Quando o Brasil perdeu o rumo?
Paulo Roberto de Almeida
Volto à pergunta feita por William Waack aos seus convidados, na primeira edição do seu programa na CNN, WW (26/09/2021). Quando o Brasil perdeu o rumo?
Vargas Llosa já havia feito a mesma pergunta, em um dos seus livros: Cuando Peru se j...ó? (Quando o Peru se f...u?)
Para mim, desde sempre, ou seja, desde o centralismo português, criado pela PRIMEIRA monarquia moderna da Europa ocidental, ainda na Idade Média, unindo o soberano, os nobres e a burguesia, num poder unificado, centralizador e dominador, em lugar de se desenvolver a partir das aldeias, como no itinerário dos anglo-saxões. Isso faz toda a diferença, pois democracia tem de começar pela base, não pelo alto. Começando pelo alto é o regime das oligarquias, dos coroneis, do patrimonialismo, em todas as suas formas.
Essa é a base fundamental de nossa não democracia, que deriva dessa centralização pelo alto, que também começa na aldeia, no município, dominado pelo grande proprietário, pelos coroneis, como estudado por Victor Nunes Leal, autor de "Coronelismo, enxada e voto" (1949, o ano em que nasci).
Quanto aos nossos erros mais prosaicos, ou seja, crises políticas que nunca foram resolvidas de forma democrática, mas pela imposição da força, dá para resumir nas seguintes datas, todas da República (mas a monarquia não era melhor): 1889 (o golpe republicano), 1892 (a ditadura de Floriano), 1910 (a presidência Hermes da Fonseca, aliás sobrinho do golpista de 1889), 1922-26 (as revoltas tenentistas, não resolvidas politicamente por Artur Bernardes, que governou em estado de sítio), 1930 (um golpe dado por uma Aliança dita "liberal"), 1932 (os instintos autoritários de Getúlio Vargas e a revolta paulista), 1935 (a intentona comunista, comandada pelo alucinados do Komintern, que inviabilizaram uma participação normal dos comunistas na vida política), 1937 (o golpe de Vargas, sustentado pelos autoritários das FFAA), 1945 (novo golpe), 1955 (novas tentativas de golpes), 1961 (um idiota que resolveu renunciar, para tentar o seu golpe), 1964 (três governadores e generais golpistas, que queriam impedir JK de ganhar as eleições de 1965), 1968 (o AI-5 de milicos autoritários), 1969 (a Junta militar de três paspalhos fardados), 1974 (o general prussiano que não soube conduzir nem a política, nem a economia), 1979 (um presidente despreparado que deixou a direita militar agir livremente), 1986-90 (planos e mais planos de estabilização por economistas aprendizes), 1987-88 (uma Constituinte que achou que bastava colocar no papel as benesses que se pensava distribuir ao povo generosamente), 2002-2010 (uma aventura de inclusão social não sustentável, na falta de um processo de reformas estruturais que deveria complementar o Plano Real de 1994 e seus ajustes em 1999), 2011-2016 (uma presidente totalmente despreparada, que deveria ser uma simples fantoche e que inventou de estragar tudo, provocando a MAIOR recessão de nossa história), e finalmente 2019-2022(?), um psicopata perverso eleito por equívocos dos governos petistas, e que está destruindo as instituições e levando o Brasil à estagflação.
Como vocês podem ver, erramos em tudo, desde o começo, inclusive a monarquia, que começa mantendo o tráfico e a escravidão, ao desprezar a educação das massas, ao manter a centralização e o poder das oligarquias, que perdura até hoje.
Ou seja, o Brasil é um erro monumental, desde que aqui desembarcou o primeiro governador-geral em 1549, que deu início à centralização administração.
Depois disso, os erros foram se acumulando, um após o outro, até chegarmos ao estupor, à escória do presidente atual, que consegue ser o PIOR dirigente de todos os tempos, ou seja, sem qualquer parâmetro de comparação com qualquer outro, talvez um novo Floriano, mas burro, estúpido a mais não poder.
Estamos mal, e vai demorar para consertar, pois seria preciso refundar o país, a nação, o Estado, a partir de sua base natural, o município, a democracia de aldeia. Vai ser difícil...
Um comentário:
Embaixador, respeitosamente, eu não culparia a monarquia portuguesa pela tendência autoritária da política brasileira. Portugal desde os primórdios - considerando, é claro, o caráter feudal de seu regime político - valeu-se da representação parlamentar nas Cortes para a tomada de decisão por parte d'el-Rei. Nem o centralismo, que jamais foi efetivo antes da independência, posto que o comando das capitanias era inteiramente recortado, sem um senso de unidade nacional e direção clara de comando. Eu apostaria muito mais em um nascimento da autocracia brasileira no momento em que o Exército tornou-se uma instituição política com arroubos positivistas.
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