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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Custo Brasil NÃO existe: só existe Custo do Estado brasileiro, ou de seus governos inconsequentes - Paulo Roberto de Almeida

 Custo Brasil NÃO existe: só existe Custo do Estado brasileiro, ou de seus governos inconsequentes 

Paulo Roberto de Almeida


O “custo Bolsonaro” já se propaga da Petrobras para outros setores da economia: câmbio, juros, spread sobre emissões globais, fluxos de investimentos e morosidade geral na economia, em face das incertezas provocadas por aquele degenerado, que promete “meter o dedo” onde acha que pode melhorar (e só provoca estragos, como já foi o caso na pandemia, com milhares de mortos adicionais).

O vice-presidente exerce plenamente o seu direito de demonstrar ignorância e exibir platitudes sobre o comportamento de “manada” dos mercados, apenas para se alinhar ao nível de debilidade mental do chefão ignaro. Certas pessoas poderiam aproveitar a oportunidade para não se inserir no “efeito manada” da estupidez hierárquica. 

O Brasil patina na economia e se afunda no pântano da falta de governança, já que o posto Ipiranga parou de fornecer combustível, como qualquer outra coisa.

Houve um breve tempo, depois da descoberta do pré-sal, que a Petrobras chegou a ter um rating superior ao do próprio Brasil (antes do Investment grade, em 2009), podendo emitir dívida a juros internacionais inferiores ao do país. Aí veio Madame Pasadena e aplicou golpes em série nessa credibilidade “de manada”, nos combustíveis, na eletricidade, na política automotiva e em muitas outras políticas setoriais, culminando por fazer tudo errado ao mesmo tempo, resultando na Grande Destruição de 2015-16, da qual ainda não nos recuperamos inteiramente.

Agora é a vez do capitão degenerado produzir a GRANDE DEMOLIÇÃO!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 22/02/2021

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O custo dos negocios no Brasil - Rubens Barbosa (OESP)

COMO MELHORAR O AMBIENTE DE NEGÓCIOS

Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 25/06/2019

Sabemos todos que no Brasil são prioridades imediatas e urgentes a volta do crescimento e a queda do desemprego. Os dados do primeiro trimestre, porém, não são encorajadores do ponto de vista do setor privado.
O retorno da confiança no governo e o melhor desempenho da economia passam pela aprovação no Congresso de reformas estruturais, em especial a da previdência social, que ajudará a estancar a sangria do déficit público, e pela reforma tributária, que reduzirá o custo Brasil para o setor produtivo. Caso sejam aprovadas, o Ministério da Economia poderá liberar medidas para a abertura da economia, para a desburocratização e para a negociação de acordos comerciais com terceiros países para fazer crescer o comércio exterior e incentivar a retomada dos investimentos públicos e privados.
Nesse contexto, não se pode ignorar também um fator psicológico, muito relevante quando se examina a questão do investimento: o ambiente de negócios. Nesse sentido, a credibilidade dos contratos e a segurança jurídica das regras para a correta implementação das transações comerciais e financeiras são elementos que aqui ainda precisam ser aperfeiçoados para a volta sustentável dos investimentos das empresas nacionais e, sobretudo, internacionais. A corrupção e o descumprimento de compromissos assumidos devem ser enfrentados e a força da lei deve prevalecer sobre os interesses de grupos ou corporações.
Poderiam ser lembrados aqui vários exemplos, alguns dos quais vieram a público, para tornar concretos os comentários sobre a necessidade de melhoria no ambiente de negócios no Brasil.
Pelo seu volume, importância e visibilidade, poderia ser lembrado o conflito em curso sobre a segunda maior operação comercial que ocorreu no Brasil, envolvendo a aquisição, da ordem de R$ 16 bilhões, de uma empresa brasileira por um grupo internacional - a primeira foi a disputa entre o Grupo Pão de Açúcar e a empresa francesa Casino.
Os problemas surgiram nas tratativas de aquisição da empresa de celulose Eldorado, pertencente a J&F, pela Paper Excellence (PE), um dos maiores produtores de celulose do mundo. Segundo se noticiou, depois do acordo de leniência firmado com o Ministério Público por conta de problemas com a Lava Jato, a J&F decidiu vender a Eldorado, que cresceu favorecida por empréstimos do BNDES. A transação correu normalmente na primeira etapa, em 2017. A companhia PE, com sede na Holanda, pagou cerca de R$3,8 bi por 49% da Eldorado. O contrato previa opção de compra da totalidade da empresa brasileira, mais o passivo de dívidas. Para concluir a operação, a J&F deveria cooperar para a liberação de garantias do Grupo J&F em contratos financeiros da Eldorado até setembro passado, após o que a PE perderia a opção de compra. A PE, percebendo a obstrução da J&F, buscou a justiça brasileira e acionou o processo de arbitragem.
O que ocorreu a partir daí tem implicação com o ambiente de negócios e a segurança jurídica dos contratos, como acima referido. Desde a assinatura do contrato, o cenário micro e macroeconômico teve uma forte influência sobre o valor da empresa brasileira: a desvalorização do dólar, o salto da EBTIDA (74%) e o aumento significativo do preço da celulose no mercado internacional (41%). Diante disso, a J&F e a Eldorado alteraram seu posicionamento, atuando – segundo a PE - para impedir a conclusão da transação, apesar de todos os recursos para finalizar a transação (cerca de R$ 11 bi) estarem disponíveis no Brasil. As divergências continuam a ampliar-se com a tentativa de emissão de US$500 milhões em bônus da Eldorado, com a oposição da PE e bloqueada pela Justiça. O assunto está hoje submetido à arbitragem na ICC, na Áustria e em Cingapura para dirimir o conflito pelo descumprimento, segundo a visão da PE, de compromissos assumidos pela J&F e levará ainda algum tempo para ser resolvido. Os recursos alocados para a compra da Eldorado em parte estão imobilizados e novos investimentos foram suspensos.
O custo envolvido com advogados, consultores e assessoria de imprensa para oferecer informações ao público em geral passa a representar um ônus adicional para empresas que queiram participar do mercado brasileiro.
O Brasil é um grande produtor e exportador de celulose e foi uma estratégia normal da empresa estrangeira decidir investir no país e ampliar seus negócios globais na América do Sul. Casos como esse repercutem negativamente na mídia e prejudicam a credibilidade e o ambiente de negócios no Brasil. Hoje grande parte dos conflitos empresariais, tanto como o que ocorre entre a J&F e a PE, quanto em decorrência de problemas societários, são resolvidos por arbitragem em função da maior rapidez para se obter uma solução. De qualquer forma, nada se resolve antes de dois a três anos. A demora para obter uma decisão na justiça ou em cortes nacionais e internacionais de arbitragem contribuem para aumentar a insegurança e a desconfiança de potenciais investidores. 
Assuntos dessa natureza são de interesse do setor privado, mas o governo poder facilitar a rápida resolução dos conflitos por meio de negociações de acordos bilaterais de investimentos. Esses acordos regem disputas entre empresas privadas estrangeiras e os governos e companhias privadas, e representaram uma experiência exitosa nos últimos anos no âmbito da Comunidade Europeia, por exemplo. 
No final de 2018, o Banco Mundial divulgou um ranking de ambiente de negócios, que avalia 190 países. Embora melhorando em relação a 2017, o levantamento coloca o Brasil na 109ª posição e em último lugar entre os países membros do BRICS. Para alterar esse quadro, será necessária uma mudança cultural e de atitude de parte do setor privado, que passa inclusive pela lisura no cumprimento do livremente acordado e na relação com o governo. 

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Os livros no Brasil estao muito caros, inclusive os meus...

Por acaso fui buscar um livro no site da Livraria Cultura. Aproveitei para ver se havia algum meu, e havia, mesmo os esgotados.
Mas, o que me surpreendeu mesmo foram os preços: um abuso, um roubo, ou uma loucura, segundo a perspectiva.
Já sei, já sei: editores e livreiros vão justificar os preços e jogar a culpa no governo, na população, no famoso custo Brasil.
Imagino que se algum editor encontrar uma fórmula de fazer os livros ficarem baratinhos, ele vai ficar rico.
Na França, editores e livreiros montaram uma coalizão contra a Amazon, pois acham que ela vai destruir ambos.
Que seja. Ninguém defende os leitores?


sábado, 5 de abril de 2014

O Brasil é um país caro: o exemplo da ZARA - Mansueto Almeida (via Estadao)

Não é uma novidade. Dois fatores: impostos e mercado protegido, sem concorrência. Os brasileiros são reféns de um governo extorsivo e de carteis protegidos de produtores.
Paulo Roberto de Almeida



by mansueto, 5/04/2014

O Estado de São Paulo publicou hoje uma matéria sobre o preço dos produtos da loja “ZARA” no Brasil (clique aqui: Brasil tem roupas mais caras do mundo, aponta ‘Índice Zara’). Essa marca e o seu modelo de fast fashion com o lançamento várias coleções sucessivas é admirado no mundo todo e muitas empresas imitam o business model da ZARA.
Esse modelo implica em ter a cadeia de valor perto do ponto de venda para alimentar de forma rápida as novas coleções. É por isso que aqui no Brasil a loja trabalha com vários fornecedores locais, o que significa custo elevado. A matéria do Estadão baseada nos estudos do Fabio Monteiro e Thiago Andrade do BTG Pactual mostra que os produtos da Loja ZARA aqui são quase 50% acima do preço dos EUA (sem o efeito cambial) e, junto com a Polônia, temos os preços mais caros.

Fonte: Estado de São Paulo
Apesar do custo caro, possivelmente o modelo ZARA funciona no Brasil apesar dos custos elevados da produção porque o modelo de negócios da marca é fortemente voltado para o varejo – a empresa é muito menos indústria e muito mais varejo e “brand building”.
Como o mercado no Brasil é muito protegido, apesar do elevado custo de produção e dos preços a companhia consegue crescer no Brasil. Mas consegue porque a ZARA não é indústria. E mesmo empresas na área de caçados e confecção que são indústrias passaram a investir fortemente no varejo. Hoje, varias das lojas da Nike no Brasil são de uma fábrica calçados doméstica. O Brasil é um país caro para produzir e, como 49% de nossa arrecadação é via imposto indireto, os preços de produtos aqui são muito acima do resto do mundo.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Quanto custa atravessar os EUA, costa a costa, aos preços dos EUA, e aos preços do Brasil?

Estou planejando férias nos EUA. Como sempre, vamos viajar, eu e Carmen Lícia, de carro, para aproveitar todas as possibilidades pelo caminho.
Como sempre faço, também, estabeleço um roteiro ideal, etapas razoáveis, cidades com atrações culturais e artísticas, um pouco de natureza (mas não muito) e sobretudo liberdade, para mudar o roteiro onde nos aprouver, como melhor se apresentarem outras possibilidades.
Para isso, andei calculando distâncias médias por etapas, e fui acumulando as milhas, para ter uma ideia das distâncias percorridas e do total realizado.
Deu nisto:

30 dias de viagem da costa leste (Connecticut) à costa oeste (California), indo por cima, e voltando pelo sul dos EUA, num total de 7.420 milhas, ou aproximadamente 12 mil kms (média diária de 247 milhas, ou 400 kms). O cálculo de consumo de meu Honda CRV está entre 26 milhas por galão nas cidades e 31 nas estradas. Calculei um consumo de 29 milhas por galão, o que daria, portanto, 255 galões da gasolina comum no total. Ao preço americano da gasolina, vou gastar (sem computar outras despesas com o carro ou pedágios), cerca de 900 dólares, ou aproximadamente 1.890 reais (ao câmbio de 2,1 reais por dólar).

Se eu fosse fazer os mesmos 12 mil kms no Brasil (deixo de lado o estado das estradas, que provavelmente me levaria a consumir bem mais gasolina, e os pedágios não integrados, o que demandaria mais tempo, e portanto uma menor média por dia, embora eu seja capaz de fazer mais de 400 kms, também), ao preço atual da gasolina no Brasil, eu gastaria aproximadamente 2.867 reais, ou seja quase mil reais a mais do que nos EUA.

Não vamos considerar o preço das refeições nos EUA e no Brasil, assim como os hotéis, infinitamente mais baratos e mais práticos nos EUA; acho que os EUA ganham de 2 a 1 do Brasil em matéria de custo de férias. E de 10 a zero, em termos de qualidade...
Deixo de lado, as atrações principais, os museus, as belas cidades, e as paisagens conservadas.
Onde mesmo vocês vão passar as férias?
Eu já fiz o meu roteiro:

1.     Hartford-Wilkes-Barre, PA
2.     Wilkes-Barre-Pittsburgh, PA
3.     Pittsburgh-Cincinnati, OH
4.     Cincinnati-Saint Louis, MO
5.     St. Louis-Kansas City, KA
6.     Kansas City-Denver, CO
7.     Denver-Boulder, CO
8.     Boulder
9.     Boulder-Salt Lake City, UT
10.   Salt Lake-Winnemuca, NV
11.   Winnemuca-Sacramento, CA
12.   Sacramento-Napa
13.   Napa Valley
14.   Napa-San Francisco
15.   San Francisco
16.   San Francisco-San Luis Obispo, CA (coast)
17.   San Luis-Los Angeles
18.   Los Angeles
19.   Los Angeles-San Diego
20.   San Diego
21.   San Diego-Phoenix, AZ
22.   Phoenix-Grand Canyon, AZ
23.   Grand Canyon Nat. Park
24.   Grand Canyon-Albuquerque, NM
25.   Albuquerque-Santa Fe, NM
26.   Santa Fe-Oklahoma City, OK
27.   Oklahoma-Memphis, TN
28.   Memphis-Nashville, TN
29.   Nashville-Harrisburg, PA
30.   Harrisburg - Hartford, CT


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Comercio exterior brasileiro se arrasta penosamente em direcao a...

...a que mesmo?
Não se sabe bem. Provavelmente em direção ao marasmo.
Se o Brasil, a despeito de custos inaceitáves nos procedimentos de importação (com cobranças altíssimas não só de tarifas elevadas, mas de outros impostos indevidos como Pis-Cofins na importação), ainda tem de importar dezenas de bilhões de dólares de produtos primários e insumos básicos para a sua indústria, então é porque nós nos tornamos inacreditavelmente caros, ou seja, não competitivos para qualquer coisa, e tudo isso por causa dos mesmos fatores que tornam o ambiente de negócios no Brasil um pântano empresarial: o custo Brasil, com a enorme carga tributária governamental em primeiro lugar.
Caminhamos, lenta mas seguramente, para uma crise de transações correntes, o que redundará, inevitavelmente em desvalorização cambial, ou seja, nos tornaremos mais pobres, além de aumentar o custo financeiro de nossas transações externas, o spread e tudo o mais.
Esse é o resulta das políticas improvisadas, de "puxadinhos" setoriais, implementadas pelo governo, que parece uma barata tonta. Em lugar de atacar os problemas reais, o governo insiste em contornar o problema, jogando os custos para nós, ou seja, obrigando-nos a suportar duplamente os encargos do protecionismo alfandegário e dos preços de cartel por falta de concorrência. Isso além de provocar deliberadamente inflação, ao manter uma meta que de fato é o teto da banda, um nível inflacionário três vezes superior à média mundial.
Como diria Roberto Campos, o Brasil é um país que não perde a oportunidade de perder oportunidades.
Com a ajuda do governo, assim continuará...
Paulo Roberto de Almeida

O comércio exterior carece de dinamismo e inovação

Editorial O Estado de S.Paulo, 06 de novembro de 2012

O que mais se destaca na análise do movimento do comércio exterior nos dez primeiros meses deste ano é a pouca mudança, tanto nos bens exportados e importados quanto no destino e origem de exportações e importações. É o quadro da acomodação de um país que não procura oferecer inovação e mantém os mesmos clientes e fornecedores, por falta de dinamismo. A única diferença, de um ano para outro, é que as importações crescem um pouco mais do que as exportações, acentuando o déficit da balança de comércio.
As exportações estão em situação precária, pois dependem muito da venda de produtos básicos, cujo preço é variável e influenciado pelo contexto internacional, e a China é o maior cliente. Neste ano, o resultado mensal variou de um mínimo de US$ 16,1 bilhões a um máximo de US$ 23,2 bilhões. Nosso governo insiste muito sobre os efeitos da crise nos países ricos, mas nos dez primeiros meses do ano nossas exportações para os EUA cresceram 9,6% e diminuíram 8,4% para a União Europeia; 6,1%, para a China; e 20,6%, para a Argentina.
A estrutura de nossas importações ficou ainda mais estável que a de nossas exportações. Bens de capital continuam a participar com 21,9%, mas as matérias-primas e bens intermediários ocupam o maior espaço entre nossas importações, com pouco mais de 45%.
Isso mostra que a nossa indústria importa bens intermediários (num valor de US$ 83,4 bilhões) que poderiam ser produzidos em parte no Brasil, mas, por serem muito mais baratos no exterior, acabam sendo importados. Participam, assim, do processo de desindustrialização que afeta todo o setor manufatureiro e nos coloca praticamente na marginalidade quando se trata de bens de alto conteúdo tecnológico, o que se reflete negativamente nas vendas externas e tende cada vez mais a tornar o Brasil um país exportador de commodities.
Havia a expectativa de que o Brasil rapidamente se tornaria um grande exportador de petróleo. Nesse campo, nossas exportações nos dez primeiros meses foram de US$ 16,4 bilhões e nossas importações, de US$ 10,5 bilhões, mas as de outros combustíveis chegaram a US$ 17,4 bilhões. Portanto, o País continua dependendo da importação.
O crescimento do parque industrial vai depender muito de uma mudança em face dos mercados externos: temos de apresentar inovações e aumentar o conteúdo tecnológico dos bens oferecidos ao exterior, e para isso é imprescindível reduzir os nossos custos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

De volta ao custo Brasil - Sandra Rios, Pedro M Veiga


De volta à agenda do custo Brasil 
Pedro da Motta Veiga e Sandra Polonio Rios *
O Estado de S.Paulo, 25 de agosto de 2012

A estratégia de enfrentamento da crise internacional e da perda de dinamismo da indústria com a mobilização de vasto arsenal de medidas de política industrial e comercial parece ter atingido seus limites. O próprio governo vem sinalizando, nos últimos tempos, para alterações no mix de instrumentos de políticas para lidar com esses desafios.
Com o modelo de crescimento apoiado na expansão - principalmente por meio do crédito - do consumo doméstico, à política industrial e comercial se atribuiu o papel de garantir que os benefícios daquela expansão não fossem capturados pelas importações, mas, sim, pela produção doméstica. Incentivos diversos e subsídios foram concedidos à indústria, ao tempo em que se aumentava, por meio de elevações tarifárias e crescente ativismo na área do antidumping, a proteção à produção doméstica.
A percepção dos limites da estratégia de crescimento baseada na ampliação do consumo ocorreu em paralelo à constatação das fragilidades da visão de política que orientou a ação do governo na esfera industrial e comercial, no período em que a apreciação do real levou a culpa pelas dificuldades da indústria.
De um lado, parece claro que a panóplia de medidas e instrumentos mobilizados pelo governo não fará mais do que eventualmente aliviar a situação de curto prazo de algumas empresas e setores específicos. A regra é um conjunto de medidas adotadas para tentar resolver problemas específicos de diferentes setores, por meio da desoneração de folha de pagamento, estabelecimento de margens de preferências nas compras governamentais, etc.
De outro lado, o espaço fiscal para políticas industriais intensivas em subsídios governamentais é hoje nitidamente mais reduzido do que no passado recente. O baixo nível de crescimento tem afetado negativamente a arrecadação federal nos últimos meses e, além disso, há pressões sobre as contas públicas vindas de outras áreas e setores que concorrem com a demanda por incentivos de política industrial.
Neste cenário, o próprio governo parece estar promovendo um deslocamento da ênfase da agenda industrial. Ao que tudo indica, esta se distanciará dos instrumentos voltados para enfrentar situações consideradas emergenciais ou conjunturais - sem que tais instrumentos sejam desmobilizados, no entanto - e focalizará em temas predominantemente "horizontais", que afetam todos os setores da indústria.
Esse ressurgimento da agenda do "custo Brasil" - atribuído pela imprensa à decisão pessoal da presidente da República - deverá se materializar numa série de medidas relacionadas à redução do custo da energia elétrica, à simplificação da carga tributária e à abertura de novas oportunidades de investimento privado em setores de infraestrutura e logística, por meio de concessões, parcerias público-privadas, etc.
O reconhecimento de que o custo Brasil é um dos principais fatores que afetam a competitividade da indústria brasileira é em si positivo, pois evita o diagnóstico fácil que atribui esse problema a situações conjunturais ou à taxa de câmbio. O problema de competitividade da indústria brasileira é estrutural e é para esta realidade que o resgate da agenda do custo Brasil aponta. 
Porém, o otimismo em relação ao novo foco da política não deve ser exagerado. O tema da carga tributária, presente em diversas declarações da presidente, parece ter sido deixado de lado, pelo menos por enquanto. A redução do custo de energia também não faz parte do primeiro "pacote" de medidas, que está focado em infraestrutura de transportes. Mesmo nessa área, a agenda está sendo "fatiada", começando-se pelo anúncio de medidas em áreas consideradas mais "fáceis", como rodovias e ferrovias.
Não se deve minimizar as dificuldades de toda ordem para abordar a agenda do custo Brasil: há, em todos os temas, resistências fortes dos interesses públicos e privados estabelecidos e não é por acaso que esta agenda - identificada há quase 20 anos - pouco avançou. Ainda assim, o retorno dessa agenda ao centro do debate de políticas públicas é motivo para comemoração.

* DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (CINDES)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O "custo Brasil", visto da Argentina: o roto falando do esfarrapado...

Interessante ver uma análise argentina sobre os fatores reais dos problemas brasileiros de industrialização, ou de desindustrialização, como querem alguns.
Ainda que ele esteja certo, seria interessante olhar mais criticamente o que andam fazendo ambos países em matéria de protecionismo primitivo e exacerbado...
Paulo Roberto de Almeida 


El “costo Brasil”, principal factor de desindustrialización
POR JORGE CASTRO, ANALISTA
El Clarin, 9/04/2012

El gobierno de Dilma Rousseff lanzó esta semana un tercer paquete de medidas en defensa de la industria brasileña a través de un recorte de impuestos y un aumento de créditos subsidiados , con el objetivo de “aumentar su competitividad”, tanto dentro como fuera del mercado doméstico.

El problema es que la industria pierde posiciones, ante todo en el mercado interno. Los productos manufactureros importados representaban 14,5% del consumo doméstico en bienes industriales en 2008 y treparon en 2011 a 18,5%; esto ocurrió como parte de su menor participación en el PBI, que pasó de 16,6% a 14,6% en el mismo período, un nivel semejante al de 1955 (gobierno de Juscelino Kubistchek).

La industria brasileña se contrae en un mercado doméstico que se expande (en 2011, el PBI aumentó 2,7%, y el industrial 0,3%).

Esto sucede cuando hay una leve recuperación del sector en febrero (+1,3%) en relación al mes anterior, a pesar de que en el año disminuyó 3,9%, la sexta y más intensa caída consecutiva desde septiembre de 2009 (-7,6%).

Esta caída es parte de una tendencia de largo plazo, que es la disminución de la tasa de crecimiento potencial de Brasil . En los 8 años del gobierno Lula (2003-2010), el PBI creció 4,41% por año y la inflación aumentó 4,74% anual, con una tasa de crecimiento potencial de 4,5% /5%. El factor fundamental de crecimiento en esa etapa fue la demanda doméstica, a través del aumento del consumo individual, ambos arrastrados por la caída de la tasa de desocupación (13% en 2003 y 4,7% en 2011, el menor nivel de la serie histórica ). Brasil tiene pleno empleo.

La tasa de inversión en 2011 (Formación Bruta de Capital Fijo / FBCF) fue 17,85% del PBI, el mismo nivel de 15 años atrás, y la de aumento de la productividad no sólo resultó baja, sino decreciente (0,9% promedio entre 2000 y 2008 y tiende a disminuir a partir de 2009).

Por eso, el pleno empleo limita el nivel de crecimiento potencial en los próximos diez años , al ser baja la inversión y decreciente la productividad, y estaría ahora en 3,5% anual, 1 punto y medio inferior al que tuvo durante el gobierno de Lula.

El dato fundamental de la economía brasileña es que es cada vez más caro producir en el país, resultado directo del alto nivel del “costo Brasil”, uno de los más elevados del mundo.

Tiene el más alto nivel de presión tributaria de los países emergentes (38% del PBI) , necesario para financiar un gigantesco aparato estatal de muy reducida productividad, con una tasa de ahorro público negativa (-2% del PBI) y una muy baja tasa de inversión (17,9%), ante todo pública. Su infraestructura también es muy atrasada e impone a las actividades exportadoras -manufacturas y materias primas por igual- enormes costos y retrasos, que implican una poderosa penalización, con la consiguiente pérdida de competitividad. De ahí que construir una plataforma submarina de exploración para la industria petrolera (pre-sal) cuesta en Brasil el doble que en China o Corea del Sur.

Este es el problema de la falta de competitividad brasileña, exacerbada en la industria manufacturera por una tendencia irreversible de largo plazo, que es la apreciación del real (se ha valorizado 119% entre 2004 y 2011, y más de 40% a partir de 2009). Se puede concluir que el “costo Brasil” es el principal factor que impulsa la “desindustrialización” brasileña.

Enfrentar el desafío del “costo Brasil” implica acentuar las reformas estructurales en la agenda política brasileña; y esto significa aceptar la necesidad de la puja política con los intereses creados que lo encarnan y que están ante todo en el aparato del Estado. Pero ha aparecido un nuevo actor político, ajeno al Estado. Es la nueva clase media (ante todo la clase “C”) que ha emergido en los últimos diez años.

Son 100 millones de brasileños los que integran este sector social. De este sector puede surgir el respaldo para abatir el “costo Brasil” y así retomar el camino de la competitividad perdida.