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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Homenagem a Oswaldo Aranha - Samuel Malamud (blog de São João del-Rei)

 

Segunda-feira, 6 de outubro de 2025

UM ILUSTRE BRASILEIRO NA HISTÓRIA DO POVO JUDEU

Por SAMUEL MALAMUD *
Discurso em cerimônia realizada no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, no 25º aniversário da decisão da Partilha da Palestina. Novembro de 1972.
Transcrevemos com a devida vênia da Imago Editora Ltda., artigo da seção SION constante do livro Documentário, publicado em 1992, pp. 312-316.
Oswaldo Aranha (✰ Alegrete-RS, 1884 ✞ Rio de Janeiro-RJ, 1960) - Crédito: Getty Images

Estamos aqui reunidos hoje para comemorar o 25º aniversário da decisão das Nações Unidas que, no dia 29 de novembro de 1947, sob a presidência de Oswaldo Aranha, aprovou por uma maioria de 2/3 o plano de partilha da Palestina. 

Para melhor situar essa data e sua importância na história judaica, basta fazer uma retrospectiva-relâmpago dos últimos vinte séculos de dispersão, período que registra numerosas datas, todas relacionadas com episódios de sofrimento, de perseguição e de instabilidade por que passou a grande maioria das massas judaicas. São datas que lembram éditos de confinamento em guetos, de expulsão em massa, de conversão compulsória, de pogroms

Somente a partir de fins do século passado começou uma nova contagem de tempo no calendário da longa diáspora, que parecia interminável. Foi Theodor Herzl quem revolucionou a marcha da história do povo judeu. Graças à sua ousadia, sua coragem e sua visão profética conseguiu-se dar início a uma nova era na vida judaica ao se instalar, na Basileia, em agosto de 1897, o Primeiro Congresso Sionista. Foi o primeiro passo para uma solução política do problema judeu. 

Depois veio a data de 2 de novembro de 1917, conhecida como a da Declaração de Balfour, a de 29 de novembro de 1947, que ora comemoramos e, finalmente, a de 14 de maio de 1948, em que foi proclamada a independência do Estado de Israel. 

Num discurso proferido em 27 de julho de 1948, declarou David Ben-Gurion que sem as duas datas — a de 2 de novembro de 1917 e de 29 de novembro de 1947 — não teríamos chegado ao ponto a que chegamos. 

Deve-se, entretanto, salientar que, enquanto a Declaração de Balfour foi o resultado de 20 anos de ação política sionista, a decisão de 29 de novembro de 1947 representou, na realidade, um ressarcimento, uma reparação das múltiplas injustiças perpetradas contra o povo judeu, especialmente durante a última guerra mundial. 

Somente ao término da Segunda Guerra Mundial a humanidade tomou pleno conhecimento dos atos de barbárie e de vandalismo sem par, levados a efeito contra as massas judaicas na Alemanha e em todos os países ocupados pelas hordas nazistas, e que custaram o alto preço de seis milhões de vidas friamente exterminadas. 

Foi também quando o mundo pôde avaliar o heroísmo com que lutaram os soldados e voluntários judeus nas fileiras das forças aliadas em todas as frentes. 

No fim da Segunda Guerra Mundial, defrontaram-se as nações livres com os numerosos campos de concentração que abrigavam centenas de milhares de sobreviventes judeus alquebrados — física e psiquicamente — e para os quais só havia uma esperança: alcançar a Terra Prometida. 

Mas as portas de Eretz Israel ¹ encontravam-se, devido à política da potência mandatária, hermeticamente fechadas. O bloqueio estabelecido pela Inglaterra era vencido somente na calada da noite pelo movimento de imigração ilegal, que enfrentava corajosamente as armas da guarda britânica. Esse, porém, não podia ser o caminho indicado para resolver o problema. 

Todas as gestões junto ao governo de Sua Majestade, para que fossem admitidos pelo menos 100.000 sobreviventes dos campos de concentração, falharam. 

Eis que a 13 de fevereiro de 1947 resolveu a Inglaterra entregar a solução do problema da Palestina às Nações Unidas, mediante a advertência de que abandonaria, de qualquer forma, o mandato dentro de um prazo determinado. 

Em abril de 1947, com o problema da Palestina na agenda, a Assembleia Geral Extraordinária das Nações Unidas dava início aos seus trabalhos e elegia para presidi-los o chefe das delegação brasileira — o embaixador Oswaldo Aranha. 

Se o sionismo brasileiro já estava desenvolvendo, desde 1946, um trabalho ativo com a cooperação eficiente do Comitê Cristão Pró-Palestina, que tinha na sua presidência o saudoso humanista, professor Inácio de Azevedo Amaral, e na vice-presidência o nobre líder católico senador Hamilton Nogueira, no intuito de mobilizar a opinião pública em favor do estabelecimento de um Estado judeu, a atuação da Organização Sionista do Brasil e do Comitê Pró-Palestina adquiria, a partir de abril de 1947, um sentido mais importante. Presidia a organização mundial que devia decidir os destinos do povo judeu e seu direito à autodeterminação um dos vultos mais preeminentes do cenário político nacional. 

Depois de longos debates foi, a 13 de maio de 1947, nomeada a comissão especial das Nações Unidas que iria estudar o problema da Palestina e apresentar uma proposta de solução concreta para a próxima Assembleia, a reunir-se em setembro daquele ano. 

Das férias do embaixador Aranha, passadas com os seus familiares no Rio de Janeiro, vem-nos à memória um encontro havido em sua residência, à Rua Campo Belo, em julho de 1947, com o Dr. Nahum Goldman, presidente do Congresso Judaico Mundial e membro do Executivo Sionista Mundial. 

No decorrer da entrevista, o problema da Palestina e do estabelecimento do Estado judeu foi debatido em todos os seus aspectos. O dirigente judeu ficou profundamente impressionado com a familiaridade com que o embaixador Aranha discutiu o assunto. Naquela oportunidade, o embaixador Aranha inclinava-se pela ideia que preconizava a criação de um estado binacional e que contava com o apoio de uma parte da liderança árabe, da extrema esquerda sionista e de alguns humanistas judeus ingênuos. 

Embora firme na defesa de seu ponto de vista, o grande estadista e hábil diplomata ouvia atentamente os argumentos expostos pelo Dr. Goldman. Ao despedir-se do embaixador Oswaldo Aranha, o ilustre visitante disse-lhe sentir-se tranquilo e confiante, apesar da divergência de opiniões, porque a presidência da Assembleia Geral das Nações Unidas estava nas mãos de um homem objetivo, sincero e bem intencionado. 

Quando foram reabertos os trabalhos da Assembleia Geral, em setembro de 1947, a Comissão nomeada apresentou o relatório, concluindo pela criação de dois Estados, um judeu e outro árabe. Essa proposta ia ser submetida à discussão e precisava de uma maioria de 2/3 para ser aprovada. O chefe da delegação brasileira, embaixador Oswaldo Aranha, foi confirmado na presidência da ONU por unanimidade. 

A tarefa era muito árdua. Apesar de todos os argumentos expostos no relatório da Comissão, pairavam dúvidas sobre a maioria exigida. Entravam em jogo outros interesses que se sobrepunham ou antepunham aos sentimentos humanitários, aos princípios de justiça, às razões históricas e à necessidade de se darem soluções a problemas prementes e de se reconhecerem direitos incontestáveis. 

Quando os debates em Lake Success ² chegavam ao seu final e a votação se aproximava, o Comitê Político da Organização Sionista Unificada do Brasil, juntamente com o Comitê Pró-Palestina, embora convicto da atitude positiva de nosso país, sempre fiel à sua tradicional política de apoio às reivindicações judias, promoveu a visita de uma comissão de parlamentares, composta de membros de todos os partidos, ao ministro das relações exteriores, Dr. Raul Fernandes, para manifestar-lhe que o povo brasileiro, na pessoa de seus representantes eleitos, estava a favor da criação do Estado Judeu e pedia ao governo que instruísse a delegação junto às Nações Unidas no sentido de votar pela proposta da partilha. 

Ainda às vésperas da votação, a mãe do embaixador Osvaldo Aranha, então com a idade de 80 anos, telegrafou ao seu filho um comovente apelo para que tudo fizesse pela aprovação da proposta. 

Se a habilidade política do embaixador Oswaldo Aranha já era mais do que reconhecida, ele a comprovou sobejamente pela maestria revelada no dia 28 de novembro de 1947, ao conseguir, numa tática magistral, adiar a votação para o dia seguinte. Sabe-se agora que o embaixador Aranha impediu a votação porque sentiu pelo ambiente, cujos segredos lhe eram bem conhecidos, que faltaria um voto para se conseguir a maioria exigida. 

Ao falar pelo telefone internacional com o embaixador Oswaldo Aranha no dia 27 de novembro à tarde, o senador Hamilton Nogueira, seu amigo pessoal e vice-presidente do Comitê Pró-Palestina, perguntara-lhe quais eram os prognósticos e a resposta do experimentado homem público foi de que se sentia desapontado com a atitude de alguns governos latino-americanos, que estavam revendo os seus pontos de vista no momento derradeiro. Ainda guardamos na memória a voz do grande gaúcho, que assim mesmo mostrava-se otimista e assegurou ao senador empenhar-se ao máximo para se alcançar a maioria almejada. 

Está mais do que constatado que foi única e exclusivamente graças à habilidade pessoal do embaixador Osvaldo Aranha que a partilha foi aprovada na memorável Assembleia de 29 de novembro de 1947. Qualquer falha sua, qualquer descuido, a mínima desatenção, a falta de rigor na direção dos trabalhos, e poderia ter ocorrido uma modificação radical na situação, com resultados imprevisíveis. 

Poucos dias depois de encerrada a Assembleia Geral da ONU, ao regressar ao Brasil, coberto de justas glórias, merecedor do reconhecimento e da admiração tanto no meio político nacional como internacional, o embaixador Osvaldo Aranha foi recebido no aeroporto Santos Dumont por uma comissão especial, composta das mais eminentes figuras do nosso mundo político e intelectual, encabeçada pelo representante do presidente da República e também pelo Executivo da Organização Sionista Unificada do Brasil e membros do Comitê Pró-Palestina. Uma enorme massa popular compareceu ao desembarque para ovacioná-lo, e dela faziam parte agremiações judaicas que ostentavam cartazes de boas-vindas e de saudações ao Brasil, ao nosso governo e ao eminente estadista. 

O embaixador Aranha foi nessa ocasião saudado pelo deputado Prado Kelly, que falou em nome da Comissão, tendo tido eu a honra de ser o porta-voz da comunidade judaica brasileira

Na sua resposta, revelando a sua peculiar modéstia, disse o embaixador Aranha que

devia o sucesso de sua missão ao descortínio diplomático, às instruções e constante apoio do Sr. Ministro das Relações Exteriores Raul Fernandes, e à honrosa escolha do presidente Eurico Gaspar Dutra, que o fora buscar em uma agremiação partidária de oposição para confiar-lhe, assim, duplamente, o dever de imprimir-lhe toda a eficiência de que se sentisse capaz. As energias que o alimentavam no trabalho imenso a que teve de consagrar-se à delegação brasileira ele as deve sobretudo ao Brasil, em cujo espírito pacifista, de conciliação e de equilíbrio sempre procurou se inspirar.
Terminada a sua histórica missão nas Nações Unidas, continuou o embaixador Osvaldo Aranha a acompanhar com vivo interesse o desenrolar da situação em torno do Estado judeu, para cuja criação tanto contribuiu. 

Em agosto de 1948, recebia o embaixador Aranha em sua residência o então ministro plenipotenciário itinerante do Estado de Israel para a América Latina Sr. Moshé Toff, a quem já conhecia desde os memoráveis e tormentosos dias em Lake Success. 

A visita do ministro Toff tinha como objetivo principal obter do Brasil o reconhecimento de jure para o Estado recém-proclamado. 

Durante esse encontro, a que estivemos presente, ocorreu um episódio que merece ser lembrado, pois revela de novo o grande espírito desse excepcional homem público que foi Oswaldo Aranha. 

Apareceu inesperadamente na residência do chanceler Aranha o governador Otávio Mangabeira. Exclamou num ímpeto o embaixador Aranha:

Este encontro é verdadeiramente providencial, Sr. Ministro de Israel. Ninguém mais credenciado existe no Brasil para sentir o grande drama de seu povo e advogar a sua causa do que o Sr. Otávio Mangabeira.

O embaixador Aranha expôs, então, numa síntese admirável, ao governador Mangabeira toda a problemática do Estado de Israel, para concluir dizendo o seguinte:

Quando defendemos na ONU o ressurgimento do Estado de Israel, o fizemos porque sempre consideramos que ali estávamos para estabelecer uma nova ordem para o mundo. A continuação de Israel como povo sem pátria era o maior símbolo da sobrevivência da velha e injustificada ordem mundial. Israel nasceu de uma deliberação espontânea da maioria absoluta das Nações Unidas, de que o Brasil participou e que subscreveu: Israel é portanto um filho legítimo e não um filho natural das Nações Unidas. Não lhe parece absurdo que se deva solicitar a um pai o reconhecimento de um filho legítimo?
Ainda um ano mais tarde, em julho de 1949, ao fazer uso da palavra durante um almoço realizado na Associação Brasileira de Imprensa em homenagem ao mesmo ministro Moshé Toff, promovido pelo Comitê Pró-Palestina, narrou o embaixador Aranha episódios da luta nos bastidores da ONU durante as discussões em torno da partilha. Exclamou:
O medo da verdade é o mais covarde dos medos! O que ficou claro é que há um mundo que aspira à liberdade e outro que não a deseja. Não é pelos meios violentos que se fazem conquistas. O desarmamento espiritual é a base do futuro das nações. A resolução da criação do Estado judeu era uma experiência nova na vida da humanidade.
Vale citar aqui uma passagem do discurso proferido por David Ben-Gurion sobre a Partilha e que condiz muito bem com o pensamento do embaixador Aranha. Disse Ben Gurion:
A decisão tomada pelo plenário das Nações Unidas no dia 29 de novembro de 1947 foi de grande importância tanto do ponto de vista judeu como do ponto de vista geral. Mais de 30 nações decidiram em favor do estabelecimento de um Estado judeu e com a sua atitude demonstraram que ainda existe uma consciência universal e que ainda há um apoio para a justiça histórica, mesmo em se tratando de um povo a quem o mundo injustiçou no decorrer de séculos. Ficou provado que ainda não está perdida a esperança de que a ONU possa congregar a humanidade e assegurar a paz.
O último ato público ligado ao Estado de Israel, a que compareceu o embaixador Osvaldo Aranha nesta cidade do Rio de Janeiro, foi a comemoração do 10º aniversário da independência, realizada no Teatro Recreio, quando foi ovacionado de pé pela enorme massa popular que lotava o teatro. 

Vinte e cinco anos são decorridos daquele sábado inesquecível de 29 de novembro de 1947, e ainda é difícil descrever a tensão e a emoção com que os judeus do mundo inteiro acompanharam pelo rádio o desenrolar dos trabalhos em Lake Success, mantendo-se em vigília de 28 para 29, numa ansiosa expectativa, para explodir numa alegria incontrolável diante da vitória. 

Ao comemorarmos hoje o 25º aniversário da decisão das Nações Unidas que aprovou a Partilha, podemos dizer tranquilamente que no dia 29 de novembro de 1947 Oswaldo Aranha teve a grande ventura de inscrever o seu nome entre os grandes homens que fazem história, enquanto era concomitantemente inscrito e eternizado, com o carinho, o respeito e a gratidão devidos, no coração de todo o povo judeu.

Rua em Tel Aviv com o nome de Oswaldo Aranha

 

* SAMUEL MALAMUD (1908-2000), advogado, nascido na Ucrânia em 1908, chegou ao Rio de Janeiro em dezembro de 1923. A partir dos anos 30, transformou-se em um dos mais influentes representantes da comunidade judaica no Brasil. Em 1948, Malamud foi o primeiro Cônsul de Israel no país. Fundou e presidiu, entre outras entidades, a Federação Israelita do Brasil e o Clube Hebraica.

 

II. NOTAS EXPLICATIVAS

 

¹ Eretz Israel significa "Terra de Israel" e é um termo que carrega significados profundos na tradição judaica, referindo-se à terra prometida por Deus ao povo de Israel. O conceito é muito mais do que um simples lugar geográfico; é um espaço repleto de significados, tradições e histórias que ressoam ao longo dos séculos. Para muitos, esta é a terra prometida, um símbolo de esperança e fé.
Hoje, Eretz Israel é um termo que carrega muitos significados. Para alguns, está associado ao sonho sionista de um estado judaico na terra ancestral, enquanto para outros, a terra é um símbolo de disputas políticas e sociais. A atualidade de Eretz Israel pode ser entendida através dos eventos que moldaram o Estado de Israel como o conhecemos, desde a declaração da independência em 1948 até os conflitos que surgiram em torno da questão palestina.
(Crédito: https://cidesp.com.br/artigo/eretz-israel/)

² Em Lake Success, local da sede da ONU na época, as Nações Unidas decidiram dividir a Palestina em um Estado judeu e um Estado árabe, conforme previsto na Resolução 181 da Assembleia Geral da ONU. Esta localidade marcou a votação das Nações Unidas para dividir o mandato britânico da Palestina em dois Estados, judeu e árabe. Os judeus chamaram isso de "O Milagre de Lake Success", enquanto os árabes o consideraram ilegal e uma traição aos habitantes árabes da Palestina.

 

III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BBC NEWS BRASILQuem foi Oswaldo Aranha, o brasileiro que ajudou a criar o Estado de Israel, matéria de 04/11/2023
Linkhttps://www.bbc.com/portuguese/articles/c0wxwr76er1o
 
DRUMMOND, Pedro Silva: Oswaldo Aranha e a sua importância para a criação do Estado de Israel, artigo de 1º/10/2023

MALAMUD, Samuel: Homenagem a Oswaldo Aranha (Cerimônia promovida pela Federação Israelita do Rio de Janeiro, no dia 29 de novembro de 1972 no Salão Nobre do Museu de Arte Moderna, por ocasião da Partilha da Palestina), 1972, 24 p.

________________: DOCUMENTÁRIO: contribuição à memória da comunidade judaica brasileira. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., 1992, 365 p.

SCHAM, Paul: Annapolis Versus Lake Success, artigo de 13/12/2007

4 comentários:

Francisco José dos Santos Braga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Francisco José dos Santos Braga disse...

Prezad@,
O Blog de São João del-Rei tem o prazer de transcrever um discurso do escritor judeu-ucraniano SAMUEL MALAMUD (1908-2000) em novembro de 1972, em que presta uma homenagem à memória do brasileiro OSWALDO ARANHA (1884-1960), considerado grande homem que fez história, inscrito e eternizado no coração de todo o povo judeu, por ter presidido a sessão da Assembleia Geral da ONU que aprovou a Resolução 181 como Plano de Partilha da Palestina, que estabeleceu a criação do Estado de Israel. Por tal feito, o presidente brasileiro em exercício abre a Assembleia Geral desde 1955.
Por ser um dos fundadores do Centro Cultural Brasil-Israel e o primeiro Cônsul Honorário de Israel no Brasil, Malamud participou de reuniões com o notável brasileiro, sobre as quais revela alguns flashes sobre os atores e fatos inéditos que presenciou.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/10/um-ilustre-brasileiro-na-historia-do.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Francisco José dos Santos Braga disse...

Paulo Roberto de Almeida (escritor e gerente do Blog Diplomatizzando) disse...

Grato por esse material.
Eu organizei o material “internacionalista” de Oswaldo Aranha:

3180. “Apresentação-lançamento do livro Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro”, Brasília, 19 outubro 2017, 3 p. Correspondência aos colaboradores e auxiliares na montagem e confecção da obra documental com textos de OA e ensaios dos organizadores e autores. Texto enviado aos irmãos Corrêa do Lago e demais participantes no empreendimento, com os arquivos eletrônicos do livro. Obra disponível na Biblioteca Digital da Funag: Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (organizadores); Brasília: Funag, 2017, volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913; volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link:http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914. Relação de Publicados n. 1271.

Francisco José dos Santos Braga disse...

Heitor Garcia de Carvalho (pós-doutorado em Políticas de Ensino Superior na Faculdade de Psciologia e Ciências da Informação na Universidade do Porto, Portugal (2008)) disse...
Muiro obrigado!


quarta-feira, 23 de julho de 2025

A TEORIA DA MINEIRIDADE - BENÍCIO MEDEIROS (Blog de São João Del-Rei, de Francisco Braga)

 A Mineiridade e outras manias...

Não sou muito afeto a essas manias de peculiaridades regionais: "Ah, o carioca é assim, sempre chiando; o paulista insiste no "né"; o gaúcho tem aquelas manias farroupilhas; o baiano é isso mais aquilo; o pernambuco sabe se lá o quê. Acho tudo isso muito subjetivo. Mas não deixo de apreciar a boa literatura, como esta que fala de Otto Lara Resende e a Mineiridade.
Mineiridade, o que seria isso? Vamos ver... PRA

A TEORIA DA MINEIRIDADE
Por BENÍCIO MEDEIROS *
Blog de São João Del-Rei, de Francisco Braga
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/07/a-teoria-da-mineiridade.html
domingo, 20 de julho de 2025

A TEORIA DA MINEIRIDADE
Por BENÍCIO MEDEIROS *
Blogdomingo, 20 de julho de 2025

"O mineiro é velhíssimo, é um ser reflexivo, com segundos propósitos e enrolada natureza."
João Guimarães Rosa

Otto Lara Resende (✰ São João del-Rei, 1º/05/1922 ✞ Rio de Janeiro, 28/12/1992) ocupou a cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras.

Minas assumiu o poder com a Revolução de 30. Não o poder político. O poder cultural. Embora o movimento tenha sido liderado pelos gaúchos, com Getúlio Vargas à frente, coube a um mineiro, Gustavo Capanema, dirigir a política educacional e cultural do governo Vargas, na qualidade de ministro da Educação e Saúde Pública.


Muito já se falou da luminosa passagem de Capanema pelo MES. Decerto favorecido pela ditadura estadonovista, que tornou de fato efetiva a carta-branca a ele conferida por Getúlio, Capanema, durante a sua gestão, promoveu a sua revolução particular, espanando, com extraordinário vigor, o empoeirado universo cultural da época.

Com o poder que lhe foi delegado, ele introduziu nos sistemas oficiais conceitos e pontos-de-vista ao gosto dos modernistas de 22 que não haviam no entanto, àquela altura, merecido o crédito da sociedade e, menos ainda, das chamadas autoridades constituídas. O Brasil, culturalmente falando, era ainda um país tacanho, dos saraus pseudoliterários e das conferências meloparnasianas, comandado, esteticamente, pelos cânones mais retrógrados das beaux arts.

Mineiro, Capanema cercou-se de mineiros. Pôs como seu chefe de gabinete Carlos Drummond de Andrade (como o ministro, de uma geração anterior à de Otto ¹), o que por si só equivalia a uma tomada de posição. O poeta, tido como comunista, não era benquisto pela nata da sociedade conservadora, incluindo-se aí os velhos mandarins dos círculos literários oficiais e os representantes da direita católica.

Eram conhecidas, por exemplo, as diferenças entre o poeta de Claro Enigma e o crítico Alceu Amoroso Lima ². Em março de 1936, Drummond recusou-se a assistir a uma conferência de Alceu, "A educação e o comunismo", no MES. Por causa disso, o poeta-funcionário-público se viu obrigado a por o cargo à disposição do ministro, que, no entanto, desconsiderou sua atitude.

O episódio pode parecer estranho à luz da atualidade. Mas fazia parte da guerra ideológica que se travava no período. Cruzado e patrulheiro da causa do catolicismo, embora com os anos tenha arrefecido sua posição no que esta tinha de mais intolerante, Alceu Amoroso Lima foi, na mesma época, o responsável pela demissão do cronista Rubem Braga do Diário da Noite, de Assis Chateaubriand. Irreverente e anticlerical, Braga escreveu, num momento infeliz, que a Igreja espanhola "não passava de uma pinóia". Só por causa disso Alceu, indignado, pediu a cabeça do jornalista. Chateaubriand a concedeu.

Outro mineiro ilustre no MES foi o jovem advogado, escritor e jornalista Rodrigo Melo Franco de Andrade. Para não fugir à regra da tradição da sua terra, tinha publicado um livro de contos tristes, Velórios, do qual aliás não gostava. Rodrigo foi o criador, em 1937, do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN), voltado, pioneiramente, para a preservação do patrimônio cultural brasileiro.

A perspectiva do MES era a de reconhecer e identificar os valores notáveis do nosso passado, através do SPHAN, e, ao mesmo tempo, projetá-los ao futuro, a partir do reconhecimento de certas propostas da vanguarda que ainda causavam ojeriza tanto ao senso comum como às elites renitentes. Algumas das cabeças mais brilhantes da época se associaram a essa tarefa de redescobrir, com novos olhos, o passado cultural brasileiro.

Mário de Andrade, por exemplo, foi um colaborador incansável de Rodrigo desde os primeiros tempos, tendo redigido o anteprojeto de criação do SPHAN e, mais tarde, como um caçador de relíquias, saído pessoalmente à cata de dados pelo país, particularmente o interior de São Paulo, que enriqueceriam o repertório conceitual da instituição e engrossariam as suas primeiras listas de bens tombados.

Mário de Andrade se tornaria uma espécie de mentor e orientador intelectual do grupo de mineiros de que Otto Lara Resende fazia parte. De espírito aberto e extrovertido, entusiasta dos esforços literários da juventude, o autor de Macunaíma, a partir da sua obra e de suas passagens por Belo Horizonte, influenciaria de forma decisiva a carreira de Otto e de seus amigos, que, durante anos, mantiveram correspondência com o escritor, já então consagrado.

O MES, ou melhor, Gustavo Capanema, acolheu e prestigiou artistas que encontrariam, naquela época, pouco espaço de atuação fora do abrigo da estruturas oficiais. Encomendou painéis ao incompreendido Portinari. Esculturas aos malditos Celso Antônio, Bruno Giorgi e Lipchitz, cujo talhe moderno incomodava a muitos. E até um edifício inteiro, a superenvidraçada sede do MES, a um grupo de arquitetos liderados por Lúcio Costa, achando-se entre estes um jovem especialmente talentoso, porém ainda desconhecido: Oscar Niemeyer.

Tanto Lúcio Costa como Niemeyer — conduzidos logo depois, pelas mãos de Juscelino Kubitschek, a Belo Horizonte — teriam papel destacado no sentido de arejar um pouco a então fechada, e mesmo opressiva, sociedade mineira. Por volta de 1940, no entanto, os jovens mais esclarecidos de Belo Horizonte, entre os quais Otto Lara Resende, só tinham olhos para a guerra na Europa. E, apesar dos feitos vanguardistas do conterrâneo Capanema na Capital Federal, todos detestavam Getúlio.

Mais de uma vez, Otto Lara Resende valendo-se, em geral, de opiniões alheias pautadas no determinismo geográfico, descreveu o mineiro como um ser à parte no contexto das psicologias regionais. Se o brasileiro do litoral, por exemplo, tendia à comunicabilidade e à extroversão, o homem da montanha era, em geral, um ser reservado, desconfiado e muito cioso do seu universo individual.

Num artigo sobre Carlos Drummond de Andrade "O mel oculto, o áspero minério", na tentativa de explicar a personalidade do poeta, Otto se refere a um texto de Guimarães Rosa sobre o "enigma mineiro" (expressão de Otto). Nele, ao seu estilo, o autor de Tutameia arrola algumas características que lhe pareciam fundamentais do montanhês:

“Seu gosto do dinheiro em abstrato. Sua desconfiança e cautela. Sua honesta astúcia meandrosa, de regato serrano, de mestres na resistência passiva. Seu vezo inibido, de homens aprisionados nas manhãs nebulosas e noites nevoentas de cidades tristes, entre a religião e a regra coletiva, austeras, homens de alma encapotada, posto que urbanos e polidos.”
A opinião de Drummond não é muito diferente:
“O Estado mais tipicamente conservador da União abriga o espírito mais livre. Sua aparente docilidade esconde reservas de insubmissão, às vezes convertida em ironia, e de algum modo chocada na pachorra de esperar, que tanto ilude o observador apressado, incapaz de perceber a chama latente do borralho. As revoluções liberais em Minas ilustram isso.”
A teoria da mineiridade explicaria em parte, assim, a Inconfidência e outros episódios históricos. A ironia e a dicotomia de espírito a que se refere Drummond estariam também na base do extenso anedotário envolvendo alguns políticos mineiros ilustres, de Benedito Valadares a José Maria Alkmin e Tancredo Neves. Valadares foi o interventor escolhido por Getúlio para governar Minas no Estado Novo. A notícia da sua nomeação causou surpresa à própria mãe, que não confiaria muito nos dotes intelectuais do filho. "Mas será o Benedito?" ³ — teria ela exclamado, introduzindo assim no repertório popular uma nova interjeição.
Outra anedota envolvendo Benedito Valares versa sobre um discurso que o político teria feito numa cidade do interior de Minas, conhecida pelo cultivo de uma fibra vegetal chamada pita. Começava assim: "Nesta região, onde a pita abunda..." Percebendo o cacófato, ele voltou atrás, tentou corrigir, mas a emenda saiu pior que o soneto: "Nesta região, onde abunda a pita..."

A julgar até pela sua frase mais famosa, Otto Lara Resende, apesar da fidelidade às suas raízes, não cultivava bairrismo em relação a Minas. Disse ele:

“O fato de Minas produzir muito escritor e muito banqueiro tem certamente a mesma explicação pela ecologia e pela sociologia. Mineiro é o povo que se deixa cortar o pescoço para não pagar imposto, porque não acredita no Estado. A própria formação de Minas, com aquelas levas de aventureiros de diferentes etnias que procuravam vender pastéis e miçangas aos arruinados do ouro, determinou uma economia de reflexos fechados, à base do pé-de-meia individual.”
A mudança de eixo no poder, com a consequente abolição da "política do café-com-leite", pela Revolução de 30, gerou certamente, entre os mineiros, ressentimentos e preconceitos em relação ao governo central. Essa sensação de esvaziamento explicaria, em certa medida, o horror que Getúlio Vargas despertava em Minas, ao qual Otto e o seu grupo não eram indiferentes. Anos depois, já entendendo melhor os complicados meandros da política nacional, o escritor mudaria de ideia.
Como jovem repórter, já no Rio, cobrindo a instalação da Constituinte de 1946 para O Globo, Otto Lara Resende teve a oportunidade de conhecer de perto Getúlio Vargas, então um ex-presidente retornando ao poder, dessa vez ao poder legislativo, na qualidade de senador dos mais votados. Essa entrevista renderia a Otto, mais tarde, algumas de suas melhores páginas.

Ele encontrou-se com Getúlio no apartamento deste, no Morro da Viúva. Em vez do repulsivo tirano da sua adolescência, deparou-se com um homem algo bonachão, às vezes mesmo meio tímido, disposto a ouvi-lo paternal e pacientemente, sempre com um atencioso sorriso nos lábios. Deu até espaço para que Otto, um mero foca ³, explicitasse todas as suas furibundas críticas acumuladas contra o Estado Novo. Depois disse: "Tu és ainda muito jovem e não sabes que um ditador não pode fazer tudo. Um dia saberás."

Curioso, anotou o repórter, é que o ex-presidente chamava-se a si próprio de "ditador", mesmo termo usado pela imprensa de oposição para ofendê-lo. Anos depois, anotaria o escritor maduro:

“A despeito de seu estilo caudilhesco, de sua formação pouco inclinada ao prestígio das instituições democráticas, é possível que a História venha um dia a reconhecer, sem paixão, que Getúlio Vargas foi um momento importante em nossa trajetória republicana.”
Nos tempos da juventude de Otto, no entanto, eram poucos os mineiros que pensavam assim.


* Jornalista e escritor, nasceu em Niterói-RJ em 1947 e faleceu no Rio de Janeiro em 11/10/2019. Estreou na imprensa em 1970 como repórter do jornal Última Hora. Trabalhou como editorialista no Jornal do Brasil, no Estado de S. Paulo; foi repórter e crítico literário da revista Veja, redator da revista Isto É, editor do Jornal da Globo e redator-chefe da revista Manchete. Também foi diretor de jornalismo da Academia Brasileira de Imprensa (ABI), editor da Revista do Livro da Biblioteca Nacional, tendo participado do conselho editorial da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. É autor de “A poeira da Glória” (Relume Dumará, 1998), “Brilho e sombra” (Bem-Te-Vi, 2006), sobre a vida e obra de Otto Lara Resende, e “A rotativa parou” (Record, 2010), que relata a história do jornalista Samuel Wainer à frente do jornal Última Hora.


II. NOTA EXPLICATIVA do gerente do Blog


¹ Efetivamente, é da vida e obra de Otto Lara Resende que trata o livro "A Poeira da Glória" de Benício Medeiros, de cujo terceiro capítulo intitulado "A teoria da mineiridade", esse texto foi extraído.

² O célebre pensador e crítico literário brasileiro, Alceu Amoroso Lima, adotou o pseudônimo de Tristão de Athayde, ao se tornar crítico em O Jornal (1919).

³ Na gíria brasileira, "foca" significa jornalista novato, sem experiência.

⁴ Marcelo Duarte, in Guia dos Curiosos, dá a seguinte versão para o dito popular: "A expressão "Será o Benedito?" nasceu em 1933, quando o presidente Getúlio Vargas demorou muito para escolher o interventor de Minas Gerais. Todos temiam que ele escolhesse o pior candidato, Benedito Valadares. Por isso, a população se perguntava: "Será o Benedito?" E o Benedito foi o escolhido."


III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


MEDEIROS, Benício: OTTO LARA RESENDE: a poeira da Glória, integrante da série “Perfis do Rio”. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará: Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, 1998, 141 p.

__________________: À SOMBRA DO CARAÇA, 2º capítulo do livro A POEIRA DA GLÓRIA, postado no Blog de São João del-Rei em 08/01/2025
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/01/a-sombra-do-caraca.html
Postado por Francisco José dos Santos Braga às 17:01

terça-feira, 15 de abril de 2025

Stefan Zweig, pacifista, escreveu sobre Jean Jaurès, o socialista humanitário - via Francisco Braga (Gerente do Blog de São João del-Rei)

 Mensagem recebida de Francisco Braga, Gerente do Blog de São João del-Rei: 

Enquanto viveu JEAN JAURÈS, o socialista, o seu argumento a favor da paz prevaleceu sobre o antigermanismo francês e a pressão interna por uma declaração de guerra contra a Alemanha. Com o seu assassinato, a Alemanha formalizou as hostilidades contra a França. O antigermanismo francês foi uma das consequências da Guerra Franco-Prussiana (1870-71), em que, derrotada, a França foi obrigada a entregar aos vencedores as regiões de Alsácia e Lorena, região rica em minério de ferro, marco inicial da unificação alemã, sob o comando de Bismarck.
Neste seu ensaio, STEFAN ZWEIG dá uma interpretação muito pessoal para a causa que teria levado a Alemanha a declarar guerra à França, dando início à Primeira Guerra Mundial em 1914, embora soubesse das muitas outras questões geográficas e políticas envolvidas.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/04/jean-jaures-o-socialista.html


JEAN JAURÈS, o socialista


Por STEFAN ZWEIG (1881-1942)
A responsável pelo encontro não foi a vontade, mas a casualidade — designada miticamente como Destino. Viviam em mundos separados, seus países se encontrravam em rota de colisão, nada sugeria pontes, aproximação. Zweig viu-o uma vez na rua, num fim de tarde em Paris, e de outra vez, também na capital francesa, esteve ao seu lado algumas horas numa reunião em casa de amigos comuns (provavelmente o círculo do gravador Leon Bazalgette).
O convívio com o belga Émile Verhaeren convertera o esteta vienense Stefan Zweig num caçador de utopias e aquele tribuno que empolgava as multidões na França encarnava uma delas: o socialismo democrático e humanitário. Antes mesmo de fundar o jornal L'Humanité, Jean Jaurès (1859-1914) destacara-se como dreyfusard, militante do movimento pela reabilitação do capitão judeu Alfred Dreyfus.
Os marxistas ortodoxos entendiam que defender um militar burguês não era prioritário; Jaurès retrucava que Dreyfus fora vítima de uma tremenda injustiça e o papel dos socialistas era lutar contra todas as injustiças.
Quando a guerra parecia inevitável, conclamou os partidos socialistas europeus a colocarem-se a favor da paz porque operários, camponeses e mineiros são os principais fornecedores de carne para os canhões. “Construir escolas significa derrubar os muros das prisões”, proclamava nos comícios.
Contra Jaurès levantaram-se os conservadores, xenófobos, militaristas, monarquistas e clericais. Na noite de 31 de julho de 1914, depois de fechar a edição de L'Humanité, Jaurès foi ao bistrô Le Croissant, em Montmartre, e enquanto deleitava-se com uma torta de morangos foi assassinado com dois tiros por um nacionalista que considerava a guerra como a única solução para recuperar a querida Alsácia.
Na véspera do enterro de Jaurès, a Alemanha formalizou as hostilidades contra a França. Começara efetivamente a Grande Guerra (1914-18). Dois anos depois, 6 de agosto de 1916, integralmente comprometido com a causa pacífica, Zweig escreveu este perfil do “inimigo” Jean Jaurès no jornal Neue Freie Presse.                                                                                             Alberto Dines

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Corrigindo: sua primeira passagem pelo Brasil foi em 1936

Faz oito ou nove anos que, na rua St. Lazare, eu o vi pela primeira vez. Eram sete da noite, hora em que a estação negra como aço, com seu relógio brilhante, de um momento para o outro atrai a massa como se fosse um ímã. De uma só vez, as casas, os ateliês, as lojas vertem todos os seus ocupantes na rua, e todos, como um negro rio caudaloso, acorrem aos trens que os levarão para longe da cidade enfumaçada, para o campo. Acompanhado de um amigo, eu avançava devagar através da multidão abafada e pesada quando ele subitamente tocou o meu braço: “Olha, Jaurès!” Levantei os olhos, tarde demais para ver a silhueta do homem que passava. Vi apenas as costas largas como as de um carregador, os ombros enormes, a nuca de touro, curta e robusta, e minha primeira impressão foi a de um vigor camponês inabalável. A pasta sob o braço, o pequeno chapéu redondo na cabeça poderosa, as costas um pouco encurvadas, como o camponês empurrando o seu arado e com a mesma determinação, assim ele ia abrindo seu caminho lenta e inabalavelmente por entre a massa impaciente. Ninguém reconheceu o grande tribuno, jovens rapazes passavam por ele correndo, pessoas apressadas o ultrapassavam, atropelando-o, e seu passo continuava inabalavelmente firme em seu ritmo pesado. A resistência da massa negra que fluía se quebrava como num rochedo nesse homem baixo e forte que andava sozinho arando um campo próprio: a multidão escura e anônima de Paris, o povo que ia ou voltava do trabalho. 
 
Nada mais restou em mim desse encontro fugidio além da sensação de um vigor inflexível, telúrico, determinado. Pouco depois eu o veria mais de perto e compreenderia que essa força era apenas um fragmento de sua complexa personalidade. Amigos haviam me convidado para jantar, éramos quatro ou cinco no espaço apertado, quando ele entrou de repente, e a partir desse instante tudo passou a pertencer a ele  a sala, preenchida por sua voz sonora, e nossa atenção à sua palavra e ao olhar, pois sua cordialidade era tão forte, sua presença tão evidente, tão calorosa em sua vitalidade interior, que cada um se sentia inconscientemente estimulado e elevado. 
Ele acabara de chegar do campo, o rosto largo e aberto com os olhos fundos e pequenos, porém faiscantes, tinha as cores frescas do sol, e seu aperto de mão era o de um homem livre, não polido, mas cordial. Naquele momento, Jaurès pareceu-me especialmente satisfeito, tinha reabastecido o seu sangue com um novo vigor e um frescor vital ao trabalhar com enxada e pá no pequeno jardim, e agora distribuía esse vigor com toda a generosidade de seu ser. Para cada um tinha uma pergunta, uma palavra, uma cordialidade, antes de falar de si próprio, e era maravilhoso perceber como ele inconscientemente começava criando calor e vivacidade à sua volta para poder depois deixar fluir sua própria animação de modo livre e criativo. 
Lembro com nitidez como ele de repente se virou para mim, pois naquele segundo olhei pela primeira vez para dentro de seus olhos. Eram pequenos, mas, apesar de sua bondade, vívidos e penetrantes, agrediam sem machucar, penetravam sem importunar. Perguntou-me por alguns de seus amigos de partido vienenses, fui obrigado a responder, lamentando, que não os conhecia pessoalmente. Em seguida, perguntou-me pela baronesa Suttner, por quem parecia nutrir grande estima, querendo saber se ela tinha uma influência real e palpável em nossa vida literária e política. Eu lhe respondi  e hoje estou mais convicto que nunca de não lhe ter transmitido apenas a minha sensação pessoal, e sim uma verdade  que entre nós poucos compreendiam efetivamente o maravilhoso idealismo dessa senhora nobre e rara. Disse-lhe que a estimavam mas com um leve sorriso de superioridade, que suas convicções eram respeitadas, sem que as pessoas se deixassem convencer no âmago, pois em última instância sua persistência em uma mesma ideia era tida como algo monótono. E não escondi o quanto lamentava o fato de que justo os melhores na nossa literatura e arte sempre a tratavam de um modo algo marginal e indiferente. 
Jaurès sorriu e disse: “Mas é assim mesmo que temos de ser, como ela, obstinados e persistentes no idealismo. As grandes verdades não entram de uma vez no cérebro da humanidade, é preciso martelá-las repetidamente, prego a prego, dia a dia! Trata-se de tarefa monótona e ingrata, mas como é importante!” 
Passamos a outros assuntos e a conversa seguiu animada enquanto ele estava conosco, pois não importava o que ele dissesse, sempre vinha de dentro, caloroso, de um peito aberto, de um coração que batia forte, de uma plenitude de vida amontoada e acumulada, uma maravilhosa mistura de cultura e energia. A grande testa arredondada conferia ao seu rosto seriedade e significado, os olhos livres e alegres davam um ar de bondade a essa seriedade, esse homem poderoso exalava um ar benfazejo de jovialidade quase pequeno-burguesa, fazendo intuir que, na ira ou na paixão, seria capaz de deitar fogo como um vulcão. Sempre achei que, sem fingir, ele guardava dentro de si seu verdadeiro poder, que não havia motivo suficiente para sua total erupção (ainda que ele se entregasse inteiro na conversa), que éramos poucos para estimular toda a sua plenitude e que o espaço era apertado demais para a sua voz. Pois quando ele ria, a sala toda estremecia. Era como uma jaula para esse leão. 
 
Agora eu já o vira de perto, conhecia seus livros  que, compactos e pesados, assemelhavam-se um pouco ao seu corpo –, lera muitos de seus artigos que me permitiram intuir o ímpeto de sua fala, e tudo isso apenas aumentava o meu desejo de vê-lo e escutá-lo um dia também no seu mundo, no seu elemento, enquanto agitador e tribuno. A ocasião não tardaria a acontecer. 
Eram dias pesados na política, as relações entre a França e a Alemanha estavam carregadas de eletricidade. Algum incidente tinha ocorrido, a superfície de fósforo da suscetibilidade francesa se inflamara novamente em algum incidente fugidio, não sei mais se foi o caso do navio Panther em Agadir, o zepelim na Lorena, o episódio de Nancy; o fato é que havia eletricidade no ar. Em Paris, nessa atmosfera de eterna efervescência, esses sinais meteorológicos eram percebidos então muito mais intensamente do que sob o céu azul político idealista da Alemanha. Os vendedores de jornal dividiam as multidões nas avenidas com seus gritos agudos, os jornais atiçavam com palavras ardentes e manchetes fanáticas, exacerbavam a agitação com ameaças e palavras de persuasão. Embora os manifestos fraternais dos socialistas alemães e franceses estivessem grudados nos muros, não ficavam ali mais de um dia, pois à noite os “camelots du roi” os arrancavam ou sujavam com palavras de escárnio. Nesses dias agitados vi anunciado que Jaurès faria um discurso: nos momentos de perigo ele estava sempre presente. 
O Trocadéro, maior salão de Paris, haveria de servir-lhe de tribuna. Esse prédio absurdo, esse “nonsense” em estilo oriental-europeu, resto da antiga Exposição Universal, que com seus dois minaretes saúda na outra margem do Sena o outro vestígio histórico, a torre Eiffel, oferece em seu interior um espaço vazio, sóbrio e frio. Em geral serve a eventos musicais e raramente à palavra falada, pois o ambiente vazio absorve quase todos os sons. Só um gigante de voz, um Mounet-Sully, conseguia projetar suas palavras da tribuna até o alto das galerias, como quem lança uma corda por sobre um precipício. Era ali que Jaurès falaria, e a sala gigantesca cedo começou a encher. Já não lembro se era um domingo, mas todos vieram vestindo trajes de dia de festa, eles que normalmente fazem seu trabalho em camisas azuis nas caldeiras e fábricas, os trabalhadores de Belleville, de Passy, de Montrouge e Clichy, para ouvir seu tribuno, seu líder. O enorme salão estava negro de gente que se acotovelava já muito antes da hora, sem aqueles sons impacientes como nos teatros da moda, sem aqueles gritos reivindicatórios, rítmicos, pedindo que as cortinas logo se abrissem. A massa apenas ondulava, poderosa e agitada, cheia de expectativa, mas também de disciplina  imagem que por si só já era inesquecível e profética. Então surgiu um orador, uma faixa atravessada no peito, para anunciar Jaurès; mal se conseguia ouvi-lo, mas imediatamente fez-se o silêncio, um imenso silêncio que respirava. E ele entrou. 
Com os passos pesados e firmes que eu já conhecia nele, Jaurès subiu à tribuna, subiu do silêncio absoluto para um trovão extático e tonitruante de boas-vindas. A sala inteira ficara de pé e as aclamações eram mais do que vozes humanas: eram a ansiosa gratidão acumulada, o amor e a espe- rança de um mundo que geralmente se encontra dividido e disseminado, individualizado em silêncio e gemidos. Jaurès precisou esperar minutos e mais minutos antes de conseguir fazer sua voz se distinguir dos milhares de gritos que o rodeavam. Teve de esperar e esperava sério, persistente, consciente do momento, sem o sorriso amigável, sem a falsa resistência que os comediantes nesses momentos costumam colocar em seus gestos. Só começou a falar quando a onda se apaziguou. 
Sua voz não era a mesma daquela vez, uma voz que misturava amigavelmente brincadeiras e palavras significantes. Era outra voz, forte, lacônica, entrecortada pela respiração, uma voz metálica como minério. Nada havia nela de melódico, nada daquela maleabilidade vocal que tanto seduz no caso de Briand, seu perigoso companheiro e rival; a voz não era polida e não agradava os sentidos. Só se percebia nela acuidade  acuidade e determinação. Às vezes, arrancava uma única palavra da fornalha fogosa de sua fala como se fosse uma espada e a enfiava de um só golpe na multidão que gritava, atingida no fundo do coração. Não havia modulação nesse pathos, talvez lhe faltasse o pescoço flexível para amenizar a melodia do órgão vocal, parecia que sua garganta ficava no peito  mas por isso mesmo percebia-se tão intensamente que a sua palavra vinha de dentro, forte e excitada, diretamente de um coração forte e excitado, muitas vezes ainda arfando de ira, vibrando como a batida do coração em seu peito largo e forte. E essa vibração passava da sua palavra para todo o seu ser, quase o fazia perder o equilíbrio, ele caminhava de um lado para o outro, erguia o punho cerrado contra um inimigo invisível e o deixava cair sobre a mesa, como se fosse destruí-la. Toda a máquina a vapor de seu ser trabalhava com cada vez mais força nesse sobe e desce de touro enfurecido, e involuntariamente esse poderoso ritmo de uma excitação obstinada contagiava a multidão. Os gritos respondiam a seu chamado com uma força crescente, e sempre que ele cerrava o punho muitos o acompanhavam. 
De repente, a sala fria, ampla e vazia estava repleta da excitação trazida por esse homem único, forte, que sua própria força fazia tremer, e sempre aquela voz aguda passava de novo por cima dos regimentos escuros de trabalhadores, qual um trompete, conclamando seus corações para o ataque. Eu mal conseguia escutar o que ele dizia, apenas percebia para além do sentido o poder dessa vontade e sentia que também me aquecia, por mais estranhos que fossem a mim, o estranho, tanto o ensejo quanto a hora. Mas eu percebia o homem de maneira tão forte como jamais percebera alguém, sentia-o, e sentia o imenso poder que dele exalava. Pois por trás desses poucos milhares que agora estavam enfeitiçados por ele, sujeitos à sua paixão, havia ainda milhares e milhares que sentiam o seu poder de longe, transmitido pela eletricidade da vontade contínua, da magia da palavra  as incontáveis legiões do proletariado francês e mais ainda seus companheiros além das fronteiras, os trabalhadores de Whitechapel, de Barcelona e Palermo, de Favoriten e St. Pauli, de todas as direções e cantos da Terra, que confiavam nesse seu tribuno e estavam dispostos a doar a sua vontade a ele a qualquer momento. 
 
Com seus ombros largos, robusto, o corpo compacto, Jaurès podia dar, àqueles que só ligam ao tipo do francês as noções de delicadeza, sensibilidade e maleabilidade, a impressão de não ser da estirpe de um verdadeiro gaulês. Mas só se pode compreendê-lo enquanto francês, em sua terra, só no contexto, só como representante, último de uma estirpe. A França é o país das tradições, raras vezes um grande fenômeno ou uma pessoa importante é inteiramente novo; todos são resultado de coisas já intuídas e vividas, cada acontecimento tem a sua analogia (e não é difícil identificar analogias entre o atual fanatismo, esse sangrar por uma única ideia, e 1793). Eis o grande divisor de águas em relação à Alemanha. A França está constantemente se reproduzindo, e nisso reside o segredo da manutenção de sua tradição, por isso Paris é uma unidade, sua literatura um círculo fechado, sua história interna uma repetição rítmica de maré alta e baixa, de revolução e reação. Já a Alemanha evolui e se modifica constantemente, e esse é o segredo do constante aumento de seu vigor. Na França, é possível explicar tudo com analogias, sem se tornar violento, na Alemanha nada, pois nenhum estado psíquico ali se assemelha ao outro, entre 1807, 1813, 1848, 1870 e 1914 há enormes transformações que modificaram a essência de sua arte, sua arquitetura, suas camadas. Mesmo suas personalidades são únicas e novas – não há precedentes na história alemã para Bismarck, Moltke, Nietzsche ou Wagner. E os homens desta guerra, por sua vez, são o começo de um novo tipo organizatório, e não repetições de um passado. 
Na França, o homem importante raramente é único, e esse também é o caso de Jaurès. E por isso mesmo ele é genuinamente francês, cria de uma estirpe intelectual que remete à revolução e que tem um repre- sentante em todas as artes. Sempre houve lá em meio à maioria delicada, frágil e de bom gosto esse tipo vigoroso com nuca de touro, ombros largos, sangue pesado, esses maciços netos de camponeses. Eles também têm nervos, mas seus nervos parecem ser envoltos por músculos; também são sensíveis, mas sua vitalidade é mais forte que a sensibilidade. Mirabeau e Danton são os primeiros intempestivos desse tipo, Balzac e Flaubert são seus filhos, Jaurès e Rodin, os netos. Em todos eles, surpreende a estatura larga, a robusteza do ser e da vontade. Quando Danton sobe à guilhotina, a armação de madeira estremece; quando querem baixar o gigantesco ataúde de Flaubert ao túmulo, este se revela pequeno demais; a poltrona de Balzac foi feita para o dobro do peso, e quem atravessa o ateliê de Rodin não consegue conceber que essa floresta de pedras foi criada por duas mãos terrenas. Trabalhadores titânicos, é o que todos eles são; honestos e sinceros, unidos no destino de serem empurrados para o lado pelos maleáveis, os astuciosos, os de bom gosto. O gigantesco trabalho da vida de Jaurès também foi frustrado: Poincaré foi mais forte do que ele, o mais forte, graças à sua maleabilidade. 
Mas esse francês de velha cepa, como era Jaurès, indubitavelmente, era impregnado pela filosofia, a ciência, o espírito da Alemanha. Nada autoriza as futuras gerações a afirmar que ele amava a Alemanha, mas uma coisa é certa: ele conhecia a Alemanha, e isso já é muito na França. Conhecia pessoas alemãs, cidades alemãs, livros alemães, conhecia o povo alemão e, um dos poucos no estrangeiro, o seu vigor. Por isso, pouco a pouco, a ideia de evitar a guerra entre essas duas potências tornara-se a ideia mestra de sua vida, seu temor, e tudo o que fez nos últimos anos foi apenas pensando em evitar esse momento. Não se preocupou com humilhações, deixou que o chamassem de “deputado de Berlim”, emissário do imperador Guilherme, permitiu que os chamados patriotas o ironizassem e atacou impiedosamente os que atiçavam e incitavam à guerra. Desconhecia a ambição do advogado socialista Millerand de exibir honrarias no peito; desconhecia a ambição de seu antigo camarada Briand, que passou de agitador a ditador; nunca quis enfiar seu peito largo em um fraque  sua ambição continuava sendo a de proteger o proletariado, que confiava nele, e todo o mundo da catástrofe, cujas minas e cujos túneis ele já escutava sendo escavados sob seus próprios pés em seu próprio país. Enquanto ele se lançava, com todo o dinamismo de Mirabeau, com o ardor de Danton, contra os que incitavam e inflamavam, ao mesmo tempo precisava barrar o zelo exacerbado dos antimilitaristas em seu próprio partido, sobretudo Hervé, que então conclamava aos brados para a revolta como hoje grita diariamente pela “vitória definitiva”. Jaurès pairava acima deles, não queria nenhuma revolução, porque ela também precisava ser conquistada com sangue, e ele tinha horror ao sangue. Discípulo de Hegel, acreditava na razão, na evolução sensata através da constância e do trabalho, o sangue lhe era sagrado e a paz entre os povos, a sua profissão de fé. Trabalhador vigoroso e incansável que era, assumira o mais pesado compromisso, o de continuar sendo sensato em um país passional, e mal a paz foi ameaçada, ele continuava ereto como um posto pronto para tocar o alarme no perigo. O grito que deveria conclamar o povo da França já estava em sua garganta quando eles o derrubaram, eles que já o conheciam em sua força inabalável, e cujas intenções e aventuras ele conhecia. Enquanto ele permanecesse vigilante, a fronteira estava segura. Eles sabiam disso. E só por sobre o seu cadáver a guerra foi detonada, e os sete exércitos alemães invadiram a França.
 
Fonte:  ZWEIG, Stefan: O mundo insone e outros ensaios, tradução de Kristina Michahelles; organização e textos adicionais de Alberto Dines, Rio de Janeiro: Zahar, 2013, pp. 175-184.

2 comentários:

Francisco José dos Santos Braga disse...

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse..
Prezad@,
Enquanto viveu JEAN JAURÈS, o socialista, o seu argumento a favor da paz prevaleceu sobre o antigermanismo francês e a pressão interna por uma declaração de guerra contra a Alemanha. Com o seu assassinato, a Alemanha formalizou as hostilidades contra a França. O antigermanismo francês foi uma das consequências da Guerra Franco-Prussiana (1870-71), em que, derrotada, a França foi obrigada a entregar aos vencedores as regiões de Alsácia e Lorena, região rica em minério de ferro, marco inicial da unificação alemã, sob o comando de Bismarck.
Neste seu ensaio, STEFAN ZWEIG dá uma interpretação muito pessoal para a causa que teria levado a Alemanha a declarar guerra à França, dando início à Primeira Guerra Mundial em 1914, embora soubesse das muitas outras questões geográficas e políticas envolvidas.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/04/jean-jaures-o-socialista.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O mundo insone, Stefan Zweig - por Francisco Braga (Blog de São João del-Rei)

O MUNDO INSONE


STEFAN ZWEIG (1881-1942)
Quando em 28 de junho de 1914 soube do assassinato do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império austro-húngaro, e sua mulher, Stefan Zweig passava uma espécie de lua de mel rural com Friderike von Winternitz, sua primeira mulher, nos arredores de Viena. O otimismo europeísta não permitiu que interrompesse a rotina anual de visitar o mestre Verhaeren. Um mês depois, conseguia tomar um dos últimos trens que deixaram a Bélgica antes que os alemães a invadissem.
Nos primeiros dias do conflito vibrou com a vibração dos austríacos e alemães, mas logo começou a duvidar, dividido, inquieto — mergulhara na primeira crise existencial. Saiu dela amparado pela força de Friderike, pelas cartas de Romain Rolland e transformado num pacifista integral.
Para diminuir a ansiedade começou a escrever com mais frequência no folhetim do Neue Freie Press. Um mostruário de cinco artigos (praticamente um a cada ano de conflito) foi incluído no primeiro livro de ensaios, enfeixados com o título "Durante a Primeira Guerra Mundial" (estava certo de que logo haveria outra guerra).
Zweig apresenta o conjunto com breves linhas: “A publicação na íntegra [destes textos] comprova que mesmo em meio à guerra era possível tomar uma atitude independente contra a maior das catástrofes europeias, não obstante a rigorosa censura.”
O mundo insone”, o primeiro dos textos, foi publicado no dia 18 de agosto de 1914, três semanas depois de iniciado o conflito. O instigante título — um clássico zweiguiano — tem sido utilizado com frequência nas coletâneas de ensaios publicados no pós-guerra.                                                                                             Alberto Dines

                                                                                                                    

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Corrigindo: sua primeira passagem pelo Brasil foi em 1936

Há menos sono no mundo agora, as noites são mais longas e mais longos os dias.
 Em cada país da infinita Europa, em cada cidade, cada ruela, cada casa, cada aposento, a respiração tranquila do sono tornou-se curta e febril, e o tempo ardente abrasa as noites e confunde os sentidos, tal qual uma noite de verão abafada e sufocante. Quantas pessoas, aqui e ali, que normalmente deslizavam da noite para o dia no negro barco do sono, embandeirado de sonhos coloridos e palpitantes, escutam agora os relógios andando, andando e andando todo o terrível caminho entre o claro e o claro, sentindo por dentro as preocupações e os pensamentos a corroer-lhes o coração, até este ficar ferido e doente! Toda uma humanidade arde agora em febre, noite e dia, uma vigília terrível e poderosa cintila pelos sentidos agitados de milhões de pessoas, o destino penetra, invisível, por milhares de janelas e portas e espanta de cada leito o sono, espanta o esquecimento. Há menos sono no mundo agora, as noites são mais longas e mais longos os dias. 
 
Ninguém mais está a sós com o seu destino, todos espreitam ao longe. À noite, hora em que se está sozinho e acordado na casa protegida e trancada, os pensamentos voam até os amigos e os que estão distantes. Quem sabe a essa mesma hora se cumpre alguma parte do nosso destino, uma invasão em uma aldeia da Galícia, um ataque em alto-mar, tudo o que acontece nesse mesmo segundo a milhares e milhares de milhas de distância está relacionado com nossas vidas. E a alma sabe disso, ela se expande e, em seu pressentimento, em seu anseio, quer captar algo disso, o ar queima de desejos e rezas que agora vão e voltam voando de um lado do mundo para o outro. Milhares de pensamentos se movimentam, inquietos, das cidades silentes até as fogueiras de campanha, do solitário sentinela de volta à pátria; entre os que estão próximos e os distantes flutuam fios invisíveis de amor e de preocupação, um tecido do sentimento, infinito, encobre agora o mundo, de noite e de dia. Quantas palavras são sussurradas, quantas orações ditas ao espaço impassível, quanto amor saudoso flutua através de cada hora da noite! A atmosfera estremece continuamente em ondas misteriosas cujos nomes a ciência desconhece e cujas oscilações nenhum sismógrafo é capaz de registrar: mas quem poderia dizer se esses desejos são impotentes, se esse incomensurável querer, que irrompe ardente a partir das camadas mais profundas da alma, também não percorre distâncias como a vibração dos sons e o estremecimento elétrico? Onde antes havia sono, repouso imaterial, agora há o afã imaginativo: a alma não cessa de ver, através da escuridão, os ausentes que lhe são caros, e na imaginação cada um deles vive múltiplos destinos. Milhares de pensamentos escavam o sono, cuja construção oscilante desmorona sempre, e por cima do homem solitário ergue-se vazia a escuridão povoada de imagens. Mais vigilantes à noite, as pessoas também se tornam mais vigilantes de dia: nas pessoas mais simples que encontramos está vivo nessas horas algo do poder do orador, do poeta, do profeta, é como se o que há de mais misterioso nos homens tivesse sido vertido para fora pela incomensurável pressão dos fatos, cada pessoa potencializada em sua vitalidade. Assim como lá no campo, nos simples camponeses, que a vida toda aravam sua lavoura quietos e pacíficos, nessa hora inquieta subitamente se inflama o heróico, assim se inflama em pessoas normalmente opacas e torpes a capacidade da visão; todos vivenciam dentro de si uma visão que transcende a esfera normal de sua existência, e quem antes só tinha olhos para o seu trabalho diário vê agora realidade e imagens animadas em cada notícia. As pessoas revolvem constantemente com preocupações e visões a gleba árida da noite, e quando enfim se rendem ao sono, têm sonhos estranhos. Porque o sangue circula mais quente em suas veias, e nesse calor florescem plantas tropicais de terror e preocupação, sonhos dos quais é uma bênção acordar e sentir que não passaram de pesadelos inúteis e que só aquele mais terrível sonho da humanidade é uma verdade aterradora: a guerra de todos contra todos. 
 
Os mais pacíficos sonham agora com batalhas, colunas se precipitam e atravessam o sono, o sangue ruge, escuro, com o tronar dos canhões. Acordando num sobressalto, ouvimos ainda o estrondo dos carros que passam, o bater dos cascos. Escutamos atentamente, inclinado-nos da janela  e, de fato, ali embaixo passam as longas fileiras de carros e cavalos pelas ruas desertas. Alguns soldados levam um bando de cavalos no cabresto; pacientes, eles trotam com seus passos pesados e sonoros pelo calçamento ruidoso. Também eles, os animais que normalmente descansam à noite do trabalho, quietos em seus estábulos quentes, foram privados do sono habitual, as parelhas pacíficas foram separadas, as fraternais também. Nas estações [de trem] escutam-se as vacas mugindo mansas nos vagões; retiradas de seus pastos cálidos e macios de verão para o desconhecido, até elas, as apáticas, tiveram o sono perturbado. E os trens partem para a natureza adormecida, que também se sobressalta com a agitação das pessoas. Tropas da cavalaria galopam à noite cruzando campos que desde a eternidade descansavam no escuro, por sobre a negra superfície do mar faíscam em milhares de pontos os faróis, mais claros que a luz da lua e mais ofuscantes que o sol, até mesmo lá no fundo a treva das águas está perturbada pelos submarinos à caça de presas. Disparos soam e ressoam através das montanhas caladas, acordando os pássaros, tontos, em seus ninhos; em nenhum lugar o sono é seguro, e mesmo o éter, desde sempre intocado, é atravessado pela pressa assassina dos aeroplanos, os fatídicos cometas do nosso tempo. Nada, nada mais pode ter sossego e descanso nesses dias: a humanidade arrastou animais e natureza em sua batalha assassina. Há menos sono no mundo agora, as noites são mais longas e mais longos os dias. 
 
Mas pensemos e repensemos, mais uma vez, a amplitude do tempo e que isso que acontece agora não tem precedente na história. Vale ficar insone, sempre vigilante. Nunca o mundo, desde que é mundo, esteve tão agitado em sua totalidade, nunca tão excitado em sua comunidade. Uma guerra, até agora, nunca passou de uma inflamação no imenso organismo da humanidade, um membro purulento e que era cauterizado para sarar enquanto todos os outros ficavam desimpedidos e livres em suas funções vitais. Sempre houve pessoas que não participavam, em algum lugar ainda havia aldeias às quais não chegavam notícias daquela agitação e que dividiam calmamente sua vida em dia e noite, em trabalho e repouso. Em algum lugar ainda havia o sono e o silêncio, gente que acordava cedo, risonha, e que dormia sem sonhar. Mas a humanidade, quanto mais conquistou a Terra, mais unida ficou: uma febre sacode agora todo o seu organismo, um terror sacode o cosmo inteiro. Não existe nenhuma oficina na Europa, nenhuma granja solitária, nenhum casario de bosque de onde não tenham arrancado um homem para participar dessa luta, e cada um desses homens, por sua vez, está unido a outros através de vínculos de sentimento. Até o mais humilde emana tanto calor que, quando desaparece, tudo se torna mais frio, mais solitário, mais vazio. Cada destino forma outros destinos a partir de si, pequenos círculos que se dilatam em ondas no mar das emoções e se ampliam; em enorme união e mútua determinação da experiência, ninguém se precipita no vazio ao morrer: cada um arrasta algo dos demais consigo. Cada um é acompanhado de olhares, e esse olhar e ansiar, multiplicado por milhões e entrelaçado com o destino de nações inteiras, cria a inquietação de um mundo inteiro. Toda a humanidade escuta, e através do milagre da técnica recebe simultaneamente a mesma resposta. Os navios transmitem mensagens uns aos outros através de incontáveis ondas, das torres de telégrafos de Nauen e Paris uma mensagem é transmitida em questão de minutos para as colônias da África Ocidental e para o lago Chade, os hindus da Índia leem as decisões em suas folhas de cânhamo e de tela à mesma hora que os chineses em seus papéis de seda  a excitação se propaga até as últimas terminações nervosas da humanidade e afugenta a letargia. Cada qual espia pela janela dos seus sentidos em busca de notícias, sugando tranquilidade das palavras dos corajosos e terror e dúvida das dos desesperados. Os profetas, verdadeiros e falsos, voltaram a ter ascendência sobre a massa que agora escuta e escuta, caminhando e repousando no delírio da febre, dia e noite, os longos dias e as noites infinitas desse tempo digno de ser vivido na vigília. 
 
Pois esses tempos não aceitam que alguém deixe de participar, e estar distante dos campos de batalha não significa estar de fora. Cada um de nós tem sua existência revolvida, ninguém mais tem o direito de dormir em paz em meio à tremenda exaltação. Nessa transformação das nações e dos povos, nós também nos transformamos, não importa que aprovemos ou não; cada um está enredado nos acontecimentos, ninguém permanece frio na febre de um mundo. Não há como ficar indiferente às realidades transformadas, hoje ninguém mais está a salvo em uma rocha, olhando com um sorriso para as ondas agitadas. Cada qual, querendo ou não, é arrastado pela maré, sem saber para onde está sendo levado. Ninguém pode se isolar, pois com nosso sangue e nosso intelecto giramos na correnteza de uma nação, e cada aceleração nos impulsiona, cada parada em seus pulsos barra o ritmo de nossa própria vida. Quando a febre ceder, tudo terá um novo valor para nós, e justo o igual será diferente. As cidades alemãs: com que sentimento as veremos depois dessa luta! E Paris: como terá se tornado diferente, estranha ao nosso sentimento! Sei desde agora que não poderei ficar na mesma casa hospitaleira em Liège com o mesmo sentimento, com os mesmos amigos, depois que as granadas alemãs caíram sobre a cidadela; entre tanto amigos, de um lado e outro da fronteira, estarão as sombras dos mortos, absorvendo com respiração fria o calor da palavra. Todos teremos que nos reorientar, do ontem para o amanhã, atravessando esse impenetrável hoje, cuja violência apenas percebemos agora, horrorizados, e teremos que chegar a uma nova forma de vida em meio a essa febre que agora torna nossos dias tão abrasadores e nossas noites tão sufocantes. Depois de nós surge uma nova geração cujos sentimentos foram forjados nesse fogo. Eles serão diferentes  eles, que viram vitórias naqueles anos em que nós só vimos retrocesso, lamento e lassidão. Da confusão desses dias surgirá uma nova ordem, e nossa primeira preocupação terá que ser nos sujeitar a ela com força e solidariedade. 
 
Uma nova ordem  pois essa febre insone, a inquietude, a esperança e a expectativa que consomem a tranquilidade dos nossos dias e das nossas noites não podem continuar. Por mais que toda a destruição agora pareça se estender de forma terrível sobre o mundo aniquilado, ela é diminuta em comparação com a energia muito mais impetuosa da vida, que depois de cada tensão sempre consegue um repouso para sair transformada, mais pujante e mais bela. Uma nova paz  oh!, quão distantes brilham ainda suas asas luminosas através da poeira e da fumaça de pólvora  haverá de reerguer a velha ordem da vida, o trabalho de dia e o repouso à noite. O silêncio voltará com o sono reparador aos mil lares que agora estão despertos na excitação e no medo, e estrelas tranquilas voltarão a olhar do alto para uma natureza que respira felicidade. O que agora ainda parece ser horror será então, em sublime transformação, grandeza. Sem lamento, quase com nostalgia, lembraremos essas noites intermináveis, durante as quais, em ampliação maravilhosa, percebíamos no sangue o destino em gestação e a cálida respiração do tempo sobre nossas pálpebras despertas. Só quem viveu a doença conhece a felicidade completa da cura, só o insone conhece a doçura do sono reconquistado. Os que regressaram e aqueles que ficaram em casa estarão mais contentes com sua vida do que os que se foram, saberão apreciar seu valor e sua beleza com mais seriedade e mais justiça, e quase ansiaríamos pela nova conformação se hoje  como nos dias antigos  o chão do templo da paz não estivesse regado com o sangue sacrificado, se esse novo e feliz sono do mundo não fosse comprado à custa da morte de milhões de seus filhos mais nobres.
 
Fonte:  ZWEIG, Stefan: O mundo insone e outros ensaios, tradução de Kristina Michahelles; organização e textos adicionais de Alberto Dines, Rio de Janeiro: Zahar, 2013, pp. 197-203.

4 comentários:

Francisco José dos Santos Braga disse...

Prezad@,Um mês e meio após o início da Primeira Guerra Mundial, STEFAN ZWEIG começou a publicação de uma série de 5 artigos, um a cada ano, no folhetim do Neue Freie Press. Na presente postagem, o Blog de São João del-Rei publica o primeiro desses ensaios - O MUNDO INSONE -, em que o autor descreveu um mundo - na altura, sobretudo, europeu - que é, na sua origem, uma guerra civil europeia. Na viragem do século, o mundo vivia sua segunda globalização (a primeira foram os Descobrimentos portugueses). Nessa segunda globalização, a Europa, nomeadamente a Alemanha de Weimar ou a Áustria de Viena, vivia um extraordinário boom cultural e científico. Tudo parecia tranquilo e seguro. Nada impediu a explosão da I Guerra Mundial em 28/06/1914.Como resultado da enorme carnificina, a Grande Guerra vitimou quase 20 milhões de pessoas na Europa. Logo após, Stefan Zweig tornou-se um pacifista convicto, um homem que evitava até mesmo as disputas desportivas. Cerca de um mês depois de assinado o tratado de paz em Versalhes em junho de 1919 que encerrou o conflito, Zweig escreveu ao mestre e confidente, Romain Rolland: "Há momentos em que me pergunto se valerá a pena viver os próximos vinte anos." Impacientava-se com os impasses políticos produzidos pelo novo mapa do Velho Mundo.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/02/o-mundo-insone.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Anônimo disse...

Obrigado, Braga. O texto é oportuno e atual. Ainda hoje, "há menos sono no mundo". Os dias e as noites, estão cada vez mais curtos e mais há um perigo iminente, de olhos acesos sobre os homens. A política ferve... O mundo é um caldeirão. Parabéns pela escolha. Forte abraço poético de Geraldo Reis, O Ser Sensível.

Francisco José dos Santos Braga disse...

Heitor Garcia de Carvalho (graduado em Pedagogia pela Faculdade Dom Bosco (1968), mestre em Educação UFMG (1982), Ph.D em Educational Technology - Concordia University (1987 Montreal, Canada); MBA Gestão Tecnologia da Informação, Fundação Getúlio Vargas (2004); pós-doutorado em Políticas de Ensino Superior na Faculdade de Psicologia e Ciências da Informação na Universidade do Porto, Portugal (2008); professor associado do CEFET-MG) disse...
Parece hoje!!!
Deus nos proteja!!!

Francisco José dos Santos Braga disse...

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...
Caro professor Braga

E não obstante a Europa ter passado em séculos uma geração sequer sem que tenha sido atingida pelo flagelo das guerras, seus espíritos mais empáticos e sensíveis podiam ainda ressaltar seu horror.
E esse autor que tanto acreditou no Brasil...
Saudações.
Cupertino