quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Thomas Sowell: a despedida de um sabio socratico, um negro americano

Leitura obrigatória para todos aqueles que pensam (com desculpas antecipadas aos que pouco ou nada pensam, mas que de toda forma não vão ler esta postagem).
Thomas Sowell faz parte desse grupo restrito de pessoas inteligentes que, a despeito da modestíssima condição social de origem, souberam acumular conhecimentos e colocar todo esse conhecimento, e experiência de vida, a serviço daquilo que eu chamo de elevação espiritual da humanidade, uma tarefa nobre, praticada por todos aqueles que valorizam a sabedoria adquirida nos livros e na observação honesta da realidade do mundo, e colocam esse tesouro à disposição de todos os demais, por meio de livros, artigos, palestras.
Esta é uma postagem de leitura obrigatória.

Paulo Roberto de Almeida


27 de dezembro de 2016
Texto originalmente publicado no WND
Tradução de Rodrigo Constantino


Por Thomas Sowell*
Mesmo as melhores coisas chegam ao fim. Após aproveitar um quarto de século escrevendo esta coluna para Creators Syndicate, eu decidi parar. A idade de 86 está bem à frente da idade usual de aposentadoria, então a pergunta não é por que estou parando, mas por que isso levou tanto tempo.
Foi muito enriquecedor poder compartilhar meus pensamentos sobre os acontecimentos ao nosso redor, e receber o retorno de leitores pelo país todo – mesmo que fosse impossível responder a todos eles.
Sendo alguém à moda antiga, eu gostava de conhecer os fatos antes de escrever. Isso demandava não só bastante pesquisa, como também exigia me manter atualizado com aquilo que estava sendo dito pela mídia.
Durante uma estadia no Yosemite National Park em maio passado, tirando fotos com alguns amigos, fiquei quatro dias consecutivos sem ler os jornais ou ver os noticiários da televisão – e a sensação foi maravilhosa. Com as notícias políticas sendo tão terríveis este ano, isso pareceu especialmente maravilhoso.
Isso me fez decidir gastar menos tempo acompanhando política e mais tempo com minha fotografia, adicionando mais fotos ao meu website (www.tsowell.com).
Olhando para trás pelos anos, como os mais velhos estão aptos a fazer, eu vejo grandes mudanças, tanto para melhor como para pior.
Em termos materiais, houve um progresso quase inacreditável. A maioria dos americanos não tinha refrigeradores em 1930, quando eu nasci. Televisão era pouco mais do que um experimento, e tais coisas como ar-condicionado ou viagem aérea eram somente para os muito ricos.
Minha própria família não tinha eletricidade ou água corrente quente em minha infância, o que não era incomum para negros do sul naqueles tempos.
É difícil transmitir à geração de hoje o temor que a doença paralisante da pólio despertava, até que as vacinas pusessem um fim abrupto a seu longo reinado de terror nos anos 50.
A maioria das pessoas vivendo na pobreza oficialmente definida no século 21 possui coisas como TV a cabo, microondas e ar-condicionado. A maioria dos americanos não tinha tais coisas, mesmo tão tarde quanto nos anos 1980. As pessoas que a intelligentsia continua a chamar de “despossuídos” hoje possuem coisas que os “abastados” não tinham, apenas uma geração atrás.
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Em alguns outros sentidos, porém, houve sérios retrocessos ao longo dos anos. A política, e especialmente a confiança dos cidadãos em seu governo, desabaram.
Em 1962, o presidente John F. Kennedy, um homem eleito de forma apertada há apenas dois anos, foi à televisão dizer à nação que ele estava nos levando à beira de uma guerra nuclear com a União Soviética, porque os soviéticos tinham construído secretamente bases para mísseis nucleares em Cuba, a apenas 90 milhas da América.
Muitos de nós não questionaram o que ele fez. Ele era o presidente dos Estados Unidos, e ele sabia coisas que o restante de nós não poderia saber – e isso era bom o suficiente para nós. Felizmente, os soviéticos recuaram. Mas algum presidente hoje poderia fazer algo desse tipo e contar com o apoio do povo americano?
Anos de presidentes mentirosos – o democrata Lyndon Johnson e o republicano Richard Nixon, especialmente – destruíram não só sua própria credibilidade, mas também a credibilidade de que o cargo em si já gozou. A perda dessa credibilidade foi uma perda do país, não apenas das pessoas que ocuparam o cargo nos anos seguintes.
Com todos os avanços dos negros ao longo dos anos, nada me fez constatar mais a degradação nos guetos de negros do que uma visita a uma escola em Harlem alguns anos atrás.
Quando olhei pela janela para o parque do outro lado da rua, eu mencionei que, quando criança, costumava passear com meu cachorro naquele parque. Olhares de horror vieram do rosto dos alunos, ao pensamento de um garoto indo para o buraco do inferno que aquele parque se tornou em seu tempo.
Quando eu mencionei que dormia em uma escada de incêndio no Harlem durante as noites quentes de verão, antes que a maioria pudesse bancar um ar-condicionado, os jovens me olharam como se eu fosse de Marte. Mas negros e brancos vinham dormindo em escadas de incêndio em Nova York desde o século 19. Eles não tinham que lidar com tiros voando ao seu redor durante a noite.
Não podemos voltar ao passado, mesmo que desejássemos, mas vamos esperar que possamos aprender algo com o passado para construir um presente e um futuro melhores.
Adeus e boa sorte a todos.
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SOBRE / 

 RODRIGO CONSTANTINO
Rodrigo Constantino
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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