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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Commodities: bye-bye preços altos? - Wall Street Journal

Inovação e investimentos desfazem bolhas globais de commodities


The Wall Street Journal, December 10, 2013

Ningde, China
O preço do níquel, metal usado na fabricação de aço inoxidável para coisas que vão de panelas a cordas de guitarra, disparou em 2007 para mais de US$ 50.000 a tonelada, comparado com menos de US$ 10.000 apenas alguns anos antes.
Como grande parte da produção de níquel é controlada por firmas ocidentais, a alta deixou a pujante economia da China particularmente vulnerável — até que algumas siderúrgicas do país descobriram como produzir um "ferro-gusa de níquel" de menor grau, gerando uma enorme oferta de metal barato.
A inovação derrubou os preços do níquel para menos de US$ 14.000 a tonelada e transformou a China num dos principais produtores do metal no mundo. O país agora produz mais de 400.000 toneladas de ferro-gusa de níquel por ano, o equivalente a 20% da demanda mundial.
Os economistas alertaram por anos que a crescente demanda da China e outros mercados emergentes por recursos naturais superaria a oferta, provocando escassez de bens como níquel, carvão, cobre e milho. Mas um período notável de inovação e investimento produziu um quadro diferente. A expansão da oferta ajudou a moderar os preços das commodities nos últimos doze meses, após dez anos de aumento da demanda da China terem levado muitos preços à estratosfera.
O índice do Fundo Monetário Internacional que reúne todos os preços das commodities caiu cerca de 12% desde picos recentes. Ele tinha quase triplicado entre 2000 e 2011. O preço do cobre recuou 28% desde que atingiu um recorde, em 2011, enquanto o do carvão mineral caiu mais da metade ante seu pico de 2008.
A queda de preços é também resultado de uma demanda mais fraca, especialmente devido à desaceleração da economia chinesa. E os preços de muitas commodities, como o petróleo, permanecem muito acima de sua média de 10 ou 15 anos atrás.
Mas o panorama global da oferta é o melhor em anos. "A escassez sempre induz algum tipo de inovação", diz David Jacks, um professor da Universidade Simon Fraser, no Canadá, que estudou os ciclos de commodities no século passado.
A inovação mais conhecida se deu na indústria petrolífera com o chamado fraturamento hidráulico, ou "fracking", uma técnica de injeção de água e outros materiais em rochas que possibilitou o boom da exploração de petróleo e gás de xisto. Na agricultura, os produtores estão tendo acesso a mais terra arável e usando sementes híbridas que permitem uma produtividade maior.
No setor de mineração, empresas agora usam brocas de diamante para alcançar maiores profundidades. Empresas que misturam produtos químicos com minerais para criar metais desejados hoje extraem mais material do que nunca de depósitos de menor grau de pureza.
E muitos projetos que foram financiados anos atrás — incluindo minas novas ou ampliadas de cobre, prata e níquel — já começaram a produzir.
Com tudo isso, a produção dos principais metais quase dobrou ou triplicou ao longo dos últimos 20 anos, segundo a Agência de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos e outras organizações. Entre 2000 e 2012, a produção de alumínio aumentou de 24,7 milhões de toneladas para 45,7 milhões, segundo a consultoria Raw Materials Group, de Estocolmo. A produção de minério de ferro foi de 975 milhões de toneladas para 2 bilhões no período.A produção mundial de milho, por sua vez, aumentou em cerca de 270 milhões de toneladas ao longo dos últimos dez anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas.
Todo esse incremento com frequência se dá com custos ambientais, como poluição, desmatamento e contaminação da água por produtos químicos. Ainda não está claro como o mundo poderá sustentar os ganhos na produção de commodities necessários para atender a demanda futura. O consumo per capita de energia e outros recursos na China continua menor que no Ocidente e deve subir à medida que a economia chinesa cresce. Muitas fontes de minerais mais fáceis de explorar foram esgotadas, o que deve aumentar os custos de produção no futuro.
Mas as inovações dos últimos dez anos mostram como os sinais do mercado ajudam a criar nova oferta.
A produção de níquel da China é um dos exemplos mais drásticos dessa nova tendência. No início de 2000, os preços estavam abaixo de US$ 10.000 a tonelada. Aí a economia da China decolou, criando uma nova demanda para o aço inoxidável, que exige níquel e ferro. Os preços do níquel ultrapassaram US$ 51.000 a tonelada em meados de 2007.
A maior parte da produção mundial de níquel na época era dominada por empresas como a Vale, a BHP Billiton Ltd. BHP.AU +0.14% e a MMC Norilsk NickelNILSY +0.36% . E a maior parte do metal vinha dos chamados depósitos de sulfeto em regiões como Canadá e Rússia, onde as minas estavam se esgotando.
Havia uma abundância de depósitos de laterita na Indonésia e outros lugares. Ela podia ser refinada em ferro-gusa de níquel, que contém uma porção relativamente pequena de níquel, geralmente inferior a 15%, misturado com ferro. Mas seu processamento demandava muita energia e era muito poluente.
Analistas calculavam em pelo menos US$ 20.000 o custo de produzir uma tonelada de ferro-gusa de níquel, mais que o dobro do preço de mercado do níquel no início dos anos 2000.
Quando o preço do níquel subiu, a China identificou uma vantagem competitiva: ela ainda tinha dezenas de altos-fornos velhos e ineficientes. Com ajustes, eles poderiam refinar minério laterítico para produzir ferro-gusa de níquel. Com a alta dos preços, o ferro-gusa de níquel se tornou economicamente viável e fornos em toda a costa leste da China foram acionados.
A Tsingshan Holding Group, uma das maiores produtoras de aço inoxidável da China, precisava de muito níquel. Ela começou a testar fornos elétricos rotativos, que usam menos energia do que altos-fornos e podem extrair mais níquel do minério de ferro. O processo deu certo, reduzindo o consumo de eletricidade em até 40%, segundo sua subsidiária em Xangai. A Tsingshan agora produz ferro-gusa de níquel com 11% de níquel, informa a firma, ante 2% ou menos quando usava as velhas técnicas. Ela afirma que hoje recebe cerca de metade do níquel que precisa da sua própria produção de ferro-gusa.
Os avanços da Tsingshan foram replicados em toda a China. Como a tecnologia de ferro-gusa de níquel melhorou, dizem os analistas, o custo de processamento caiu até US$ 12.500 por tonelada.
Isso "certamente destruiu o mundo" do níquel tradicional, disse Jim Lennon, consultor do australiano Macquarie BankMQG.AU +1.22% acrescentando que a oferta poderia voltar a cair no futuro.
Enquanto isso, as mineradoras ocidentais lutam para lidar com a nova disponibilidade do produto no mercado. Analistas estimam que até 40% da indústria de mineração de níquel está perdendo dinheiro hoje.
Ivan Glasenberg, diretor-presidente da Glencore GLNCY +0.50% -Xstrata, quarta maior produtora de níquel do mundo, disse no início do ano que estava pessimista sobre o preço do metal. Em outubro, a empresa anunciou que fecharia uma mina na República Dominicana, por causa da queda dos preços.
(Colaboraram Yue Li e James T. Areddy.)
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