Faltam algumas informações essenciais para compreender a ação política do personagem aqui retratado na determinação da diplomacia lulopetista: tratou-se de um dos mais fiéis aliados (eu até diria servidores) da ditadura comunista cubana no partido neobolchevique a que serviu durante todo o período. Nenhuma, repito nenhuma, de suas ações deixou de ter essa referência básica no trabalho de "assessoria". Os militares costumam chamar isso de "traição à pátria ".
Paulo Roberto de Almeida
Morre o principal operador brasileiro de política internacional
/ Coluna / Matias Spektor
Folha de S. Paulo, 27/07/2017
Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático dos governos do PT, morreu em 20 de julho passado, aos 76 anos. Sua vida ilustra como poucas outras a trajetória de quem chegou ao poder na Nova República.
Entrando para a política na adolescência, ele galgou posições no movimento estudantil nos governos de Jânio e Jango. Com o golpe, veio o exílio. À época, sua subsistência dependeu da possante rede transnacional de solidariedade que albergou dezenas de exilados brasileiros em países como Uruguai, Chile, Cuba e França.
Nisso, Marco Aurélio nada teve de singular. A sua é a experiência coletiva de numerosos quadros de partidos como PT, PMDB e PSDB. Juntos, eles viveram o cosmopolitismo internacionalista que nenhum outro conjunto de lideranças políticas, de lá para cá, teve a chance de experimentar.
Quando o ciclo eleitoral começou, em 1989, Marco Aurélio virou o homem de Lula para a área internacional. Na década de trabalho que transcorreu entre as campanhas e a chegada ao Palácio do Planalto, ele construiu um acervo impressionante de contatos. Não há registro histórico de outro político brasileiro -excetuando Lula e FHC- com tamanho acesso a lideranças em tantos países mundo afora.
Marco Aurélio virou assessor diplomático do presidente, mas essa nunca foi a sua única função. Cabia a ele mediar as facções rivais dentro do PT, vazar notícias à imprensa, e montar estratégias de sobrevivência, depois que os escândalos de corrupção começaram a pipocar. Coube a ele preparar Dilma para assumir a Presidência.
Todo mundo pensava nele como ideólogo, mas essa imagem está longe de ser verdade. Marco Aurélio representava o exato oposto: o pragmatismo cru que é marca registrada de seu grupo.
Quando fundou o Foro de São Paulo, ao contrário do que se pensa, seu objetivo nunca foi o de criar uma internacional socialista latino-americana. Antes, ele operava para isolar os grupos que ainda acreditavam na luta armada ou na revolução e, dessa forma, dificultavam o projeto petista de chegar ao poder pela via eleitoral.
Quando Marco Aurélio costurou o apoio brasileiro a Hugo Chávez e Nicolás Maduro, a Néstor Kirchner e a Rafael Correa, o fez de olho na criação do ambiente regional que ele pensava ser mais vantajoso para o futuro do PT. Por isso, diante de sua atuação externa, o tucanato sentia repugnância. Poucas políticas públicas criaram mais cizânia entre petistas e tucanos que a política externa.
A sua morte coincide com o fim do arco histórico que vai do golpe de 1964 à Operação Lava Jato. Quem escrever sua biografia contará a história do caminho que percorremos até aqui.
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