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quinta-feira, 11 de março de 2021

Resenha de Carlo Maria Cipolla: As Leis Fundamentais da Estupidez Humana (2006) - Paulo Roberto de Almeida

 Minha resenha preliminar de 2006, que antecedeu à resenha mais extensa de 2012: 

 

As Leis Fundamentais da Estupidez Humana

 

 Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 12 abril 2006


Com esse título, o famoso historiador econômico e medievista italiano Carlo Maria Cipolla compôs, em algum momento dos anos 1980, um pequeno ensaio, humorístico-irônico, que foi transformado em peça de teatro alguns anos depois. Em 1995, eu assisti a essa peça em Paris e, absolutamente fascinado pelo espírito irreverente do texto “ceboliano”, comprei imediatamente, no próprio teatro, o livro no qual ela tinha sido baseada, nesta edição: Allegro ma non troppo: Les lois fondamentales de la stupidité humaine (Paris: Balland 1992). O livrinho continha outros ensaios da mesma verve, como este outro: “Do papel dos condimentos (e da pimenta em particular) no desenvolvimento econômico da Idade Média”, menos brilhante que aquele sobre a estupidez, mas também divertido.

Pois bem, onze anos depois, encontrando-me agora absolutamente fascinado pela quantidade de erros, equívocos e outros “desvios” (palavra neutra, de cunho humorístico-irônico) de comportamento deste nosso “governo” – que só posso atribuir, por um lado, à sua fenomenal estupidez e, por outro lado, a uma igualmente fenomenal capacidade de mentir, de cometer perjúrio, enfim, de afundar na hipocrisia e na desfaçatez –, lembrei-me desse livrinho e fui buscá-lo em minhas estantes. Para minha frustração – e que isso me sirva de lição por não arrumar a biblioteca como deveria – não o encontrei, o que me deixou bastante ressabiado. Não seja por isso, saquei do computador – inatacável para esse gênero de recuperação – as poucas notas de leitura, que transcrevo abaixo, de trechos selecionados do ensaio de Cipolla, às quais acrescento agora comentários que acredito serem o mais à propos possíveis para estes tempos impagáveis que estamos vivendo.

Caberia, em primeiro lugar, definir o que é uma pessoa estúpida. Segundo Carlo Maria Cipolla, “os seres humanos incluem-se numa das quatro categorias fundamentais: os crédulos, os inteligentes, os bandidos e os estúpidos”. Não me lembro agora se Carlo Cipolla considera estas quatro categorias exclusivas e excludentes, mas eu tenho a nítida impressão de que alguns dos nossos atuais governantes são, ao mesmo tempo, estúpidos e bandidos, ao passo que alguns dos seus eleitores são, ao mesmo tempo (ou talvez de forma subseqüente), ingênuos, isto é, crédulos, e estúpidos. Isso acontece. Tem também aquela categoria de militante que é, se ouso dizer, um “crédulo profissional”, ou seja, um ser profundamente religioso, imbuído de uma verdade que transcende a razão.

Cipolla define a pessoa estúpida da seguinte maneira: “uma pessoa estúpida é alguém que causa um dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo”. Considerando a enorme capacidade que parecem ostentar certos dirigentes de causarem problemas para si mesmos, ao tentarem atacar seus adversários, eu considero que a definição se encaixa perfeitamente no figurino. Nunca, ninguém, em 500 anos de história do Brasil, abusou tanto da faculdade de se ridicularizar a si próprio como certos comediantes profissionais que pensam que estão num picadeiro quando na verdade ocupam altos cargos políticos. Se reconhecermos, então, a extrema habilidade que eles exibem de atirarem no próprio pé, ao pretenderem fazer alguma “armação” contra um adversário político, seria preciso considerar, nesse caso, a introdução de alguma categoria de prêmio do gênero: “Prêmio (ig)nobel de autoflagelação política”.

O historiador italiano nos alerta contra o perigo de confundir uma pessoa estúpida com uma pessoa crédula ou ingênua (isto é, pessoa que causa dano a si mesma, causando benefícios a outras) ou com um bandido (pessoa que cuida dos seus interesses e causa danos aos outros). Acho que o leitor deste espaço não corre esse risco, mas isso não elimina a possibilidade de que essas duas ou três categorias se encontrem ocasionalmente (ou de forma regular) confundidas numa única e mesma pessoa. Mas não é, longe disso, a “santíssima trindade”. No Brasil, corre-se esse risco, concretamente: existem bandidos que são estúpidos, assim como existem estúpidos que são ingênuos, embora, a julgar pela maior parte dos políticos que se encaixam no molde, seja mais difícil encontrar bandidos políticos que sejam ingênuos (mas alguns são, sobretudo de certo partido).

Ele também acha que é nitidamente impossível confundir a pessoa estúpida com a inteligente (aquela que busca benefícios para si mesma e para os demais), embora eu não tenho certeza de que esse princípio se aplique igualmente ao Brasil. Aqui, como reza um velho ditado, a esperteza pode ser “tanta que cresce e engole o dono”. Pois é isso que parece ter ocorrido nesses momentosos meses que precederam o escândalo do mensalão. Os “espertos” de certos meios políticos se julgavam expertos em patifarias, inteligentes em mil maneiras de burlar a lei e de enganar os incautos e ingênuos – que seríamos todos nós – mas eles parecem ter ido longe demais. Se achavam tão inteligentes como ninguém que foram estúpidos ao ponto de chegarem a fazer acordos de “cavalheiros” (com perdão da expressão) com gente ainda mais bandida do que eles. Deu no que deu: o bandidão se julgou lesado pelos “inteligentes” e botou a boca no trombone. Santa ingenuidade...

Das cinco leis fundamentais da estupidez humana de Carlos Maria Cipolla (só cinco?), transcrevo agora apenas duas, a primeira e a última: “Sempre, e inevitavelmente, cada um de nós subestima a quantidade de indivíduos estúpidos em circulação” – o que pode ser, digo eu, um perigo para a segurança do tráfego – e “os indivíduos estúpidos são as pessoas mais perigosas que possam existir” (eu não dizia?). Sim, elas são perigosas, para si mesmas e para todos os demais, sobretudo quando imbuídas de alguma missão salvadora e transcendental, do tipo querer tudo transformar, para dizer depois que “nunca antes, na história deste país, patati-patatá...”

Como diria um desses brokers ingleses (que não me levem a mal): “nunca antes na história deste país alguém deixou de ganhar dinheiro ao apostar na estupidez humana”. Ou seja, sempre haverá, em algum lugar incerto e não sabido, alguma pessoa estúpida o suficiente para lhe permitir ganhar tranquilamente a sua aposta. Pena que essa instituição do “brokerage” – tão comum nas terras britânicas, onde se aposta até sobre a sexualidade da família real – não seja mais disseminada neste nosso país tropical, pois poderíamos ter inúmeras oportunidades para novos ganhos (que poderiam inclusive ser taxados com uma nova contribuição ou taxa para a resolução de um enorme problema social). Ou seja, seria uma grande contribuição para o aumento do PIB (não confundir com o outro PIB, este aqui é o da Produção Interna de Bobagens...).

Com sua abordagem científico-humorística, Carlo Cipolla demonstra que a distribuição da estupidez se dá ao acaso e é independente da religião, do gênero, da cor da pele, da ideologia política, enfim, ela não tem nada de cultural. Se existisse um gene da estupidez, ele seria certamente distribuído completamente por acaso, e talvez de maneira uniforme na população, com algumas particularidades. Nossos políticos, por exemplo, não são, na média, mais estúpidos que os cidadãos comuns, mas em contrapartida, eles podem ser muitomais bandidos, e de fato o são. OK, não vamos generalizar, existem muitos políticos que não são bandidos, mas acho que para ser político é preciso ter, de toda forma, uma dose de hipocrisia acima do normal...

Finalmente, termino com esta duas considerações de Carlo Maria Cipolla sobre a manutenção do nível geral de estupidez, em condições normais de pressão atmosférica e de temperatura democrática: “Num sistema democrático, as eleições gerais são um instrumento de grande eficácia para assegurar a estabilidade de estúpidos entre os poderosos”. E, aos estúpidos, “as eleições oferecem-lhes uma magnífica ocasião para prejudicar todos os outros, sem obter qualquer ganho com as suas ações”. Acho que ele tem razão, mas poderemos fazer um teste prático de suas teorias, normalmente ambientadas num cenário italiano – que tampouco pode ser classificado como ao abrigo da estupidez –, em nossa própria terra, dentro de mais alguns meses.

Sim, antes que me esqueça, prometo procurar o livrinho nas minhas estantes para aqui transcrever, num próximo ensaio, a totalidade das cinco leis fundamentais de Carlo Maria Cipolla sobre a estupidez humana, quem sabe até introduzindo mais algumas de contrabando?


Publicado no site do Instituto Millenium (17/04/2006)

Publicado em Via Política (6.12.2009).

Relação de Publicados n. 941.

 

As leis fundamentais da estupidez humana, em edição brasileira - Carlo Maria Cipolla; resenha de Paulo Roberto de Almeida

 Descubro agora, comprando livros na Amazon, que uma de minhas leituras preferidas – já li em francês, em italiano e em inglês – está agora disponível ao público brasileiro: 


O que eu já escrevi sobre esse livro? Basicamente dois textos em dois momentos diferentes. O primeiro, de número 1576, foi feito em caráter anônimo, uma vez que eu ainda estava trabalhando para o governo, por isso publicado com outro nome em blogs de terceiros (dois), nos quais os links originais já não funcionam mais. Mas em 2019 eu o publiquei neste blog, onde ele ainda pode ser encontrado...

O segundo texto, uma verdadeira resenha, foi feito em 2012, a partir de uma confrontação de três edições, e também está disponível no link referido. Vou transcrever mais abaixo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11 de março de 2021


1576. “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana”, Brasília, 12 abril 2006, 4 p. Considerações sobre as leis do historiador econômico italiano Carlo Maria Cipolla, sobre a estupidez humana, aplicadas ao Brasil; publicadas no blog do Instituto Millenium em 17 de abril de 2006. [Registro original na lista de trabalhos sob outros nomes suprimido] Publicado no blog Diplomatizzando (26/01/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/01/as-leis-fundamentais-da-estupidez.html).


2397. “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana”, Paris, 20 maio 2012, 5 p. Digressões em torno do livro: Carlo M. Cipolla: Les Lois Fondamentales de la Stupidité Humaine (Traduit de l’Anglais par Laurent Bury; Paris: Presses Universitaires de France, 2012, 72 p.; ISBN: 978-2-13-060701-4; 7 euros). Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/05/as-lei-fundamentais-da-estupidez-humana.html).


As Leis Fundamentais da Estupidez Humana

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orgpralmeida@me.com)

 

Finalmente, consigo colocar as mãos, ou os olhos mais exatamente, numa tradução mais conforme da famosa obra do historiador econômico Carlo Maria Cipolla. O texto tinha sido publicado em inglês, em edição de autor, de forma limitada, portanto, em 1976, por uma improvável editora chamada Mad Millers (os “moleiros loucos”, o que só pode ter sido uma brincadeira do medievista italiano). Poucos exemplares circularam, e eu só tinha conseguido aceder a uma versão em francês, a partir da primeira edição italiana de 1988, da Il Mulino (o que parece sugerir um complô entre moleiros malucos).

A edição que eu possuía tinha alguns outros textos, e apareceu sob o título de “Allegro Ma Non Troppo” (aliás, transformado em peça de teatro, a que assisti em Paris no século passado (eh oui!). Aparentemente era uma tradução improvisada, tanto que a categoria dos “cretinos”, agora oficializada, aparecia nessa versão como sendo apenas “crédulo”, o que é, digamos, muito generoso, mas não traz a força do atual cretino (nem aliás, o conceito original em inglês de “helpless”). Em todo caso, o livro era este: Allegro ma non troppo: Les lois fondamentales de la stupidité humaine (Paris: Balland 1992); confesso que ainda não consegui reencontrar esse livro em minha biblioteca caótica, para confrontar as duas versões do texto principal, mas prometo fazê-lo, assim que retornar ao Brasil. 

Agora, a versão francesa que já vou citar foi feita a partir do original em inglês, The Basic Laws of Human Stupidity, mas o copyright pertence à Società editrice Il Mulino, de Bolonha (aha!, os moleiros malucos sempre aparecem), e o ano indicado é o de 1988. Estranho, ma, cosi è, si vi pare. O copyright da tradução francesa, agora oficial, é de maio de 2012, da grande editora universitária, este que tenho em mãos: 

 

Carlo M. Cipolla: 

Les Lois Fondamentales de la Stupidité Humaine

(Traduit de l’Anglais par Laurent Bury; Paris: Presses Universitaires de France, 2012, 72 p.; ISBN: 978-2-13-060701-4; 7 euros). 

 

Mas a edição do Kindle, que acabo de carregar da Amazon (me custou US$ 5,83 e foi recebido em menos de 10 segundos), traz como edição impressa em inglês, da Il Mulino, o ano de 2011 (vá lá entender moleiros malucos), o mesmo para a edição Kindle (cujo ISBN é este: 978-88-15-30700-2). Vou conferir as versões, para poder confrontar linguajar e conceitos, em francês e em inglês, embora os argumentos sejam bem mais importantes do que as palavras usadas.

Creio já ter resumido, em trabalhos anteriores, o essencial do pensamento de Cipolla sobre quão perigosa é nossa existência num planeta que tem uma quantidade fixa, talvez relevante, de pessoas perfeitamente estúpidas. Não vamos nos enganar, os estúpidos não são os incultos – como eu sempre alerto a propósito dos “meus” idiotas – já que pessoas que não tiveram oportunidade de estudar são simplesmente ignorantes, mas podem ser pessoas perfeitamente normais, afáveis e até sensatas (embora sempre propensas a cair no risco de resvalar na idiotice ou na estupidez). Carlo Maria Cipolla é absolutamente categórico: estúpidos podem ser encontrados nos meios universitários, e até mesmo entre os prêmios Nobel (do que não duvido, pois de vez em quando eu ouço besteiras das grossas de um ou outro literato que se mete a falar de economia ou de política). 

Talvez eu deva agora simplesmente resumir o “pensamento” – eu até diria o “divertimento” – de Cipolla em torno dessa questão relevante para o futuro da humanidade, e selecionar alguns trechos que mais me impactaram nesta nova versão agora lida e apreciada (como desde o primeiro contato). Somos primos filosóficos, eu e Cipolla, ele bem mais famoso do que eu, obviamente, mas creio que dividimos concepções quase idênticas sobre os perigos que nos rondam, com tantos estúpidos soltos por aí. Em todo caso, já adianto que concordo inteiramente com sua quinta (e derradeira) lei fundamental, que sintetiza o conjunto da análise extremamente rigorosa que ele conduz em seu opúsculo, que alguns chamariam de textículo: 

O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo mais perigoso que existe.”

 

Retomemos, porém, do início, com as cinco leis fundamentais em sua sequência lógica. Cipolla começa dizendo que a humanidade está em estado lamentável, o que, aliás, sempre foi o caso: desde Darwin sabemos que temos origens comuns com seres inferiores do reino animal. Mas os humanos têm de suportar uma dose ainda maior de problemas, cuja fonte é uma categoria especial de sua raça: “Esse grupo é muito mais poderoso do que a Máfia, o complexo militar-industrial ou a internacional comunista; se trata de um grupo desprovido de estatuto, sem estrutura nem constituição, sem chefe nem presidente, que consegue, no entanto, funcionar de maneira perfeitamente coordenada, de tal maneira que a atividade de cada membro contribui para ampliar e tornar mais forte e mais eficaz a de todos os outros.” (p. 13-14). 

A primeira lei já é de uma brutalidade desconcertante: 

Todos nós subestimamos sempre inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos existentes no mundo.

Essa lei parece muito vaga e simplista, mas o fato é que pessoas que julgávamos racionais e inteligentes se revelam espantosamente estúpidas; e, todos os dias, sem esperar, somos assediados, nos lugares e circunstâncias mais imprevistos, por pessoas estúpidas. Vamos fazer alguns testes para saber se é verdade?

A segunda lei, parece incrível, recusa a igualdade fundamental do ser humano:

A probabilidade de que um indivíduo seja estúpido é independente de quaisquer outras características desse mesmo indivíduo.

Cipolla chegou à conclusão, depois de muita pesquisa e estudo, de que existe um número constante e regular de indivíduos estúpidos em toda e qualquer categoria de grupos humanos, ou seja, o mesmo percentual, independentemente de ser grande ou pequeno esse grupo; os estúpidos existem entre trabalhadores manuais e entre universitários, da mesma forma e inapelavelmente. 

Como ele diz: “Mais impressionante ainda é o resultado entre os professores. Que a universidade seja grande ou pequena, de prestígio ou obscura, eu constatei que uma mesma fração, constante, era constituída de seres estúpidos. Isto me surpreendeu tanto que eu procurei estender a pesquisa a um grupo especialmente escolhido, uma autêntica elite: os laureados do Prêmio Nobel. O resultado confirmou esse poderio supremo da Natureza: uma mesma proporção de prêmios Nobel era formada de estúpidos.” (p. 23-24). A ideia foi difícil de digerir, reconhece ele, mas os resultados empíricos ofereciam a prova dessa verdade incontornável. “A Segunda Lei é uma lei de ferro, que não admite exceções”. 

Cipolla faz então um intervalo técnico para apresentar em forma gráfica suas descobertas, distribuindo a raça humana em quatro grandes categorias em eixos vertical e horizontal, como se faz habitualmente com a pesquisa científica. Na direita superior dos eixos Y e X, com sinais positivos, estão os seres inteligentes; à esquerda deles figuram os cretinos, aqueles que podem fazer o bem aos demais, sem no entanto beneficiar-se disso (mas a situação pode variar, como veremos); abaixo dos inteligentes, situam-se os bandidos, os que buscam seu próprio benefício causando prejuízo aos demais, mas também existem bandidos estúpidos. Finalmente, no canto inferior esquerdo, com dois sinais amplamente negativos, estão os estúpidos, aqueles que causam danos aos demais, sem jamais retirar qualquer benefício para si próprios. Os ganhos e perdas podem, portanto, ser expressos graficamente, e o pesquisador poderá conduzir uma análise de custo-benefício dessas categorias (e como!).

Passemos, portanto, à Terceira Lei Fundamental (que é também, segundo Cipolla, uma regra de ouro): 

É estupido aquele que causa danos a um outro indivíduo ou um grupo de indivíduos, ao mesmo tempo em que não retira de sua ação nenhum benefício para si mesmo, podendo inclusive incorrer em prejuízos.

Seres racionais, como eu e você, podemos ficar céticos ante essa lei, mas ela parece confirmada por todas as pesquisas de Cipolla. 

O capítulo V do pequeno livro de Cipolla é dedicado a uma questão técnica: a distribuição de frequências, o que dá um triste resultado para os estúpidos. Passons...

O capítulo VI, extremamente curto, trata de uma questão relevante: “Estupidez e Poder”. Estamos falando aqui da condição de todos nós, que podemos ser afetados profundamente pelos estúpidos que ascendem a posições de mando na sociedade. No mundo moderno, os conceitos de casta e classe foram eliminados, a religião tem pouco poder, e assim, no sistema democrático, aquela fração constante e regular de estúpidos pode se encontrar entre aqueles que foram chamados a exercer o poder.

O Capítulo VII, também reduzido, trata da potência da estupidez, o que, mais uma vez, comprova que esse tipo de relação pode contribuir para reforçar os vínculos entre esses indivíduos e as perdas que eles ocasionam; eles geralmente nos surpreendem, ao surgir inopinadamente e cometer seus atos estúpidos; mesmo que tomemos consciência do ataque, não podemos fazer nada, argumenta Cipolla, pois ele é feito de maneira não racional.

Agora chegamos à Quarta Lei Fundamental, que estipula que: 

Os não-estúpidos sempre subestimam a potência destruidora dos estúpidos. Em especial os não-estúpidos esquecem sempre que em todos os tempos, em todos os lugares, em quaisquer circunstâncias, tratar ou se associar com pessoas estúpidas se revela ser, inapelavelmente, um erro custoso.

Finalmente, o último capítulo, de macroanálise, chega à Quinta Lei Fundamental:

O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo o mais perigoso.

E o corolário dessa lei é esta aqui:

O  indivíduo estúpido é mais perigoso que o bandido.

Após algumas análises de distribuição, Cipolla reconhece que cretinos inteligentes e bandidos inteligentes podem, eventualmente, causar algum benefício para si mesmos ou até o bem-estar numa dada sociedade, mas jamais isso pode ocorrer com os verdadeiramente estúpidos. Como eles causam perdas para todos, a sociedade se empobrece e é conduzida à ruína.

Resumindo, os países dinâmicos conseguem controlar os seus estúpidos, mantê-los isolados, evitando, assim, males maiores. Mas, nos países menos dinâmicos, a fração de cretinos e bandidos se aproxima do canto inferior esquerdo, o que se revela fatal para a sociedade: “Essa mudança na composição da população não-estúpida reforça inevitavelmente a potência destruidora da fração estúpida e o declínio torna-se inelutável. É o desastre”. (p. 63)

O livro se termina por algumas páginas com gráficos em branco, para que cada leitor possa anotar e classificar os seres humanos com os quais ele tem de tratar.

Eu, sinceramente, me vi tentado a, imediatamente, preencher as seções em branco com alguns nomes daqueles que ascenderam, por assim dizer, a posições de mando e prestígio, mas me contive. Não tanto por falta de tempo, mas por falta de espaço. Eu tenho antes de fazer várias cópias dessas últimas páginas...

 

 

Paris, 2396: 20 maio 2012.

Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/05/as-lei-fundamentais-da-estupidez-humana.html).

 


sábado, 26 de janeiro de 2019

As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, 2 (2006) - Paulo R. de Almeida sobre Carlo M. Cipolla


Todas as leis da estupidez humana (suite et fin...)

27 de abril de 2006


Em meu artigo anterior, eu havia transcrito apenas duas das cinco leis (geniosas e geniais) da estupidez humana, tal como formuladas quase duas décadas atrás pelo famoso historiador italiano Carlo Maria Cipolla (infelizmente já falecido). Fiquei, então, devendo aos leitores, a transcrição da série completa, de molde a poder compartilhar com todos os interessados o deleite de conhecer, e apreciar, os fundamentos históricos da velha “bêtise humaine”, tal como ele, um medievista reputado, a compreendia.
Transcrevo, pois, em sua exposição mais sintética possível – a partir do original italiano, uma vez que não consegui mesmo achar o pequeno volume em minhas estantes abarrotadas de livros –, essas cinco leis, agregando depois comentários do próprio Cipolla sobre seu contexto histórico-estrutural. Como diriam os americanos, quote:
1. Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação.
2. A probabilidade de que uma certa pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica dessa pessoa.
3. Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa, ou a um grupo de pessoas, sem que ela obtenha qualquer vantagem para si mesma, ou até sofrendo, ela mesma, algum dano.
4. As pessoas não estúpidas sempre subestimam o potencial nocivo das pessoas estúpidas. Em especial, os não estúpidos esquecem constantemente que, a qualquer momento, em qualquer lugar e em qualquer circunstância, tratar e/ou associar-se a indivíduos estúpidos se revela, infalivelmente, um erro custosíssimo.
5. A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que possa existir.
Unquote. Cipolla acrescenta logo em seguida: “Não é difícil compreender como o poder político, econômico ou burocrático acrescenta ao potencial nocivo de uma pessoa estúpida. Mas devemos ainda explicar e compreender o que é que torna essencialmente perigosa uma pessoa estúpida; em outras palavras, em que consiste o poder da estupidez”.
 Talvez Cipolla estivesse pensando, quando escreveu estas linhas, em sua Itália natal, um país que consegue ostentar políticos tão corruptos e safados quanto o... Japão, por exemplo. Ahah!, peguei vocês: pensando que eu fosse tirar do meu bolso algum exemplo tupiniquim, não é? Mas é que vocês não conhecem a inacreditável capacidade dos políticos japoneses em se reproduzir continuamente, sua insaciedade pelo dinheiro corporativo e estatal, sua estabilidade notória, graças ao conservadorismo de uma população que ainda aprecia samurais e senhores da guerra. De minha parte, sempre achei que, mais do que uma Belíndia, ou seja, uma país meio Bélgica, meio Índia – como queria o economista Edmar Lisboa Bacha –, o Brasil era, bem mais, uma espécie de “Argentália”, ou seja, um país tão ciclotímico economicamente quanto a nossa vizinha competidora futebolística, e tão prolífico em políticos corruptos quanto a Itália, uma de nossas inspirações gastronômicas e histriônicas mais conhecidas no último século.
Bem, deixando japoneses e italianos de lado, acho que a rationale explicativa de Cipolla se encaixa como uma luva em nossa situação política atual, estes tempos de mensalão oficialmente patrocinado pelo Estado e implementado de modo absolutamente amador pelo partido no poder. Como explicar, de outro modo, que os “homens” do poder tenham roubado de forma tão canhestra, improvisada e desorganizada, e como nós, que pagamos tudo isso, suportamos passivamente a continuidade de tanta desfaçatez e tanta desonra republicana? Só pode ser por estupidez, de uns e de outros. Se não, vejamos...
Cipolla dá os motivos para tanta estupidez disseminada impunemente, durante tanto tempo, aqui como lá (supostamente): “Essencialmente, os estúpidos são perigosos e funestos porque as pessoas racionais não conseguem imaginar e compreender um comportamento estúpido. Uma pessoa inteligente pode compreender a lógica de um bandido. As ações do bandido seguem um modelo de racionalidade. O bandido quer alguma coisa ‘mais’ na sua conta. Dado que ele não é suficientemente inteligente para conceber métodos com os quais obter o seu ‘mais’ procurando ao mesmo tempo um ‘mais’ para os outros também, ele caba obtendo o seu ‘mais’ causando um ‘menos’ ao seu próximo”.
Tudo isso não é justo, mas é racional, como lembra Cipolla, e se é racional pode ser previsto. É possível, em suma, prever as ações de um bandido, as suas manobras sujas e as suas deploráveis aspirações e, talvez, se pudesse antepor algumas oportunas medidas de defesa (embora eu acrescente que, no Brasil, alguns poucos conseguiram enganar a muitos durante muito tempo). Mas, com uma pessoa estúpida, isto é absolutamente impossível. Como está implícito na terceira lei fundamental, uma pessoa estúpida pode persistir sem qualquer motivo em suas ações, sem um plano preciso, nos momentos e nos lugares mais improváveis e impensáveis. Não existe nenhuma maneira racional de prever quando uma pessoa estúpida se lançará ao ataque. Pelo que constato, acho que o Brasil está sofrendo um ataque especulativo de estupidez galopante. Vocês não acham?
Finalmente, é preciso também levar em conta uma outra característica desse tipo de situação. Como argumenta Cipolla, a pessoa inteligente sabe que ela é inteligente. O bandido está plenamente consciente de ser um bandido (ainda que eu duvide que essa regra se aplique plenamente a alguns dos nossos personagens políticos plus en vue). Em outra vertente, os ingênuos – ou néscios, diríamos nós – estão plenamente convencidos de sua própria credulidade. Mas, ao contrário de todos esses personagens, o estúpido não tem a menor idéia de que ele é um estúpido. Eis justamente o que contribui para dar maior força, incidência e eficácia à sua ação devastadora.
Com efeito, o estúpido não é sequer inquietado por aquele espírito que os ingleses chamam de self-consciousness. “Com um sorriso nos lábios, como se estivesse fazendo a coisa mais natural do mundo, o estúpido acaba tranquilamente por destruir todos os nossos planos, aniquila a nossa paz, complica a nossa vida e o nosso trabalho, nos faz perder dinheiro, tempo, bom-humor, apetite, produtividade - e tudo isso sem qualquer malícia, sem remorso e sem razão. Apenas estupidamente”.
Não tenho certeza de que o brilhante esquema teórico-histórico de Cipolla se encaixa perfeitamente neste nosso país algo surrealista, mas por vezes eu também tenho a impressão de que estamos entregues a uma tribo de néscios e de estúpidos – ou talvez até a uma quadrilha de bandidos –, que nos está fazendo perder o nosso bom humor, aquela non-chalance típica dos brasileiros, que alguns traduziriam por “jeitinho”, nosso espírito tolerante e gozador, enfim, todas aquelas qualidades e más-qualidades pelas quais somos conhecidos em várias latitudes e longitudes ao longo dos séculos.
Talvez isso já existisse de modo subreptício e subterrâneo há muito tempo, mas minha impressão é a de que todas essas más-qualidades emergiram com maior ímpeto nos últimos anos, ou estarei imaginando? A rigor, o Brasil nunca teve perigos mais “hollywoodianos”, como a máfia e o complexo industrial-militar, por exemplo. A nossa contribuição genial para o progresso da estupidez humana talvez seja mesmo essa combinação perfeita de credulidade, de estupidez e banditismo que, à diferença do outro produto bruto, faz crescer continuamente a nossa Produção Interna de Bobagens.





As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, 1 (2006) - Paulo R. de Almeida sobre Carlo M. Cipolla


As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, 1

 Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 abril 2006

Com esse título, o famoso historiador econômico e medievista italiano Carlo Maria Cipolla compôs, em algum momento dos anos 1980, um pequeno ensaio, humorístico-irônico, que foi transformado em peça de teatro alguns anos depois. Em 1995, eu assisti a essa peça em Paris e, absolutamente fascinado pelo espírito irreverente do texto “ceboliano”, comprei imediatamente, no próprio teatro, o livro no qual ela tinha sido baseada, nesta edição: Allegro ma non troppo: Les lois fondamentales de la stupidité humaine (Paris: Balland 1992). O livrinho continha outros ensaios da mesma verve, como este outro: “Do papel dos condimentos (e da pimenta em particular) no desenvolvimento econômico da Idade Média”, menos brilhante que aquele sobre a estupidez, mas também divertido.

Pois bem, onze anos depois, encontrando-me agora absolutamente fascinado pela quantidade de erros, equívocos e outros “desvios” (palavra neutra, de cunho humorístico-irônico) de comportamento deste nosso “governo” – que só posso atribuir, por um lado, à sua fenomenal estupidez e, por outro lado, a uma igualmente fenomenal capacidade de mentir, de cometer perjúrio, enfim, de afundar na hipocrisia e na desfaçatez –, lembrei-me desse livrinho e fui buscá-lo em minhas estantes. Para minha frustração – e que isso me sirva de lição por não arrumar a biblioteca como deveria – não o encontrei, o que me deixou bastante ressabiado. Não seja por isso, saquei do computador – inatacável para esse gênero de recuperação – as poucas notas de leitura, que transcrevo abaixo, de trechos selecionados do ensaio de Cipolla, às quais acrescento agora comentários que acredito serem o mais à propos possíveis para estes tempos impagáveis que estamos vivendo.

Caberia, em primeiro lugar, definir o que é uma pessoa estúpida. Segundo Carlo Maria Cipolla, “os seres humanos incluem-se numa das quatro categorias fundamentais: os crédulos, os inteligentes, os bandidos e os estúpidos”. Não me lembro agora se Carlo Cipolla considera estas quatro categorias exclusivas e excludentes, mas eu tenho a nítida impressão de que alguns dos nossos atuais governantes são, ao mesmo tempo, estúpidos e bandidos, ao passo que alguns dos seus eleitores são, ao mesmo tempo (ou talvez de forma subseqüente), ingênuos, isto é, crédulos, e estúpidos. Isso acontece. Tem também aquela categoria de militante que é, se ouso dizer, um “crédulo profissional”, ou seja, um ser profundamente religioso, imbuído de uma verdade que transcende a razão.
Cipolla define a pessoa estúpida da seguinte maneira: “uma pessoa estúpida é alguém que causa um dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo”. Considerando a enorme capacidade que parecem ostentar certos dirigentes de causarem problemas para si mesmos, ao tentarem atacar seus adversários, eu considero que a definição se encaixa perfeitamente no figurino. Nunca, ninguém, em 500 anos de história do Brasil, abusou tanto da faculdade de se ridicularizar a si próprio como certos comediantes profissionais que pensam que estão num picadeiro quando na verdade ocupam altos cargos políticos. Se reconhecermos, então, a extrema habilidade que eles exibem de atirarem no próprio pé, ao pretenderem fazer alguma “armação” contra um adversário político, seria preciso considerar, nesse caso, a introdução de alguma categoria de prêmio do gênero: “Prêmio (ig)nobel de autoflagelação política”.

O historiador italiano nos alerta contra o perigo de confundir uma pessoa estúpida com uma pessoa crédula ou ingênua (isto é, pessoa que causa dano a si mesma, causando benefícios a outras) ou com um bandido (pessoa que cuida dos seus interesses e causa danos aos outros). Acho que o leitor deste espaço não corre esse risco, mas isso não elimina a possibilidade de que essas duas ou três categorias se encontrem ocasionalmente (ou de forma regular) confundidas numa única e mesma pessoa. Mas não é, longe disso, a “santíssima trindade”. No Brasil, corre-se esse risco, concretamente: existem bandidos que são estúpidos, assim como existem estúpidos que são ingênuos, embora, a julgar pela maior parte dos políticos que se encaixam no molde, seja mais difícil encontrar bandidos políticos que sejam ingênuos (mas alguns são, sobretudo de certo partido).

Ele também acha que é nitidamente impossível confundir a pessoa estúpida com a inteligente (aquela que busca benefícios para si mesma e para os demais), embora eu não tenho certeza de que esse princípio se aplique igualmente ao Brasil. Aqui, como reza um velho ditado, a esperteza pode ser “tanta que cresce e engole o dono”. Pois é isso que parece ter ocorrido nesses momentosos meses que precederam o escândalo do mensalão. Os “espertos” de certos meios políticos se julgavam expertos em patifarias, inteligentes em mil maneiras de burlar a lei e de enganar os incautos e ingênuos – que seríamos todos nós – mas eles parecem ter ido longe demais. Se achavam tão inteligentes como ninguém que foram estúpidos ao ponto de chegarem a fazer acordos de “cavalheiros” (com perdão da expressão) com gente ainda mais bandida do que eles. Deu no que deu: o bandidão se julgou lesado pelos “inteligentes” e botou a boca no trombone. Santa ingenuidade...

Das cinco leis fundamentais da estupidez humana de Carlos Maria Cipolla (só cinco?), transcrevo agora apenas duas, a primeira e a última: “Sempre, e inevitavelmente, cada um de nós subestima a quantidade de indivíduos estúpidos em circulação” – o que pode ser, digo eu, um perigo para a segurança do tráfego – e “os indivíduos estúpidos são as pessoas mais perigosas que possam existir” (eu não dizia?). Sim, elas são perigosas, para si mesmas e para todos os demais, sobretudo quando imbuídas de alguma missão salvadora e transcendental, do tipo querer tudo transformar, para dizer depois que “nunca antes, na história deste país, patati-patatá...”
Como diria um desses brokers ingleses (que não me levem a mal): “nunca antes na história deste país alguém deixou de ganhar dinheiro ao apostar na estupidez humana”. Ou seja, sempre haverá, em algum lugar incerto e não sabido, alguma pessoa estúpida o suficiente para lhe permitir ganhar tranquilamente a sua aposta. Pena que essa instituição do “brokerage” – tão comum nas terras britânicas, onde se aposta até sobre a sexualidade da família real – não seja mais disseminada neste nosso país tropical, pois poderíamos ter inúmeras oportunidades para novos ganhos (que poderiam inclusive ser taxados com uma nova contribuição ou taxa para a resolução de um enorme problema social). Ou seja, seria uma grande contribuição para o aumento do PIB (não confundir com o outro PIB, este aqui é o da Produção Interna de Bobagens...).

Com sua abordagem científico-humorística, Carlo Cipolla demonstra que a distribuição da estupidez se dá ao acaso e é independente da religião, do gênero, da cor da pele, da ideologia política, enfim, ela não tem nada de cultural. Se existisse um gene da estupidez, ele seria certamente distribuído completamente por acaso, e talvez de maneira uniforme na população, com algumas particularidades. Nossos políticos, por exemplo, não são, na média, mais estúpidos que os cidadãos comuns, mas em contrapartida, eles podem ser muito mais bandidos, e de fato o são. OK, não vamos generalizar, existem muitos políticos que não são bandidos, mas acho que para ser político é preciso ter, de toda forma, uma dose de hipocrisia acima do normal...

Finalmente, termino com esta duas considerações de Carlo Maria Cipolla sobre a manutenção do nível geral de estupidez, em condições normais de pressão atmosférica e de temperatura democrática: “Num sistema democrático, as eleições gerais são um instrumento de grande eficácia para assegurar a estabilidade de estúpidos entre os poderosos”. E, aos estúpidos, “as eleições oferecem-lhes uma magnífica ocasião para prejudicar todos os outros, sem obter qualquer ganho com as suas ações”. Acho que ele tem razão, mas poderemos fazer um teste prático de suas teorias, normalmente ambientadas num cenário italiano – que tampouco pode ser classificado como ao abrigo da estupidez –, em nossa própria terra, dentro de mais alguns meses.

Sim, antes que me esqueça, prometo procurar o livrinho nas minhas estantes para aqui transcrever, num próximo ensaio, a totalidade das cinco leis fundamentais de Carlo Maria Cipolla sobre a estupidez humana, quem sabe até introduzindo mais algumas de contrabando?

(continua...)