O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Barry Eichengreen. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Barry Eichengreen. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

The fall of the (still) mighty dollar - Barry Eichengreen

Um tema do momento, um grande autor, quase o "romance" do dólar, ou sua biografia não autorizada...
Paulo Roberto de Almeida

The rise and fall of the dollar
The Economist, Jan 20th 2011

Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System.
By Barry Eichengreen
Oxford University Press; 224 pages; $27.95.
To be published in Britain by OUP next month; £14.99

THE dollar’s ascendance to the rank of world’s most important currency is often remembered as having been slow and gradual, mirroring the decline of sterling and Britain’s historic economic dominance. In fact, it was surprisingly swift. From a standing start in 1914, the dollar had overtaken sterling in international importance by 1925. The first world war played a part, but so did a lesser-known factor. America had surpassed Britain as the world’s largest economic power as early as 1870, but it had a stunted financial system: its banks could not open branches abroad, it had no central bank and panics were common. All these things discouraged international use of the dollar.
This began to change with the creation of the Federal Reserve in 1913, providing stability to the American banking system. Benjamin Strong, the Fed’s de facto leader in its early years, saw how the deep and liquid market for trade acceptances - the IOUs that were used to finance shipments of goods - helped the Bank of England to manage credit conditions. The Fed used its clout to nurture a similar market in America. This hastened the migration of international financial activity from London to New York, and from sterling to the dollar.
Whether the dollar will share sterling’s fate is a common question in geopolitical circles. After all, it is only a matter of time before China’s GDP overtakes America’s. But as Barry Eichengreen shows in a fascinating and readable account of the dollar’s rise and potential fall, reserve-currency status depends on far more than GDP. It is also a function of strategic and military relationships, laws, institutions and incumbency.
Mr Eichengreen, who teaches at the University of California, Berkeley, is an international monetary historian whose research into how the gold standard propagated the Great Depression was the basis for his seminal 1992 book, “Golden Fetters”. His latest work is less about the future of the financial system than its history, and skilfully told history it is too. Mr Eichengreen sprinkles his economics with memorable sketches of economic and political leaders. Jimmy Carter, apparently, handicapped his efforts to reduce Germany’s trade surplus by addressing the more formal Helmut Schmidt, the German chancellor, by his first name.
The book’s title was inspired by Valéry Giscard d’Estaing, France’s finance minister in the 1960s, who once described the enormous benefit America derived from the dollar’s reserve status as its “exorbitant privilege”. The world’s need for dollars lets America borrow at lower cost. American companies are spared the hassle of transacting in another currency. Those suitcases of dollars so beloved of international arms smugglers and drug kingpins all represent interest-free loans to America.
That the world remains so dollar-centric, given America’s shrinking share of world output, is something of an anomaly. This could be explained for most of the post-war period by lack of competition. Japan discouraged international use of the yen for fear of elevating its value and hurting its exports. The presence of the Red Army on West Germany’s borders hung over the Deutschmark, and in any case Germany regarded support of the dollar as an intrinsic part of its military alliance with America.
Mr Eichengreen does not think the dollar is about to be vanquished as sterling was. Rather, he foresees a “multipolar” system of international currencies. Reunification shifted Germany’s priorities from supporting America to binding itself more closely to Europe, resulting in the creation of the first significant competitor to the dollar, the euro. Mr Eichengreen could have devoted more attention to the strains that Europe’s sovereign-debt crisis have placed on the euro. His book is optimistic, noting that political rather than economic imperatives have always driven the euro. Mr Schmidt sold monetary integration to Germany’s sceptical central bank by invoking Auschwitz. Yet Mr Eichengreen’s recent writings betray a pessimism about the euro’s future that is not visible in his book.
And what of China? As was true of America and the dollar a century ago, China’s currency does not enjoy anywhere near the clout that could be expected from the size of the Chinese economy. As with Japan, China has discouraged internationalisation of its currency for fear that inflows of capital would lift its value and curb Chinese exports. It has learned, however, from Japan’s mistakes, and is gradually liberalising the use of its currency. But China is still much further behind than America was in 1914; it will be decades before the yuan rivals the dollar’s leadership.
The chapter on the international financial crisis is an unsatisfying rehash of the usual explanations, such as loose monetary policy, sloppy underwriting and derivatives. Mr Eichengreen underplays the role that China played, through its accumulation of dollars, in financing America’s housing bubble. He thinks the crisis will accelerate the shift to a multipolar currency system, but that the dollar will not collapse. That would take profound economic mismanagement by America itself, in particular, unchecked budget deficits. It was Britain’s dismal economic performance, not the dethronement of sterling, that cost it its great-power status after 1945. “The only plausible scenario for a dollar crash”, Mr Eichengreen concludes, “is one in which we bring it upon ourselves".

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Era do dolar: o comeco do comeco do comeco do fim... - Barry Eichengreen

''EUA têm 2 ou 3 anos para evitar um crash do dólar''
Fernando Dantas
O Estado de S.Paulo, 17 de janeiro de 2011

Barry Eichengreen, Professor da Universidade da Califórnia
Em livro, economista diz que em 10 anos o dólar perderá a hegemonia no mundo. A transição dependerá de plano fiscal

Em dez anos, o sistema monetário internacional terá passado por uma revolução profunda, com o dólar deixando de ser a moeda dominante, e cedendo espaço não só para o euro, mas também para o renminbi chinês. A previsão está no novo livro Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System (Privilégio Exorbitante: A Ascensão e Queda do Dólar e o Futuro do Sistema Monetário Internacional), de Barry Eichengreen, colunista do Estado. Considerado um dos maiores especialistas do mundo em questões monetárias internacionais, o professor da Universidade da Califórnia em Berkeley conversou por telefone com o Estado sobre o seu novo livro (sem previsão ainda de lançamento no Brasil), em que menciona o real como uma moeda que também pode vir a ter um maior papel global. A seguir, a entrevista:

Qual a mensagem básica do seu livro?

Por muito tempo, o dólar foi não apenas a moeda dos Estados Unidos, mas também do próprio mundo, dominando as transações internacionais. E agora é inevitável que nos afastemos desse mundo, provavelmente mais rápido do que esperávamos, como resultado da crise financeira. O livro é uma tentativa de explicar o que está ocorrendo, mas ele primeiro busca entender como o dólar alcançou essa posição excepcional na economia global. E, a partir disso, tenta pensar o que vem em seguida em termos do sistema monetário internacional, quando este não for mais dominado pelo dólar.

Como o dólar tornou-se a moeda do mundo?

Ao contrário do que muitos pensam, o dólar já era a moeda dominante em meados da década de 20, e ganhou este status muito rapidamente. O evento chave foi a fundação do sistema do Federal Reserve (Fed), isto é, a criação do banco central americano em 1914. O papel do Fed foi basicamente o de um "market-maker", isto é, o de prover liquidez ao dólar para sua utilização nos mercados internacionais. O dólar saiu de uma situação em 1914 em que não era absolutamente utilizado internacionalmente para, em 1924, já ser mais importante do que a moeda internacional anterior, a libra esterlina.

O sr. acha que algo parecido pode ocorrer com o renminbi chinês?

Exatamente. Eu conto a história do dólar com a China em mente. Os chineses estão trabalhando agora para internacionalizar a sua moeda, e estabeleceram 2020 como o limite para transformar Xangai num centro financeiro internacional. Se a história serve de guia, aquela meta é de fato realista e possível. Em dez anos, acho possível que o renminbi se torne uma das três moedas internacionais, junto com o dólar e o euro. Cada uma delas deve ter um terço do comércio e das finanças internacionais.

E por que essa mudança vai acontecer?

Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos dominavam a economia mundial, e eram o único país com mercados financeiros líquidos e profundos. Agora, mais de 50 anos depois, outras economias começaram a alcançar os Estados Unidos, que não são mais tão dominantes em termos de PIB global, ou de produção industrial, ou de exportação. Há outras economias com mercados financeiros crescentemente profundos e líquidos. Então, o que fez sentido no passado, isto é, que todo mundo fizesse suas transações internacionais em dólares, já não faz mais.

Como se dará essa transição?

Eu desenvolvo no livro dois cenários diferentes. O primeiro é de uma transição mais suave, na qual há uma diversificação gradual, reduzindo a participação relativa dos ativos e transações em dólares ao longo dos próximos dez anos. O outro cenário é uma crise do dólar, um crash, num contexto em que os Estados Unidos não põem ordem na sua política fiscal, e os investidores estrangeiros ficam cada vez mais alarmados com isto, e abandonam subitamente a moeda americana. Isso pode ocorrer muito rapidamente. Escrevi no livro que o cenário de mudança suave é mais provável. Mas tenho ficado mais preocupado com o cenário alternativo. A política americana tornou-se excessivamente polarizada, e equilibrar nossas finanças públicas requer compromisso político.

Quais as consequências para os Estados Unidos com o fim da hegemonia do dólar?

Vai provavelmente significar níveis mais baixos de vida para os americanos. Foi a hegemonia do dólar que nos permitiu sistematicamente importar mais que exportar. Mantemos um nível de consumo mais alto nos Estados Unidos porque o resto do mundo precisa de dólares. A minha estimativa é de que o benefício para os Estados Unidos da hegemonia do dólar é igual a 3% do PIB, isto é, em um ano de crescimento econômico normal. Por outro lado, com o fim da hegemonia do dólar, teremos um sistema financeiro global e um sistema monetário internacional mais estáveis, com um equilíbrio melhor entre a estrutura da economia mundial, que é multipolar, e a estrutura do seu sistema monetário, que deve complementar a economia real.

Qual a relação da crise global com o destino do dólar?

Uma das ironias da crise é que ela foi até boa para o dólar. Quando todos queriam liquidez, houve uma correria na direção do dólar em vez de uma fuga dele. Por outro lado, a crise deixou o mundo mais consciente de que a política econômica americana nem sempre é sólida e estável. Então a possibilidade de uma súbita perda de confiança no dólar foi realçada pela crise financeira.

O processo de diversificação em relação ao dólar já começou concretamente?

Acompanhamos ao longo dos últimos dez anos um declínio modesto nas reservas dos bancos centrais em dólares, mas ainda muito limitado. O dólar ainda está em 85% das transações cambiais. Por outro lado, o euro vem se tornando mais importante, e já há 70 mil empresas chinesas que fecham o seu comércio internacional em renminbi. Então está acontecendo, mas devagar.

Isso não contraria sua previsão?

Um ponto importante é que, neste momento, as alternativas ao dólar tampouco parecem atraentes. O euro é a mais óbvia, mas a Europa está passando por problemas. E os chineses ainda têm um longo trabalho pela frente para tornar a sua moeda atraente. Mas eu explico no livro que a minha projeção é de que o euro vai sobreviver, e de que os europeus serão capazes de resolver os seus problemas. Também prevejo que os chineses vão completar o trabalho que tem de ser feito para internacionalizar o renminbi.

Moedas como o real terão lugar no sistema monetário internacional que está surgindo?

Eu menciono o real no livro. Um dos meus pontos é que as pessoas acostumaram-se a pensar que só há lugar no mundo para uma moeda internacional, e que ela seria o dólar. Hoje, numa época em que todos têm um smartphone no bolso para comparar preços em diferentes moedas, não há nenhum obstáculo para haver múltiplas moedas internacionais. Olhando para além de um horizonte de dez anos, me parece que a rupia indiana e o real brasileiro são candidatos lógicos, porque são países grandes, com demografia favorável. Se continuarem a perseguir políticas econômicas estáveis, e criarem mercados profundos e líquidos, acho que Índia e Brasil podem ter moedas internacionais também.

QUEM É
Barry Eichengreen é americano, professor de economia e ciência política na Universidade da Califórnia, Berkeley. É Ph.D. pela Universidade de Yale e foi conselheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 1997 e 1998. No Brasil, uma das obra mais conhecida de Eichengreen é a Globalização do Capital, publicado em 2000.