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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

O despertar da África - Luiz Alberto Machado

O despertar da África

Luiz Alberto Machado

Espaço Democrático, 30/12/2019

Luiz Alberto Machadoeconomista e colaborador do Espaço Democrático

Costumo dizer que na economia globalizada, não basta conhecer apenas as características do país em que se está inserido, mas também as realidades e perspectivas dos outros atores da economia mundial.
Por algumas décadas, o bom desempenho econômico da Ásia chamou a atenção do mundo. Primeiro foi o Japão, que conseguiu, com incrível rapidez, superar as enormes dificuldades ocasionadas pela derrota na Segunda Guerra Mundial e se transformar numa das maiores potências econômicas do planeta na década de 1970. 
Em seguida, houve grande repercussão do acelerado crescimento de algumas economias do sudeste asiático, que se tornaram conhecidos pelo nome de Tigres Asiáticos: Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan. Com o excepcional crescimento econômico posterior às reformas introduzidas por Deng Xiaoping em 1979, suficiente para transformá-la na segunda maior economia do mundo, é natural que as atenções tenham se voltado para a China, que se tornou “a bola da vez”. Isso fez com que o desempenho econômico de outro grande país da região, tanto em extensão territorial como em população, tenha passado quase despercebido, a Índia. Com a redução das taxas de crescimento da economia chinesa para o que se convencionou chamar de “novo normal”, a Índia foi o país que apresentou maiores taxas de crescimento do PIB por dois ou três anos consecutivos, em que pese a continuidade de acentuadas disparidades regionais, como assinalam Jean Drèze e Amartya Sen no livro Glória incerta..
Desde 2018, porém, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional, dos cinco países com maior taxa de crescimento do PIB, quatro são do continente africano, Ruanda, Líbia, Etiópia e Costa do Marfim, permanecendo a Índia como a única representante do continente asiático.
Evidentemente, a base é muito baixa, pois o nível de pobreza desses países é extremamente elevado, e muitos questionam até que ponto a crescimento de alguns países da região não tem sido artificialmente inflado por capitais chineses (que evidentemente, têm outros interesses na região, como alerta a economista Dambisa Moyo, no livro O vencedor leva tudo), mas não deixa de chamar a atenção o fato de países que passaram por um terrível genocídio como Ruanda, ou por uma ditadura atroz como a Líbia no governo de Muamar Kadafi, estejam hoje na ponta do ranking do crescimento mundial.
Outro país que chama especialmente a minha atenção é a Etiópia, que normalmente aparecia nas manchetes em razão da fome que afligia parte significativa da população. Apenas dois fatos ficaram gravados na minha memória ao longo da história: os extraordinários feitos de Abebe Bikila, que por duas vezes ganhou a maratona olímpica, tendo corrido descalço na primeira delas, disputada nas ruas de Roma em 1960; e o longo reinado (1930-1974) do imperador Hailé Selassié, que acabou posteriormente sendo cultuado pelo movimento rastafári, tendo seu nome numa série de publicações e em músicas reggae, cujo ícone é o jamaicano Bob Marley.
O acelerado crescimento desses países começa a despertar a atenção de analistas internacionais, havendo inclusive quem se refira à Etiópia como a China da África, não apenas em virtude das altas taxas de crescimento, mas também por razões históricas e culturais, afinal, como bem observa o professor José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE:
A Etiópia é o berço do Homo Sapiens e dos grãos do café. Atualmente é uma das principais nações da África. A população da Etiópia, em 2018, de 107,5 milhões de habitantes é a segunda maior do continente, ficando atrás somente da Nigéria com 195,9 milhões de habitantes, mas à frente do Egito com 99,4 milhões de habitantes e
com cerca do dobro da população da África do Sul (57,4 milhões). 
O PIB da Etiópia foi de US$ 222,3 bilhões em 2018, bem abaixo do PIB da África do Sul de US$ 794,7 bilhões, da Nigéria de US$ 1,19 trilhão e do Egito de US$ 1,29 trilhão. Mas a Etiópia tem a economia que apresenta as maiores taxas de crescimento ao longo dos anos 2000.
Na sequência de seu artigo, observa o pesquisador:
A comparação da Etiópia com a China não se deve apenas ao alto crescimento econômico recente. Na verdade, os dois países possuem uma rica história. A China da Grande Muralha, da fabricação da seda, das cerâmicas e das 4 grandes invenções – bússola, pólvora, papel e tipografia – tem uma história mais conhecida. Mas ambos os países acreditam que eles estão destinados a ser grandes.
A Etiópia também tem uma civilização antiga e teve um Estado-Nação relativamente maduro bem cedo, com o Reino Aksumita, datando do século I DC Os regimes subsequentes, através dos tempos medievais e além,  exerceram uma boa quantidade de poder. Mais importante, os etíopes de hoje veem seu país como uma extensão direta dessas unidades políticas anteriores. Alguns etíopes influentes afirmaram traçar sua linhagem até o rei Salomão dos tempos bíblicos. O país tem vínculos entrelaçados com as três maiores religiões abraâmicas do mundo. A Etiópia divide com a África do Sul o posto de maior número de Patrimônios Mundiais da UNESCO na África.
Como se pode observar, está na hora de colocar a África, por muito tempo considerado o continente esquecido, na mira dos radares.

Referências bibliográficas e webgráficas:
ALVES, José Eustáquio Diniz. Crescimento demoeconômico da Etiópia: a “China
da África”? Disponível em https://www.ecodebate.com.br/2019/01/30/crescimento-
demoeconomico-da-etiopia-a-china-da-africa-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
DRÈZE, Jean e SEN, Amartya. Glória incerta: a Índia e suas contradições. Tradução
de Ricardo Doninelli Mendes e Laila Coutinho. São Paulo: Companhia das Letras,
2015.
MOYO, Dambisa. O vencedor leva tudo: a corrida chinesa por recursos e seu
significado para o mundo. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2013.

sábado, 1 de setembro de 2018

O presidente hesita (2003), entre a primeira viagem à Africa e a reforma da Previdência

Em meados de 2003, eu tinha recebido convite para trabalhar no “Núcleo de Assuntos Estratégicos”, mas também para assessorar diretamente o seu chefe, enquanto um dos ministros mais próximos do presidente. Durante os dois anos em que o assessorei, elaborei uma série de “memos” sobre os mais diversos assuntos, que talvez um dia consolide numa pequena brochura informativa sobre meu trabalho, à margem da agenda normal do NAE. Mas, comecei a assessorá-lo imediatamente, ainda em Washington, enviando material que considerava útil ou pertinente à própria agenda externa da Presidência da República. Exemplo disso é o trabalho 1083, elaborado numa curta passagem por Brasília (exatamente para definir o meu futuro profissional), quando o presidente hesitava em fazer sua primeira viagem à África, por causa de greve de funcionários públicos – os mandarins da República – contra projetos de reforma da Previdência. Elaborei parágrafos para pronunciamento do chefe de Estado à nação, tocando nas duas questões, mas no caso da África, nunca tive essa ideia, formulada pelos petistas e outros “intelequituais” da mesma vertente, de que nós, brasileiros, tivéssemos uma “divida histórica” com os africanos por causa dos séculos de escravidão. Acredito que meu texto não serviu para nada, como vários outros que elaborei ao longo desse período em que fui colaborador direto do regime (embora nunca tenha abandonado meu olhar crítico sobre o regime e suas políticas). 
1083. “Sugestões para Pronunciamento”, Brasília, 23 jul. 2003, 2 p. Texto em forma de pronunciamento público do Presidente da República sobre reforma da Previdência, contendo igualmente elementos sobre viagem à África. Encaminhado ao Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e de Gestão Estratégica (xxx), com cópia ao presidente do IPEA (xxx).
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 1/09/2018

Algumas sugestões para pronunciamento (do PR)

Caros brasileiros e brasileiras, meus concidadãos,

            Dentro de alguns dias estarei partindo para a África, um continente cujo grau de sofrimento humano, nos últimos anos, não encontra paralelo com o mais iníquo grau de miséria social porventura existente em quaisquer outros continentes, e também no Brasil.
            Estarei levando não apenas uma mensagem de solidariedade do povo brasileiro, o mais africano de todos os povos da América Latina, mas também uma promessa de cooperação que nós, brasileiros, devemos e iremos cumprir em benefício de nossos irmãos africanos. Faremos isso por uma simples questão de justiça e de solidariedade humana e também porque queremos dar um testemunho sincero de que reconhecemos os laços históricos e sobretudo afetivos que nos unem àquele tão sofrido continente.
            A África, não apenas por culpa do colonialismo europeu, conheceu devastações humanas inimagináveis em qualquer outra experiência social em nosso século: guerras civis, epidemias cruéis como a da AIDS, a incúria de elites e das classes governantes, a negligência pouco benigna de nações mais poderosas, bem como barreiras inaceitáveis e a concorrência desleal dos subsídios agrícolas abusivos e do protecionismo deslavado dos países ricos, onde as vacas dispõem de uma renda superior à da média dos africanos.
            Estarei, portanto, levando uma mensagem de solidariedade e de esperança, para dizer que o povo brasileiro deseja e vai participar do processo de soerguimento das nações africanas, com toda a generosidade que permitem nossos limitados recursos para cooperação internacional. Mas faremos um esforço especial em direção de nossos irmãos africanos.
            
            Não quero, porém, partir sem antes dirigir algumas palavras a meus concidadãos, em face das ameaças de greve anunciadas por uma categoria de funcionários públicos contra os projetos de reforma da Previdência, projetos que foram há muito anunciados pelo meu partido e pelo próprio Governo.
            Não desejo entrar em polêmicas públicas sobre o conteúdo mesmo dessas reformas, pois que a responsabilidade pela sua aprovação incumbe soberanamente ao Congresso Nacional, que a elas dedicará o melhor dos seus esforços, com a convicção de que estará restaurando padrões de equidade e de moralidade públicas que há muito todo o Brasil reclama.
            Sinto-me, no entanto, no dever de trazer aos brasileiros e brasileiras, inclusive aos milhares de funcionários públicos que se sentem intranquilos com os rumos dessas reformas, algumas palavras de esclarecimento e alguns elementos de informação sobre o sentido e a justificativa moral da reforma da Previdência.

            Em primeiro lugar, cabe advertir que a reforma da Previdência não está dirigida contra os funcionários públicos. Ela se coloca, sim, a favor e em benefício de todos os brasileiros, de todas as categorias profissionais e de todas as camadas sociais.
            A reforma não está sendo feita para retirar direitos de alguns, mas para garantir a todos os brasileiros, sem qualquer discriminação, o direito de se aposentarem com a certeza de que as suas pensões não serão um dia atingidas pela falência do Estado e pela inadimplência geral do sistema previdenciário injusto e iníquo que existe hoje.
            A reforma não está sendo feita para retirar benefícios de uma categoria para atribuí-los a outras, mas para evitar que os nossos filhos e netos, e provavelmente até nós mesmos, nos deparemos com um rombo criminoso e inaceitável nas contas públicas, rombo que vem sendo construído nos últimos anos e décadas justamento pelo fato de que alguns poucos são absurdamente privilegiados com pensões abusivamente altas, enquanto a vasta maioria dos aposentados sobrevive com pensões ridículas, mas que ainda assim também estão ameaçados pela falência futura de todo o sistema.

            Gostaria que vocês contemplassem estes poucos gráficos para se darem conta do que estou falando. [exemplos em anexo, não transcritos]
            Como vocês podem constatar aqui, a quase totalidade dos brasileiros aposentados, seja no sistema geral, seja no sistema público, tem uma média de proventos de (xxx) reais por mês. Apenas uma porção mínima dos inativos, menor do que (x) por cento, dispõe de uma renda média de (xxx) reais. Estes se situam no setor público (em especial no Judiciário e no Legislativo).
            A média de contribuição dos brasileiros ativos é de (xx) anos, para (xx) anos de benefícios. Na outra ponta, assistimos a funcionários que se aposentam em média com 48 ou 50 anos, e cujos proventos, durante 20 ou 25 anos adicionais, por vezes extensíveis às viúvas ou filhas solteiras durante mais 10 ou 15 anos, superam largamente a média de suas contribuições durante a atividade.
            
            Quero também dizer a vocês que não existe um único país no mundo, mesmo entre os mais ricos dos desenvolvidos, que mantenha, como o Brasil, um sistema segundo o qual o inativo continua a ganhar, na inatividade, tanto quanto, ou por vezes mais, do que ganhava na sua vida ativa.
            Também são muito poucos os países, se é que existe algum, nos quais um trabalhador se aposenta com 48 ou 50 anos, passando a receber a integralidade do que ganhava até então.
            Ao contrário, sei de países que fizeram plebiscitos, sim, para reformar a Previdência, mas foi para elevar a idade mínima de aposentadoria de 60 a 65 anos, com tendência inclusive à equiparação entre o homem e a mulher.
            Eu, pessoalmente, acho que apesar de a mulher viver mais do que o homem, ela merece se aposentar alguns anos mais cedo, em virtude da dupla jornada que as companheiras são obrigadas a fazer, com os encargos domésticos e de criação dos filhos que muitas vezes não são compartilhados pelos companheiros. 

            Por isso eu quero fazer um apelo a todos os meus concidadãos, em especial aos funcionários públicos para que não deixemos que interesses particularistas se sobreponham ao bem comum de todos os brasileiros.

            O Brasil precisa dessa reforma, NÃO para obedecer algum organismo internacional, nem para contentar especuladores externos. 
            O Brasil precisa dessa reforma para que, em primeiro lugar, a justiça social prevaleça nesta terra, e para que, em segundo lugar, nós tenhamos simplesmente o que retribuir para todos aqueles que trabalharam a vida inteira e que têm o direito de se aposentarem com uma pensão condigna.

            O Brasil precisa dessa reforma NÃO para salvar banqueiros e acalmar os mercados. Mas o Brasil precisa dessa reforma para dar dignidade aos seus filhos e para salvar-se a si mesmo.

            Meus caros brasileiros e brasileiras,
            A reforma não é contra ninguém. A reforma é a favor do Brasil. 
            Ajudem-me a fazer deste País uma pátria de todos e não o país de apenas alguns.
            Eu quero fazer do Brasil uma Nação de pessoas que possam ter a certeza de que, ao nascer, TODOS terão oportunidades e direitos iguais.

            Ajudem-me a dar ESPERANÇA a nossos filhos e netos, e também a nós mesmos.

            Muito obrigado a vocês. Boa noite a todos e a todas.


(PRA: Brasília, 23 de julho de 2003)

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Africanos "aceitaram" perder a liberdade? - Paulo Roberto de Almeida


Africanos Aceitaram Perder a Liberdade de Conduzir a sua História?
Minhas observações

Paulo Roberto de Almeida


Hoje, 1o de Abril (mas não por isso), recebi uma mensagem, dessas que são disparadas a número indeterminado de receptores, todos eles, provavelmente, estudantes de “coisas” brasileiras, da parte de alguém que se dispõe a subsidiar o conhecimento desses estudantes com elementos de informação ou com material de estudo sobre o tema em pauta, que se resume, segundo a linha do assunto da mensagem, nesta pergunta:
Como os Africanos Aceitaram Perder a Liberdade de Conduzir sua História?
Não tenho certeza de que isso ocorreu, se ocorreu, alguma vez na História – com H maiúsculo – mas tenho problemas com a questão, e com as questões subsidiárias que se seguem, que transcrevo imediatamente aqui:

On Apr 1, 2015, at 06:00, [Nome] <email@mail.com> wrote:
Bom dia, Paulo!
1) Você já parou para pensar como foi o processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus?
2) Você sabe que até a primeira metade do século XIX os africanos apresentaram aos europeus apenas a "Casca" do seu continente?
3) Você já refletiu sobre os motivos que levam nós Brasileiros a negar a África que Existe em cada um nós?

Tenho não apenas problemas, mas objeções aos termos, aos conceitos e aos enunciados dessas questões, objeto de meus comentários, enviados a expedidor, e que transcrevo aqui.

Minhas observações sobre as questões:

            Meu caro [Nome],
1)         Tenho um problema com essa expressão: “Você já parou para pensar como foi o processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus?”
            Creio que existe um problema maior nesta mensagem e no tipo de alegação que é feita nela.
            África, simplesmente não existe para os “africanos”, uma multitude de povos diferentes com culturas, línguas e histórias muito diferentes entre si.
            Falar de “processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus” equivaleria a dizer que ocorreu um “processo que levou os europeus a se tornarem colonialistas, exploradores, imperialistas, invasores de outros povos e outros continentes, e instalarem a supremacia dos europeus sobre o mundo”.
            Existiu tal coisa? É evidente que não.
            Alguns empreendimentos, de alguns soberanos ou aventureiros europeus, deram início ao processo de descobertas de outras terras alcançadas pelos mares (Oceano Atlântico, depois Índico), num episódio histórico que ficou identificado com as grandes navegações, começando pelos portugueses, ainda no início do século 15 e que se estende até o século 17, mais ou menos, quando todos os continentes estavam mais ou menos mapeados, com base em empreendimentos “estatais” (ou de soberanos), de aventureiros, comerciantes, etc., aqui incluindo espanhóis, franceses, ingleses, e alguns outros.
            Foi um processo coordenado em escala europeia? É evidente que não. Cada um foi tentar a sua sorte, geralmente com o objetivo de alcançar riquezas (ouro, produtos raros e preciosos, conquista de novos territórios, propagação da fé cristã, busca de prestígio, etc.).
            Falar de um “processo que conduziu os africanos Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus” equivaleria igualmente a dizer que ocorreu um “ processo que levou povos nativos do Novo Mundo Aceitarem o Jugo Colonialista dos países europeus”, o que tampouco é verdade.
            Existiam povos muito diferentes no hemisfério ocidental, que foram conquistados, submetidos, eliminados, escravizados em épocas diferentes, por métodos diferentes, por empreendedores, conquistadores, aventureiros, guerreiros muito diferentes, atuando com motivações muito diversas.
            Simplesmente não havia povos africanos, nem povos do Novo Mundo, num conceito unificado, pois isto não faz nenhum sentido, nem histórico, nem cultural, nem étnico, nada.
            Quanto aos “povos europeus”, talvez o único elemento a identificá-los seria o cristianismo, que se disseminou lentamente, paulatinamente, progressivamente, a partir do final do Império Romano, quando a religião cristã se torna oficial no Império. Mas foi um processo muito lento, que levou séculos. Alguns povos, mesmo bárbaros, pós Império Romano, tiveram suas línguas latinizadas, ou emergiram a partir de remanescentes linguísticos e literários do latim (que era a língua franca e dos documentos escritos durante os séculos de completa anarquia política nesse minúsculo território que é a Europa ocidental), e que por isso mesmo acabaram se remetendo a uma fonte comum de autoridade política que durante anos foi uma espécie de "ONU" da Idade Média: o poder papal, e sua capacidade de emitir bulas sagrando tal e qual soberano como o legítimo detentor da autoridade política sobre um determinado território. Foi assim que nasceu o Portugal moderno, um dos primeiros Estados cristãos a receber a bula confirmatória do chefe da Igreja em Roma. 
            Nada disso existia na “África” – um conceito genérico, sem real significação política ou mesmo cultural – ou nos territórios do hemisfério ocidental. No máximo, alguns povos, no norte da África e no Sahel, penetrando em alguns pontos da África subsaárica, ou negra, foram islamizados, à força, pelos invasores vindos da península arábica ou de territórios já conquistados no norte da África, e se tornaram "povos islâmicos", mas mesmo esse conceito é enganoso, pois compreende uma grande diversidade de situações. Não podemos esquecer que tanto no norte da África quanto no Oriente Médio, existiam tanto povos quanto chefes de Igreja se reclamando da fé cristã, que foram conquistados pelos árabes muçulmanos, depois reconquistados em algumas cruzadas, mas que depois vieram a cair novamente sob o julgo muçulmano, e mais exatamente otomano, quando foi o caso.
            Ou seja, falar de povos africanos não faz nenhum sentido, como não faz sentido o politicamente correto de alguns beócios acusar a “invasão colonizadora” no Novo Mundo como fonte de exploração e pilhagem, quando em vários continentes, em várias épocas, esse foi o padrão civilizatório seguido invariavelmente ao longo dos séculos: invasões de povos guerreiros, escravização ou eliminação, em todo caso sujeição, dos povos “autóctones”, novas estruturas e novos aportes humanos criando novas comunidades e sociedades. Tanto incas quanto astecas, por exemplo, eram povos conquistadores, que se impuseram sobre tribos pré-existentes em seus “impérios” respectivos. O mesmo ocorreu na África, onde determinadas etnias submeteram outras etnias, reduzindo-as à escravidão (por vezes até na própria etnia), e depois inserindo esse processo no tráfico transatlântico, quando a ocasião se apresentou.

2)         Esta outra expressão, tampouco faz qualquer sentido: “até a primeira metade do século XIX os africanos apresentaram aos europeus apenas a 'casca' do seu continente”.
            Não faz sentido porque não foram “africanos” que apresentaram a “europeus” qualquer coisa. Foram determinados chefes de tribo de determinados pontos da África que apresentaram a alguns europeus – traficantes portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, americanos ou até brasileiros – escravos que eles “pegavam” no interior, e traziam até a costa para vende-los aos mercadores escravistas “europeus”, da mesma forma como mercadores árabes, ou de outros povos do índico, pegavam nas costas da África oriental (Somália, Zanzibar, ou Tanganica, no atual Moçambique), sua cota de escravos que iam trabalhar no Oriente Médio.
           
3) Por fim, também não concordo com esta terceira expressão: “Você já refletiu sobre os motivos que levam nós Brasileiros a negar a África que Existe em cada um nós?”
            De que brasileiros se está falando? Os descendentes de imigrantes europeus que povoaram o Sul e Sudeste, levam alguma África dentro de si? Isso não faz nenhum sentido. Algumas regiões do Brasil foram mais tocadas do que outras pela escravidão de “africanos” e ficaram mais marcadas em seus traços culturais que persistem até hoje. Esses traços não são “africanos”, a não ser numa acepção extremamente larga, geograficamente, desse termo. Existiam povos bantus, ou ovambos, ou xossas, ou de quaisquer outras etnias de origem que foram trazidos de pontos diversos daquele continente para pontos diversos do Brasil: eventualmente, em alguns lugares ocorreu uma agregação de determinadas etnias, o que permitiu a sobrevivência de seus traços culturais de origem e até reflexos disso na sociedade de “acolhimento”, como por exemplo na revolta dos malês da Bahia, conduzidas por escravos islâmicos, ou islamizados, que não poderia ser escravizados, segundo as prescrições da sociedade islâmica.
            Na maior parte dos casos, os diferentes povos, mais exatamente grupos de indivíduos, ou pessoas isoladas foram imersas no novo ambiente e acabaram se dissolvendo no mainstream cultural que emergiu no Brasil, com certas “sobrevivências” das culturas de origem por afinidades naturais de origem, costumes, línguas, etc. (inclusive porque a maior parte dos novos aportes consistia de adultos dotados de toda uma carga cultural de origem).

            Sinto muito dizer, mas eu sempre gosto de refletir sobre a História, e não me deixo levar pelo politicamente correto.
            Recomendo, a propósito, ler Jared Diamond: Armas, Germes e Aço.
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Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 1o de abril de 2015

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Republica Petista da Corrupcao: maior roubalheira com empreiteiras na Africa - Jorge Oliveira (Diario do Poder)

Negócios domésticos rendem, e muito, mas estão sempre mais sujeitos a controles e verificações por causa dos (incômodos, para os companheiros) sistemas de processamento de pagamentos, em princípio submetidos às tomadas de contas de órgãos como TCU e CGU (mas totalmente elididos no caso da Petrobras, desde sempre, sem que o STF se manifeste a respeito).
Mas negócios externos, esses costumam ser mais apetitosos, e em princípio sem o controle aplicada nas tramitações domésticas. Eles se prestam, assim, a maiores desvios, comissões, pagamentos a contas no exterior, enfim, roubalheira em grande estilo.
É o que pode estar ocorrendo com todas essas obras em países africanos.
Não esqueçamos que o ex-presidente Lula continuou viajando a diversos países, geralmente em jatinhos dessas construtoras, com todo o apoio do Itamaraty.
Até quando?
Paulo Roberto de Almeida

JORGE OLIVEIRA
MAIOR LAVANDERIA PETISTA É NOS PAÍSES DA ÁFRICA
Diário do Poder: 9 de dezembro de 2014 às 17:31
Brasília – Finalmente, apareceram as digitais de Zé Dirceu no roubo da Petrobrás. O ex-ministro, condenado no escândalo do mensalão, tinha contrato de consultoria com a empreiteira Camargo Correia, de quem recebeu 886 mil reais em um ano. O contrato é de abril de 2010, mas nem por isso Dirceu deixou de receber sua remuneração retroativa a fevereiro. Coincidência ou não, neste mês a construtora assinou contrato com a Petrobrás no valor de R$ 4,8 bilhões para prestar serviços na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, durante os quais assinou (pasmem!) 383 aditivos com a estatal. Diante da alta soma roubada pelo seu protetor na empresa,  Renato Duque, Zé está se perguntando se também não foi enganado com um “troquinho” que recebeu da construtora quando se sabe agora que o seu diretor lá dentro se deleitava com remessas de vultosas quantias para o exterior.
Mas se você, meu caro leitor, ainda está indignado, perplexo, sobressaltado e revoltado com essa “organização criminosa” , não perde por esperar. Quando a Justiça começar a mexer nos empréstimos do BNDES para alguns tiranos dos países da África, aí, sim, a lama vai chegar no meio da canela. Durante muitos anos, no governo Lula, o banco escancarou as porteiras para financiar construtoras brasileiras que trabalham em grandes obras por lá. Sem que os brasileiros soubessem para onde estava indo o dinheiro público, bilhões de reais chegaram às mãos de ditadores africanos que fizeram a festa regada a champanhe francesa, um hábito cultivado por muitos deles.
Para mascarar a malandragem, o Lula anunciava que precisava ajudar os nossos irmãos africanos, milhares deles vítimas de guerras infindáveis, atacados por seca e chuva como se o Nordeste também não vivesse na mesma penúria. Assim é que o BNDES fez filantropia com o dinheiro dos brasileiros enquanto os petistas da cúpula fazia ponte-aérea entre o Brasil e os países da África. A mídia, ainda embevecida com o discurso social do Lula, foi incapaz de questionar essa transação ilegal do governo brasileiro. Muito desse dinheiro ninguém sabe até hoje como foi gasto e outros tantos empréstimos foram perdoados com a anuência do Congresso Nacional, a quem cabia votar o calote.
Na verdade, a organização criminosa petista foi esperta ao tentar sensibilizar o povo brasileiros para ajudar seus irmãozinhos africanos. O que se sabe hoje é que esse dinheiro caia nas mãos de ditadores sanguinários da África que o transferia para paraísos fiscais, onde cada um dos envolvidos na liberação da grana recebia sua fatia sem precisar sujar as mãos. Antes de ser condenado, Zé Dirceu, o homem mais poderoso do PT, auxiliar leal de Lula, era recebido nos países de língua portuguesa como um popstar.
Nas suas viagens à Lisboa, onde segundo se noticiou, Rosemary, amiga íntima de Lula, chegou certa vez em um aviãozinho carregado de dólares,  Zé Dirceu era recepcionado no aeroporto como um agente do desenvolvimento social. Á mesa sempre o Pera Manca, safra 2008, um vinho caríssimo até para os padrões portugueses. Como Portugal não tem uma gota de petróleo, a Petrobrás é responsável por 25% do abastecimento do país através da sua produção em Angola, o que justificava tanta paparicação ao ilustre visitante.
Depois da descoberta da quadrilha da Petrobrás, os petistas botaram a barba de molho. Têm evitado viagens, caminham mais cautelosos e esperam a qualquer  momento a prisão do seu tesoureiro João Vaccari Neto, o homem de confiança da cúpula do PT que administra todo dinheiro sujo da “organização criminosa”.  Aliás, este seria o segundo a tirar cadeia. O outro, Delúbio Soares, anda com tornozeleira do sistema penitenciário.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O voo da ASA e o crepusculo dos deuses...

Notícias de certa cúpula:

Dos 54 países africanos, 20 chefes de Estado confirmaram presença na cúpula de países da América do Sul e África (ASA), realizada na capital da Guiné Equatorial, presidida pelo ditador Teodoro Obiang, no poder desde 1979. Da América do Sul, além do Brasil, estiveram presentes apenas o primeiro-ministro da Guiana, Samuel Hinds, o presidente do Suriname, Dési Bouterse, o presidente da Bolívia, Evo Morales, e o vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Na solenidade, o chanceler da Venezuela, Elias Jaua, leu uma mensagem do presidente Hugo Chávez, que lamentou não poder comparecer ao encontro e atacou o imperialismo ocidental. A mensagem foi encerrada com a frase "até a vitória sempre", repetida por Chávez em seus discursos.

Durante o discurso, ao falar dos medicamentos produzidos no Brasil contra epidemias tropicais que podem ser exportados para a África, a presidente do Brasil confundiu o nome do médico sanitarista Osvaldo Cruz com o do advogado e diplomata Osvaldo Aranha.

A abertura da cúpula atrasou em duas horas e meia e foi marcada pelo bloqueio das comunicações por cerca de quatro horas, por orientação do governo da Guiné Equatorial, responsável pela organização do encontro. Um caminhão bloqueou o sinal de celular no Centro de Conferências de Sipopo, e a internet não funcionou durante a sessão de abertura, que durou pouco menos de duas horas, deixando todos os participantes "desconectados".

sábado, 17 de setembro de 2011

BRICS e CEI: dois blocos em crescimento - Diario da Russia


ECONÔMICAS

Participação no PIB mundial: Países da CEI x Grupo BRICS

WOC – World Organization of Creditors faz análise da dinâmica de diferentes índices econômicos de países em desenvolvimento e países desenvolvidos, e de sua influência na economia global


Às vésperas do Fórum Econômico Mundial de São Petersburgo, que aconteceu entre 16 e 18 de junho de 2011, com o apoio e a participação do Presidente da Federação Russa, Dmitri Medvedev, a WOC (World Organization of Creditors) fez uma análise da dinâmica de diferentes índices econômicos de países em desenvolvimento e países desenvolvidos e de sua influência na economia mundial.
O crescimento econômico no mundo está ganhando força, embora existam riscos consideráveis de diminuição dos índices de crescimento relativamente às previsões, segundo o relatório do Fundo Monetário Internacional “Perspectivas de Desenvolvimento da Economia Mundial”. O FMI prevê que em 2011 e 2012 o crescimento do Produto Interno Bruto real do mundo chegará a 4,5%. Nos países em desenvolvimento, espera-se que chegue a 6,5%, e nos países desenvolvidos a apenas 2,5%.
A presente pesquisa examina os índices econômicos do mundo e também os dados de blocos como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a CEI (Comunidade dos Estados Independentes, formada por Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão e Geórgia) e de um grupo consistindo de 34 países com economia desenvolvida, na dinâmica de 2000 a 2010 e nas previsões do FMI até 2016.
[As economias desenvolvidas, segundo o FMI, incluem 34 países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chipre, Cingapura, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Hong Kong, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, Malta, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, República Tcheca, Suécia, Suíça e Taiwan.]
Os dados apresentados deixam claro que os países em desenvolvimento exercem mais e mais influência na economia mundial, que sua participação no PIB global, no volume dos investimentos mundiais e também na circulação de commodities mundial está crescendo regularmente e que essa tendência será mantida.
Isso significa que os países em desenvolvimento se tornarão cada vez mais significativos para a economia global e que a estabilidade ou instabilidade da situação econômica nas dadas regiões será cada vez mais determinante para o mundo em geral.
PIB: a participação dos países do BRICS no PIB mundial cresceu de 8,4% para 18% entre 2000 e 2010, e a participação dos países da CEI cresceu de 1,1% para 3,1%
De 2000 a 2010 o PIB mundial quase dobrou, os países desenvolvidos aumentaram seu PIB em apenas 61% e a economia dos países da CEI cresceu 5,5 vezes e a dos países do BRICS 4,2 vezes. E as previsões do FMI para os países da CEI são otimistas – o índice pode crescer duas vezes dentro dos próximos seis anos, enquanto o PIB mundial vai crescer apenas 44% nesse mesmo período.
Assim, a participação no PIB dos países do BRICS dobrou em 10 anos e chegou a 18%, e a participação no PIB dos países da CEI quase triplicou e chegou a 3%. O crescimento mais rápido dos países do BRICS ocorreu nos últimos cinco anos, e o fez apesar da crise econômica. A China se tornou o líder (crescimento do PIB de 160%, participação de 9,3%), depois o Brasil (135%, participação de 3,3%) e Rússia (92%, participação de 2,3%).
Mas o panorama muda nas previsões para os próximos seis anos: segundo o FMI, o país em desenvolvimento mais dinâmico será a Rússia, com o crescimento do PIB de 121%, depois a China (91%) e a Índia (81%). Parte dos países desenvolvidos decresceu em 13,4%, e agora seu peso no PIB mundial chega a 66%. Dentro dos próximos seis anos eles podem perder 7%.
O PIB, calculado segundo a paridade do poder aquisitivo: índice per capita nos países da CEI em 2007 superou a média mundial e demonstra um novo crescimento
Estudando o índice do PIB PPP (calculado segundo a paridade do poder aquisitivo, parity of the purchasing power), e falando de novo dos países em desenvolvimento. Em 2010, parte dos países do BRICS no PIB PPP mundial chegou a 25,7%, contra 18% do PIB segundo os preços correntes, e o índice continua crescendo. A situação nos países da CEI é similar: 4,2% contra 3,1% do PIB; segundo preços correntes, durante os últimos 5 anos o índice permaneceu estável. Trata-se evidentemente de uma dinâmica positiva: o poder de compra dos países em desenvolvimento está crescendo. Nos países de economia desenvolvida a situação é oposta, e parte do PIB PPP é mais baixa do que parte do PIB segundo preços correntes: 52,3% contra 66% em 2010.A tendência de decréscimo desse índice persistirá nos próximos anos. Na presente pesquisa, também estudamos um índice importante como o PIB PPP per capita. O índice médio mundial em 2010 foi de 10,9 mil dólares. Segundo esse índice, os países com economias desenvolvidas se encontram num nível muito mais elevado: 38,1 mil dólares. Os países do BRICS vêm atrás, segundo esse índice (6,5 mil dólares), e os países da CEI em 2007 com o PIB PPP per capita superaram o índice médio mundial (em 2007: 10,7 mil dólares e 10,1 respectivamente) e agora a CEI chegou a 11,4 mil dólares.
Em parte, tais dinâmicas positivas podem ser explicadas pelo fato de que os índices de crescimento da população do planeta são em média mais elevados do que nos blocos dos países em questão.
Investimentos: participação dos países do BRICS no volume total dos investimentos mundiais dobrou nos últimos 5 anos e chegou a 29,4%
O crescimento do volume de investimentos no mundo chegou a 40% nos últimos 5 anos. Nos países desenvolvidos o aumento desse índice desacelerou consideravelmente durante o período e cresceu apenas 5%.
Os países em desenvolvimento exibem outros números bem contrastantes: o BRICS mostra o crescimento de 170% dentro dos últimos 5 anos (o líder é a China, com 202%), enquanto nos países da CEI o aumento no volume de investimentos chegou a 100%.
Assim, se em 2000 a participação de investimentos dos países desenvolvidos no mundo chegou a quase 80%, em 2010 esse índice havia baixado e agora representa pouco mais da metade de todos os investimentos realizados na economia mundial. Durante o mesmo período a participação nos investimentos dos países do BRICS quase triplicou – de 10% para 29,4%, um crescimento especialmente dramático ocorrido nos últimos cinco anos, quando o índice dobrou. Nos países da CEI existe também uma dinâmica positiva: em 2010 a participação nos investimentos deste bloco no mundo cresceu para 2,9% a partir de 0,9% em 2000.
Circulação das commodities no mundo
A influência dos países do BRICS e da CEI na circulação mundial de commodities está crescendo. Durante os últimos dez anos a participação dos BRICS no comércio mundial cresceu 2,3 vezes, para 15,4%, e a participação da CEI subiu duas vezes, para 3,3%. Os países desenvolvidos continuam perdendo suas posições.
O lugar principal para a dinâmica de crescimento na circulação de commodities pertence aos países do BRICS (102% nos últimos 5 anos). Os países desenvolvidos só cresceram esse índice em 29% durante o mesmo período, o que fica abaixo da média mundial, que é de 43%.
Quanto aos volumes de importação e exportação em comparação com o PIB das regiões, o índice médio mundial em 2010 chegou a 49% (de 41% em 2000). Nos países desenvolvidos o índice está no nível mundial, nos países do BRICS a proporção de importação e exportação do PIB da região chegou a 42% e nos países da CEI a 51% (em comparação com 65% em 2000).
Somente nos países da CEI houve um decréscimo no índice, o que pode ser encarado como positivo: os países da CEI gradualmente param de orientar apenas internamente, eles tendem a aumentar sua própria produção e também o seu consumo.
O fortalecimento das posições econômicas dos blocos de países em desenvolvimento estudados é evidente. É possível prever com certeza a manutenção destas tendências no futuro – mesmo a recente crise não conseguiu abalar seriamente as posições dos blocos do BRICS e da CEI. O aumento de investimentos deve ter-se refletido positivamente na dinâmica do crescimento da indústria nestes países, correspondentemente, na dinâmica do crescimento do PIB, fortalecendo a demanda doméstica. Estes fatores positivos, juntamente com os índices relativamente baixos de crescimento populacional, devem levar ao crescimento do bem-estar da população dos países em desenvolvimento.
Esta pesquisa confirma a tendência de mudança de polaridade na economia mundial. A julgar pelos crescentes índices macroeconômicos de mercados soberanos em desenvolvimento nos últimos dez anos, torna-se lógica a necessidade de reconsiderar as noções de países “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”. Essa questão foi levantada no recente encontro de cúpula do G20 na Coreia do Sul, onde os representantes da República Popular da China não tiveram sequer de insistir na reconsideração do status do mercado chinês em desenvolvimento. Hoje em dia a comunidade mundial admite que a posição dominante da China no espaço econômico global é uma realidade objetiva. Se falarmos do bloco do BRICS em geral, esta aliança começa realmente a demonstrar não só considerável sucesso separadamente de seus estados-membros, mas também uma série influência no estado atual e no desenvolvimento futuro da economia mundial.
Inúmeras previsões sobre o colapso da CEI não se concretizaram: seus países conseguiram superar muitas facções políticas e ajustar uma eficiente interação de seus sistemas econômicos. Mas provavelmente a característica mais significativa do BRICS, bem como da CEI, foram as manobras de estabilização feitas pelos governos dos países em desenvolvimento durante a crise de 2008 e o subsequente período de reabilitação, em consequência do qual toda a comunidade mundial chegou à certeza de que era prematuro apressar o rebaixamento do nível da regulamentação estatal dos mercados. Aconteceu que países com economias mistas – de mercado e regulada – superaram a crise menos penosamente, em oposição àqueles países nominalmente desenvolvidos que colocaram suas esperanças na chamada “mão invisível do mercado” e cujas economias entraram numa fase destrutiva.
Para ver os quadros e tabelas desta pesquisa, acesse
e entre no link:
“Share of the CIS countries in the world GDP grown in 3 fold times over 10 years and 2 fold times grown share of the BRICS countries”
Para os dados de informação analítica do WOC, pode ser consultado o Serviço de Imprensa da Organização:
Tel.: +7 (495) 225-25-39

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Diplomacia viajeira: resultados em milhagens, talvez...

O que dizem os acadêmicos tem muito menos importância -- ou não tem nenhuma importância -- em relação ao que dizem aqueles que fazem as coisas acontecer: os empresários, os homens de negócios, que são os que produzem, vendem, trazem riqueza para o país.
Acadêmicos costumam dar despesas e induzir a posições erradas. Seria o caso de perguntar ao que acha que interesses econômicos não podem ser separados dos objetivos políticos, quem paga o seu salário de acadêmico. Ele pode responder: "É o Estado!". Errado! É a sociedade, através de seus empresários e trabalhadores.
Aparentemente, com todo o nacionalismo, a "nova geografia comercial" não teve os resultados esperados. Mas sempre tem gente que gosta de se iludir, e enganar os outros.
Paulo Roberto de Almeida

Em oito anos, Lula visitou 85 países em busca de parceiros comerciais e políticos
BBC Brasil, 29 de dezembro de 2010

Presidente saiu em busca de novos mercados, mas também foi criticado por relação com governos polêmicos
Relação com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad é considerada a mais polêmica do governo Lula

Com visitas a 85 países em um período de oito anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou em prática uma política de diversificação das relações do Brasil com o mundo que ajudou a projetar o país do ponto de vista econômico, mas que ao mesmo tempo colecionou polêmicas na arena política.

Com um discurso contrário à concentração das exportações brasileiras para um número "restrito" de países, Lula passou a usar as visitas internacionais como forma de "vender" o produto brasileiro em novos mercados.

A diversificação das relações, no entanto, também teve um forte cunho político, refletindo sobretudo a busca de apoio ao Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O fortalecimento da relação com a África é apontada por especialistas como "principal símbolo" dessa estratégia. Em oito anos, Lula visitou 27 países do continente, enquanto Fernando Henrique Cardoso esteve em apenas três deles.

Garoto-propaganda
"Lula assumiu como ninguém o papel de garoto-propaganda do produto brasileiro no mercado internacional. Sem dúvida o empenho foi bem-vindo, mas o resultado prático deixou a desejar", diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), Fábio Martins.

Ele cita a permanência de barreiras sanitárias impostas por Estados Unidos, Rússia e Japão à carne brasileira, apesar das insistentes "reclamações" do presidente Lula junto a esses países.

Ainda segundo Martins, a busca por mercados consumidores menos tradicionais, como na África e no Oriente Médio, acabam tendo "pouco impacto" no total exportado.

"O problema é que diversificamos para esses países, que têm menos peso comercial, e perdemos espaço em mercados altamente consumidores, como o dos Estados Unidos", diz Martins.

Em 2002, as exportações brasileiras para os Estados Unidos representavam 28% do total exportado, caindo para 11% em 2010.

O governo, no entanto, argumenta que o processo de diversificação está "começando" e que as vantagens puderam ser constatadas durante a crise financeira, quando países dependentes da economia americana, como o México, sofreram um impacto muito maior do que o Brasil.

Relação política
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense Williams Gonçalves diz que a política externa do presidente Lula seguiu a tradição "nacionalista" e que, nesse contexto, é "impossível" separar os interesses econômicos dos objetivos políticos.

"A busca pela ampliação dos parceiros comerciais obedeceu a uma orientação política, que não chega a ser nova na história das relações internacionais do Brasil", diz o professor.

Sob a gestão do presidente Lula, o Brasil ampliou ou intensificou suas relações com países de fora do eixo ocidental - alguns deles com governos polêmicos, despertando uma série de críticas na opinião pública.

O caso mais emblemático passou a ser o do Irã, acusado de abusos em direitos humanos, mas há também exemplos como Venezuela, Sudão, Líbia, Cuba e Guiné Equatorial, todos visitados pelo presidente Lula.

Na avaliação de Gonçalves, a diplomacia dos anos Lula foi "coerente", na medida em que privilegiou os "interesses nacionais".

Como resultado concreto o professor cita a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), que segundo ele foi resultado, dentre outros fatores, de uma ação conjunta de Brasil, China e Índia.

"É claro que não vamos defender causas absurdas, mas precisamos fazer nossos cálculos. Uma parte da nossa sociedade quer que sejamos uma potência ética, mas isso não existe", diz o professor da UFF, lembrando que, assim como o Brasil, diversas outras democracias também têm relações próximas com governos polêmicos.

Já na avaliação do ex-secretário geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), Rubens Ricupero, o presidente Lula fez alguns "julgamentos equivocados" em sua busca por novos parceiros.

"No caso do Irã, por exemplo, tentamos impor nossa agenda e tivemos um resultado negativo, que não deu certo", diz Ricupero, referindo-se à tentativa de acordo nuclear intermediada por Brasil e Turquia.

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