesa comerciais das embaixadas com diplomatas experientes.

Aptidão. Desde o início de seu governo, Dilma deu pouca atenção ao lado diplomático do governo. Desde o início, avisou que não viajaria como o fez Lula. Não deu autonomia a seus chanceleres e tem dificuldade de lidar com os meandros da diplomacia, que, grosso modo, pedem investimentos de longo prazo em relacionamentos.
Sua frase mais conhecida entre os diplomatas, ao tratar de encontros internacionais é "o que nós vamos ganhar com isso". Em seu governo, o Itamaraty, pela primeira vez em mais de uma década, sofre não apenas com a falta de espaço, mas com a falta de recursos até para participar de encontros e negociações internacionais.
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ITAMARATY - Esqueceram de Nós
Helena Celestino, 15/12/2014

“Ficamos invisíveis”, diz um embaixador. “Estamos tão desprestigiados que nem fofoca sobre a gente fazem mais”, comenta outro. “Do jeito que as coisas andam, vamos virar departamento da Casa Civil”, ironiza um terceiro. Na agenda do ministro Luiz Alberto Figueiredo, só aparecem reuniões internas ou viagens para acompanhar a presidente.

Os telegramas de Brasília com instruções para embaixadas quase sempre tratam de questões burocráticas. Nesta temporada de formação do governo Dilma 2, especula-se o nome para assumir até o Ministério da Pesca, mas o Itamaraty está fora da dança das cadeiras. O outrora poderoso Ministério das Relações Exteriores saiu da agenda da presidente, e diplomatas assistem impotentes à progressiva diminuição do espaço do Brasil na cena internacional.

Um pequeno exemplo: a “Economist”, na edição especial com prognósticos sobre o mundo em 2015, estampa na capa os personagens escalados para marcar o ano, e da América Latina só a presidente Michelle Bachelet entrou nesta seleção.

Cadê o Brasil? Não está na lista dos assuntos de destaque em 2015. A revista, sabemos, reflete o pensamento do establishment econômico e político; é a mesma que em outros tempos já apostou na decolagem brasileira, ao desenhar o Cristo voando para as alturas. No “Financial Times”, é Marina Silva, e não Dilma, a brasileira selecionada entre as mulheres líderes, combatentes ou lutadoras de 2014.

Pois é, prestígio a gente leva muito tempo para construir, mas perde rapidinho. O emergente da América Latina vem enfileirando notícias ruins — crescimento medíocre, inflação, descontrole das contas públicas — e , agora, a pior de todas: a avalanche de denúncias de corrupção na Petrobras, levando à abertura de processos contra a estatal brasileira nos EUA.

“A sensação é que o Brasil não consegue se viabilizar. O escândalo na Petrobras é um baque para o país”, diz uma advogada especializada na área de petróleo.

Aconteceu com o México, aconteceu com o Brasil. Desperdiçaram o capital de confiança depositado neles por investidores internacionais, o momento agora é de desalento. A presidente, até as pedras sabem, não gosta de política externa, tem pouca ou nenhuma simpatia pelos rituais da diplomacia, cortou em 30% as verbas do Itamaraty, obrigando à redução das viagens e à improvisação para tapar buracos em encontros internacionais.

Tudo isso, claro, é interpretado como desprestígio e, para evitar trombadas com o Planalto, calar-se tem sido a opção de diplomatas treinados para fazer exatamente o contrário: expressar opiniões, pensar o papel do Brasil no mundo, negociar acordos, marcar espaços.

A indefinição sobre o comando do ministério piora as coisas. O mais provável é Figueiredo continuar ministro e o embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira, assumir a assessoria internacional da Presidência no lugar de Marco Aurélio Garcia. Há 12 anos no Palácio, ele vem contando a amigos que não quer continuar como interlocutor privilegiado de Dilma para assuntos externos, mas, na bolsa de apostas, Marco Aurélio também é cotado como um possível novo ministro das Relações Exteriores.

Ou o vice, Michel Temer. Nestes dois casos, Figueiredo seria deslocado para a Embaixada de Washington, voltando aos EUA, de onde saiu apressado há apenas 14 meses, para substituir o ex-ministro Antonio Patriota.

Com uma crise política — escalada para piorar com a divulgação dos nomes dos congressistas envolvidos com a corrupção da Petrobras — a preocupação com as relações externas vai, de novo, ficar para mais tarde.

É pouco provável que a presidente Dilma remarque a sua muito adiada visita aos Estados Unidos, e a normalização da relação com a superpotência não vai se concretizar logo. “Tudo isso vem levando o Brasil a não participar das grandes discussões internacionais”, diz um diplomata.

Não é por falta de assunto. O mundo se debate com o extremismo islâmico, a onda sem precedentes de imigrantes e refugiados, a devastadora epidemia de ebola na África, o desmantelamento do Oriente Médio, a tensão crescente entre Rússia e potências ocidentais, todas crises que transcendem as fronteiras e exigem a participação da comunidade internacional. “Sabe a posição do Brasil sobre esses temas? Nem eu”, diz um embaixador top.

Em janeiro, vai voltar ao debate um dos assuntos prediletos da política externa brasileira: a reforma da ONU, defendida a cada discurso presidencial na abertura da Assembleia Geral em Nova York. A organização internacional fará 70 anos e ficou combinado que se retomariam as propostas para a reforma do Conselho de Segurança.

Vai esquentar também a campanha para a escolha do novo secretário-geral, e muitos defendem que é hora de uma mulher assumir o cargo mais importante da diplomacia mundial. Quem se habilita? O momento não é bom para o Brasil, a presidente não trabalha com a ideia de que o reconhecimento no cenário internacional poderia ajudála a enfrentar a luta contra as nossas persistentes mazelas tipo corrupção, violência policial, injustiça social.

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