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sábado, 5 de abril de 2014

Ainda sobre 1964: um depoimento de fonte primaria sobre o presidente Goulart

Recebo, de um amigo mais velho, este depoimento pessoal, sobre um "despacho" de técnicos, sobre a "luta" contra a inflação, já na fase agônica do governo Goulart.
A Sunab, para quem não sabe, era a Superintendência de Abastecimento, um órgão criado na era Vargas para cuidar dos estoques de alimentos e, como soe acontecer no Brasil inflacionário, começou a também fixar preços, tanto para o produtor -- o que obviamente reduziu a oferta -- como para o distribuidor e varejista, tudo para não alimentar a inflação e beneficiar o consumidor. Como sempre ocorre, nesses casos, todos os controles de preços são irracionais e contraproducentes, pois acabam provocando aquilo mesmo que pretendiam evitar. Mas isto já é teoria econômica, vejamos o lado real da coisa.
Vale como testemunho histórico. Acrescento abaixo, minha resposta a este amigo.
Paulo Roberto de Almeida 

Um depoimento sobre sobre 1964

On Apr 5, 2014, at 11:26, Rxxxxx <rxxxxxx@uol.com.br> wrote:

Meu caro Paulo Roberto: 
Em 1964 eu tinha 27 anos e era assistente do superintendente da Sunab depois de brigar com o Celso Furtado no Min. Planejamento(isto fica para outro dia). 
A equipe da Sunab, inclusive seu superintendente era extraordinária, formada em sua maioria por gente do Banco do Brasil que nesta  época se constituía na nata do funcionalismo público, todos com larga experiência na área agrícola e de abastecimento. Eram todos absolutamente honestos, é bom que se diga. 
Pois muito bem um belo dia tivemos que viajar pra Brasilia para despachar com o Presidente da República. Jango já [estava] em pleno presidencialismo. 
Fomos recebidos por ele numa sala cheia de gente um barulho infernal. Todos dirigentes sindicais que denominávamos de "pelêgos". 
Jango, de perna esticada, nos recebeu neste gabinete aonde durante 20 minutos expusemos nossos planos de abastecimento. Tínhamos preparado uma exposição de uns 40 minutos.
Olhava pro chão e no final nos disse: "Os senhores façam aquilo que acharem melhor". 

E fomos embora. No avião eu olhava para o superintendente e ele pra mim, como que dizendo: "que merda". 
Nesse dia tudo o que aconteceu não me surpreendeu. (...) Jango estava enfadado e sabia que estava se suicidando politicamente. Queria sair à la Getulio Vargas [mas] sem suicídio. 
Brizola de um lado e os problemas do país de outro. Ele estava esmagado. Essa de falar que caiu por causa das reformas e, pior, por causa da intervenção americana, é papo furado de esquerdista delirante. O erro foi não haver uma transição para um governo cvil tampão que Castelo queria e que Costa e Silva e outros impediram.
Aí deu no que deu 
abs Rxxxxxx


Minha resposta a ele: 

Grato meu caro, por este depoimento de primeira mão, de fonte primária, como se diz. 
Isso apenas nos confirma a nulidade, a mediocridade, a pusilanimidade que era o Jango.
A questão seria saber se, em algum momento, ele acreditou que poderia conduzir as suas reformas de base -- para as quais era mais empurrado do que tomava iniciativa --, ou se já achava que tudo aquilo era um teatro, e estava apenas esperando para tudo acabar e voltar para a sua fazenda.
Ao que parece, ele ele provocou conscientemente aquela situação de impasse, para talvez ficar na história como um "sacrificado" pelas forças de oposição, mas sem suicídio, claro, pois nunca teve coragem para tanto...
O abraço do
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Paulo Roberto de Almeida

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