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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Atlas da Complexidade Economica - Paulo Gala

Manufaturas são complexas e commodities são não complexas

Para os clássicos do desenvolvimento econômico a industrialização sempre foi o caminho por excelência para se desenvolver e aumentar a produtividade de um país. Os argumentos estruturalistas têm como pilar a ideia de que o setor industrial e’ a chave para o aumento de produtividade de uma economia como vimos acima. Desde o argumento da tendência declinante dos termos de troca, passando pela ideia de Prebsich de que os ganhos de produtividade são incorporados a salários nos países industrializados e se tornam queda de preços em países da periferia, não é possível imaginar desenvolvimento econômico nesse arcabouço de pensamento sem a ideia de industrialização. Toda literatura estruturalista sobre desindustrialização e ate mesmo doença holandesa parte dai (Bresser 2013).
Como argumentava o economista Nicholas Kaldor, seguindo Gunnar Myrdal, a dinâmica tecnológica e de produtividade dependem fortemente do processo de acumulação de capital, do próprio nível de produção agregado e da industrialização da produção. Nesse sentido, estabelece-se uma relação de causalidade entre a taxa de crescimento da produtividade e a de crescimento da produção industrial em que um aumento na produção provoca aumento da produtividade. Há, portanto, uma relação positiva entre a taxa de crescimento da produtividade do trabalho e a de crescimento da produção industrial, conhecida na literatura como “lei de Kaldor-Verdoorn”. A correlação entre o crescimento do produto industrial e o desempenho geral de uma economia pode ser entendida, portanto, a partir dos aumentos de produtividade encontrados no setor industrial.
Há duas explicações na literatura kaldoriana para tal efeito. A primeira diz respeito à transferência de trabalhadores de setores de baixa produtividade (trabalho precário) para atividades industriais que apresentam produtividade elevada. Como há excesso de oferta de trabalho (surplus labor) nos setores tradicionais e de baixa produtividade, a transferência de trabalhadores aos setores modernos tem pouco ou nenhum impacto no nível de produção dos setores tradicionais. De acordo com Kaldor (1966), esse processo caracteriza a transição das economias da imaturidade para a maturidade, em que imaturidade significa um estado de permanente oferta de trabalho nos setores de trabalho precário e subsistência, portanto de baixa produtividade. A segunda razão para a correlação entre o produto da indústria e o aumento da produtividade relaciona-se à existência de retornos crescentes de escala estáticos e dinâmicos em atividades manufatureiras como mencionado acima. Retornos estáticos dizem respeito a economias de escala encontradas dentro das firmas e retornos dinâmicos referem-se a aumentos de produtividade derivados de “learning by doing”, externalidades positivas e “spill-overs” tecnológicos.
O setor industrial se destaca também numa economia pois de todos os subsetores produtivos é o que mais exerce efeitos de encadeamento para frente e para trás nas cadeias produtivas dos outros subsetores e em seu próprio subsetor. Isto ocorre porque a indústria de transformação demanda insumos e oferta produtos de e para todos os demais setores da economia, como também porque os elos de ligação entre os setores produtivos intra-indústria são mais densos. Movimentos de expansão ou contração no setor manufatureiro afetam mais o conjunto da economia do que impulsos observados fora desse setor. Essa primazia da indústria pode ser facilmente observada nas economias mundo afora a partir da analise das matrizes insumo-produto de cada país.
O Atlas da Complexidade Economica traz uma contribuição interessante para a discussão; do ponto de vista de uma análise estritamente empírica feita pelo algoritmo do Atlas, fica claro que manufaturas se caracterizam em geral como bens mais complexos e commodities como bens menos complexos. O mapa acima apresenta as 34 principais comunidades de produtos do Atlas divididos em relação as suas características de complexidade e “conectividade” discutida anteriormente. É possível observar no mapa que maquinário, produtos químicos, aviões, navios e eletrônicos se destacam como bens mais complexos e conectados entre si. Por outro lado, pedras preciosas, petróleo, minerais, peixes e crustáceos, frutas, flores e agricultura tropical apresentam baixíssima complexidade e conectividade. Cereais, têxteis, equipamentos para construção e alimentos processados situam-se numa posição intermediaria entre os bens mais complexos e menos complexos.
Do ponto de vista conceitual o Altas também traz um ganho relevante para o argumento estruturalista da industrialização na medida em que cria uma nova dimensão para comparação entres bens. Com o avanço tecnológico das ultimas décadas fica cada vez mais difícil distinguir se um produto é manufaturado, semi-manufaturado ou bruto, ou ainda, se um produto é industrial ou quase industrial. Dos 4.500 produtos analisados na base mais ampla do Atlas fica muito difícil dizer no detalhe quem é industrializado e quem não é. Por outro lado, é possível construir um ranking em termos de complexidade desses 4.500 produtos e das 32 comunidades que abrigam esses produtos. Nos resultados do Atlas fica bastante claro que os países hoje considerados ricos se especializam na produção das comunidades complexas concentradas em manufaturas e os países pobres se especializaram na produção das comunidades não complexas concentradas em recursos naturais.
ver Construindo Complexidadetexto clássico Allyn Young (1928)

terça-feira, 31 de março de 2015

Commodities: tendencia secular ao declinio nos precos - PesquisaMacroecomica Itau

Excelente estudo de Artur Manoel Passos, sobre o qual tenho algumas observações.
1) Quando se fala de declínio, ou ascensão, numa série histórica de valores, sempre se deve perguntar, em relação a quê, exatamente?
    Pode ser em relação a um ponto na trajetória -- e se escolhermos um outro ponto a tendência pode mudar, certo? -- mas pode ser em relação à referência escolhida para comparação.
2) Neste caso, é dito é que se trata de relação aos preços de serviços, mas não se apresenta qual o indicador preciso desses serviços, e quais serviços são computados na série.
3) A tendência secular de queda de commodities poderia sustentar o famoso argumento prebischiano sobre "deterioração dos termos do intercâmbio", mas na verdade o desmente, pois diz que os manufaturados também caem.
4) Precisaria ficar claro que manufaturados SEMPRE vão cair, absoluta e relativamente, dados os ganhos de escala, de produtividade, de inovação nessa área.
5) Preços agrícolas também devem cair tendencialmente, com o crescimento progressivo da produtividade, incorporação de novas terras, diminuição do crescimento demográfico, etc, mas sempre depende da relação oferta e demanda, e a primeira reage a expectativa de ganhos futuros.
6) Metais e minerais são estoques fixos e dependem de infraestrutura, efeito substituição, mas não são "renovaveis", como agrícolas e manufaturas.
7) O principal problema, no entanto, são os serviços, que constituem uma gama enorme de itens, alguns com ganhos contínuos de produtividade -- telecomunicações, por exemplo -- e outros de ganhos nulos, ou de custos crescentes (corte de cabelo, por exemplo).

    Sugeriria que o estudo tivesse mais aperfeiçoamentos metodológicos para responder a tais tipos de questionamentos.
Paulo Roberto de Almeida
Declínio secular das commodities, de volta à tendência?
MACRO VISÃO
Itaú Macroeconômica
31/03/2015
 
A queda dos últimos anos trouxe os preços reais das commodities de volta à tendência de declínio secular.
O declínio secular é concentrado nas commodities agrícolas, mas os manufaturados também caíram em termos reais. A queda de ambos é em relação aos preços de serviços. 
Queda de 2014 marca retorno à média de longo prazo
Construímos uma série desde 1913 dos preços agregados de commodities em dólar, deflacionada pelo índice de preços ao consumidor dos EUA.  A série combina dados mensais de índices de preços ao produtor nos EUA (1913 - 1956), índices agregados históricos (1957 - 1989) e o Índice de Commodities Itaú (1990 - 2014). O anexo 1 traz mais detalhes.
A série (gráfico 1) possui informações importantes sobre o ciclo e tendência de longo prazo das commodities.
O ciclo de forte alta dos preços iniciado em 2002 (associado à China) foi precedido de três ciclos anteriores. O primeiro, entre 1915 e 1919, pode estar associado à 1ª Guerra Mundial. O próximo coincide com a 2ª Guerra Mundial e a reconstrução da Europa no pós-guerra. O terceiro ciclo parece ter começado com a crise do petróleo em 1973 e deve ter continuado com o repasse de custos maiores de energia para as demais commodities.
A queda dos preços entre 2011 e 2014 trouxe os preços para a tendência de longo prazo. Por esta ótica, não é possível rejeitar uma continuidade da queda, já que os ciclos de alta anteriores foram sucedidos por preços abaixo da tendência.
O padrão cíclico observado nos preços encontra uma explicação nos fundamentos. Os ciclos de alta tendem a ser causados por aceleração da demanda. A alta dos preços incentiva investimentos. A maturação dos investimentos aumenta a capacidade de produção. Quando este aumento coincide com o fim do ciclo de crescimento anormal da demanda, os preços recuam por um longo período, até que o balanço entre oferta e demanda volte a níveis equilibrados.
Dos quatro ciclos observados nos últimos 100 anos, três deles se encaixam neste comportamento (1ª Guerra Mundial, 2ª Guerra Mundial e reconstrução de Europa, boom da China).
A crise do petróleo de 1973 apresentou características distintas. Neste caso, a alta começou a partir de um choque de oferta do petróleo, levando a repasse de custos para as demais commodities. A queda dos preços ocorreu com a política desinflacionaria dos EUA a partir do fim da década de 70.
Quanto à tendência de longo prazo, observamos uma queda das commodities agregadas em termos reais. A queda dos preços agregados em termos reais traz duas perguntas adicionais:
  1. Os três componentes (agrícolas, metais e energia) mostram a mesma tendência?
  2. A tendência de queda reflete um desempenho inferior de commodities em relação a bens manufaturados ou serviços?
A tendência de queda é restrita às commodities agrícolas 
Para avaliar se os todos os três grupos de commodities mostram esta queda em termos reais, criamos séries de commodities agrícolas, metálicas e energéticas desde 1926[1].
As commodities agrícolas recuaram em termos reais ao longo do período (gráfico 2). Além disso, os principais ciclos de alta coincidem com as altas do índice agregado.
Ao contrário dos preços agregados, a commodities metálicas e energéticas mostram ligeira tendência de alta em termos reais (gráfico 3). Nas duas séries, o ciclo de alta da década passada é mais intenso do que os ciclos anteriores.
Bens manufaturados também mostram tendência secular de queda de preços em termos reais
A tendência de queda das commodities em termos reais não é em relação a bens manufaturados. Tanto o índice agregado de commodities quanto o índice de preços de bens finais (da séries de preços ao produtor dos EUA) mostram queda em termos reais desde 1947 (ver gráfico 4). A queda em termos reais de commodities e manufaturados é resultado da tendência de alta dos preços de serviços.
Desse modo, os termos de troca de um país que exporta  commodities e importa manufaturados não não mostra uma tendencia de queda no longo prazo.
Artur Manoel Passos
Itau Macroenômica

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Commodities: bye-bye preços altos? - Wall Street Journal

Inovação e investimentos desfazem bolhas globais de commodities


The Wall Street Journal, December 10, 2013

Ningde, China
O preço do níquel, metal usado na fabricação de aço inoxidável para coisas que vão de panelas a cordas de guitarra, disparou em 2007 para mais de US$ 50.000 a tonelada, comparado com menos de US$ 10.000 apenas alguns anos antes.
Como grande parte da produção de níquel é controlada por firmas ocidentais, a alta deixou a pujante economia da China particularmente vulnerável — até que algumas siderúrgicas do país descobriram como produzir um "ferro-gusa de níquel" de menor grau, gerando uma enorme oferta de metal barato.
A inovação derrubou os preços do níquel para menos de US$ 14.000 a tonelada e transformou a China num dos principais produtores do metal no mundo. O país agora produz mais de 400.000 toneladas de ferro-gusa de níquel por ano, o equivalente a 20% da demanda mundial.
Os economistas alertaram por anos que a crescente demanda da China e outros mercados emergentes por recursos naturais superaria a oferta, provocando escassez de bens como níquel, carvão, cobre e milho. Mas um período notável de inovação e investimento produziu um quadro diferente. A expansão da oferta ajudou a moderar os preços das commodities nos últimos doze meses, após dez anos de aumento da demanda da China terem levado muitos preços à estratosfera.
O índice do Fundo Monetário Internacional que reúne todos os preços das commodities caiu cerca de 12% desde picos recentes. Ele tinha quase triplicado entre 2000 e 2011. O preço do cobre recuou 28% desde que atingiu um recorde, em 2011, enquanto o do carvão mineral caiu mais da metade ante seu pico de 2008.
A queda de preços é também resultado de uma demanda mais fraca, especialmente devido à desaceleração da economia chinesa. E os preços de muitas commodities, como o petróleo, permanecem muito acima de sua média de 10 ou 15 anos atrás.
Mas o panorama global da oferta é o melhor em anos. "A escassez sempre induz algum tipo de inovação", diz David Jacks, um professor da Universidade Simon Fraser, no Canadá, que estudou os ciclos de commodities no século passado.
A inovação mais conhecida se deu na indústria petrolífera com o chamado fraturamento hidráulico, ou "fracking", uma técnica de injeção de água e outros materiais em rochas que possibilitou o boom da exploração de petróleo e gás de xisto. Na agricultura, os produtores estão tendo acesso a mais terra arável e usando sementes híbridas que permitem uma produtividade maior.
No setor de mineração, empresas agora usam brocas de diamante para alcançar maiores profundidades. Empresas que misturam produtos químicos com minerais para criar metais desejados hoje extraem mais material do que nunca de depósitos de menor grau de pureza.
E muitos projetos que foram financiados anos atrás — incluindo minas novas ou ampliadas de cobre, prata e níquel — já começaram a produzir.
Com tudo isso, a produção dos principais metais quase dobrou ou triplicou ao longo dos últimos 20 anos, segundo a Agência de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos e outras organizações. Entre 2000 e 2012, a produção de alumínio aumentou de 24,7 milhões de toneladas para 45,7 milhões, segundo a consultoria Raw Materials Group, de Estocolmo. A produção de minério de ferro foi de 975 milhões de toneladas para 2 bilhões no período.A produção mundial de milho, por sua vez, aumentou em cerca de 270 milhões de toneladas ao longo dos últimos dez anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas.
Todo esse incremento com frequência se dá com custos ambientais, como poluição, desmatamento e contaminação da água por produtos químicos. Ainda não está claro como o mundo poderá sustentar os ganhos na produção de commodities necessários para atender a demanda futura. O consumo per capita de energia e outros recursos na China continua menor que no Ocidente e deve subir à medida que a economia chinesa cresce. Muitas fontes de minerais mais fáceis de explorar foram esgotadas, o que deve aumentar os custos de produção no futuro.
Mas as inovações dos últimos dez anos mostram como os sinais do mercado ajudam a criar nova oferta.
A produção de níquel da China é um dos exemplos mais drásticos dessa nova tendência. No início de 2000, os preços estavam abaixo de US$ 10.000 a tonelada. Aí a economia da China decolou, criando uma nova demanda para o aço inoxidável, que exige níquel e ferro. Os preços do níquel ultrapassaram US$ 51.000 a tonelada em meados de 2007.
A maior parte da produção mundial de níquel na época era dominada por empresas como a Vale, a BHP Billiton Ltd. BHP.AU +0.14% e a MMC Norilsk NickelNILSY +0.36% . E a maior parte do metal vinha dos chamados depósitos de sulfeto em regiões como Canadá e Rússia, onde as minas estavam se esgotando.
Havia uma abundância de depósitos de laterita na Indonésia e outros lugares. Ela podia ser refinada em ferro-gusa de níquel, que contém uma porção relativamente pequena de níquel, geralmente inferior a 15%, misturado com ferro. Mas seu processamento demandava muita energia e era muito poluente.
Analistas calculavam em pelo menos US$ 20.000 o custo de produzir uma tonelada de ferro-gusa de níquel, mais que o dobro do preço de mercado do níquel no início dos anos 2000.
Quando o preço do níquel subiu, a China identificou uma vantagem competitiva: ela ainda tinha dezenas de altos-fornos velhos e ineficientes. Com ajustes, eles poderiam refinar minério laterítico para produzir ferro-gusa de níquel. Com a alta dos preços, o ferro-gusa de níquel se tornou economicamente viável e fornos em toda a costa leste da China foram acionados.
A Tsingshan Holding Group, uma das maiores produtoras de aço inoxidável da China, precisava de muito níquel. Ela começou a testar fornos elétricos rotativos, que usam menos energia do que altos-fornos e podem extrair mais níquel do minério de ferro. O processo deu certo, reduzindo o consumo de eletricidade em até 40%, segundo sua subsidiária em Xangai. A Tsingshan agora produz ferro-gusa de níquel com 11% de níquel, informa a firma, ante 2% ou menos quando usava as velhas técnicas. Ela afirma que hoje recebe cerca de metade do níquel que precisa da sua própria produção de ferro-gusa.
Os avanços da Tsingshan foram replicados em toda a China. Como a tecnologia de ferro-gusa de níquel melhorou, dizem os analistas, o custo de processamento caiu até US$ 12.500 por tonelada.
Isso "certamente destruiu o mundo" do níquel tradicional, disse Jim Lennon, consultor do australiano Macquarie BankMQG.AU +1.22% acrescentando que a oferta poderia voltar a cair no futuro.
Enquanto isso, as mineradoras ocidentais lutam para lidar com a nova disponibilidade do produto no mercado. Analistas estimam que até 40% da indústria de mineração de níquel está perdendo dinheiro hoje.
Ivan Glasenberg, diretor-presidente da Glencore GLNCY +0.50% -Xstrata, quarta maior produtora de níquel do mundo, disse no início do ano que estava pessimista sobre o preço do metal. Em outubro, a empresa anunciou que fecharia uma mina na República Dominicana, por causa da queda dos preços.
(Colaboraram Yue Li e James T. Areddy.)
[image]

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Brasil desperdiçou a renda das commodities - Entrevista Delfim Neto

Delfim defende regulação em commodities

Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo
Valor Economico, 9/09/2013

Para Delfim, incentivo do governo brasileiro à concentração na área de frigoríficos é um grave erro, porque cria oligopsônio na compra e oligopólio na venda

O processo de globalização da economia resultou em uma estrutura perversa no mercado de commodities, em que pouco mais de uma dezena de tradings agrícolas controlam bilhões de produtores rurais. Em escala global, as tradings atuam como um oligopsônio na aquisição de produtos agrícolas, limitando o poder de negociação dos agricultores, e como um oligopólio na venda desses produtos.
Para equilibrar esse processo, o Estado, que de algum modo aceitou e até promoveu a consolidação dessa estrutura, terá de agir e lançar mão de instrumentos de regulação, tais como agências específicas para isso. Essa é a avaliação do economista Antônio Delfim Netto, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura.
Em entrevista ao Valor, Delfim, aos 85 anos, diz que a política de concentração dos frigoríficos brasileiros, capitaneada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi um "grave erro", e é parte desse processo global da oligopolização da produção global de alimentos. "Mesmo quando há grandes economias de escala, estruturas oligopsônicas e oligopolísticas são contra o aumento da produtividade", afirma.
Na entrevista, Delfim tratou de algumas das principais discussões da economia agrícola. Em meio ao debate sobre a desaceleração da China, ele não crê que haverá uma "debacle" nos preços agrícolas. O período de forte alta nas cotações, porém, já passou e o Brasil, segundo Delfim, não soube aproveitar o boom para investir em infraestrutura.
Sobre a política agrícola nacional, o ex-ministro elogia o último Plano Safra, válido para o ciclo 2013/14. De acordo com ele, o plano ataca aquele que talvez seja o principal gargalo da agricultura atualmente: a política de seguro rural. Para Delfim, a ausência de uma política de seguro agrícola consistente foi responsável pela pecha de caloteiros - externada até mesmo pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - que os agricultores ganharam.
O ex-ministro ressalta, ainda, o papel que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem no desenvolvimento da agricultura nacional. Segundo ele, a estatal continua a ser um elemento "distintivo" do país. Na opinião de Delfim, a perda de participação da Embrapa em mercados cobiçados como os de sementes de soja e milho não é um problema. "A Embrapa não foi feita para substituir o setor privado", diz.
Na seara política, Delfim diz que a bancada ruralista no Congresso Nacional também cumpre sua função de maneira adequada. Em questões polêmicas, como a indígena e a ambiental, o papel de árbitro cabe ao Estado, afirma. Nos casos de exploração de trabalho análogo à escravidão no campo, não há como tergiversar, diz Delfim. "Só pondo na cadeia", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: O Brasil foi beneficiado na última década pelo explosão da demanda chinesa. Esse ciclo acabou?
Antônio Delfim Netto : A demanda por produtos agrícolas depende, no fundo, do crescimento da população e da urbanização. Mas eu não vejo que você vai ter uma redução muito importante da taxa de crescimento da demanda de produtos agrícolas nos próximos anos. O que vai mudar, seguramente, é a estrutura da demanda. Você vai caminhar mais para produtos proteicos, porque o mundo está melhorando seu nível de renda. Mas não vejo nenhuma razão para imaginar uma debacle nos preços agrícolas. Teremos, no fundo, uma relativa estabilização. Os preços, provavelmente, vão voltar a declinar lentamente como sempre acontece, o que não significa que a demanda global vai diminuir.
Valor: Mas o maior salto já foi?
Delfim : O principal salto foi o avanço espetacular da China, que não vai se repetir. Mas imaginar que a China vai reduzir a sua demanda dramaticamente é um erro. Ela vai continuar crescendo 4,5%, 5% ao ano. E mais importante: vai aumentar muito a urbanização, o que reduz a oferta de produtos agrícolas de um lado e aumenta a demanda de outro, porque aumenta a renda.
Valor: O sr. acha que o Brasil aproveitou bem o boom da China?
Delfim : O Brasil não aproveitou bem o boom das commodities. Durante dez anos, tivemos um crescimento das relações de trocas importante, o que significa que a renda crescia mais do que o PIB. Teria sido o momento para fazer as mudanças estruturais que nós precisamos. Mas optamos por um caminho um pouco diferente. Usamos muito mais desses recursos na redistribuição de renda do que no aumento da eficiência produtiva, o que é compensado por um aumento do bem-estar visível. Mas um dos aspectos mais difíceis de entender é que você sacrificou uma parte das vantagens da melhoria das relações de troca para valorizar o câmbio e para combater inflação - ou seja, você jogou fora uma parte desses recursos.
Valor: De algum modo, o Brasil é refém da "maldição" dos recursos naturais, se é que ela existe?
Delfim : Não tem maldição nenhuma. O Brasil aproveitou esses recursos e desenvolveu um setor agrícola extremamente eficiente. A agroindústria, que talvez seja um quarto do PIB, é um setor altamente eficiente. É um setor sofisticadíssimo, mas muito prejudicado por falta de estrutura, de transportes, de portos, por falta de armazenagem e por falta de uma política importante, que é a política de seguro de safra.
Valor: O último Plano de Safra avançou na questão do seguro?
Delfim : Evoluiu muito. Esse último plano de safra é dos melhores que já foram produzidos no Brasil. Ele atentou para algumas coisas críticas. Está começando a haver uma consciência de que o país não tem conseguido fazer chegar a essa gente o progresso da tecnologia na pequena propriedade. No fundo, se abandonou um sistema de assistência técnica que já foi muito eficiente no Brasil e esse plano começou a reconstruí-lo. Se você conseguir mobilizar a pequena agricultura com os avanços da tecnologia que estão na gaveta, vai produzir uma revolução.
Se conseguirmos mobilizar a pequena agricultura com os avanços da tecnologia, haverá uma revolução
Valor: Num artigo de 2004, o sr. dizia que, depois do completo desastre que foi a política agrícola do governo Collor e da pecha de caloteiros no governo FHC, o relação do governo com o setor começava a melhorar. Isso se comprovou?
Delfim : Melhorou. O problema da agricultura é que ela é uma atividade de altíssimo risco. A agricultura depende da vontade de São Pedro. Como a agricultura precisa de crédito, o fato de a receita ser altamente influenciada pelas variações climáticas coloca uma dificuldade gigantesca. Por quê? Quando, por efeito do clima, há uma queda da oferta de produtos, os preços não sobem para suprir a renda. O agricultor vê seu patrimônio desaparecer. Como não há seguro de safra, ele fica devendo. Na próxima vez, você tem um acordo com o governo. Mas o governo é pior do que o pior dos banqueiros. Cada negociação de dívida é uma tragédia, ou foi uma tragédia no passado. Você embutia custos espantosos, taxas de juros gigantescas. Desse ponto de vista, houve uma avanço muito grande. Já começou no Fernando Henrique e veio avançando. Para a agricultura funcionar tranquilamente, ela tem que ter seguro de safra. Ou seja, se houver um acidente, a tua renda é complementada e você pode honrar os seus compromissos.
Valor: Nesse sentido, qual é o papel do Estado na política agrícola?
Delfim : Provavelmente, a pesquisa não se sustenta simplesmente com financiamento privado. O Estado produziu, ou pelo menos divulgou, todas a grandes invenções, da internet até a semente do milho transgênico.
Valor: Como o senhor vê a atuação da Embrapa. É natural que ela perca participação nos mercados mais cobiçados como soja e milho?
Delfim : A Embrapa não foi feita para substituir o setor privado. Ela é um instrumento de pesquisa. O mundo se aproveita das pesquisas da Embrapa. Quando você diz que a Embrapa reduziu participação, ela não reduziu o seu papel. Ela está se sofisticando e é claro que os ganhos são menores, na margem. A base é muito mais alta. Mas a Embrapa foi e é um instrumento distintivo, que distingue a economia brasileira do resto do mundo. O que você não pode é pensar que essas coisas acontecem por acaso. E não é só no Brasil, não. A soja nos EUA também dependeu do departamento de agricultura [USDA]. O Estado é um fator importante no processo de desenvolvimento.
Valor: O sr. acha que o Estado deve intervir nos preços agrícolas?
Delfim : O Estado precisa de um estoque regulador por causa da flutuação da agricultura, da oferta. A política de estoques é fundamental. Não para perturbar, mas para regular o mercado quando há um acidente climático.
Valor: O Estado brasileiro incentivou uma concentração entre frigoríficos? O sr. concorda com isso?
Delfim : Isso é um grave erro, porque cria organismos que são um oligopsônio na hora de comprar e oligopólios na hora de vender. Você não pode ter milhões de produtores e dois sujeitos comprando tudo o que eles produzem. Aliás, essa é uma tragédia que está acontecendo no mundo. O número de empresas que transacionam commodities se reduziu dramaticamente. O monopólio é muito ruim. Estruturas oligopsônicas e oligopolíticas são contra o aumento da produtividade, mesmo quando se diz que há grandes economias de escala. A estrutura em que você reduz a quantidade de oferta ou reduz a quantidade de compradores é uma estrutura perversa.
Valor: Mas uma das alegações, no caso dos frigoríficos, é que a concentração ajudaria a melhorar a sanidade da cadeia produtiva.
Delfim : A política sanitária é coisa do governo. Você não precisa de gente grande para comprar gado bom. Você pode ter gente pequena comprando gado da melhor qualidade do ponto de vista da sanidade.
Valor: E o que fazer para combater esse processo de concentração?
Delfim : O Estado não pode deixar que se formem monopólios. Quando existir um monopólio, ele tem que ter uma agência reguladora independente e que ele não possa se apropriar dela.
Valor: No caso do Brasil, o Estado escolheu os vencedores?
Delfim : Isso não importa. A política em si é que está equivocada. Não é que se escolheu A ou B. Pode até ter escolhido pessoas ou empresas que vão progredir. Mas o que está errado é a política.
Valor: Na área política, como o sr. vê o papel da bancada ruralista? Existem polêmicas na questão ambiental, na questão indígena...
Delfim : A bancada ruralista faz o seu papel. A questão indígena está definida na Constituição. Sempre há dois lados. Se você entrega tudo para antropólogos, vai para um lado. Se você entrega para empresários agrícolas, vai para o outro. É por isso que tem que ter o Estado para arbitrar.
Valor: E como conciliar produção agrícola e preservação ambiental?
Delfim : Não há contradição entre a preservação do meio ambiente a agricultura. Só um agricultor muito burro não preserva o meio ambiente. O que há é uma certa contradição entre algumas pessoas que gostariam muito de voltar para a Idade da Pedra e aqueles que acham que não têm que tomar conhecimento de nada, e querem colocar um trator onde puder. De novo: por isso é que existe o Estado, Deus meu!
Valor: E o que fazer com os frequentes casos de exploração de trabalho análogo à escravidão?
Delfim : Pondo na cadeia.
Valor: O que o senhor acha da proposta de expropriar a terra de quem fizer esse tipo de exploração?
Delfim : Não é uma solução, mas seguramente é uma forma de impedir que isso aconteça. Tem que ser uma punição draconiana.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Brasil: grande produtor agricola, obstaculizado por problemas "made in Brazil" - Marcos Sawaya Jank

Entendendo a queda de preço das commodities

21 de agosto de 2013 | 2h 11
Marcos Sawaya Jank * - O Estado de S.Paulo
Fala-se cada vez mais do impacto da desaceleração do crescimento da China e de outros países emergentes sobre o valor das exportações brasileiras de commodities. O fim do atual ciclo de alta de preços vem novamente acompanhado da surrada ladainha sobre uma suposta inadequação da nossa pauta de exportações, excessivamente dependente de commodities sensíveis à queda dos preços.
Em primeiro lugar, é fundamental separar as diferenças entre commodities agropecuárias, minerais e energéticas. No caso das energéticas, tivemos uma alta dos preços reais da ordem de 1.000% ao longo dos últimos 60 anos, puxada pela crescente escassez de petróleo barato. Nos minerais e metais, a alta foi da ordem de 100% no mesmo período, porém mais concentrada na última década por causa do forte consumo desses produtos no mundo em desenvolvimento.
Já no agronegócio, os últimos 60 anos foram marcados por uma redução de preços reais da ordem de 25%, chegando a mais de 50% de queda na virada do século. Portanto, ao contrário das commodities energéticas e minerais, na última década os produtos agropecuários apenas recuperaram parte da queda de preços reais ocorrida no século 20. Essa queda secular derivou basicamente da incorporação de novas tecnologias no campo por meio do modelo capital-intensivo de produção nascido nos EUA (genética, mecanização, irrigação, etc.), posteriormente reproduzido nas "revoluções verdes" da Ásia e na conquista dos Cerrados brasileiros.
Em segundo lugar, é fundamental separar movimentos estruturais e conjunturais. Conjunturalmente, os preços das commodities podem cair em 2013/14 por motivos semelhantes aos que ocorreram em 2008/09. Naquele momento, a queda momentânea de preços foi provocada pela crise financeira nos países desenvolvidos; neste, as quedas decorrem da desaceleração das economias em desenvolvimento combinada com supersafras em alguns países-chave, como EUA e Brasil.
Estruturalmente, no médio e no longo prazos, que é o que realmente interessa, a conversa é outra. As commodities energéticas e minerais podem, de fato, viver uma queda mais duradoura após os picos de preços da última década. Alguns fatores que motivariam essa queda são o surgimento de novas tecnologias para a produção de energia - como o gás de xisto nos EUA - e o redirecionamento da China para investimentos em consumo, em detrimento dos investimentos em infraestrutura.
Já no caso das commodities agropecuárias, uma análise mais minuciosa mostra que os preços continuarão elevados no médio e no longo prazos, em função de mudanças estruturais na demanda dos países em desenvolvimento que tendem a superar sua capacidade de oferta. Três fatores explicam essa tendência: 1) o forte crescimento da população mundial, que vai passar de 7 para 9,6 bilhões de pessoas entre hoje e 2050, de acordo com as ultimas revisões da ONU; 2) a migração do campo para a cidade, da ordem da 1,6 bilhão de pessoas no mesmo período, sendo que a maioria deixa a agricultura de subsistência para entrar no mercado de consumo; 3) o aumento da renda per capita nos países em desenvolvimento, ainda bastante elevado, apesar da desaceleração econômica. Por exemplo, no caso da China a constatação é matemática: 7,5% de crescimento sobre um PIB de US$ 9 trilhões este ano representa um valor 37% maior que 14% de crescimento sobre o PIB de US$ 3,5 trilhões de 2007.
Portanto, crescimento populacional, urbanização acelerada e aumento da renda per capita, combinados com as crescentes restrições de terra e água do planeta, são mudanças estruturais que beneficiarão o Brasil. Para ilustrar o potencial basta verificar que o consumo per capita de carne bovina na China é apenas 10% do observado no Brasil; de leite, 16%; de frango, 20%; e de açúcar, 21%.
Outro movimento importante é a mudança dos hábitos alimentares na direção do maior consumo de proteínas animais. Porém, em função das barreiras tarifárias e não tarifárias que dificultam nossas exportações para a Europa, os EUA e as grandes economias emergentes, infelizmente ainda não conseguimos aproveitar amplamente essa oportunidade. A China, por exemplo, vem abrindo cada vez mais o seu mercado para soja e milho, principais componentes das rações animais, mas mantém proteções cirúrgicas para carnes e lácteos. Em 2050 a produção chinesa vai representar apenas 38% do consumo doméstico de soja e 71% do de milho, movimento que tem impulsionado fortemente nossas exportações de grãos. Mas em aves e suínos a China aparentemente fará de tudo para manter sua autossuficiência alimentar.
É por isso que o agronegócio brasileiro, um dos únicos setores globais da economia brasileira, paga caro pela ausência de acordos comerciais do País com os grandes importadores. Nos últimos dez anos nossa política comercial ficou engessada pelos sucessivos impasses do Mercosul. Ficamos à margem e vamos sofrer importantes "desvios de comércio" com a consolidação de duas grandes alianças comerciais: a Parceria Transatlântica entre EUA e União Europeia (TTIP) e a Parceria Trans-Pacífico, entre EUA, Canadá, México, Peru, Chile e pelo menos seis países da Ásia e da Oceania (TPP).
Em suma, ao contrário de energia e minerais, a eventual queda de preços das commodities agropecuárias seria apenas um movimento conjuntural. Estruturalmente, o apetite global por produtos alimentares vai continuar mostrando muito vigor e beneficiando o Brasil. Mas nossos maiores desafios estão aqui dentro: redução de custos (já que não somos mais um país de custo baixo na agricultura), investimentos em logística, agilidade nas políticas de defesa sanitária e negociação de acordos comerciais com os grandes importadores mundiais de commodities.
*Marcos Sawaya Jank é sócio-diretor da Plataforma Agro (www.plataformaagro.com.br) e foi presidente da Unica. E-mail: marcos@jank.com.br

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A potencia agricola brasileira (1): Commodities agrícolas atraem investidores (Valor)

Commodities agrícolas atraem investidoresValor Econômico, 27/11/2012

O Brasil lidera o ranking do comércio mundial de seis dos principais produtos agropecuários: café, açúcar, suco de laranja, soja, carne de frango e celulose. Detém o maior rebanho bovino do mundo. Apresenta índice de desenvolvimento agrícola superior à média mundial, com domínio de tecnologias sofisticadas, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E exibe ainda a maior produtividade agrícola na América Latina e Caribe, com crescimento médio de 3,6% ao ano. A eficiência do setor se reflete no desempenho econômico: o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio em 2011 alcançou US$ 548,2 bilhões, correspondente a 22,51% do PIB nacional.

Resultados tão expressivos têm feito do Brasil um dos principais destinos dos recursos destinados a investimentos. O crescimento vegetativo e da renda das populações geram demanda em proporções inéditas. As projeções de crescimento da procura por alimentos fazem do comércio de produtos agrícolas um negócio com retorno garantido. Os preços das commodities mudaram de patamar e as séries históricas deixaram de ser referência para as análises de mercado.

Isso explica a presença frequente no País de gestores de capital das mais diferentes procedências. Esses profissionais circulam com desenvoltura pelas cidades brasileiras à procura de oportunidades, segundo informa o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz. Representam, em geral, fundos de investimento ou empresas do agronegócio interessadas em se estabelecer no Brasil. Muitos já ganharam terrenos de prefeituras e constroem fábricas. O modelo adotado com maior frequência é o da associação com empresas brasileiras, conhecedoras do mercado e da nossa burocracia, explica Ferraz.

Estima-se que na década passada o investimento direto estrangeiro (IED) tenha alcançado em média 27% do valor da formação bruta de capital no setor agrícola. Mas, segundo alguns analistas, isso não se sustentou a partir de 2010. Restrições impostas à participação do capital estrangeiro na aquisição de imóveis rurais por parecer emitido em 2009 pela Advocacia Geral da União (AGU), que deu uma nova interpretação da Lei 5.709/71, reduziram o fluxo de recursos externos para essa área de atividade, informa a superintendente técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rosemeire Cristina dos Santos. Segundo esse novo parecer, empresas estrangeiras ou nacionais controladas por estrangeiros não poderão adquirir imóveis com mais de 50 módulos, ou com área superior a 25% da superfície do município onde estão localizados. “A mudança na interpretação da Lei gerou insegurança jurídica”, ela afirma. “Ocorreu um esvaziamento no fluxo de recursos. Afugentou os investidores.”

A repentina freada no fluxo de capitais em direção ao agronegócio também foi notada pelo diretor técnico da FNP. José Vicente Ferraz considera o parecer da AGU totalmente injustificado. Para ele, o capital estrangeiro não representa ameaça à soberania do País. “Não tem sentido restringir a propriedade de terras ao capital nacional.” Com a nova interpretação da lei, o ritmo dos investimentos estrangeiros, que já havia sofrido um abalo com a crise financeira de 2008, perdeu velocidade, afirmou.

Mesmo assim, o interesse pelo agronegócio brasileiro permanece. Para o economista, professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia  da PUC-SP, Antônio Corrêa de Lacerda, países de grande população, como a China, procuram a segurança alimentar por meio de investimentos no exterior. Além de países da África, Brasil se tornou destino certo de um capital que busca elevar a segurança alimentar com a maior oferta de produtos agrícolas. A recente queda dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil é atribuída por Lacerda ao recrudescimento da crise internacional. Segundo dados do Banco Central, entre janeiro e setembro deste ano, os investimentos estrangeiros diretos aplicados na agricultura, pecuária e serviços relacionados caíram 39,3% em relação ao mesmo período do ano passado. O professor da PUC diz que essa queda, embora representativa, não significa mudança de rumo do capital estrangeiro. “O Brasil continua sendo um oásis para os investidores estrangeiros. É o país que mais oferece garantias”, declara Lacerda.

Rosemeire concorda com a opinião de Lacerda, diante das inúmeras vantagens proporcionadas pela atividade agropecuária exercida no Brasil. Mas lembra que o impedimento legal não é o único obstáculo ao investimento estrangeiro no País. A deficiência na infraestrutura também assusta o capital externo. No entanto, permanece o interesse no agronegócio, especialmente nas atividades de ciclo longo, como a silvicultura, para a produção de celulose, ou o cultivo de cana-de-açúcar para etanol. As vantagens comparativas proporcionadas pelo clima, insolação, abundância de água e extensão territorial continuam sendo um chamariz. Do ponto de vista do interesse nacional, o capital estrangeiro é bem-vindo, diz Rosemeire. A expansão das atividades no campo com elevada tecnologia demanda recursos, explica.

Há pelo menos 70 milhões de hectares no Brasil que precisam ser mais bem aproveitados. São áreas degradadas, em geral pastos, onde podem ser adotas tecnologias de baixo carbono, como a integração lavoura-pecuária-floresta ou sistema de plantio direto. Estudo da CNA indica que medidas singelas como essas podem contribuir para elevar a produção de grãos e fibras em 136,9%, de 160 para 379 milhões de toneladas ao ano. O mesmo ocorre com a produção anual de carne, que pode passar das atuais 9,1 milhão de toneladas para 15 milhões de toneladas, apenas com o melhor aproveitamento dessa área.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Vai um leite de soja ai? E que tal um McSoja?

Enfim, vc pode não gostar, mas os plantadores de soja ficariam tão contentes...
Eles já estão nadando em dinheiro, literalmente, e vão ainda se refestelar mais ainda...
Se eu quisesse ficar rico, começaria a plantar soja na minha sacada, mas acho que não conseguiria economia de escala...
Em todo caso, vou experimentar um bife de soja, se os carnívoros aqui em casa concordarem...
Paulo Roberto de Almeida 




A maior cotação da soja em todos os tempos foi alcançada nesta quarta-feira na Bolsa de Chicago, quando o bushel chegou ao patamar de US$ 16,85, ou US$ 600 a tonelada, o que significa preço de US$ 37 a saca, valor pago também no interior do RS.
Isto nunca ocorreu na história da Bolsa de Chicago, fundada em 1848. 
Nesta quinta o mercado registrou altas ainda maiores.
A alta espetacular pode ser atribuída a tres razões principais:
1) Quebra enorme da safra de soja no Brasil e na Argentina.
2) Seca formidável nos EUA, pouco meses antes da colheita de setembro.
3) Baixíssimos estoques mundiais do grão.
Os preços são para entrega imediata. (...) A tendência dos preços da soja - das commodities agrícolas em geral - é de alta firme daqui para a frente.

sábado, 17 de setembro de 2011

BRICS e CEI: dois blocos em crescimento - Diario da Russia


ECONÔMICAS

Participação no PIB mundial: Países da CEI x Grupo BRICS

WOC – World Organization of Creditors faz análise da dinâmica de diferentes índices econômicos de países em desenvolvimento e países desenvolvidos, e de sua influência na economia global


Às vésperas do Fórum Econômico Mundial de São Petersburgo, que aconteceu entre 16 e 18 de junho de 2011, com o apoio e a participação do Presidente da Federação Russa, Dmitri Medvedev, a WOC (World Organization of Creditors) fez uma análise da dinâmica de diferentes índices econômicos de países em desenvolvimento e países desenvolvidos e de sua influência na economia mundial.
O crescimento econômico no mundo está ganhando força, embora existam riscos consideráveis de diminuição dos índices de crescimento relativamente às previsões, segundo o relatório do Fundo Monetário Internacional “Perspectivas de Desenvolvimento da Economia Mundial”. O FMI prevê que em 2011 e 2012 o crescimento do Produto Interno Bruto real do mundo chegará a 4,5%. Nos países em desenvolvimento, espera-se que chegue a 6,5%, e nos países desenvolvidos a apenas 2,5%.
A presente pesquisa examina os índices econômicos do mundo e também os dados de blocos como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a CEI (Comunidade dos Estados Independentes, formada por Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão e Geórgia) e de um grupo consistindo de 34 países com economia desenvolvida, na dinâmica de 2000 a 2010 e nas previsões do FMI até 2016.
[As economias desenvolvidas, segundo o FMI, incluem 34 países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chipre, Cingapura, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Hong Kong, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, Malta, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, República Tcheca, Suécia, Suíça e Taiwan.]
Os dados apresentados deixam claro que os países em desenvolvimento exercem mais e mais influência na economia mundial, que sua participação no PIB global, no volume dos investimentos mundiais e também na circulação de commodities mundial está crescendo regularmente e que essa tendência será mantida.
Isso significa que os países em desenvolvimento se tornarão cada vez mais significativos para a economia global e que a estabilidade ou instabilidade da situação econômica nas dadas regiões será cada vez mais determinante para o mundo em geral.
PIB: a participação dos países do BRICS no PIB mundial cresceu de 8,4% para 18% entre 2000 e 2010, e a participação dos países da CEI cresceu de 1,1% para 3,1%
De 2000 a 2010 o PIB mundial quase dobrou, os países desenvolvidos aumentaram seu PIB em apenas 61% e a economia dos países da CEI cresceu 5,5 vezes e a dos países do BRICS 4,2 vezes. E as previsões do FMI para os países da CEI são otimistas – o índice pode crescer duas vezes dentro dos próximos seis anos, enquanto o PIB mundial vai crescer apenas 44% nesse mesmo período.
Assim, a participação no PIB dos países do BRICS dobrou em 10 anos e chegou a 18%, e a participação no PIB dos países da CEI quase triplicou e chegou a 3%. O crescimento mais rápido dos países do BRICS ocorreu nos últimos cinco anos, e o fez apesar da crise econômica. A China se tornou o líder (crescimento do PIB de 160%, participação de 9,3%), depois o Brasil (135%, participação de 3,3%) e Rússia (92%, participação de 2,3%).
Mas o panorama muda nas previsões para os próximos seis anos: segundo o FMI, o país em desenvolvimento mais dinâmico será a Rússia, com o crescimento do PIB de 121%, depois a China (91%) e a Índia (81%). Parte dos países desenvolvidos decresceu em 13,4%, e agora seu peso no PIB mundial chega a 66%. Dentro dos próximos seis anos eles podem perder 7%.
O PIB, calculado segundo a paridade do poder aquisitivo: índice per capita nos países da CEI em 2007 superou a média mundial e demonstra um novo crescimento
Estudando o índice do PIB PPP (calculado segundo a paridade do poder aquisitivo, parity of the purchasing power), e falando de novo dos países em desenvolvimento. Em 2010, parte dos países do BRICS no PIB PPP mundial chegou a 25,7%, contra 18% do PIB segundo os preços correntes, e o índice continua crescendo. A situação nos países da CEI é similar: 4,2% contra 3,1% do PIB; segundo preços correntes, durante os últimos 5 anos o índice permaneceu estável. Trata-se evidentemente de uma dinâmica positiva: o poder de compra dos países em desenvolvimento está crescendo. Nos países de economia desenvolvida a situação é oposta, e parte do PIB PPP é mais baixa do que parte do PIB segundo preços correntes: 52,3% contra 66% em 2010.A tendência de decréscimo desse índice persistirá nos próximos anos. Na presente pesquisa, também estudamos um índice importante como o PIB PPP per capita. O índice médio mundial em 2010 foi de 10,9 mil dólares. Segundo esse índice, os países com economias desenvolvidas se encontram num nível muito mais elevado: 38,1 mil dólares. Os países do BRICS vêm atrás, segundo esse índice (6,5 mil dólares), e os países da CEI em 2007 com o PIB PPP per capita superaram o índice médio mundial (em 2007: 10,7 mil dólares e 10,1 respectivamente) e agora a CEI chegou a 11,4 mil dólares.
Em parte, tais dinâmicas positivas podem ser explicadas pelo fato de que os índices de crescimento da população do planeta são em média mais elevados do que nos blocos dos países em questão.
Investimentos: participação dos países do BRICS no volume total dos investimentos mundiais dobrou nos últimos 5 anos e chegou a 29,4%
O crescimento do volume de investimentos no mundo chegou a 40% nos últimos 5 anos. Nos países desenvolvidos o aumento desse índice desacelerou consideravelmente durante o período e cresceu apenas 5%.
Os países em desenvolvimento exibem outros números bem contrastantes: o BRICS mostra o crescimento de 170% dentro dos últimos 5 anos (o líder é a China, com 202%), enquanto nos países da CEI o aumento no volume de investimentos chegou a 100%.
Assim, se em 2000 a participação de investimentos dos países desenvolvidos no mundo chegou a quase 80%, em 2010 esse índice havia baixado e agora representa pouco mais da metade de todos os investimentos realizados na economia mundial. Durante o mesmo período a participação nos investimentos dos países do BRICS quase triplicou – de 10% para 29,4%, um crescimento especialmente dramático ocorrido nos últimos cinco anos, quando o índice dobrou. Nos países da CEI existe também uma dinâmica positiva: em 2010 a participação nos investimentos deste bloco no mundo cresceu para 2,9% a partir de 0,9% em 2000.
Circulação das commodities no mundo
A influência dos países do BRICS e da CEI na circulação mundial de commodities está crescendo. Durante os últimos dez anos a participação dos BRICS no comércio mundial cresceu 2,3 vezes, para 15,4%, e a participação da CEI subiu duas vezes, para 3,3%. Os países desenvolvidos continuam perdendo suas posições.
O lugar principal para a dinâmica de crescimento na circulação de commodities pertence aos países do BRICS (102% nos últimos 5 anos). Os países desenvolvidos só cresceram esse índice em 29% durante o mesmo período, o que fica abaixo da média mundial, que é de 43%.
Quanto aos volumes de importação e exportação em comparação com o PIB das regiões, o índice médio mundial em 2010 chegou a 49% (de 41% em 2000). Nos países desenvolvidos o índice está no nível mundial, nos países do BRICS a proporção de importação e exportação do PIB da região chegou a 42% e nos países da CEI a 51% (em comparação com 65% em 2000).
Somente nos países da CEI houve um decréscimo no índice, o que pode ser encarado como positivo: os países da CEI gradualmente param de orientar apenas internamente, eles tendem a aumentar sua própria produção e também o seu consumo.
O fortalecimento das posições econômicas dos blocos de países em desenvolvimento estudados é evidente. É possível prever com certeza a manutenção destas tendências no futuro – mesmo a recente crise não conseguiu abalar seriamente as posições dos blocos do BRICS e da CEI. O aumento de investimentos deve ter-se refletido positivamente na dinâmica do crescimento da indústria nestes países, correspondentemente, na dinâmica do crescimento do PIB, fortalecendo a demanda doméstica. Estes fatores positivos, juntamente com os índices relativamente baixos de crescimento populacional, devem levar ao crescimento do bem-estar da população dos países em desenvolvimento.
Esta pesquisa confirma a tendência de mudança de polaridade na economia mundial. A julgar pelos crescentes índices macroeconômicos de mercados soberanos em desenvolvimento nos últimos dez anos, torna-se lógica a necessidade de reconsiderar as noções de países “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”. Essa questão foi levantada no recente encontro de cúpula do G20 na Coreia do Sul, onde os representantes da República Popular da China não tiveram sequer de insistir na reconsideração do status do mercado chinês em desenvolvimento. Hoje em dia a comunidade mundial admite que a posição dominante da China no espaço econômico global é uma realidade objetiva. Se falarmos do bloco do BRICS em geral, esta aliança começa realmente a demonstrar não só considerável sucesso separadamente de seus estados-membros, mas também uma série influência no estado atual e no desenvolvimento futuro da economia mundial.
Inúmeras previsões sobre o colapso da CEI não se concretizaram: seus países conseguiram superar muitas facções políticas e ajustar uma eficiente interação de seus sistemas econômicos. Mas provavelmente a característica mais significativa do BRICS, bem como da CEI, foram as manobras de estabilização feitas pelos governos dos países em desenvolvimento durante a crise de 2008 e o subsequente período de reabilitação, em consequência do qual toda a comunidade mundial chegou à certeza de que era prematuro apressar o rebaixamento do nível da regulamentação estatal dos mercados. Aconteceu que países com economias mistas – de mercado e regulada – superaram a crise menos penosamente, em oposição àqueles países nominalmente desenvolvidos que colocaram suas esperanças na chamada “mão invisível do mercado” e cujas economias entraram numa fase destrutiva.
Para ver os quadros e tabelas desta pesquisa, acesse
e entre no link:
“Share of the CIS countries in the world GDP grown in 3 fold times over 10 years and 2 fold times grown share of the BRICS countries”
Para os dados de informação analítica do WOC, pode ser consultado o Serviço de Imprensa da Organização:
Tel.: +7 (495) 225-25-39