Perguntas em meio a um processo extremamente doloroso para quem cultiva simples virtudes morais
Paulo Roberto de Almeida
Quem, neste mundo que já é pequeno, totalmente devassado pela mídia onipresente e até pelos vídeos e registros individuais, com integral conhecimento de tudo o que se passa em qualquer parte, quem, nessas condições, pode ainda suportar, concordar, apertar a mão, falar amigavelmente com um monstro frio e assassino, capaz de mandar matar, continuamente, civis inocentes, mulheres, crianças, bebês, capaz de ordenar bombardeios maciços contra alvos não militares, especificamente destinados a matar e destruir o mais possível, quem é capaz de se reunir pacificamente, de modo cortês e amigável com tamanho indivíduo monstruoso, desprovido de qualquer caráter minimamente aceitável num dirigente estatal, e ainda sorrir e aplaudir a sua presença? Quem?
Só pode ser um grande idiota, alguém que despreze claramente o dom da humanidade ou que coloque opções e preferências ideológicas acima de qualquer ética ou que tenha um comportamento moralmente aceitável.
Quem é capaz de tratar urbanamente um individuo abjeto como esse acima descrito? Que ainda aceita negociar qualquer coisa com esse monstruoso ditador sanguinário? Quem consegue falar regularmente com ele ao telefone e quem consente em visitá-lo ou convidá-lo para a sua casa? Quem?
Alguém sabe me dizer de quem estou faando? Nem precisa ser versado em história ou conhecedor do mundo como ele é: basta olhar esse mesmo mundo, ver ou ler o que anda em toda a mídia, o que jornalistas e diplomatas são capazes de escrever e contar.
Quem é capaz de ignorar tudo isso?
Quem é capaz de persistir na mentira e na indiferença ao sofrimento humano.
Tudo o que escrevi se aplica à Ucrânia, a Gaza, ao Darfur, a todos os cantos martirizados do planeta. O mundo às vezes se torna insuportável, ou sempre foi, e nós é que não sabíamos ou fingíamos não ver. Agora isso é impossível: está o tempo todos nas telas de TV, dos celulares, em todas as partes. Não consigo mais suportar os que suportam tudo isso.
O que fazer? Continuar com nossos protestos, nossos apelos à compaixão, nossa expressão de horror, nossa recusa de ficar calado, nossa condenação dos pequenos e grandes monstros coniventes. Eu me recuso a ficar calado, a encontrar qualquer justificativa política para a desumanidade.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20/08/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.