Qualquer que seja a empresa que paga pelos conselhos de ex-todo poderoso czar da economia brasileira, deveria começar a pensar quanto valem os seus conselhos.
Aparentemente pouco, pois se ele aconselha os companheiros petistas desde o início, ou os companheiros não aceitam os seus conselhos, ou os aplicam estupidamente, ou os conselhos não são muito bons assim.
Em todo caso, eu diminuiria o valor de mercado desse economista, que fica sempre enrolando os outros e não diz coisa com coisa... ou só diz o óbvio...
Paulo Roberto de Almeida
Delfim estima que País vai crescer apenas 1%
Ricardo Leopoldo, Tássia Kastner
O Estado de S. Paulo, 7/08/2014
Ex-ministro da Fazenda estima ainda que quadro ficará mais grave por causa da inflação que, segundo ele, 'deve ter subido 30% em quatro anos'
Delfim Netto destacou que o Brasil só tem acordos bilaterais com três parceiros internacionais: Egito, Israel e Autoridade Palestina
O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deve registrar uma fraca expansão, ao redor de 1%. "O País está crescendo muito pouco, e isso é um grande problema."
Na avaliação de Delfim, esse quadro fica mais grave porque o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) "deve ter subido 30% em quatro anos" e a inflação é "muito alta". Segundo ele, a inflação está perto do teto do sistema de metas de inflação, mas isso não significa que ela sairá do controle. "O governo controla a gasolina para combater a inflação, mas destrói o setor do etanol", disse Delfim, durante evento do Fórum Lideranças da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
De acordo com Delfim Netto, também é um destaque negativo da economia o fato de que a indústria de transformação apresenta um nível de atividade semelhante ao registrado em 2009, o que representa estagnação. Um efeito negativo dessa realidade é o registro de um déficit de contas correntes de US$ 270 bilhões. "Não é bom financiar a economia com capital externo dessa forma", disse. "O credor é um canalha que vai querer seus recursos de volta."
Política cambial. Delfim afirmou que a política de utilizar o câmbio para combater a inflação é um "equívoco grave", pois só é viável controlar sua variação, mas não o nível. "A intervenção do Banco Central está mantendo o câmbio abaixo do seu equilíbrio", comentou. "Mas a inflação volta, pois (o BC) está só escondendo a inflação. Temos entre 1,5% e 2% de inflação escondida. E para combatê-la, precisa em primeiro lugar fazer com que as pessoas acreditem que ela vai cair."
Embora tenha destacado o quadro de crescimento baixo, inflação alta e déficit de transações correntes elevado, o ex-ministro ponderou que esses fatores não vão levar o País a uma crise econômica como a do passado. Mas ponderou que houve "certo descuido" do Poder Executivo na gestão das contas.
"A prioridade do governo tem sido a ampliação do custeio e não dos investimentos", disse. Segundo ele, houve, talvez, excesso no emprego de recursos do Tesouro para repasses ao BNDES, o que acabou ajudando a elevar a dívida bruta. "Ocorreu uma confusão de achar que dívida pública é recurso."
Delfim criticou "o abandono da política comercial" pelo Brasil. "Nos amarramos à estrutura do Mercosul, que não funciona. Temos de ser uma zona de livre-comércio", destacou. "Transformamos o Atlântico Sul num cemitério. Abandonamos o comércio exterior como um vetor do crescimento."
Delfim Netto destacou que o Brasil só tem acordos bilaterais com três parceiros internacionais: Egito, Israel e Autoridade Palestina.
Sensibilidade. O ex-ministro afirmou que o governo "está muito sensível, reage a qualquer crítica com certa violência", ao lembrar o documento do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado na semana passada, que colocou o Brasil na lista de países economicamente vulneráveis. "Estava certo o FMI quando disse que o Brasil é relativamente vulnerável. Não significa que vamos ter crise e que ela está nos esperando no curto prazo."
O ex-ministro ressaltou ainda que a dívida de curto prazo sobre as reservas no Brasil é de 8,7%, bem menor que Índia (31,1%) e Turquia (84,6%), por exemplo, também listados como vulneráveis.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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quinta-feira, 7 de agosto de 2014
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Brasil desperdiçou a renda das commodities - Entrevista Delfim Neto
Delfim
defende regulação em commodities
Por Luiz
Henrique Mendes | De São Paulo
Valor Economico, 9/09/2013
Para
Delfim, incentivo do governo brasileiro à concentração na área de frigoríficos
é um grave erro, porque cria oligopsônio na compra e oligopólio na venda
O processo
de globalização da economia resultou em uma estrutura perversa no mercado de
commodities, em que pouco mais de uma dezena de tradings agrícolas controlam
bilhões de produtores rurais. Em escala global, as tradings atuam como um
oligopsônio na aquisição de produtos agrícolas, limitando o poder de negociação
dos agricultores, e como um oligopólio na venda desses produtos.
Para
equilibrar esse processo, o Estado, que de algum modo aceitou e até promoveu a
consolidação dessa estrutura, terá de agir e lançar mão de instrumentos de
regulação, tais como agências específicas para isso. Essa é a avaliação do
economista Antônio Delfim Netto, professor emérito da Universidade de São Paulo
(USP) e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura.
Em
entrevista ao Valor, Delfim, aos 85 anos, diz que
a política de concentração dos frigoríficos brasileiros, capitaneada pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi um "grave
erro", e é parte desse processo global da oligopolização da produção
global de alimentos. "Mesmo quando há grandes economias de escala,
estruturas oligopsônicas e oligopolísticas são contra o aumento da
produtividade", afirma.
Na
entrevista, Delfim tratou de algumas das principais discussões da economia
agrícola. Em meio ao debate sobre a desaceleração da China, ele não crê que
haverá uma "debacle" nos preços agrícolas. O período de forte alta
nas cotações, porém, já passou e o Brasil, segundo Delfim, não soube aproveitar
o boom para investir em infraestrutura.
Sobre a
política agrícola nacional, o ex-ministro elogia o último Plano Safra, válido
para o ciclo 2013/14. De acordo com ele, o plano ataca aquele que talvez seja o
principal gargalo da agricultura atualmente: a política de seguro rural. Para
Delfim, a ausência de uma política de seguro agrícola consistente foi
responsável pela pecha de caloteiros - externada até mesmo pelo então
presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - que os agricultores ganharam.
O
ex-ministro ressalta, ainda, o papel que a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) tem no desenvolvimento da agricultura nacional. Segundo
ele, a estatal continua a ser um elemento "distintivo" do país. Na
opinião de Delfim, a perda de participação da Embrapa em mercados cobiçados
como os de sementes de soja e milho não é um problema. "A Embrapa não foi
feita para substituir o setor privado", diz.
Na seara
política, Delfim diz que a bancada ruralista no Congresso Nacional também
cumpre sua função de maneira adequada. Em questões polêmicas, como a indígena e
a ambiental, o papel de árbitro cabe ao Estado, afirma. Nos casos de exploração
de trabalho análogo à escravidão no campo, não há como tergiversar, diz Delfim.
"Só pondo na cadeia", afirma. A seguir, os principais trechos da
entrevista:
Valor: O Brasil foi beneficiado na última década pelo explosão da
demanda chinesa. Esse ciclo acabou?
Antônio
Delfim Netto : A demanda por
produtos agrícolas depende, no fundo, do crescimento da população e da
urbanização. Mas eu não vejo que você vai ter uma redução muito importante da
taxa de crescimento da demanda de produtos agrícolas nos próximos anos. O que
vai mudar, seguramente, é a estrutura da demanda. Você vai caminhar mais para
produtos proteicos, porque o mundo está melhorando seu nível de renda. Mas não
vejo nenhuma razão para imaginar uma debacle nos preços agrícolas. Teremos, no
fundo, uma relativa estabilização. Os preços, provavelmente, vão voltar a
declinar lentamente como sempre acontece, o que não significa que a demanda
global vai diminuir.
Valor: Mas o maior salto já foi?
Delfim : O principal salto foi o avanço espetacular da China, que
não vai se repetir. Mas imaginar que a China vai reduzir a sua demanda
dramaticamente é um erro. Ela vai continuar crescendo 4,5%, 5% ao ano. E mais
importante: vai aumentar muito a urbanização, o que reduz a oferta de produtos
agrícolas de um lado e aumenta a demanda de outro, porque aumenta a renda.
Valor: O sr. acha que o Brasil aproveitou bem o boom da China?
Delfim : O Brasil não aproveitou bem o boom das commodities.
Durante dez anos, tivemos um crescimento das relações de trocas importante, o que
significa que a renda crescia mais do que o PIB. Teria sido o momento para
fazer as mudanças estruturais que nós precisamos. Mas optamos por um caminho um
pouco diferente. Usamos muito mais desses recursos na redistribuição de renda
do que no aumento da eficiência produtiva, o que é compensado por um aumento do
bem-estar visível. Mas um dos aspectos mais difíceis de entender é que você
sacrificou uma parte das vantagens da melhoria das relações de troca para
valorizar o câmbio e para combater inflação - ou seja, você jogou fora uma
parte desses recursos.
Valor: De algum modo, o Brasil é refém da "maldição"
dos recursos naturais, se é que ela existe?
Delfim : Não tem maldição nenhuma. O Brasil aproveitou esses
recursos e desenvolveu um setor agrícola extremamente eficiente. A
agroindústria, que talvez seja um quarto do PIB, é um setor altamente
eficiente. É um setor sofisticadíssimo, mas muito prejudicado por falta de
estrutura, de transportes, de portos, por falta de armazenagem e por falta de
uma política importante, que é a política de seguro de safra.
Valor: O último Plano de Safra avançou na questão do seguro?
Delfim : Evoluiu muito. Esse último plano de safra é dos melhores
que já foram produzidos no Brasil. Ele atentou para algumas coisas críticas. Está
começando a haver uma consciência de que o país não tem conseguido fazer chegar
a essa gente o progresso da tecnologia na pequena propriedade. No fundo, se
abandonou um sistema de assistência técnica que já foi muito eficiente no
Brasil e esse plano começou a reconstruí-lo. Se você conseguir mobilizar a
pequena agricultura com os avanços da tecnologia que estão na gaveta, vai
produzir uma revolução.
Se conseguirmos mobilizar a pequena
agricultura com os avanços da tecnologia, haverá uma revolução
Valor: Num artigo de 2004, o sr. dizia que, depois do completo
desastre que foi a política agrícola do governo Collor e da pecha de caloteiros
no governo FHC, o relação do governo com o setor começava a melhorar. Isso se
comprovou?
Delfim : Melhorou. O problema da agricultura é que ela é uma
atividade de altíssimo risco. A agricultura depende da vontade de São Pedro.
Como a agricultura precisa de crédito, o fato de a receita ser altamente
influenciada pelas variações climáticas coloca uma dificuldade gigantesca. Por
quê? Quando, por efeito do clima, há uma queda da oferta de produtos, os preços
não sobem para suprir a renda. O agricultor vê seu patrimônio desaparecer. Como
não há seguro de safra, ele fica devendo. Na próxima vez, você tem um acordo
com o governo. Mas o governo é pior do que o pior dos banqueiros. Cada
negociação de dívida é uma tragédia, ou foi uma tragédia no passado. Você
embutia custos espantosos, taxas de juros gigantescas. Desse ponto de vista,
houve uma avanço muito grande. Já começou no Fernando Henrique e veio
avançando. Para a agricultura funcionar tranquilamente, ela tem que ter seguro
de safra. Ou seja, se houver um acidente, a tua renda é complementada e você
pode honrar os seus compromissos.
Valor: Nesse sentido, qual é o papel do Estado na política
agrícola?
Delfim : Provavelmente, a pesquisa não se sustenta simplesmente
com financiamento privado. O Estado produziu, ou pelo menos divulgou, todas a
grandes invenções, da internet até a semente do milho transgênico.
Valor: Como o senhor vê a atuação da Embrapa. É natural que ela
perca participação nos mercados mais cobiçados como soja e milho?
Delfim : A Embrapa não foi feita para substituir o setor privado.
Ela é um instrumento de pesquisa. O mundo se aproveita das pesquisas da
Embrapa. Quando você diz que a Embrapa reduziu participação, ela não reduziu o
seu papel. Ela está se sofisticando e é claro que os ganhos são menores, na
margem. A base é muito mais alta. Mas a Embrapa foi e é um instrumento
distintivo, que distingue a economia brasileira do resto do mundo. O que você
não pode é pensar que essas coisas acontecem por acaso. E não é só no Brasil,
não. A soja nos EUA também dependeu do departamento de agricultura [USDA]. O
Estado é um fator importante no processo de desenvolvimento.
Valor: O sr. acha que o Estado deve intervir nos preços
agrícolas?
Delfim : O Estado precisa de um estoque regulador por causa da
flutuação da agricultura, da oferta. A política de estoques é fundamental. Não
para perturbar, mas para regular o mercado quando há um acidente climático.
Valor: O Estado brasileiro incentivou uma concentração entre
frigoríficos? O sr. concorda com isso?
Delfim : Isso é um grave erro, porque cria organismos que são um
oligopsônio na hora de comprar e oligopólios na hora de vender. Você não pode
ter milhões de produtores e dois sujeitos comprando tudo o que eles produzem.
Aliás, essa é uma tragédia que está acontecendo no mundo. O número de empresas
que transacionam commodities se reduziu dramaticamente. O monopólio é muito
ruim. Estruturas oligopsônicas e oligopolíticas são contra o aumento da
produtividade, mesmo quando se diz que há grandes economias de escala. A
estrutura em que você reduz a quantidade de oferta ou reduz a quantidade de
compradores é uma estrutura perversa.
Valor: Mas uma das alegações, no caso dos frigoríficos, é que a
concentração ajudaria a melhorar a sanidade da cadeia produtiva.
Delfim : A política sanitária é coisa do governo. Você não
precisa de gente grande para comprar gado bom. Você pode ter gente pequena comprando
gado da melhor qualidade do ponto de vista da sanidade.
Valor: E o que fazer para combater esse processo de concentração?
Delfim : O Estado não pode deixar que se formem monopólios.
Quando existir um monopólio, ele tem que ter uma agência reguladora
independente e que ele não possa se apropriar dela.
Valor: No caso do Brasil, o Estado escolheu os vencedores?
Delfim : Isso não importa. A política em si é que está
equivocada. Não é que se escolheu A ou B. Pode até ter escolhido pessoas ou
empresas que vão progredir. Mas o que está errado é a política.
Valor: Na área política, como o sr. vê o papel da bancada
ruralista? Existem polêmicas na questão ambiental, na questão indígena...
Delfim : A bancada ruralista faz o seu papel. A questão indígena
está definida na Constituição. Sempre há dois lados. Se você entrega tudo para
antropólogos, vai para um lado. Se você entrega para empresários agrícolas, vai
para o outro. É por isso que tem que ter o Estado para arbitrar.
Valor: E como conciliar produção agrícola e preservação
ambiental?
Delfim : Não há contradição entre a preservação do meio ambiente
a agricultura. Só um agricultor muito burro não preserva o meio ambiente. O que
há é uma certa contradição entre algumas pessoas que gostariam muito de voltar
para a Idade da Pedra e aqueles que acham que não têm que tomar conhecimento de
nada, e querem colocar um trator onde puder. De novo: por isso é que existe o
Estado, Deus meu!
Valor: E o que fazer com os frequentes casos de exploração de
trabalho análogo à escravidão?
Delfim : Pondo na cadeia.
Valor: O que o senhor acha da proposta de expropriar a terra de
quem fizer esse tipo de exploração?
Delfim : Não é uma solução, mas seguramente é uma forma de
impedir que isso aconteça. Tem que ser uma punição draconiana.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
O Pinocchio da economia brasileira (e o camaleao da politica): Delfim Neto, amigo dos companheiros...
Bem, isso não é grande coisa: os companheiros são amigos de qualquer um, mesmo de bandidos registrados na Yakuza, ou patifes consumados, desde que o indigitado em questão (pode até ser indiciado, não tem problema), lhes prometa apoio ou acene com ajutório em sua obra de consolidar o poder.
Tudo vale se a alma não é pequena, e o bolso se engrandece com qualquer coisa que não seja requerido falar a verdade...
Paulo Roberto de Almeida
Tudo vale se a alma não é pequena, e o bolso se engrandece com qualquer coisa que não seja requerido falar a verdade...
Paulo Roberto de Almeida
Embelezamento autobiográfico Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 20/02/2012
O suplemento EU & Fim de Semana, do jornal Valor, publicou em 10/2/2012 entrevista do ex-ministro Delfim Netto sob o título O homem que se reinventou. O título parece inspirado na evolução de ministro da ditadura a eminência parda dos governos do PT. Mas, no que diz respeito à avaliação que o entrevistado faz de vários episódios cruciais nos quais esteve envolvido, um título mais apto seria O homem que se repete. Embora a entrevista inclua simpáticas referências ao cotidiano do ministro e à sua família, sobre a vida pública foi uma repetição de interpretações baseadas em lembranças seletivas já ventiladas em entrevista anterior, ao próprio Valor Econômico, de 30/9/2005.
Repito o que escrevi sobre Delfim Netto, nesta mesma página, sob o título História e fábula, em 10/10/2005, comentando a entrevista de 2005: "É referência nacional em relação a vários atributos: astúcia, jogo de cintura, rapidez nos comentários ferinos. Jovem, escreveu tese sobre o café no Brasil que figura em qualquer lista das melhores obras sobre a economia brasileira. Foi figura importante na consolidação do ensino de Economia na USP, nas décadas de 1950 e 1960. Depois, durante longo período na ditadura militar, foi ministro todo-poderoso, responsável pela política econômica. Entre 1967 e 1974, emplacou a imagem de pai do "milagre brasileiro", quando a economia cresceu a taxas próximas a 10% ao ano, na esteira de um boom na economia internacional. Na sua volta, entre 1979 e 1985, já não teve tanto sucesso, a julgar com base na inflação alta e na intensidade da recessão".
Na entrevista recente, Delfim Netto repete afirmações que merecem, de novo, reparo. A primeira é quanto às suas relações com a ditadura. Ao ser perguntado se "sente algum incômodo, constrangimento, por ter participado dos governos militares", responde: "Me causa o incômodo natural que causa a todas as pessoas quando o Estado abusa do seu poder". Perguntado se "não lhe chegavam notícias dos porões do regime", responde: "Não! Há um equívoco completo nisso. Tinha uma divisão absolutamente total entre a política e a economia".
Não é o que se depreende de manifestações do ministro, em particular de sua incitação para que o Ato Institucional número 5, de 1968, fosse ainda mais radical. Suas palavras à época: "Estou plenamente de acordo com a proposição... direi mesmo que ela não é suficiente... deveríamos dar a Vossa Excelência a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais que são absolutamente necessárias para que este país possa realizar o seu desenvolvimento com maior rapidez". Não parece leviano entender a declaração como justificativa econômica para o fechamento político.
A segunda afirmação questionável de Delfim Netto é a sua versão da demissão de Mário Henrique Simonsen, substituído por ele mesmo no Ministério do Planejamento. Segundo Delfim, Simonsen - "grande amigo" seu - resolveu pedir demissão porque acreditava que Paul Volcker, à frente do Federal Reserve, aumentaria a taxa de juros e, "com a dívida que fizemos no governo Geisel, não temos como pagar". Figueiredo teria ficado possesso com a forma com que Simonsen se demitira. Em suma: Simonsen não estava disposto a enfrentar o problema e preferiu abandonar estouvadamente o cargo, deixando uma dívida impagável.
No seu discurso de posse no Planejamento, em 15/8/1979, em meio a verdadeira apoteose empresarial, Delfim instou: "Senhores, preparem seus arados e suas máquinas, vamos crescer". Era uma crítica à estratégia de seu predecessor de crescer a taxas moderadas para conter a inflação. Como ministro da Agricultura, já havia saído vitorioso diante de Simonsen, quando em maio os preços mínimos agrícolas haviam sido aumentados acima de 50%. Nas palavras do próprio Delfim: "Eu tinha a obrigação de defender a agricultura. Ele, de defender a caixa" (V. Alberti, C. E. Sarmento e D. Rocha (orgs.), Mario Henrique Simonsen. Um homem e seu tempo, Rio de Janeiro, 2002).
Simonsen escreveu sobre 1979 com bastante senso de humor (M. H. Simonsen, 30 anos de indexação, Rio de Janeiro, 1995): "O discurso inicial de austeridade (do governo Figueiredo) foi posto de lado, em agosto de 1979, com a substituição do impopularíssimo ministro do Planejamento, que queria reduzir a taxa de crescimento do produto real para 3% ou 4% ao ano, a fim de ajustar o País ao segundo choque do petróleo e à escalada dos juros internacionais. Imediatamente, se lançou na aventura de uma expansão monetária... na tentativa de conter a inflação pela expansão da oferta de bens e serviços... A inflação quase imediatamente subiu de 45% ao ano para 45% ao semestre". Após crescer mais de 9% ao ano em 1980, a economia brasileira registrou no triênio seguinte a maior recessão de sua história, com a inflação além dos 200% ao ano. O governo, assim, fracassou a segunda tentativa de fuite en avant de Delfim Netto.
Ao se dedicar ao embelezamento autobiográfico, Delfim Netto desmerece os aspectos positivos de sua vida pública. Talvez mais grave, não faz bom uso da "boutade" que tanto aprecia: a de que "a gente fica mais virtuoso quando o futuro virou passado".
*Marcelo de Paiva Abreu, doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Delfim Netto: o grande "inversor" da historia economica...
Inacreditável Delfim Netto: ele consegue involuir economicamente e historicamente.
O artigo que ele publica hoje, no jornal Valor Econômico, sobre o processo de desenvolvimento ("O desenvolvimento é mais embaixo", p. A2), constitui a mais notavel inversão de fatores causais já registrada nos últimos 130 mil anos, ou se o ex-deputado quiser, nos últimos 300 anos, relativamente aos fatores de indução ou de aceleração desse processo.
Ao "explicar" essa "história de mercado", que só funcionaria adequadamente se fosse bem organizado pelo Estado, o articulista se refere ao caso da Inglaterra e da Holanda, mas diz que no caso da China, supostamente bem dotada em fatores de produção, a elevação da produtividade só se deu quando se teve:
"um Estado indutor" que:
1) respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado;
2) libertasse o 'espírito animal' dos empresários...
3) garantisse que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa."
Inacreditável essa descoberta da pólvora ao contrário do ex-deputado, pois o que ele está dizendo é que a China só começou a se desenvolver quando o Estado chinês garantiu -- ou talvez "criou", na concepção -- tudo isso.
Não lhe ocorre que a história pode E DEVE ser lida completamente ao contrário: se o Estado (comunista) chinês não tivesse proibido tudo isso, o processo de desenvolvimento na China poderia ter vindo muito antes, sem esses ENTRAVES criados pelo Estado.
Em resumo, as três condições do ex-deputado devem ser lidas completamente ao contrário: "se um Estado 'normal' (não indutor), não tivesse proibido as atividades do setor privado, se ele não tivesse extirpado os capitalistas do país, se ele não tivesse proibido a propriedade privada...", toda a história teria sido diferente.
Certos articulistas precisam parar para pensar no que estão escrevendo...
Paulo Roberto de Almeida
O artigo que ele publica hoje, no jornal Valor Econômico, sobre o processo de desenvolvimento ("O desenvolvimento é mais embaixo", p. A2), constitui a mais notavel inversão de fatores causais já registrada nos últimos 130 mil anos, ou se o ex-deputado quiser, nos últimos 300 anos, relativamente aos fatores de indução ou de aceleração desse processo.
Ao "explicar" essa "história de mercado", que só funcionaria adequadamente se fosse bem organizado pelo Estado, o articulista se refere ao caso da Inglaterra e da Holanda, mas diz que no caso da China, supostamente bem dotada em fatores de produção, a elevação da produtividade só se deu quando se teve:
"um Estado indutor" que:
1) respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado;
2) libertasse o 'espírito animal' dos empresários...
3) garantisse que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa."
Inacreditável essa descoberta da pólvora ao contrário do ex-deputado, pois o que ele está dizendo é que a China só começou a se desenvolver quando o Estado chinês garantiu -- ou talvez "criou", na concepção -- tudo isso.
Não lhe ocorre que a história pode E DEVE ser lida completamente ao contrário: se o Estado (comunista) chinês não tivesse proibido tudo isso, o processo de desenvolvimento na China poderia ter vindo muito antes, sem esses ENTRAVES criados pelo Estado.
Em resumo, as três condições do ex-deputado devem ser lidas completamente ao contrário: "se um Estado 'normal' (não indutor), não tivesse proibido as atividades do setor privado, se ele não tivesse extirpado os capitalistas do país, se ele não tivesse proibido a propriedade privada...", toda a história teria sido diferente.
Certos articulistas precisam parar para pensar no que estão escrevendo...
Paulo Roberto de Almeida
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Um economista a lamentar: Delfim Neto a caminho da decadencia moral
Triste constatar que um dos mais brilhantes economistas brasileiros, e dos mais oportunistas e cínicos, também, mergulhou em profunda decadência mental, ao eximir-se simplesmente de pensar como economista e ao aderir, sabujamente, ao coro de elogios sem sentido a respeito da operação altamente duvidosa (e custosa, para os nossos bolsos) da capitalização da Petrobrás.
Como economista, Delfim poderia ter falado da origem dos recursos utilizados (que simplesmente não existem), poderia ter falado da contabilidade maquiada feita pelo governo, das consequências de tudo isso para as contas públicas, dos efeitos sobre a dívida pública e sobre os juros, enfim, poderia ter levantado argumentos econômicos para examinar uma questão importante.
Preferiu ficar nos elogios ao governo, como se tivesse sido contratado para ser garoto-propaganda do governo Lula.
Triste fim para um economista da USP.
Apenas uma última observação: não existem frutos do pré-sal. Por enquanto só existe um poço imenso de dúvidas, e a certeza de que a dívida pública aumentou (mesmo de forma disfarçada)...
Paulo Roberto de Almeida
Os frutos do pré-sal
Antônio Delfim Netto
DCI, 1/10/2010
O governo comemora o sucesso do lançamento das ações da Petrobras, a meu ver com bons motivos na medida em que está concedendo à empresa os recursos para explorar as enormes quantidades de petróleo da camada do pré-sal.
Para quem estava no governo nos anos 70 e 80 do século passado e viveu a interrupção do crescimento brasileiro porque nos faltou energia (essencialmente a dramática dependência das importações de petróleo), a expectativa do aproveitamento do pré-sal é algo a comemorar, realmente.
Não tenho dúvida de que encontramos um caminho bastante razoável para realizar a exploração, depois de um certo tumulto inicial que precedeu a operação.
O governo agiu corretamente. Não se justifica a crítica à sua nova posição no capital da empresa, porque não vai alterar a qualidade da governança da Petrobras o fato de ter aumentado de 40% para 48% ou 66,4% a sua participação.
É uma empresa com administração de alta qualidade, que vem se aperfeiçoando, com um corpo profissional que privilegia a pesquisa e em razão disso alcançou elevados níveis de eficiência em suas operações, reconhecidos globalmente.
Estou convencido de que todo este processo de exploração será conduzido com inteligência, de forma a garantir que nos próximos 20 anos, pelo menos, não teremos problemas com o suprimento da energia e de matéria-prima para o desenvolvimento dos vários ramos da indústria química e de fertilizantes nitrogenados que darão destino mais nobre ao uso do petróleo do que a simples queima como combustível.
É uma possibilidade bastante razoável que tenhamos um crescimento robusto nas duas próximas décadas sem ter de enfrentar nenhuma perturbação séria a ponto de retardar o desenvolvimento. Nesse particular, não se pode dizer que o presidente Lula exagerou nas comemorações que presidiu na Bahia a propósito da capitalização da Petrobras e das ações de seu governo no setor energético.
O pré-sal é um bônus que a natureza nos trouxe para ajudar a resolver a questão da oferta de energia, mas não é apenas no setor de combustíveis que o Brasil avançou. Tão importantes, ou mais do que isso, foram as decisões que permitiram superar as dificuldades de toda a ordem que retardavam a execução das obras de aproveitamento do potencial hidrelétrico dos rios amazônicos. O presidente se empenhou pessoalmente para mostrar a inconsistência dos argumentos contrários à execução de empreendimentos como as usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira e de Belo Monte, no Xingu, que vão finalmente permitir o uso da energia a alguns milhões de brasileiros secularmente isolados dos benefícios do desenvolvimento. As duas primeiras, já em construção, vão começar a gerar energia um ano antes do que previam os contratos.
Agora, quando se prepara para transferir o poder, ele pode dizer sem exagerar que respondeu aos desafios desses oito anos. A três meses do término de seu segundo mandato, o operário metalúrgico que se elegeu presidente para -na expectativa de seus adversários políticos- viver uma curta passagem pela história do Brasil, no que seria conhecido como o período de "Lula, o Breve", sai de cena colecionando índices de popularidade e de aprovação de seu povo superiores a 80%. São recordes difíceis de serem batidos. Sem contar o recorde de crescimento do PIB que termina 2010 em torno de 7% de expansão em relação ao penúltimo ano, depois de atravessar a crise financeira que até hoje paralisa parte da economia mundial.
A mensagem que ele deixa aos brasileiros é a de uma liderança que valorizou acima de tudo o trabalhador, homens e mulheres que independentemente de origem, credo, cor, acreditaram que Lula não descansaria enquanto não cumprisse as promessas da "Carta aos Brasileiros", apresentada aos eleitores em 2002: combater a pobreza das famílias, aumentar o emprego e reduzir as desigualdades de renda entre as pessoas.
O pré-sal é um bônus que a natureza nos trouxe para ajudar a resolver a oferta de energia.
Como economista, Delfim poderia ter falado da origem dos recursos utilizados (que simplesmente não existem), poderia ter falado da contabilidade maquiada feita pelo governo, das consequências de tudo isso para as contas públicas, dos efeitos sobre a dívida pública e sobre os juros, enfim, poderia ter levantado argumentos econômicos para examinar uma questão importante.
Preferiu ficar nos elogios ao governo, como se tivesse sido contratado para ser garoto-propaganda do governo Lula.
Triste fim para um economista da USP.
Apenas uma última observação: não existem frutos do pré-sal. Por enquanto só existe um poço imenso de dúvidas, e a certeza de que a dívida pública aumentou (mesmo de forma disfarçada)...
Paulo Roberto de Almeida
Os frutos do pré-sal
Antônio Delfim Netto
DCI, 1/10/2010
O governo comemora o sucesso do lançamento das ações da Petrobras, a meu ver com bons motivos na medida em que está concedendo à empresa os recursos para explorar as enormes quantidades de petróleo da camada do pré-sal.
Para quem estava no governo nos anos 70 e 80 do século passado e viveu a interrupção do crescimento brasileiro porque nos faltou energia (essencialmente a dramática dependência das importações de petróleo), a expectativa do aproveitamento do pré-sal é algo a comemorar, realmente.
Não tenho dúvida de que encontramos um caminho bastante razoável para realizar a exploração, depois de um certo tumulto inicial que precedeu a operação.
O governo agiu corretamente. Não se justifica a crítica à sua nova posição no capital da empresa, porque não vai alterar a qualidade da governança da Petrobras o fato de ter aumentado de 40% para 48% ou 66,4% a sua participação.
É uma empresa com administração de alta qualidade, que vem se aperfeiçoando, com um corpo profissional que privilegia a pesquisa e em razão disso alcançou elevados níveis de eficiência em suas operações, reconhecidos globalmente.
Estou convencido de que todo este processo de exploração será conduzido com inteligência, de forma a garantir que nos próximos 20 anos, pelo menos, não teremos problemas com o suprimento da energia e de matéria-prima para o desenvolvimento dos vários ramos da indústria química e de fertilizantes nitrogenados que darão destino mais nobre ao uso do petróleo do que a simples queima como combustível.
É uma possibilidade bastante razoável que tenhamos um crescimento robusto nas duas próximas décadas sem ter de enfrentar nenhuma perturbação séria a ponto de retardar o desenvolvimento. Nesse particular, não se pode dizer que o presidente Lula exagerou nas comemorações que presidiu na Bahia a propósito da capitalização da Petrobras e das ações de seu governo no setor energético.
O pré-sal é um bônus que a natureza nos trouxe para ajudar a resolver a questão da oferta de energia, mas não é apenas no setor de combustíveis que o Brasil avançou. Tão importantes, ou mais do que isso, foram as decisões que permitiram superar as dificuldades de toda a ordem que retardavam a execução das obras de aproveitamento do potencial hidrelétrico dos rios amazônicos. O presidente se empenhou pessoalmente para mostrar a inconsistência dos argumentos contrários à execução de empreendimentos como as usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira e de Belo Monte, no Xingu, que vão finalmente permitir o uso da energia a alguns milhões de brasileiros secularmente isolados dos benefícios do desenvolvimento. As duas primeiras, já em construção, vão começar a gerar energia um ano antes do que previam os contratos.
Agora, quando se prepara para transferir o poder, ele pode dizer sem exagerar que respondeu aos desafios desses oito anos. A três meses do término de seu segundo mandato, o operário metalúrgico que se elegeu presidente para -na expectativa de seus adversários políticos- viver uma curta passagem pela história do Brasil, no que seria conhecido como o período de "Lula, o Breve", sai de cena colecionando índices de popularidade e de aprovação de seu povo superiores a 80%. São recordes difíceis de serem batidos. Sem contar o recorde de crescimento do PIB que termina 2010 em torno de 7% de expansão em relação ao penúltimo ano, depois de atravessar a crise financeira que até hoje paralisa parte da economia mundial.
A mensagem que ele deixa aos brasileiros é a de uma liderança que valorizou acima de tudo o trabalhador, homens e mulheres que independentemente de origem, credo, cor, acreditaram que Lula não descansaria enquanto não cumprisse as promessas da "Carta aos Brasileiros", apresentada aos eleitores em 2002: combater a pobreza das famílias, aumentar o emprego e reduzir as desigualdades de renda entre as pessoas.
O pré-sal é um bônus que a natureza nos trouxe para ajudar a resolver a oferta de energia.
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