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domingo, 6 de abril de 2014

1964: ainda uma opiniao a respeito - Olavo de Carvalho

Creio que a constatação se impõe, de fato: temos uma versão mistificada de 1964 pelo lado da esquerda, que é absolutamente dominante, e uma versão ingênua, defensiva, do lado dos militares, que não são de direita, não são reacionários, não são sequer liberais: são apenas equivocados quanto aos métodos, assim como foram corretos na montagem de uma máquina de crescimento, mas que depois veio a tropeçar, pois eles também se equivocaram em várias decisões econômicas (para as quais não estavam preparados, e não quiseram ouvir economistas sensatos, como Mário Henrique Simonsen).
Aqui abaixo uma opinião de quem conhece um pouco mais. Como ele, eu fiquei contra o regime militar durante bastante tempo, aliás durante toda a sua existência, mas sempre soube reconhecer as realizações econômicas e tecnológicas.
E também conheço suficientemente bem a esquerda para saber que ela mente sobre o golpe militar de 1964, como mente sobre tudo o que veio depois.
Não estou negando ou desculpando os militares pela repressão, pelas torturas, pelos excessos havidos durante o regime. Mas sei reconhecer que quem começou a "brincadeira" foram as esquerdas, que começaram as ações militares muito tempo antes que o regime militar se convertesse numa ditadura temporária e numa máquina de repressão. Os culpados por essa situação -- e não se desculpa aqui os militares e policiais que cometeram torturas e assassinatos, crimes de Estado -- foram as esquerdas: se elas não tivesse começado (aliás como em 1935), o Estado brasileiro seria apenas autoritário e transitório, não o regime militar de 21 anos.
Paulo Roberto de Almeida

Resumo do que penso sobre 1964
Olavo de CarvalhoBah! (jornal universitário gaúcho), maio de 2004

Como repercussão da matéria de capa da edição anterior, "40 anos da ditadura", o filósofo, jornalista e escritor Olavo de Carvalho gentilmente escreveu-nos um texto exclusivo com sua opinião sobre esse turbulento período de nossa história.
* * *
Tudo o que tenho lido sobre o movimento de 1964 divide-se nas seguintes categorias: (a) falsificação esquerdista, camuflada ou não sob aparência acadêmica respeitável; (b) apologia tosca e sem critério, geralmente empreendida por militares que estiveram de algum modo ligados ao movimento e que têm dele uma visão idealizada.
Toda essa bibliografia, somada, não tem valor intelectual nenhum. Serve apenas de matéria-prima, muito rudimentar, para um trabalho de compreensão em profundidade que ainda nem começou.
Para esse trabalho, a exigência preliminar, até hoje negligenciada, é distinguir entre o golpe que derrubou João Goulart e o regime que acabou por prevalecer nos vinte anos seguintes.
Contra o primeiro, nada se pode alegar de sério. João Goulart acobertava a intervenção armada de Cuba no Brasil desde 1961, estimulava a divisão nas Forças Armadas para provocar uma guerra civil, desrespeitava cinicamente a Constituição e elevava os gastos públicos até as nuvens, provocando uma inflação que reduzia o povo à miséria, da qual prometia tirá-lo pelo expediente enganoso de dar aumentos salariais que a própria inflação tornava fictícios. A derrubada do presidente foi um ato legítimo, apoiado pelo Congresso e por toda a opinião pública, expressa na maior manifestação de massas de toda a história nacional (sim, a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” foi bem maior do que todas as passeatas subseqüentes contra a ditadura). É só ler os jornais da época – os mesmos que hoje falsificam sua própria história – e você tirará isso a limpo.
O clamor geral pela derrubada do presidente chegou ao auge em dois editoriais do Correio da Manhã que serviram de incitação direta ao golpe. Sob os títulos “Basta!” e “Fora!”, ambos foram escritos por Otto Maria Carpeaux, um escritor notável que depois se tornou o principal crítico do novo regime. Por esse detalhe você percebe o quanto era vasta e disseminada a revolta contra o governo.
O golpe não produziu diretamente o regime militar. Este foi nascendo de uma seqüência de transformações – quase “golpes internos” – cujas conseqüências ninguém poderia prever em março de 1964. Na verdade, não houve um “regime militar”. Houve quatro regimes, muito diferentes entre si: (1) o regime saneador e modernizador de Castelo Branco; (2) o período de confusão e opressão que começa com Costa e Silva, prossegue na Junta Militar e culmina no meio do governo Médici: (3) o período Médici propriamente dito; e (4) a dissolução do regime, com Geisel e Figueiredo.
Quem disser que no primeiro desses períodos houve restrição séria à liberdade estará mentindo. Castelo demoliu o esquema político comunista sem sufocar as liberdades públicas. Muito menos houve, nessa época, qualquer violência física, exceto da parte dos comunistas, que praticaram 82 atentados antes que, no período seguinte, viessem a ditadura em sentido pleno, as repressões sangrentas, o abuso generalizado da autoridade. O governo Médici é marcado pela vitória contra a guerrilha, por uma tentativa fracassada de retorno à democracia e por um sucesso econômico estrondoso (o Brasil era a 46ª. economia do mundo, subiu para o 8º. lugar na era Médici, caindo para o 16º. de Sarney a Lula). Geisel adota uma política econômica socializante da qual pagamos o prejuízo até hoje, tolera a corrupção, inscreve o Brasil no eixo terceiro-mundista anti-americano e ajuda Cuba a invadir Angola, um genocídio que não fez menos de 100 mil vítimas (o maior dos crimes da ditadura e o único autenticamente hediondo -- contra o qual ninguém diz uma palavra, porque foi a favor da esquerda). Figueiredo prossegue na linha de Geisel e nada lhe acrescenta – mas não se pode negar-lhe o mérito de entregar a rapadura quando já não tinha dentes para roê-la.
É uma estupidez acreditar que esses quatro regimes formem unidade entre si, podendo ser julgados em bloco. Na minha opinião pessoal, Castelo foi um homem justo e um grande presidente; Médici foi o melhor administrador que já tivemos, apesar de mau político. Minha opinião sobre Costa, a Junta Militar, Geisel e Figueiredo não pode ser dita em público sem ferir a decência.
Em 1964 eu estava na esquerda. Por vinte anos odiei e combati o regime, mas nunca pensei em negar suas realizações mais óbvias, como hoje se faz sem nenhum respeito pela realidade histórica, nem em ocultar por baixo de suas misérias os crimes incomparavelmente mais graves praticados por comunistas que agora falseiam a memória nacional para posar de anjinhos.

O golpe e o regime militar: minha visao de 1964, reproduzida nas Colunas Dom Total

O primeiro de uma série de dez, já transcrito aqui, mas nesta forma com ilustração, neste link: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=4170

03/04/2014  |  domtotal.com

O Brasil na crise de 1964 e a oposição armada ao regime militar

Um retrospecto histórico, por um observador engajado (1).
Sumário geral:

1. Antecedentes e contexto do golpe militar de 1964

2. A reação dos perdedores: resistência política e luta armada

3. A passagem à luta armada: a insensatez em ação

4. A derrota da luta armada e suas consequências: uma história a ser escrita

5. O que foi a luta armada no Brasil: uma interpretação pessoal

6. Quando a luta armada se desenvolveu no Brasil?

7. Onde a luta armada se desenvolveu no Brasil?

8. Como a luta armada se desenvolveu?

9. Por que houve luta armada no Brasil?

10. Uma avaliação pessoal da luta armada e suas consequências atuais

1. Antecedentes e contexto do golpe militar de 1964

O Brasil do início dos anos 1960 enfrentava uma típica crise de instabilidade do sistema político, não muito diferente de dezenas de outras, que surgem, se desenvolvem e desaparecem em quaisquer outros sistemas políticos, especialmente na América Latina. Desde meados dos anos 1950, a classe política, extremamente dividida quanto a soluções consensuais típicas de países em crescimento – inflação, gastos do governo, tributação, reformas estruturais e administrativas, etc. – não conseguia encontrar mecanismos democráticos para encaminhar as pressões do crescimento e das demandas por participação popular. Daí o velho recurso e o apelo dos políticos aos militares, como “pesos decisivos” na balança política, para “corrigir os problemas”.

De fato, os militares tinham uma longa tradição de intervenção nos assuntos políticos, desde o próprio golpe de derrocada da monarquia e de proclamação da República, até as crises político-militares dos governos JK e Jânio Quadros, passando pelas revoltas tenentistas dos anos 1920, pela revolução que derrubou a Velha República, pelo golpe que instaurou a ditadura do Estado Novo, em 1937, e também pelo que determinou sua extinção, em outubro de 1945. Depois, eles foram ativos participantes dos diversos episódios de turbulência da República de 1946, em especial em meados dos anos 1950, até culminar na implantação do parlamentarismo, em 1961, no bojo de nova crise, e na derrubada dessa República, menos de três anos depois.

Desde meados da década anterior, nos estertores do segundo governo Vargas, o Brasil vivia em permanente crise político-militar, agravando-se as turbulências no início dos anos 1960 em função do comportamento bizarro do presidente eleito Jânio Quadros e da momentosa posse do vice-presidente (eleito pela chapa concorrente) João Goulart. A situação, durante os seus três anos de mandato (primeiro em regime parlamentarista, depois no retorno ao presidencialismo), se caracterizava por constantes greves, inflação crescente, quebra de autoridade em diversas instâncias do poder estatal, inclusive no âmbito das Forças Armadas, e intensa radicalização política por parte dos movimentos que pretendiam para o Brasil opção semelhante à dos países comunistas, indo até, em certos meios, à preparação para a guerrilha rural, em moldes cubanos ou chineses.

O movimento civil-militar – não lhe cabe o nome de golpe, nem de revolução – que derrocou o regime da República de 1946 representou apenas o ponto culminante dessa fase de crise aguda, não sendo nem o resultado de uma conspiração organizada pela direita e pelas elites – como pretende a esquerda – nem o acabamento de algum desígnio imperial no contexto da Guerra Fria – como pretendem os paranoicos anti-imperialistas e antiamericanos das mesmas correntes. Ele ocorreu porque grande parte da sociedade, representada majoritariamente pela classe média, demandava uma solução aos descalabros administrativos, à corrosão do poder de compra, ao clima de desordem política, à percepção do aumento da corrupção que caracterizavam o governo Goulart.

Talvez os militares devessem ter aguardado as eleições do ano seguinte, e ter apostado numa solução democrática em face desse quadro turbulento, mas o fato é que o agravamento da situação induziu algumas lideranças civis e militares a atuarem de imediato contra o governo, sem que a necessária coordenação de todas as forças políticas se fizesse num sentido mais consentâneo com a legalidade constitucional. Existem momentos na história de um país nos quais a população decide assumir ela mesma as atribuições de um poder constituinte originário; foi o que parece ter ocorrido em março de 1964, quando a grande maioria da população brasileira secundou e se solidarizou com as Forças Armadas que assumiram o comando involuntário daquele movimento. A história poderia ter sido outra, mas ela é o que é: incontrolável.

A historiografia brasileira ainda se divide quanto à natureza do golpe, suas origens políticas, suas raízes sociais, suas justificativas econômicas ou geopolíticas, sobre o envolvimento dos Estados Unidos no evento, segundo se é contra ou a favor em relação a esse evento decisivo no Brasil moderno. A esquerda, obviamente, interpreta o golpe militar como o avanço das forças reacionárias, alinhadas ao imperialismo, contra a ascensão dos “movimentos populares”, em favor de reformas democráticas; ela nunca mudou de opinião a esse respeito, o que denota certa incapacidade a revisar suas próprias concepções e caminhar em direção de uma interpretação mais objetiva.

Os que apoiaram e comandaram o golpe, o veem como uma reação às forças comunistas que ameaçavam tomar o poder para colocar o país na esfera do movimento comunista internacional, liderado pela URSS. No caso do Brasil, curiosamente, as forças de “direita” ganharam, mas a História foi escrita pela “esquerda”, no sentido em que todo o processo político que levou às crises político-militares dos anos 1954-1964 e ao próprio golpe e seus efeitos mediatos e imediatos foram e são interpretados segundo a ótica dos “perdedores”, que, aliás, ascenderiam ao poder em 2003. De fato, o Brasil constitui um caso único de construção de um discurso histórico – e de vários outros padrões culturais – no qual a linha condutora veio a ser quase inteiramente dominada e controlada pelas forças, basicamente socialistas, que não tiveram o apoio da sociedade, seja nos momentos de crise política aguda, ou como projeto de organização econômica e social suscetível de recolher o apoio eleitoral da grande massa da população.

(Continua...)

Paulo Roberto de Almeidaé doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil. 

1964: o mito da intervencao americana - Olavo de Carvalho

Não posso garantir a fiabilidade do relato abaixo, aliás já bem antigo, e que tinha me passado despercebido durante este tempo todo, até alguém me mandar.
Verdadeiro ou não, trata-se de algo plausível, embora o autor, conhecido jornalista polêmico -- contra quem pesam várias acusações, e não somente as da esquerda tradicional -- não aprofunde outros dados sobre esse agente tcheco de inteligência.
Mas reputo possível essas montagens, conhecendo um pouco o mundo da espionagem -- dos dois lados -- e tendo vivido na Tchecoslováquia comunista do início dos anos 1970. Os serviços tchecos de inteligência, atuando em conjunto com a KGB, conseguiram recrutar pelo menos um embaixador brasileiro, o que já está documentado, com o nome fantasia do dito cujo (ainda não se sabe o nome verdadeiro, e talvez nunca se saiba).
Em todo caso, a tentativa de fazer do golpe militar de 1964 apenas uma maquinação americana, como repetem incansavelmente certos sábios da esquerda, é patética, pois os brasileiros, militares e civis, tinham motivos de sobra para derrubar Goulart.
Obviamente, os americanos, escaldados pelos episódios cubanos -- não exatamente a revolução de 1959, mas a conversão comunista de 1961 e a instalação dos mísseis soviéticos em 1962 -- não estavam dispostos a ver uma nova Cuba na região, não do tamanho de uma ilha (que podia ser cercada, como foi, em 1962), mas um país continental, como o Brasil, tecer relações íntimas com soviéticos e chineses, numa época de exacerbação da Guerra Fria e de acenos "neutralistas" e de "política externa independente" em direção dos socialistas.
Os que defendem a "soberania" do Brasil não se dão conta de que esse foi uma das poucas fases, ou momentos, da Guerra Fria, em que nosso país foi relativamente importante para os EUA, pois em todo o resto do tempo fomos absolutamente marginais no grande jogo estratégico do século 20.
Uma interpretação realista de 1964, tanto do lado da direita, como do lado da esquerda, precisa levar em conta certas realidades, ao considerar esse aspecto da "intervenção americana".
Paulo Roberto de Almeida

Olavo de CarvalhoÉpoca, 17 de Fevereiro de 2001

Por que ninguém entrevista Ladislav Bittman, o ex-espião tcheco que sabe tudo sobre 1964?

Milhões de crianças brasileiras, nas escolas oficiais, são adestradas para repetir que o golpe militar de 1964 foi obra dos Estados Unidos, como parte de um projeto de endurecimento geral da política exterior ianque na América Latina.
Sabem quem inventou essa história e a disseminou na imprensa deste país? Foi o serviço secreto da Tchecoslováquia, que naquele tempo subsidiava numerosos jornalistas e jornais brasileiros. O próprio chefe do serviço tcheco de desinformação, Ladislav Bittman, veio inspecionar as fases finais do engenhoso empreendimento que se chamou "Operação Thomas Mann". O nome não aludia ao romancista, mas ao então secretário-adjunto de Estado, Thomas A. Mann, que deveria constar como responsável por uma "nova política exterior" de incentivo aos golpes de Estado.
A safadeza foi realizada através da distribuição anônima de documentos falsificados, que a imprensa e os políticos brasileiros, sem o menor exame, engoliram como "provas" do intervencionismo americano. O primeiro lance foi dado em fevereiro de 1964: um documento com timbre e envelope copiados da Agência de Informação dos EUA no Rio de Janeiro, que resumia os princípios gerais da "nova política". A coisa chegou aos jornais junto com uma carta de um anônimo funcionário americano, investido, como nos filmes, do papel do herói obscuro que, por julgar que "o povo tem o direito de saber", divulgava o segredo que seus chefes o haviam mandado esconder.
O escândalo explodiu nas manchetes e os planos sinistros do senhor Mann foram denunciados no Congresso. O embaixador americano desmentiu que os planos existissem, mas era tarde: toda a imprensa e a intelectualidade esquerdistas das Américas já tinham sido mobilizadas para confirmar a balela tcheca. A mentira penetrou tão fundo que, três décadas e meia depois, o nome de Thomas A. Mann ainda é citado como símbolo vivo do imperialismo intervencionista.
A essa primeira falsificação seguiram-se várias outras, para dar-lhe credibilidade, entre as quais uma lista de "agentes da CIA" infiltrados nos meios diplomáticos, empresariais e políticos brasileiros, que circulou pelos jornais sob a responsabilidade de um "Comitê de Luta Contra o Imperialismo Americano", o qual nunca existiu fora da cabeça dos agentes tchecos. Na verdade, confessou Bittman, "não conhecíamos nem um único agente da CIA em ação no Brasil". Mas a mais linda forjicação foi uma carta de 15 de abril de 1964, com assinatura decalcada de J. Edgar Hoover, na qual o chefe do FBI cumprimentava seu funcionário Thomas Brady pelo sucesso de uma determinada "operação", que, pelo contexto, qualquer leitor identificava imediatamente como o golpe que derrubara João Goulart.
Toda uma bibliografia com pretensões historiográficas, toda uma visão de nosso passado e algumas boas dúzias de glórias acadêmicas construíram-se em cima desses documentos forjados. Bem, a fraude já foi desmascarada por um de seus próprios autores, e não foi ontem ou anteontem. Bittman contou tudo em 1985, após ter desertado do serviço secreto tcheco. Só que até agora essa confissão permaneceu desconhecida do público brasileiro, bloqueada pelo amálgama de preguiça, ignorância, interesse e cumplicidade que transformou muitos de nossos jornalistas e intelectuais em agentes ainda mais prestimosos da desinformação tcheca do que o fora o chefe mesmo do serviço tcheco de desinformação. Quantos, nesses meios, não continuam agindo como se fosse superiormente ético repassar às futuras gerações, a título de ciência histórica, a mentira que o próprio mentiroso renegou 15 anos atrás?
Neurose, dizia um grande psicólogo que conheci, é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita. Redescobrir a verdade sobre 1964 é curar o Brasil. Entrevistar Ladislav Bittman já seria um bom começo

sábado, 5 de abril de 2014

Ainda sobre 1964: um depoimento de fonte primaria sobre o presidente Goulart

Recebo, de um amigo mais velho, este depoimento pessoal, sobre um "despacho" de técnicos, sobre a "luta" contra a inflação, já na fase agônica do governo Goulart.
A Sunab, para quem não sabe, era a Superintendência de Abastecimento, um órgão criado na era Vargas para cuidar dos estoques de alimentos e, como soe acontecer no Brasil inflacionário, começou a também fixar preços, tanto para o produtor -- o que obviamente reduziu a oferta -- como para o distribuidor e varejista, tudo para não alimentar a inflação e beneficiar o consumidor. Como sempre ocorre, nesses casos, todos os controles de preços são irracionais e contraproducentes, pois acabam provocando aquilo mesmo que pretendiam evitar. Mas isto já é teoria econômica, vejamos o lado real da coisa.
Vale como testemunho histórico. Acrescento abaixo, minha resposta a este amigo.
Paulo Roberto de Almeida 

Um depoimento sobre sobre 1964

On Apr 5, 2014, at 11:26, Rxxxxx <rxxxxxx@uol.com.br> wrote:

Meu caro Paulo Roberto: 
Em 1964 eu tinha 27 anos e era assistente do superintendente da Sunab depois de brigar com o Celso Furtado no Min. Planejamento(isto fica para outro dia). 
A equipe da Sunab, inclusive seu superintendente era extraordinária, formada em sua maioria por gente do Banco do Brasil que nesta  época se constituía na nata do funcionalismo público, todos com larga experiência na área agrícola e de abastecimento. Eram todos absolutamente honestos, é bom que se diga. 
Pois muito bem um belo dia tivemos que viajar pra Brasilia para despachar com o Presidente da República. Jango já [estava] em pleno presidencialismo. 
Fomos recebidos por ele numa sala cheia de gente um barulho infernal. Todos dirigentes sindicais que denominávamos de "pelêgos". 
Jango, de perna esticada, nos recebeu neste gabinete aonde durante 20 minutos expusemos nossos planos de abastecimento. Tínhamos preparado uma exposição de uns 40 minutos.
Olhava pro chão e no final nos disse: "Os senhores façam aquilo que acharem melhor". 

E fomos embora. No avião eu olhava para o superintendente e ele pra mim, como que dizendo: "que merda". 
Nesse dia tudo o que aconteceu não me surpreendeu. (...) Jango estava enfadado e sabia que estava se suicidando politicamente. Queria sair à la Getulio Vargas [mas] sem suicídio. 
Brizola de um lado e os problemas do país de outro. Ele estava esmagado. Essa de falar que caiu por causa das reformas e, pior, por causa da intervenção americana, é papo furado de esquerdista delirante. O erro foi não haver uma transição para um governo cvil tampão que Castelo queria e que Costa e Silva e outros impediram.
Aí deu no que deu 
abs Rxxxxxx


Minha resposta a ele: 

Grato meu caro, por este depoimento de primeira mão, de fonte primária, como se diz. 
Isso apenas nos confirma a nulidade, a mediocridade, a pusilanimidade que era o Jango.
A questão seria saber se, em algum momento, ele acreditou que poderia conduzir as suas reformas de base -- para as quais era mais empurrado do que tomava iniciativa --, ou se já achava que tudo aquilo era um teatro, e estava apenas esperando para tudo acabar e voltar para a sua fazenda.
Ao que parece, ele ele provocou conscientemente aquela situação de impasse, para talvez ficar na história como um "sacrificado" pelas forças de oposição, mas sem suicídio, claro, pois nunca teve coragem para tanto...
O abraço do
------------------------------
Paulo Roberto de Almeida

sexta-feira, 4 de abril de 2014

1964: como a imprensa brasileira refletiu a crise que levou a queda de Goulart e o comeco do novo regime

Como a imprensa refletiu a crise do governo do presidente João Goulart e o período imediatamente subsequente? Pesquisa da jornalista Cristiane Costa.

Blog de Carlos I. S. Azambuja

Muito tem se discutido neste blog sobre o governo João Goulart e o golpe militar de 31 de março. Quem não viveu aquela época não tem uma real noção do que aconteceu. Por isso, vale a pena publicar a pesquisa da jornalista Cristiane Costa, postada originalmente no blog BrHistória.

O levantamento mostra que a imprensa, praticamente sem exceção, apoiou a derrubada do presidente João Goulart, em função dos desatinos cometidos ao propor uma reforma agrária demagógica, que atingiria todas as grandes fazendas produtivas, num país onde não faltam extensas áreas improdutivas a serem cultivadas.

Além disso, Jango queria derrubar a lei da oferta e procura, ao tabelar, também demagogicamente, todos os aluguéis nas áreas urbanas. Sem falar na quebra da hierarquia nas Forças Armadas. Estas foram as principais razões da queda, que teve expressivo apoio da classe média, como os jornais registraram.  É só conferir:

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“O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual. Agora, basta!” – (Do editorial “BASTA”, 31 de março de 1964 – Correio da Manhã – Rio de Janeiro)
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“Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!” – (Do editorial “FORA!”, 1° de abril de 1964 – Correio da Manhã)
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“Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade … Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas” - (Editorial do Jornal do Brasil – Rio de Janeiro – 1º de Abril de 1964)
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“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada.” – (Jornal do Brasil, edição de 1º de abril de 1964.)
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“Minas desta vez está conosco”(…) “Dentro de poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições.” – (Estado de S. Paulo – 1º de abril de 1964)
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“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade. Ovacionados o governador do estado e chefes militares. O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (…), formando uma das maiores massas humanas já vistas na cidade” - (O Estado de Minas – Belo Horizonte – 2 de abril de 1964)
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“A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento” – (O Dia – Rio de Janeiro – 2 de Abril de 1964)
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“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas” – (Tribuna da Imprensa – Rio de Janeiro – 2 de Abril de 1964)
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“Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada”… “atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso… as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal”. – (O Globo, 2 de abril de 1964)
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“Lacerda anuncia volta do país à democracia.” – (Correio da Manhã, 2 de abril de 1964)
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“A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil” – (Editorial de O Povo – Fortaleza – 3 de Abril de 1964)
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“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem.
Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada …” -  (O Globo – Rio de Janeiro – 4 de Abril de 1964)
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“Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos”(…) “Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria.” – (Estado de Minas, 5 de abril de 1964)
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“A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista”. – (O Globo, 5 de abril de 1964)
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“Pontes de Miranda diz que Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la!”  - (Jornal do Brasil, 6 de abril de 1964)
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“Congresso concorda em aprovar Ato Institucional”. – (Jornal do Brasil, 9 de abril de 1964)
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“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da República …O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve” – (Correio Braziliense – Brasília – 16 de Abril de 1964)
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“Vibrante manifestação sem precedentes na história de Santa Maria para homenagear as Forças Armadas. Cinquenta mil pessoas na Marcha Cívica do Agradecimento” -  (A Razão – Santa Maria – RS – 17 de Abril de 1964)
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Nota de Redação – Seis dias depois da derrubada de Goulart, a Tribuna da Imprensa de Helio Fernandes foi o primeiro jornal a se posicionar contra o regime militar. Depois, o Correio da Manhã de Paulo Bittencourt também foi para a oposição. Mas todos os outros destacados órgãos da chamada grande imprensa seguiram apoiando indefinidamente a ditadura, como fica demonstrado nesses dois editoriais que seguem abaixo, também pesquisados pela jornalista Cristiane Costa:  
“Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela não moveu o País, com o apoio de todas as classes representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de responsabilidades”. – (Editorial do Jornal do Brasil – Rio de Janeiro – 31 de Março de 1973)

“Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”.  – (Editorial assinado por Roberto Marinho, publicado no jornal” O Globo”, 7 de outubro de 1984, sob o título “Julgamento da Revolução”)

terça-feira, 1 de abril de 2014

Frank D. McCann: tentando entender os militares brasileiros - Entrevista Estadao

'Vivi com o golpe toda a minha carreira'
Em entrevista ao Estado, historiador americano explica em que 1964 foi diferente das outras tentativas de golpe
Entrevista: Frank D. McCann
Wilson Tosta
O Estado de S. Paulo28 de março de 2014

Entender 1964 tem sido um dos desafios profissionais do historiador norte-americano Frank McCann. “Vivi com o golpe toda a minha carreira”, conta o pesquisador, que era estudante da pós-graduação em História do Brasil na Universidade de Indiana quando o governo João Goulart caiu. Ele relata que ainda lembra de quando viu a foto do presidente Castelo Branco pela primeira vez no New York Times e afirma que acompanhou “obsessivamente” o noticiário da época, tentando compreender o que acontecia em seu objeto de estudo. Em 1965, saciou um pouco da curiosidade no Brasil, para onde se mudara com a família para pesquisar e preparar sua dissertação. McCann ainda se lembra de ler as manchetes sobre o AI-2, que acabou com os partidos, nas bancas da Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro. O ambiente, diz, era muito tenso, devido a rumores de uma rebelião de linha dura na Vila Militar.
“Eu não tinha ideia, então, de que eu passaria muito da minha vida tentando entender os militares brasileiros", afirma
A seguir, os principais trechos de sua entrevista ao Estado:

Antes de 64, o Brasil viveu várias tentativas de golpe militar de direita: 54, 55 , 61, além das Revoltas de Jacareacanga e Aragarças. Todas fracassaram . Por que a tentativa de 64 foi vitoriosa?
As tentativas de golpe anteriores a 64 fracassaram porque não foram suficientemente apoiadas por todas as Forças Armadas, porque faltou apoio civil em grande escala ou porque foram localizadas dentro de uma das Forças. Oficiais superiores e a elite civil culparam Goulart e seus aliados , como Brizola , da extensa agitação social em todo o Brasil. As imagens das manifestações das Ligas Camponesas no Nordeste permaneceram na memória dos opositores do governo. A discussão da necessidade de reforma agrária , da expansão da educação, do controle dos recursos naturais, foi considerada muito radical, de alguma forma contaminada pelo comunismo. A opinião pública foi manipulada para alimentar o medo. As elites civis e a Igreja Católica viram a ameaça vermelha à sua porta. Brizola falando em armar um tipo de milícia deixou as pessoas assustadas. O Brasil parecia prestes a explodir. Discussão racional, calma, dos problemas nacionais tornou-se rara.

De onde veio o golpe?
Para mim, a grande questão é: por que os militares pensavam que tinham o direito ou dever de criticar publicamente , atacar ou depor um governo? Historicamente, eles têm dito muitas vezes que seus antecessores tinham deposto a monarquia e instalado a República, e tinham o dever de defendê-la e protegê-la. Claro que era uma responsabilidade autoassumida. Infelizmente, na República Velha políticos civis aparentemente encorajaram esse tipo de pensamento, de envolver os militares em seus esquemas partidários. A disciplina solta no Exército permitiu que oficiais acreditassem que eram os guardiães da República. A muito antiga prática de dar anistia a todos os envolvidos em revoltas diminuiu o autocontrole. Em 1904, 1922 e 1924, os rebeldes foram expulsos, mas depois de um tempo tiveram permissão para retornar e ter carreiras normais. Isso significava que os rebeldes não eram fortemente penalizados por sua rebelião. A instituição era muito insular, uma coisa à parte da sociedade, muito controlada pelo próprio corpo de oficiais. A estrutura das Forças Armadas tornou o controle civil extremamente difícil, se não impossível.

Mas o que diferencia o golpe de 64 das tentativas anteriores?
Uma coisa que aconteceu em 54, 55 e 61 foi que a intervenção dos militares levou à passagem da Presidência para outro civil. Em 64 não havia apoio suficiente para qualquer político civil. As figuras proeminentes foram, cada um, um pouco divisionistas, Carlos Lacerda  foi o mais divisionista. Antes do golpe, Castelo Branco tinha passado semanas de reuniões reservadas  com os líderes civis e ganhou sua confiança. Ao determinar a deposição de Goulart, os políticos civis pensaram que o golpe seria apenas empurrá-lo de lado, e um deles levaria o Planalto. Eles não sabiam que um conjunto significativo de oficiais passou a acreditar que seu caminho para servir à nação era dirigi-la. Claro que é necessário lembrar que foi um período quente da Guerra Fria, e os militares brasileiros estavam imersos na mentalidade do anticomunismo. Eles faziam um culto a 1935, a rebelião financiada por Moscou no Exército. Os generais de 64 tinham sido jovens oficiais em 1930 e abraçaram os mitos sobre 1935, como o de oficiais brasileiros assassinados durante o sono, o que não aconteceu, mas eles acreditavam. A falta de disciplina que mencionei anteriormente foi um fator que contribuiu para a revolta de 1935 . Oficiais legalistas afrontados pelos rebeldes derrotados riram quando eles foram levados para a prisão.

Sem o cabo Anselmo e sem a reunião dos sargentos no Automóvel Club teria havido golpe?
Certamente o motim dos marinheiros e a revolta dos sargentos contrariaram e preocuparam os oficiais, que viram essas ações como quebra de disciplina. Foi bom para os oficiais insuflar a revolta , mas não para a tropa mais baixa. O cabo Anselmo foi, naturalmente , muito problemático, porque era um agente dos golpistas que agia como um provocador . Mas veja, realmente, todos os participantes no golpe estavam quebrando a cadeia de comando , quebrando hierarquia.

 Por que o suposto esquema militar de apoio ao presidente Jango falhou?
Era muito pequeno, muito desorganizado e sem saber o que estava acontecendo até muito tarde. Eu suspeito que muitos oficiais acharam mais fácil apenas serem arrastados na corrente e não estavam dispostos a se opor a seus comandantes e colegas.

Os militares eram um grupo coeso na ditadura ou havia divisões significativas entre eles?
Durante os anos militares, houve uma divisão, com aqueles que eram oficiais profissionais e não pensavam que governar o país era o seu papel (de um lado). Havia outros, menos comprometidos com a profissão de soldado, que foram corrompidos pelas oportunidades de remuneração extra e benefícios ilegais. Sem dúvida, houve alguns que gostaram dos papéis repressivos, da espionagem, do sigilo, na verdade talvez até gostassem de ferir os outros. Alguns, talvez por causa de sua educação limitada, não conseguiam entender que o que as pessoas que queriam era uma sociedade justa , com oportunidades reais de possuir terra , obter educação e expressar seus pensamentos. Lembro-me de, em 1976, um coronel em uma reunião em Brasília, que me disse que ele e seu irmão, também um coronel, mal podiam falar um com o outro, porque discordaram totalmente ao longo da "Revolução" . O irmão aparentemente justificava as prisões , desaparecimentos e torturas, enquanto ele acreditava que esse tipo de comportamento repressivo estava abaixo da dignidade de um oficial do Exército.

 Por que a transição política foi tão lenta, com a demora em desmontar o aparato repressivo, com o SNI, em contraste com países vizinhos, como a Argentina?
Boa pergunta . Acho que Geisel não sabia como domar o tigre. Talvez ele pensasse que, dando tempo suficiente, as emoções fortes iriam passar, e o discurso racional seria possível. Por que demoraram tanto tempo para desmantelar o SNI eu não sei, mas suspeito que era de alguma utilidade para Sarney. Provavelmente vai demorar muitos anos para que todos os arquivos sejam estudados. A Argentina foi um caso muito diferente. O Exército não tinha histórico de assumir o governo. O caso argentino foi mais brutal e ainda mais irracional do que o brasileiro. Foi uma sorte que os generais fossem loucos o suficiente para atacar as Malvinas e fossem derrotados pelo Reino Unido.

 Um dos grupo mais perseguidos, talvez o mais perseguido, durante a ditadura foi o dos militares. Houve 7.500 militares cassados. Ocorreu uma guerra à parte entre militares durante o período?
Sim, houve uma purga interna nas Forças Armadas. Estou certo de que muitos inocentes sofreram. O pensamento cego que passou no Exército sobre o comunismo é notável . Alguns oficiais que estavam simplesmente a favor da regra constitucional foram rotulados como radicais e, portanto, comunistas . O livro de Shawn Smallman, “Fear and Memory in the Brazilian Army and Society, 1889-1954” (Univ. of North Carolina Press, 2001) estudou os aspectos da purga . O livro de Maud Cahirio, “A Política nos Quartéis” ( Zahar , 2012) traça as lutas internas . As instituições militares sofreram com tudo isso e perderam um pouco de sua capacidade 
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 Na Argentina, no Uruguai e no Chile, as ditaduras não foram nacionalistas nem estatizantes. Por que no Brasil os governos militares criaram e fortaleceram empresas estatais e mantiveram a legislação de direitos trabalhistas , além de tentar desenvolver alguns setores nacionais, diferentemente do que aconteceu em ditaduras vizinhas?
Os militares brasileiros estiveram profundamente comprometidos com o desenvolvimento econômico por décadas. Eles costumavam dizer que um país pobre não poderia ter um bom establishment militar. Eles se sentiram no dever de desenvolver e melhorar o País, para que pudessem ter os meios para se defender adequadamente. Eles não queriam os recursos naturais do País em mãos de estrangeiros . Curiosamente, alguns oficiais me disseram que na década de 1990, quando conversaram com ex-comunistas , ficaram surpresos ao descobrir que eles queriam as mesmas coisas para o Brasil. Um coronel intelectual disse que pensou que a coisa toda, o golpe , o regime militar , tudo tinha sido um erro enorme.

 A tortura foi excesso de fanáticos e sádicos ou foi política de Estado, estimulada pelo topo da hierarquia?
O uso de tortura é algo que faz pouco sentido. Oficiais , mesmo seniores como o general Carlos Meira Mattos, a justificavam como a única forma rápida para encontrar o a bomba-relógio ligada. Mas a realidade é que havia poucas bombas em funcionamento, e pior que muitas pessoas foram torturadas semanas e meses depois de serem presas quando não poderiam ter nenhuma informação útil. Uma estudante minha de pós-graduação, Martha K. Huggins , fez dois estudos, “Political Policing: the United States and Latin America” (Durham: Duke University Press, 1998) e “Violence Workers: Police Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities” (Berkeley: University of California Press, 2002), que mostraram alguma influência americana no uso da tortura . Lembro-me de estar no Rio em 1969 e de relatos de americanos estarem presentes durante as sessões de tortura no quartel-general da Marinha. De meus estudos de história do Exército , eu diria que nenhum estrangeiro tinha nada a ensinar aos brasileiros sobre como torturar ou maltratar prisioneiros. É verdade que os brasileiros estavam longe de serem tão perversos quanto os argentinos ou chilenos no uso de tortura ou assassinato, mas isso não é algo de que se orgulhar . Alguns dos abusos foram protagonizados por pessoal das polícias militares estaduais, mas porque o Exército brasileiro colocou seus oficiais no comando de cada PM estadual, o que traz a responsabilidade de volta para o Exército. A tortura era generalizada.
Claro que os leitores vão dizer que os Estados Unidos fizeram o mesmo contra supostos terroristas após o 11 de setembro. Infelizmente isso é verdade, mas eu acho que não foram os Estados Unidos , mas o governo de George W. Bush , que fez isso. Até onde sei, o Exército dos Estados Unidos não estava envolvido, pelo menos até o episódio da prisão no Iraque. Como cidadão americano estou profundamente envergonhado com o que o gangue de Bush fez.
 Agora, assassinato é algo ainda pior do que tortura. Sabemos a partir do caso da Casa da Morte de Petrópolis que as pessoas presas lá foram torturadas até morrerem e foram enterradas em segredo. Segundo a imprensa, os torturadores eram pessoal do Exército . Talvez mais vergonhoso de um ponto de vista militar foi o assassinato de prisioneiros no Araguaia. Em combate é matar ou ser morto , mas a honra militar exige que os prisioneiros sejam protegidos. Foram esses assassinatos encomendados? Por quem? Por quê? Parece que alguns oficiais generais estavam cientes de que isso estava acontecendo . É muito possível que Ernesto Geisel soubesse .

 O que fica do golpe para o Brasil de hoje?
A questão desde 1985 tem sido: como evitar que tudo aconteça de novo? É bom que presidente Dilma tenha proibido os militares de comemorar 1964 e o regime posterior , mas isso não é suficiente. As escolas militares deveriam estar ensinando sobre tudo isso como um exemplo do que os militares brasileiros não devem fazer. A melhor proteção para as Forças Armadas é ver o golpe como um erro grave. Não foi uma vitória sobre o comunismo, mas um ataque à democracia e ao Brasil como um país livre. Devo lembrar que as Forças Armadas de hoje não são as mesmas que as de 1964.
Os instituições militares de hoje no Brasil são politicamente neutras e totalmente engajadas na sua missão de defesa nacional.
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Original das respostas, em inglês, do historiador, como recebido do próprio:

Questions sent by Wilson Tosta as an ‘interview’ on Golpe of 1964.
Ah Wilson, these are very good questions.  I have lived with the coup of 1964 for my whole career.  I was a graduate student at Indiana University specializing in Brazilian history when it occurred.  I remember where I was the day I first saw Castello Branco’s photo in the New York Times.  I followed the news reports obsessively trying to understand what was happening.  Then in 1965 my wife and I and our two little girls went to Rio for a year so I could research my dissertation.  I remember reading the headlines at the news stands on Av. Rio Branco when the AI-2 was decreed abolishing the then political parties.  The atmosphere was very tense due to rumors of a rebellion of hard liners at Vila Militar.  I had no idea then that I would spend much of my life trying to understand the Brazilian military.
1) Antes de 64, o Brasil viveu várias tentativas de golpe militar de direita: 54, 55, 61, além das revoltas de Jacareacanga e Aragarças, no governo Juscelino. Todas fracassaram. Por que a tentativa de 64 deu certo? O que a diferenciou das outras?
The earlier coup attempts failed because they were not sufficiently supported throughout the armed forces, lacked large scale civilian backing, or were localized within one service. 
Higher officers and the civilian elite blamed Goulart, and his allies such as Brizola, for the extensive social unrest throughout Brazil.  The images of the demonstrations of the Peasant Leagues in the northeast lingered in the memories of government opponents.  Talk of the need for land reform, expanded education, control of natural resources was perceived as very radical, somehow tainted by communism.  Public opinion was manipulated to stoke fear.  The civilian elites and the Catholic Church saw the Red Menace at their doorsteps.  Brizola talking about arming a type of militia frightened people.  Brazil seemed to be ready to explode.  Rational, calm discussion of national problems became rare.  
For me the big question is why would military officers (in Brazil this mostly means army officers) think that they had the right (duty??) to publicly criticize, attack, or depose a government?  Historically they have often said that their predecessors had deposed the monarchy and installed the republic and they had the duty thereby to defend and protect it.  Of course that was a self-assumed ‘responsibility’.  Unhappily in the Old Republic civilian politicians seemingly encouraged that kind of thinking to involve the military in their partisan schemes. 
The loose discipline in the army allowed officers to believe that they were the guardians of the republic. The very old practice of giving amnesty to those involved in revolts diminished self-control.   In 1904, 1922, and 1924 rebels were expelled from the ranks, but after a while allowed to return and have normal careers.  That meant that rebels were not heavily penalized for their rebellion.  A basic lack of discipline was bred into the officer corps.   The institution was too insular, too much a thing apart from society, too much controlled by the officer corps itself.  The structure of the armed forces made civilian control extremely difficult, if not impossible.
The plotting in 1954 against Getúlio was cut short by his suicide and the huge popular reaction in the streets.  Some scholars think it delayed the seizure of power until the next decade, I think it was more complicated and that the events of the next years produced the climate that made 64 possible. 
One thing that happened in 54, 55, and 61, was that whatever intervention the military took, they supported the passing of the presidency to another civilian.  In 64 there was not sufficient elite support for any particular civilian politician.  The outstanding figures were each somewhat divisive, Carlos Lacerda being the most divisive.  Prior to the coup Castello Branco had spent weeks meeting quietly with civilian leaders and had gained their confidence.  By determining to depose Goulart the civilian politicians thought that a coup would merely push him aside and one of their number would take the Planalto.  They were unaware that a significant body of officers had come to believe that the way for them to serve the nation was to direct it. 
Of course it is necessary to remember that it was a hot period of the Cold War and the Brazilian military mentally was deep into the mindset of anti-communism.  They had made a cult out of the 1935 Moscow- funded rebellion in the army.   The generals of 64 had been young officers in the 1930s and they embraced the myths about 1935 , such as Brazilian officers being shot in their sleep.  that did not happen but they believed that it did.  The lack of discipline that I mentioned earlier was a contributing factor to the 1935 revolts.  Loyalist officers long remembered and were affronted that the defeated rebels laughed as they were marched to prison. 
2) Qual foi o papel da quebra de hierarquia para o sucesso do golpe? Podemos dizer que, sem o cabo Anselmo, sem o motim dos marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio e sem o almoço dos sargentos no Automóvel Clube, teria havido golpe bem-sucedido?

Certainly the sailors’ mutiny and the earlier sergeant’s revolt upset and worried the officers, who saw these actions as breaking of discipline.  It was fine for officers to plot and revolt but not for the lower ranks.  Cabo Anselmo was, of course, really problematic because he was an agent of the golpistas acting as a provocateur.   Legally everyone participating in the coup was breaking the chain of command, quebrando hierarquia.  Just because Generals were leading and giving orders did not make the rebellion legal or right.
3) Como era o jogo dos generais na época? Quem ficou com João Goulart, quem mudou de lado e quem estava contra ele desde o início, nas Forças Armadas? E quais eram os motivos dessas posições (ou suas mudanças)?
A few general officers attempted to side with the government, the Third Army in Rio Grande do Sul comes to mind.  But supporters were quickly pushed aside, arrested, retired. 
4) Golpistas civis esperavam que os militares apenas derrubassem o governo Goulart e lhes passassem o poder. Por que isso não aconteceu e os militares ficaram 21 anos mandando no Brasil?
I think I mentioned this above.   But it is important to remember that a lot of civilians supported the military’s intervention. 
5) Por que o suposto esquema militar de apoio ao presidente Jango falhou?
Why did it fail?  It was too small, too disorganized and unaware what was happening until too late.   I suspect that many officers found it easier just to be swept along in the current and were unwilling to oppose their commanders and colleagues. 
 6) A visão de que os militares eram um grupo coeso durante o regime é verdadeira ou havia divisões políticas significativas entre eles? Quais eram essas divisões?
During the military years there was a division between those who were professional officers who did not think that running the country was their role.   There were others less committed to the profession of soldiering who were corrupted by the opportunities for extra pay and illegal benefits.  Undoubtedly there were some who enjoyed the repressive roles, the spying, the secrecy, indeed maybe even enjoyed hurting others.  Some, perhaps because of their limited education, could not understand that people who wanted a just society with real opportunities to own land, get an education, and to express their thoughts, could be anything other than communists.
   I remember in 1976 meeting a colonel in Brasilia who told me that he and his brother, also a colonel, could barely speak with each other because they disagreed completely over the course of the “Revolution”.   His brother apparently justified the arrests, disappearances, and torture, while he believed such repressive behavior was beneath the dignity of an army officer.
7) A abertura política começou em 1975, e os militares só deixaram o poder dez anos depois. Mesmo assim, por pelo menos mais dez anos os militares eram vistos com receio pelos brasileiros. Houve ainda demora no desmonte de estruturas repressivas - o SNI só acabou em 1990, por exemplo. Qual foi o motivo de uma transição tão lenta? Como comparar essa transição com as de países vizinhos, como Argentina e Uruguai?
Why so slow a transition?  Good question.  I think that Geisel did not know how to get off the tiger.  Perhaps he thought that given enough time the high emotions would pass and rational discourse would be possible.  Why it took so long to dismantle the SNI I do not know, but I suspect that it was of some use to Sarney.   Likely it will take many years for all those files to be studied.
 Argentina was a very different case.  The army there had a history of coup making and taking over the government.  The Argentine case was more brutal and even more irrational than the Brazilian one.  It was fortunate that the generals were crazy enough to attack the Falklands and get routed by the British.  Today, the Argentines should be thanking the British rather than posturing ridiculously about the islands being theirs. 
8) Fala-se que os militares perseguiram adversários durante a ditadura. Um dos grupos mais atingidos, talvez aquele que foi mais perseguido, era formado por militares: 7.500 integrantes das Forças Armadas foram cassados no período. Pode-se falar que houve uma guerra à parte entre os militares naquela época?
Yes there was an internal purge within the armed forces.  I am sure that many innocents suffered.  The blind thinking that went on in the army about communism is notable.  Some officers who were simply in favor of constitutional rule were labeled as radicals and thus communists.  Shawn Smallman’s book Fear and Memory in the Brazilian Army and Society, 1889-1954 (Univ. of North Carolina Press, 2001) studied aspects of the purge.  Maud Cahirio’s A Política nos Quartéis (Zahar, 2012) traces the internal struggles.  The military institutions suffered from all this and lost some of their capability.
9) Na Argentina, no Uruguai e no Chile, as ditaduras não foram nacionalistas nem estatizantes. Por que no Brasil os governos militares criaram e fortaleceram empresas estatais e mantiveram a legislação de direitos trabalhistas, diferentemente do que acontecia em países vizinhos?
 The Brazilian military was deeply committed to economic development going back decades.  They used to say that a poor country could not have a good military establishment.  They felt a duty to develop and improve the country so that they could have the means to defend it adequately.  They did not want the nation’s natural resources in the hands of foreigners.  Interestingly, some officers told me that in the 1990s they had conversations with ex-communists, they were surprised to find that they wanted the same things for Brazil.  One intellectual colonel said he thought the whole thing, the golpe, the military regime, had all been a huge mistake.
10) A tortura e o extermínio de oposicionistas foi fruto de excessos de subordinados ou havia aquiescência do topo da hierarquia para que se torturasse, em defesa do regime?
The use of torture is something that makes little sense.  Officers, even senior ones like General Carlos Meira Mattos justified it as the only quick way to find the ticking “time bomb”.   But the reality is that there were few such ticking bombs and worse that many people were tortured weeks and months after being arrested when they could have no useful information.  A graduate student of mine, Martha K. Huggins, who did two studies: Political Policing: the United States and Latin America (Durham: Duke University Press, 1998) and Violence Workers: Police Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities (Berkeley: University of California Press, 2002) that showed some American training in the use of torture.   I recall being in Rio in 1969 and hearing reports of Americans being present during torture sessions in the Naval headquarters. 
From my studies of army history I would say that no foreigner had to teach Brazilians how to torture or mistreat prisoners.  It is true that the Brazilians were nowhere near as bad as the Argentines or Chileans in the use of torture or murder, but that is not something of which to be proud.   Some of the abuses were carried out by state Policia Militar personnel, but because the Brazilian army placed one of its officers in command of every state PM, that brings the responsibility back to the army.  Torture was widespread.  
 Of course your readers will say that the United States did the same against supposed terrorists after 9/11.  Sadly that is true, but I think it was not the United States, but the George W. Bush administration, that did it.  As far as I know the United States Army was not involved, at least until the prison episode in Iraq.  As an American citizen I am deeply, deeply ashamed of what the Bush gang did.
Now murder is something even worse than torture.  We know from the case of the ‘Death House’ in Petropolis that people taken there were tortured to death and buried in secret.  According to press accounts the torturers were army personnel.
Perhaps more shameful from a military point of view was the murder of prisoners in the Araguaia.  In combat it is kill or be killed, but military honor demands that prisoners be protected.  Were these murders ordered?  By whom?  Why?  It seems that some general officers were aware that this was happening.  It is very possible that Ernesto Geisel knew.  Elio Gaspari laid it out clearly.  Interested readers will find more than they want to know in Claudio Guerra’s Memórias de uma Guerra Suja (Topbooks, 2012).   He tells of his experiences as a DOPS agent working with a parallel army chain of command to murder leftists.
The question since 1985 has been how to prevent all this happening again?  It is good that Presidenta Dilma has forbidden the military to commemorate 1964 and the subsequent regime, but that is not enough.  The military schools should be teaching about all this as an example of what the Brazilian military should not do.  The best protection is for the armed forces to see it as a serious mistake.  It was not a victory over communism, rather it was an attack on democracy and on Brazil as a free country.   

Devo lembrar aos leitores que as Forças Armadas de hoje não são as mesmas que as de 1964. Os instituições militares de hoje no Brasil são politicamente neutra e totalmente engajados na sua missão de defesa nacional.