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sábado, 8 de julho de 2017

Quem quer ser diplomata? - Entrevista com o diretor do Instituto Rio Branco

ITAMARATY

Exame – Quer ser diplomata? / Entrevista / José Estanislau do Amaral Souza Neto

Diretor-geral do Instituto Rio Branco (IRBr) 

Por Claudia Gasparini 

Organizado pelo Instituto Rio Branco, concurso para diplomatas aceita inscrições até 10 de julho. Veja como se candidatar e tire dúvidas sobre a carreira

 

São Paulo — Num passado bastante recente, só era diplomata no Brasil quem tinha frequentado as melhores escolas do país e pertencia a uma certa elite econômica. Hoje, as exceções a essa regra começam a se multiplicar.

“A carreira no Itamaraty se tornou mais democrática nos últimos anos”, afirma o embaixador José Estanislau do Amaral Souza Neto, diretor-geral do Instituto Rio Branco (IRBr), instituição responsável desde 1946 pelo concurso público que anualmente renova os quadros de diplomatas no país.

Segundo ele, o perfil dos ingressantes tem sido mais diverso. “Agora temos candidatos aprovados não só do sudeste, mas do Brasil inteiro”, explica. “Além disso, pelo terceiro ano consecutivo, reservamos 20% das vagas para negros”. As mulheres ainda correspondem a apenas um terço dos aprovados, mas chegam cada vez mais ao topo da hierarquia no Itamaraty.

O perfil mais heterogêneo dos candidatos e a natureza meritocrática do concurso fazem com que ele seja um dos mais concorridos do país. “Nossa estimativa é que tenhamos um número recorde de inscrições neste ano, até pelo momento difícil do mercado de trabalho”, afirma Souza Neto. 

Nos últimos anos, houve uma média de 5 mil candidatos no concurso para a carreira diplomática, que em 2017 oferece apenas 30 vagas. O salário inicial, de aproximadamente 16,9 mil reais por mês, contribui para aguçar a concorrência. As inscrições estão abertas até o dia 10 de julho (veja o edital e o link para se candidatar no site do Cespe/UnB).

Quem consegue passar por essa peneira já é contratado como terceiro-secretário, cargo inicial da carreira diplomática. No primeiro ano, os aprovados permanecem no Instituto Rio Branco, onde fazem um curso de formação e participam de um programa de viagens pelo país. O treinamento inclui aulas, seminários e monografias.

As notas que o diplomata obtiver nesse curso, junto com a sua pontuação no concurso, são importantes para o seu futuro: será a classificação por mérito acadêmico que determinará onde ele será alocado após o término da formação no IRBr. “Nos dois primeiros anos, eles devem ficar no Brasil”, explica o diretor-geral da instituição. “Só depois podem trabalhar no exterior”. 

Mas o que faz, afinal, um diplomata? 

De acordo com Souza Neto, as missões de um diplomata se dividem em três vertentes principais. A primeira delas é a representação do governo brasileiro perante governos estrangeiros. A segunda é a negociação, que abrange desde acordos de cooperação científica internacional até pactos de natureza econômica com outros países. 

A terceira e última vertente é a da informação: o diplomata traduz o Brasil para o mundo, e vice-e-versa. “É ele quem informa Brasília sobre algo relevante que está acontecendo agora na Suíça, por exemplo, e também quem ajuda o suíço a compreender uma determinada política pública brasileira”, explica o embaixador.

Ao contrário do que ocorre em outros países, por aqui o raio de atuação do diplomata também pode abranger tarefas consulares, que incluem atividades de documentação e assistência a brasileiros no exterior.

Quais são os requisitos para conseguir uma vaga? 

O edital do concurso do Instituto Rio Branco informa que, para se candidatar, é preciso ser brasileiro nato, estar em dia com as obrigações eleitorais e, no caso dos homens, com o serviço militar. Também é preciso ter concluído qualquer curso de graduação com diploma reconhecido pelo Ministério da Educação.

De acordo com o embaixador Souza Neto, as formações acadêmicas mais frequentes entre os aprovados são direito e relações internacionais, mas também há graduados em outros cursos de humanas, como letras, economia e administração. Também aparecem de vez em quando, como exceções, engenheiros, médicos e dentistas, ou pessoas com formação em academias militares.

Embora não conste como requisito no edital, o domínio de línguas, obrigatório para desempenhar as funções da diplomacia, também é obrigatório. Além do português, o candidato também precisa conhecer bem três línguas estrangeiras: inglês, francês e espanhol. Não há prova oral de idiomas. 

O que cai na prova?

Segundo Tanguy Baghdadi, coordenador pedagógico do Clio, curso preparatório para a área de diplomacia do Damásio Educacional, o exame preparado pelo Instituto Rio Branco é considerado difícil sobretudo porque cobra um grande número de matérias. 

As disciplinas presentes no exame são história (brasileira e mundial), direito (constitucional e internacional), economia, política internacional e geografia, além de português, inglês, francês e espanhol.

Na 1ª fase da seleção, que dura um dia inteiro, há uma prova objetiva, no estilo “certo/errado”, em que são cobradas todas as disciplinas mencionadas acima, menos francês e espanhol. Quem passa para a 2ª fase encara dois dias de prova de redação em português e em inglês. 

No caso do texto em português, muitas vezes são cobrados temas de literatura e cultura brasileira. Já a redação em inglês pode ter um enunciado bastante aberto, diz Baghdadi, como no ano em que a banca propôs como tema a pergunta: “Qual livro você levaria para uma ilha deserta?”. 

O candidato que consegue chegar à 3ª fase terá que resolver uma prova com questões dissertativas e abertas sobre geografia, história, economia, direito e política internacional, além de provas de francês e espanhol, também discursivas.

Para se dar bem na prova de inglês, o candidato precisa ter conhecimentos avançados da língua e amplo vocabulário. No caso do espanhol e do francês, diz Baghdadi, quem tem pelo menos nível intermediário já pode se dar bem. 

Qual é a faixa etária média dos candidatos? 

De acordo com o embaixador Souza Neto, a idade média dos aprovados aumentou nos últimos anos. Nas duas últimas turmas, gira entre 29 e 30 anos. “Isso mudou porque, até os anos 1990, você não precisava ter curso superior completo para se candidatar”, explica ele. “E também pelo fato de que a prova se tornou mais difícil, o que exige mais tempo de estudo até a aprovação”.

De acordo com Baghdadi, há muitos candidatos recém-formados, que terminaram a faculdade e logo começaram a preparação para o concurso. Também existem aqueles que já viveram alguns anos de experiência profissional antes de se decidirem por essa carreira.

E dá para trabalhar e estudar para esse concurso ao mesmo tempo? Segundo o professor, sim; mas é preciso muito mais foco. “O candidato que consegue ser aprovado normalmente ficou um tempo sem trabalhar, ou em momentos críticos da preparação tirou férias ou saiu do emprego”, diz ele.

Quanto tempo de estudo é necessário para passar?

De acordo com o professor do Clio, o tempo médio de preparação dos candidatos aprovados costuma variar entre dois anos e meio e três anos. Vale lembrar, porém, que essa é uma média “cega” para os casos excepcionais de pessoas que demoram menos tempo para conseguir o feito — ou para aquelas que passam mais do que três anos tentando, e não conseguem.

A concorrência foi temporariamente menor entre 2005 e 2010, o que Bahgdadi chama de “período áureo” para ingressantes na diplomacia, quando as turmas chegaram a ter 100 pessoas. “Hoje, embora o interesse pela carreira tenha diminuído, o nível de exigência do exame é bem maior do que costumava ser, o que torna as vagas bem disputadas”, explica ele. 

A nota de corte depende do grau de dificuldade da prova de cada ano. Normalmente, explica o professor do Clio, a nota de corte para passar para a 2ª fase costuma variar entre 45, 46 ou 47. “Neste ano, haverá mais questões de história, nas quais os candidatos costumam ir bem”, afirma o professor. “Isso provavelmente fará a nota de corte subir”.

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