O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador custo do Estado brasileiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador custo do Estado brasileiro. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 21 de julho de 2020

CPMF é um tributo injusto, imoral, criminoso e cretino - Ricardo Bergamini

Ricardo Bergamini não deixa pedra sobre pedra. Mas tem inteiramente razão.
Eu corrigiria o termo final da frase de Gudin (dos anos 1950, provavelmente) e colocaria, em lugar de homens, ESTADISTAS.
E tampouco falaria em "custo Brasil", o que é muito vago.
O que existe é um CUSTO DO ESTADO BRASILEIRO, com sua horda de sugadores oficiais e semioficiais, o estamento burocrático e os rentistas de todos os setores.
Paulo Roberto de Almeida

Prezados Senhores
A proposta indecorosa do picareta Paulo Guedes da volta do CPMF, indubitavelmente, é a confissão do fracasso da sua proposta econômica de vender a ilusão do sonho do futuro com reformas, sem saber o que fazer com o presente.
CPMF é um tributo injusto, imoral, criminoso e cretino, que se apresenta com uma alíquota baixa (no caso atual 0,20%, a mesma alíquota antiga, posteriormente migrou para 0,38%). 
Esse aparente insignificante tributo, devido ao seu efeito multiplicador de cobranças se transformou no período de sua existência, em um aumento de carga de tributária de 1,5% do PIB ao ano.
Concordo que o Brasil não vai sair desse atual atoleiro, sem aumento de arrecadação, conforme minhas sugestões de base de tributação abaixo:
Fontes de Recursos para bancar a crise do coronavirus, sem aumento da dívida.
Ricardo Bergamini
Sem entrar no mérito da doença, mas apenas nos prejuízos causados, usando como base as orientações do pensamento liberal que prega a liberdade, igualdade, fraternidade e soberania dos povos, da mesma forma que a pregação de Jesus Cristo, abaixo as minhas modestas contribuições de fontes de recursos para pagar os prejuízos causados pelo coronovirus, de uma forma cristã: 
Tirando dos 10% que detêm 42,9% da renda, o governo teria em torno de R$ 861,3 bilhões para bancar a crise do coronavirus, mas na realidade vai estourar na mão dos 10% que detêm 0,8% da massa salarial. Quem no Brasil está interessado nessas bobagens?
1 – A aberração do Contencioso do Tesouro Nacional a Receber – Fonte ME.

Em 2019 o Tesouro Nacional tinha um contencioso a receber da ordem de R$ 2.436,1 bilhões (tributários não previdenciários - R$ 1.776,4 bilhões; tributários previdenciários – R$ 543,1 bilhões; não tributários – R$ 5,4 bilhões; FGTS – R$ 21,2 bilhões).

Fontes de Recursos: Fazer um esforço para receber, pelo menos, 10% do total que daria R$ 243,6 bilhões. 

2 - A aberração da renúncia fiscal – Fonte ME.
Em 2006 o governo federal renunciou a R$ 65,4 bilhões (2,80% do PIB) em tributos, e em 2020, segundo previsão orçamentária, vai renunciar a R$ 320,8 bilhões (4,25% do PIB). Crescimento de bondades e caridades aos amigos e aliados da ordem de 51,79% em relação ao PIB.
Fontes de Recursos: cortar 30% dessa aberração econômica, ou seja: R$ 96,2 bilhões.
3 - A aberração da concentração de renda entre os indivíduos – Fonte IBGE.

A massa de rendimento médio mensal real domiciliar per capita, que era de R$ 264,9 bilhões em 2017, alcançou R$ 277,7 bilhões em 2018. Os 10% da população com os menores rendimentos detinham 0,8% da massa, enquanto que os 10% com os maiores rendimentos concentravam 43,1%.

4 - CAPITAIS BRASILEIROS NO EXTERIOR (CBE) – FONTE BCB

Os dados coletados no CBE ano-base 2018 foram compilados e incorporados às estatísticas da PII. Em 2018, a posição total de ativos brasileiros no exterior atingiu US$ 493,2 bilhões. 
Em 2018 existiam 58.597 investidores pessoas físicas, representado investimentos de US$ 171,5 bilhões e 4.867 investidores pessoas jurídicas, representando investimentos de US$ 321,7 bilhões. 
Fontes de Recursos: taxar em uma única vez em 10% o montante acima, ou seja: US$ 49,3 bilhões = R$ 258,3 bilhões.
5 - A aberração da orgia de gastos com pessoal no Brasil - Fonte ME.
Um grupo de trabalhadores de primeira classe (servidores públicos) composto por 12,6 milhões de brasileiros (ativos, inativos, civis e militares) que representam apenas 6,35% da população brasileira, sendo 2,2 milhões federais, 4,0 milhões estaduais e 6,4 milhões de municipais gastaram R$ 1.129,0 bilhões em 2018 correspondentes a 16,53% do PIB. Esse percentual representou 49,70% da carga tributária que foi de 33,26% do PIB em 2018.

Fontes de Recursos: Taxar em uma única vez em 10% dos gastos com pessoal, ou seja: R$ 112,9 bilhões. Que poderia ser cobrado de forma progressiva, paga mais, quem ganha mais. Garanto que nenhum funcionário pediria demissão.

6 - Extinções imediatas dos cargos de assessores parlamentares (não concursados) – Fonte projeção pessoal.

São amigos, parentes e aliados dos políticos, não são concursados, não têm direitos adquiridos, não têm estabilidade de emprego, não é garantido pelas cláusulas pétreas da Constituição, além de representarem um contingente correspondente a três vezes o efetivo ativo das FFAA com 381.830 militares.   

Fontes de Recursos: extinção imediata desses parasitas, que considerando um salário médio de R$ 8.000,00 mensais, daria uma economia permanente em torno de R$ 113,3 bilhões ao ano.

7 – Extinções dos cartões corporativos – Fonte ME.
O escândalo dos cartões corporativos é uma crise política no governo do Brasil iniciada em 2008 após denúncias sobre gastos irregulares no uso de cartões corporativos. Os cartões foram instituídos em 2001, mas só entraram em funcionamento no ano seguinte para uma maior transparência e rapidez em gastos emergenciais. O problema dos cartões corporativos é estrutural, pois o sistema que deveria ser usado para despesas pequenas e urgentes vem sendo usando para dispensar licitações e dar mimos aos governistas.
Fonte de Recursos: muitas dificuldades em se apurar, mesmo após decisão do STF que obriga a liberdade de acesso à informação.
8 – Extinções imediatas das 157 estatais com controle indireto da União, já que não necessitam da aprovação do Congresso Nacional – Fonte ME.  
- São 203 empresas estatais federais, sendo 46 com controle direto da União (18 dependentes exclusivas do tesouro nacional, e 28 não dependentes do tesouro nacional), e 157 com controle indireto (112 subsidiárias no Brasil, e 45 subsidiárias no exterior.
Fontes de Recursos: Em 2019 o tesouro jogou nas lixeiras das estatais o montante de R$ 36,0 bilhões. Em período de economia de guerra compensaria doar essas lixeiras para os seus funcionários adminstrarem, sem nenhum socorro do goverrno. Duvido que eles aceitariam. 
 9 – Extinções imediatas das imoralidades de gastos com ex- presidentes da república – Fonte ME. 
Presidentes brasileiros que deixam o cargo não recebem pensão ou qualquer tipo de remuneração direta. Mas o que lhes é oferecido chega a custar o equivalente a R$ 12 mil por dia aos contribuintes.

Trata-se de gastos com até oito servidores comissionados (motoristas, seguranças, apoio pessoal e assessoramento) a que cada um tem direito. 

A União paga os salários, passagens e diárias em casos de viagens para acompanhar o ex-mandatário. Além disso, cada ex-presidente tem à disposição dois carros e o pagamento das despesas de combustível.

Essas garantias foram concedidas por meio da Lei 7.474/86 e pelo decreto 6.381/2008. 

Fontes de Recursos: fim dessa orgia com custo ano de R$ 4,6 milhões.

10 – Extinção imediata da orgia reinante no palácio do planalto cujo morador, guardião da moral e da ética da humanidade, ainda não conseguiu ver.

Fontes de Recursos: considerando que somente com pessoal se gaste R$ 160,0 milhões por ano, mais o custo de compra e manutenção de 102 automóveis, acredito em gastos em torno de R$ 1,0 bilhão ano.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O custo dos negocios no Brasil - Rubens Barbosa (OESP)

COMO MELHORAR O AMBIENTE DE NEGÓCIOS

Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 25/06/2019

Sabemos todos que no Brasil são prioridades imediatas e urgentes a volta do crescimento e a queda do desemprego. Os dados do primeiro trimestre, porém, não são encorajadores do ponto de vista do setor privado.
O retorno da confiança no governo e o melhor desempenho da economia passam pela aprovação no Congresso de reformas estruturais, em especial a da previdência social, que ajudará a estancar a sangria do déficit público, e pela reforma tributária, que reduzirá o custo Brasil para o setor produtivo. Caso sejam aprovadas, o Ministério da Economia poderá liberar medidas para a abertura da economia, para a desburocratização e para a negociação de acordos comerciais com terceiros países para fazer crescer o comércio exterior e incentivar a retomada dos investimentos públicos e privados.
Nesse contexto, não se pode ignorar também um fator psicológico, muito relevante quando se examina a questão do investimento: o ambiente de negócios. Nesse sentido, a credibilidade dos contratos e a segurança jurídica das regras para a correta implementação das transações comerciais e financeiras são elementos que aqui ainda precisam ser aperfeiçoados para a volta sustentável dos investimentos das empresas nacionais e, sobretudo, internacionais. A corrupção e o descumprimento de compromissos assumidos devem ser enfrentados e a força da lei deve prevalecer sobre os interesses de grupos ou corporações.
Poderiam ser lembrados aqui vários exemplos, alguns dos quais vieram a público, para tornar concretos os comentários sobre a necessidade de melhoria no ambiente de negócios no Brasil.
Pelo seu volume, importância e visibilidade, poderia ser lembrado o conflito em curso sobre a segunda maior operação comercial que ocorreu no Brasil, envolvendo a aquisição, da ordem de R$ 16 bilhões, de uma empresa brasileira por um grupo internacional - a primeira foi a disputa entre o Grupo Pão de Açúcar e a empresa francesa Casino.
Os problemas surgiram nas tratativas de aquisição da empresa de celulose Eldorado, pertencente a J&F, pela Paper Excellence (PE), um dos maiores produtores de celulose do mundo. Segundo se noticiou, depois do acordo de leniência firmado com o Ministério Público por conta de problemas com a Lava Jato, a J&F decidiu vender a Eldorado, que cresceu favorecida por empréstimos do BNDES. A transação correu normalmente na primeira etapa, em 2017. A companhia PE, com sede na Holanda, pagou cerca de R$3,8 bi por 49% da Eldorado. O contrato previa opção de compra da totalidade da empresa brasileira, mais o passivo de dívidas. Para concluir a operação, a J&F deveria cooperar para a liberação de garantias do Grupo J&F em contratos financeiros da Eldorado até setembro passado, após o que a PE perderia a opção de compra. A PE, percebendo a obstrução da J&F, buscou a justiça brasileira e acionou o processo de arbitragem.
O que ocorreu a partir daí tem implicação com o ambiente de negócios e a segurança jurídica dos contratos, como acima referido. Desde a assinatura do contrato, o cenário micro e macroeconômico teve uma forte influência sobre o valor da empresa brasileira: a desvalorização do dólar, o salto da EBTIDA (74%) e o aumento significativo do preço da celulose no mercado internacional (41%). Diante disso, a J&F e a Eldorado alteraram seu posicionamento, atuando – segundo a PE - para impedir a conclusão da transação, apesar de todos os recursos para finalizar a transação (cerca de R$ 11 bi) estarem disponíveis no Brasil. As divergências continuam a ampliar-se com a tentativa de emissão de US$500 milhões em bônus da Eldorado, com a oposição da PE e bloqueada pela Justiça. O assunto está hoje submetido à arbitragem na ICC, na Áustria e em Cingapura para dirimir o conflito pelo descumprimento, segundo a visão da PE, de compromissos assumidos pela J&F e levará ainda algum tempo para ser resolvido. Os recursos alocados para a compra da Eldorado em parte estão imobilizados e novos investimentos foram suspensos.
O custo envolvido com advogados, consultores e assessoria de imprensa para oferecer informações ao público em geral passa a representar um ônus adicional para empresas que queiram participar do mercado brasileiro.
O Brasil é um grande produtor e exportador de celulose e foi uma estratégia normal da empresa estrangeira decidir investir no país e ampliar seus negócios globais na América do Sul. Casos como esse repercutem negativamente na mídia e prejudicam a credibilidade e o ambiente de negócios no Brasil. Hoje grande parte dos conflitos empresariais, tanto como o que ocorre entre a J&F e a PE, quanto em decorrência de problemas societários, são resolvidos por arbitragem em função da maior rapidez para se obter uma solução. De qualquer forma, nada se resolve antes de dois a três anos. A demora para obter uma decisão na justiça ou em cortes nacionais e internacionais de arbitragem contribuem para aumentar a insegurança e a desconfiança de potenciais investidores. 
Assuntos dessa natureza são de interesse do setor privado, mas o governo poder facilitar a rápida resolução dos conflitos por meio de negociações de acordos bilaterais de investimentos. Esses acordos regem disputas entre empresas privadas estrangeiras e os governos e companhias privadas, e representaram uma experiência exitosa nos últimos anos no âmbito da Comunidade Europeia, por exemplo. 
No final de 2018, o Banco Mundial divulgou um ranking de ambiente de negócios, que avalia 190 países. Embora melhorando em relação a 2017, o levantamento coloca o Brasil na 109ª posição e em último lugar entre os países membros do BRICS. Para alterar esse quadro, será necessária uma mudança cultural e de atitude de parte do setor privado, que passa inclusive pela lisura no cumprimento do livremente acordado e na relação com o governo. 

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)