Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
1631) Politica externa brasileira: editorial do jornal O Globo
Ventos de Teerã
Editorial O Globo, 29 de dezembro de 2009
Na entrevista concedida ao GLOBO e publicada na sexta-feira 25, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, aproveitou para reafirmar a defesa brasileira de seu novo aliado preferencial, o Irã de Mahmoud Ahmadinejad. Por uma dessas trapaças do destino - mas que não pode ser creditada ao azar -, logo no domingo o regime dos aiatolás protetores do radical presidente iraniano, reeleito numa eleição fraudada, começou a desfechar nova onda de repressão à oposição interna, a mais violenta desde as manifestações ocorridas depois de anunciada a vitória contestada de Mahmoud Ahmadinejad.
Como o Irã foi tomado por uma atmosfera política inflamável, qualquer fagulha ameaça deflagrar explosões incontroláveis. A nova leva de protestos começou dias antes, com a morte de um dos clérigos dissidentes, o aiatolá Hossein Ali Montazeri. E, ao manter a repressão nas ruas em um importante feriado religioso, o regime jogou mais combustível neste incêndio. Ler a entrevista do chanceler brasileiro enquanto se acompanha o noticiário de Teerã é esclarecedor, para se ter medida dos riscos que a diplomacia brasileira corre ao abrir um guarda-chuva sobre uma ditadura teocrática metida numa aventura nuclear - tudo em nome de um antiamericanismo de ocasião, provavelmente para Brasília, em período eleitoral, afagar frações aliadas mais à esquerda.
A perigosa aventura de Ahmadinejad, sob a proteção do aiatolá Ali Khamenei, é defendida por Amorim com o malandramente falso e cândido argumento de que quem tem arsenais deste teor não pode criticar o Irã (EUA, Rússia etc.). O argumento cabe no figurino ideológico bolivariano do caudilho Hugo Chávez. Uma coisa são nações que saíram da Guerra Fria com estes arsenais, mas que participam dos fóruns que tratam do assunto, e negociam acordos de redução no número de ogivas; outra, um país subjugado por uma ditadura de fanáticos religiosos, à margem de qualquer respeito à diplomacia multilateral.
Caso a situação política interna no Irã rume para a ruptura institucional, desaguando num massacre interno, o Brasil irá à ONU defender aiatolás corruptos, sanguinários, fanáticos e sua guarda pretoriana? A julgar pelo silêncio de Amorim, na entrevista ao GLOBO, quando perguntado sobre a leniência brasileira com relação a Cuba, é provável que isto ocorra, infelizmente. Aliás, é o que o Itamaraty tem feito quando se abstém de condenar nas Nações Unidas governos marginais como o do Sudão, em busca de votos para conseguir um assento no Conselho de Segurança.
Essa clivagem ideológica acentuada da diplomacia apenas sabota o projeto do próprio governo de elevar o status do país como parceiro global confiável. Os terceiro-mundistas, bolivarianos e defensores de Ahmadinejad estacionaram um poderoso carro-bomba dentro deste projeto.
3 comentários:
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.
Exm° Dr. Paulo Roberto de Almeida
ResponderExcluirDe fato é de se causar no mínimo perplexidade um país, o qual tem a pretensão de se lançar como nova potência no cenário internacional, tecer um relacionamento ou mesmo dispensar tratamento de "aliado" ao Irã. Hoje, no mesmo jornal O Globo, publicou-se o seguinte:
"Arrependam-se... senão o sistema os enxergará como 'mohareb' (inimigos de Deus)", disse o clérigo Ahmad Alamolhoda a líderes reformistas em uma manifestação em Teerã, informou a TV estatal.
Pela lei islâmica vigente no Irã, o castigo indicado para um "mohareb" é a morte.
Multidões em Teerã ainda queimaram bandeiras americanas e britânicas.
Em tempo, clérigo Ahmad Alamolhoda é um dos assessores mais próximos do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã e mandante de mais uma reação desproporcional contra manifestantes.
O Reino Unido alerta ainda, para uma possível aquisição, por parte do Irã, de grande quantidade de urânio purificado do Cazaquistão, conforme noticiou a agência AFP.
Em nota, Teerã negou a negociação e afirmou que "Este tipo de desinformação é parte da propaganda realizada em prol dos objetivos políticos das potências opressoras (os países ocidentais)" que atuam contra o Irã. O Cazaquistão classificou tal notícia de "insinuações sem fundamento".
Doutor Paulo Roberto, não venho por meio deste meu comentário condenar o contato entre Brasil e Irã, nem me cabe isto. Acredito, na minha posição de simples cidadão comum que nossa Diplomacia deve se relacionar de maneira neutra e cordial com todas as nações do mundo, mas daí a ter relações mais estreitas com Teerã, é algo para refletir.
Aproveito a ocasião para prestar votos de felicidades ao senhor no novo ano e agradecer pela prestimosa colaboração de seu blog para a nossa "lapidação intelectual", em vista do CACD. Também aos demais leitores desejo sucesso em 2010.
Daniel G. Moscoso.
Meu caro Daniel,
ResponderExcluirMuito grato pelos seus bons votos, que reciproco inteiramente.
De fato, as movimentações diplomáticas em relacão ao regime iraniano são deveras estranhas, não sendo possível saber exatamente quais seriam as motivações de seus promotores.
Uma explicação simplista seria anti-americanismo primário, mas seria muito estúpido para ser verdade. A ver...
Paulo Roberto de Almeida
Meu caro Daniel,
ResponderExcluirMuito grato pelos seus bons votos, que reciproco inteiramente.
De fato, as movimentações diplomáticas em relacão ao regime iraniano são deveras estranhas, não sendo possível saber exatamente quais seriam as motivações de seus promotores.
Uma explicação simplista seria anti-americanismo primário, mas seria muito estúpido para ser verdade. A ver...
Paulo Roberto de Almeida