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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 9 de março de 2010

1772) Ser capitalista no Brasil é uma tremenda temeridade...

Bem, isso já sabiamos, tantos são os problemas. Mas até agora não se tinha uma ideia da dimensão do problema. Pois bem, agora já temos.
Se você fosse um capitalista europeu e desejasse se instalar no Brasil por achar que os custos europeus são maiores, engano seu, pois aqui ficaria muito mais caro, e apenas com os custos que se consegue medir, sem falar na miríade de outros problemas não facilmente quantificáveis, como corrupção, burocracia, ineficiência administrativa, enfim, nossa tradicional lentidão em tudo o que requeira um serviço público.
Esta semana pensei em transferir um carro meu em nome de minha filha, para legalizar uma realidade, mas tive de desistir: o Detran de Brasília entrou em greve.
Agora os professores de SP também vão entrar em greve: adivinhem quem vai sofrer? Claro, as mulheres trabalhadoras, mais ainda as mais pobres...
Isto é o Brasil...

Custo Brasil, uma sobrecarga de 36%
Marcelo Rehder
O Estado de S. Paulo, 10.03.2010

O chamado Custo Brasil, conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional, encarece em média 36,27% o preço do produto brasileiro em relação aos fabricados na Alemanha e nos Estados Unidos. Somado ao câmbio valorizado, esse custo ajuda a explicar a tendência de especialização cada vez maior do País em exportar produtos primários e semimanufaturados, e de importar mais produtos de maior valor agregado e de tecnologia avançada.

Imagine que um alemão apaixonado pelo clima tropical resolvesse trazer sua fábrica de porteira fechada para o Brasil, incluindo mão de obra e máquinas. O preço do mesmo produto que ele fabrica hoje na Alemanha subiria automaticamente 36,27% só pelo simples fato de passar a produzir no Brasil, diz o empresário Mário Bernardini, assessor econômico da presidência da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Bernardini coordenou estudo inédito da Abimaq que mede o Custo Brasil pela primeira vez nos últimos 20 anos. Todo mundo sabe que o Custo Brasil existe, mas nunca ficou claro o tamanho do problema, comentou o empresário ao apresentar o trabalho em reunião plenária da Abimaq em São Paulo na semana passada.

Ele ponderou que, na verdade, trata-se de uma tentativa de avaliação, pois foram mensurados oito itens e o Custo Brasil tem ao menos mais outros 30 que não se consegue transformar em números.

É um piso, pois seguramente o número é maior que 36%, já que não engloba tudo e foi comparado com países que não são os mais baratos do mundo, disse Bernardini ao Estado.

Segundo ele, se a comparação fosse com a China, o número dobraria de tamanho. Fomos conservadores de forma proposital, pois o mundo inteiro tem problemas com a China, disse o diretor de Competitividade da Abimaq, Fernando Bueno.

Entre os componentes do Custo Brasil medidos pela Abimaq estão o impacto dos juros sobre o capital de giro, que na média gera custo 7,95% superior ao dos concorrentes internacionais, e preços de insumos básicos, cuja diferença de custos é de 18,57% entre a produção nacional e a americana e alemã. Outros fatores de custo adicional: impostos não recuperáveis na cadeia produtiva (2,98%), encargos sociais e trabalhistas (2,84%), logística (1,90%), burocracia e custos de regulamentação (0,36%), custos de investimento (1,16%) e custos de energia (0,51%).

Corremos o risco de ver parte do setor produtivo ser transformado em montador, numa indústria que só tem casca e cujo conteúdo vem de fora, alerta o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, assessor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

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