O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 7 de junho de 2014

Maine: terra de lagostas, de farois e de arte - Carmen Licia Palazzo

Maine: terra de lagostas, de faróis e de arte

O Maine é um dos mais interessantes destinos de viagem nos EUA.  Há opções para todos os gostos:  natureza, arte, ótima comida e muito mar. Entre as maiores atrações estão os faróis (lighthouses) lindos, localizados sempre em lugares com paisagens também incríveis. As lagostas são excelentes, enormes, muito saborosas, mas todos os frutos do mar por ali são também deliciosos. Há uma enorme variedade de restaurantes e é impossível errar, são todos muito bons! Até o famoso lobster roll, pãozinho com lagosta desfiada, é muito gostoso.
A melhor época para visitar o Maine é entre o final de maio até início de novembro. Um bom programa é ficar em Portland e a partir dali sair para diversos passeios, entre eles Cape Elizabeth, com seu farol, e uma vista incrível do mar muito azul. Em Portland o antigo porto é muito agradável e ainda hoje recebe diversos barcos de turismo e tem bons restaurantes e bares variados. As boutiques também são simpáticas e há muitos souvenirs de bom gosto, com temas do mar, entre eles pequenos barcos de madeira, réplicas de barcos de pescadores de lagosta.
Outra atração excelente e que vale a visita é o Museu de Arte de Portland, que possui uma impressionante coleção de pintores europeus e também americanos, com destaque para os quadros de Homer, que era da região.

Um bom site para pesquisar informações para uma visita ao Maine é:  www.visitmaine.com

Carmen Lícia Palazzo
 





PS: Carmen Lícia é a melhor guia cultural, gastronômica e a melhor companhia intelectual que eu poderia ter, além de ser meu amor desde sempre.
Esta postagem pode ser vista neste link:


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Books, books, and snow, at last... - fotos de Carmen Licia Palazzo

O inverno chegou, finalmente, com alguma precipitação de neve que deixou várias partes da cidade brancas, como vocês podem constatar por estas fotos de Carmen Lícia.

Nada que nos impedisse de praticar nosso esporte habitual, não exatamente caminhar na neve, mas continuar a enfrentar ventos e marés, tsunamis e tempestades, nevascas e granizo, apenas para frequentar nossos lugares habituais de distração, informação, lazer, divertimento, prazer intelectual, como uma livraria, por exemplo.

Comprei dois livros, um para ouvir no carro, pois já tenho o livro impresso em minha biblioteca: Jared Diamond, Guns, Germs and Steel, que recomendo; o outro para ler por inteiro, depois de já ter lido resenhas sobre ele:
Mark Mazower: Governing the World: The History of an Idea, 1815 to the Present (Penguin, 2012).
Vou mergulhar neste, agora mesmo.
Bye...
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 14 de julho de 2013

Pausa para... detente em familia, com o neto...

Eu  e Carmen Lícia, depois de almoçarmos com a família, o que inclui nosso neto Gabriel no Clube das Nações, em Brasília, domingo, dia 7 de julho de 2013...



quarta-feira, 10 de julho de 2013

Quanto custa atravessar os EUA, costa a costa, aos preços dos EUA, e aos preços do Brasil?

Estou planejando férias nos EUA. Como sempre, vamos viajar, eu e Carmen Lícia, de carro, para aproveitar todas as possibilidades pelo caminho.
Como sempre faço, também, estabeleço um roteiro ideal, etapas razoáveis, cidades com atrações culturais e artísticas, um pouco de natureza (mas não muito) e sobretudo liberdade, para mudar o roteiro onde nos aprouver, como melhor se apresentarem outras possibilidades.
Para isso, andei calculando distâncias médias por etapas, e fui acumulando as milhas, para ter uma ideia das distâncias percorridas e do total realizado.
Deu nisto:

30 dias de viagem da costa leste (Connecticut) à costa oeste (California), indo por cima, e voltando pelo sul dos EUA, num total de 7.420 milhas, ou aproximadamente 12 mil kms (média diária de 247 milhas, ou 400 kms). O cálculo de consumo de meu Honda CRV está entre 26 milhas por galão nas cidades e 31 nas estradas. Calculei um consumo de 29 milhas por galão, o que daria, portanto, 255 galões da gasolina comum no total. Ao preço americano da gasolina, vou gastar (sem computar outras despesas com o carro ou pedágios), cerca de 900 dólares, ou aproximadamente 1.890 reais (ao câmbio de 2,1 reais por dólar).

Se eu fosse fazer os mesmos 12 mil kms no Brasil (deixo de lado o estado das estradas, que provavelmente me levaria a consumir bem mais gasolina, e os pedágios não integrados, o que demandaria mais tempo, e portanto uma menor média por dia, embora eu seja capaz de fazer mais de 400 kms, também), ao preço atual da gasolina no Brasil, eu gastaria aproximadamente 2.867 reais, ou seja quase mil reais a mais do que nos EUA.

Não vamos considerar o preço das refeições nos EUA e no Brasil, assim como os hotéis, infinitamente mais baratos e mais práticos nos EUA; acho que os EUA ganham de 2 a 1 do Brasil em matéria de custo de férias. E de 10 a zero, em termos de qualidade...
Deixo de lado, as atrações principais, os museus, as belas cidades, e as paisagens conservadas.
Onde mesmo vocês vão passar as férias?
Eu já fiz o meu roteiro:

1.     Hartford-Wilkes-Barre, PA
2.     Wilkes-Barre-Pittsburgh, PA
3.     Pittsburgh-Cincinnati, OH
4.     Cincinnati-Saint Louis, MO
5.     St. Louis-Kansas City, KA
6.     Kansas City-Denver, CO
7.     Denver-Boulder, CO
8.     Boulder
9.     Boulder-Salt Lake City, UT
10.   Salt Lake-Winnemuca, NV
11.   Winnemuca-Sacramento, CA
12.   Sacramento-Napa
13.   Napa Valley
14.   Napa-San Francisco
15.   San Francisco
16.   San Francisco-San Luis Obispo, CA (coast)
17.   San Luis-Los Angeles
18.   Los Angeles
19.   Los Angeles-San Diego
20.   San Diego
21.   San Diego-Phoenix, AZ
22.   Phoenix-Grand Canyon, AZ
23.   Grand Canyon Nat. Park
24.   Grand Canyon-Albuquerque, NM
25.   Albuquerque-Santa Fe, NM
26.   Santa Fe-Oklahoma City, OK
27.   Oklahoma-Memphis, TN
28.   Memphis-Nashville, TN
29.   Nashville-Harrisburg, PA
30.   Harrisburg - Hartford, CT


quarta-feira, 6 de março de 2013

Museus de New England: tour cultural

New England 

Blog Carmen Lícia Palazzo, 6/03/2013

Atheneum de Hartford. Mosaico de Lisa Hoke
   Estamos morando em Hartford, uma ótima cidade na região de New England, na costa Leste dos  Estados Unidos. Recomendo a quem quiser fazer turismo nos EUA, que inclua esta parte do país em seus planos de viagem. New England é muito próspera e desenvolvida, e compreende os estados de Connecticut, Massachusetts, Rhode Island, Vermont, New Hampshire e Maine. Sua história é bastante densa e movimentada, com registros desde 1620, quando um grupo de ingleses anglicanos e separatistas fundaram a colônia de Plymouth. Destacou-se nas lutas abolicionistas e atualmente é conhecida pelo grande desenvolvimento cultural e pela excelente qualidade da educação em todos os estados que a integram. Estão aqui algumas das melhores universidades americanas: Harvard, Yale, Brown e Dartmouth, assim como o MIT, Massachusetts Institute of Technology. Há museus excepcionais por todos os lados e mesmo as pequenas cidades, apoiam várias manifestações artísticas. No bom estilo anglo-saxão, empresas e indivíduos fazem doações muito generosas para universidades, escolas, centros de pesquisa, hospitais, teatros, orquestras, museus, não apenas porque recebem incentivos consideráveis para suas declarações de imposto de renda, mas também porque reverter parte de seus ganhos para a comunidade está implícito em um arraigado comportamento ético de muitos séculos.
Museu Rockwell, Stonebridge
   Não é incomum que muitas destas doações sejam superiores ao  limite para obter os benefícios no imposto devido. Ex-alunos das universidades, que se tornaram milionários, têm doado somas realmente impressionantes à sua "alma mater".  Este é um dos aspectos interessantes da sociedade americana como um todo e que aqui em New England pode ser visto no dia-a-dia, no funcionamento das atividades culturais que realmente estão disponíveis para toda a população. Mesmo os imigrantes, que são muitos, reconhecem que seus filhos desfrutam, nesta região, de uma situação excepcional quanto ao estudo. As escolas públicas incluem atividades muito diversificadas e opções tanto na área científica, com excelentes laboratórios bem montados e disponíveis para professores e alunos desde a chamada "escola elementar", quanto na área de humanidades e artes com uma programação intensiva nos centros culturais e nos museus. O Paulo e eu vamos ter uma ótima temporada aqui em Hartford!
Exposição sobre Toulouse Lautrec,
Museu de New Britain
Painel pintado no centro de Hartford

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Journey Inside the Whale (just beginning...) - Florida

Apenas começando um périplo profissional-turístico-acadêmico no maior país do planeta (não em tamanho, ou população, mas em densidade de oportunidades, todas abertas ao engenho e arte dos mais talentosos, e também dos mais preguiçosos, enfim, total liberdade...).
Iniciamos, Carmen Lícia e eu, nosso périplo "estado-unidense" (com diriam os companheiros) pela Flórida, esperando que ela fosse, não exatamente quente, neste inverno, mas pelo menos tépida. Qual o quê, pegamos frio até em Key West, na volta do quê fiz esta foto de Carmen Lícia em Isla Morada, perto de Key Largo, onde paramos para comprar lembranças e coisas úteis para a nova casa, em Hartford.

Depois viemos subindo, com o frio pela frente, até chegarmos na gélida Hartford, passando por Washington e Filadélfia.
Comparando EUA e Europa, onde já vivemos muitas vezes e muito tempo, digamos que os americanos sejam mais práticos e mais rápidos e eficientes, em quase tudo, sobrando para os europeus algum charme dessas velhas coisas culturais que também cultivamos.
Retornarei, sob essa mesma rubrica da jornada por dentro da baleia, uma baleia simpática, confortável, barata e atraente...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 28/01/2013

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Saudades da Europa: viagens na Franca com Carmen Licia

As duas fotos abaixo referem-se a viagens que fizemos, eu e Carmen Lícia, minha especialíssima guia turístico-cultural-intelectual-livresco-gastronômica, em duas oportunidades.
Primeiro, Carmen Lícia num jardim de Auvers-Sur-Oise, village preferido dos impressionistas, onde Van Gogh passa diversos meses em 1890, antes de se suicidar no Auberge Ravoux, justo em frente à prefeitura da cidade.
A segunda foto, abaixo, retrata nossa visita à casa do pintor Claude Monet, também atelier e jardim japonês, em Giverny, perto de Paris.
Saudades dos passeios na Europa...
Paulo Roberto de Almeida 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Alexandra David-Neel - Carmen Licia Palazzo (NetHistoria)


por Site NetHistória
Bem vindos ao Cliocast, o podcast do Site NetHistória. Nesse segundo programa, tivemos o grande prazer de entrevistar a professora Carmen Lícia Palazzo. Doutora em História pela Universidade de Brasília (UnB), é consultora do PEJ/UnB (Departamento de História) e foi pesquisadora visitante da Georgetown University (Washington, DC). Também é membro da Middle East Studies Association, da Society for the Medieval Mediterranean e da International Society for Iranian Studies.
Palavras-chave: Oriente - Alteridade - Viajante
Qualidade do Áudio: 96kb


domingo, 22 de abril de 2012

Flanerie a Bologna...

Carmen Licia passeando sob as arcadas da maravilhosa, culturalmente rica (e comercialmente tentadora) cidade de Bolonha, na Emília Romagna, uma das nossas etapas de turismo cultural (e gastronômico)...
Paulo Roberto de Almeida 



quinta-feira, 29 de março de 2012

Estudos medievais no Brasil - Carmen Licia Palazzo

Um trabalho que denota não apenas estudo, pesquisa e conhecimento livresco, mas também viagens, conhecimento direto, nos locais e nos museus. Os interessados podem ler na revista da Associação Brasileira de Estudos Medievais:
http://www.revistasignum.com/signum/index.php/revistasignumn11/article/view/54/67



Revista Signum, 2011, vol. 12, n. 2.
RELATOS OCIDENTAIS SOBRE OS KHANATOS MONGÓIS: PIAN DI CARPINE E RUBRUCK (SÉCULO XIII) 
REPORTS ON THE WESTERN MONGOL KHANATES: PIAN DI CARPINI AND RUBRUCK (13TH CENTURY)
Carmen Lícia Palazzo
Centro Universitário de Brasília – Universidade de Brasília


Resumo:  No século XIII, muitos viajantes europeus estiveram na Ásia percorrendo caminhos que, bem mais adiante, a partir do século XIX, ficariam conhecidos como Rota da Seda. Nenhum deles, porém, deixou relatos tão significativos quanto os de Giovanni di Pian di Carpine e Guilherme de Rubruck. Ambos partiram em épocas diferentes (1245 e 1253, respectivamente) com o objetivo de contatar os mongóis para melhor conhecer a ameaça que poderiam representar para a Europa e também para avaliar uma eventual possibilidade de encontrar, entre os khans, cristãos convertidos que pudessem tornar-se aliados dos europeus contra os muçulmanos. Pian di Carpine foi enviado pelo Papa Gregório IV, enquanto Rubruck tinha como patrono Luís IX. Os dois deixaram obras diferenciadas, mas fundamentais para que os povos das estepes se tornassem mais conhecidos de uma Europa que naquele momento já estendia seus olhares para fora de si mesma.
Palavras-chave: Relatos de viagem. Khanatos mongóis. Cristãos do Oriente.  


Abstract: In the 13th century many European travelers went to Asia, over routes that were much later, in the 19th century, to be called the Silk Road. None of them, however, left as significant records as Giovanni di Pian di Carpine’s and William of Rubruck’s. They set out eight years apart from each other (1245 and 1253, respectively), with the intent of contacting the Mongols and better knowing the threat they might represent to Europe. They also sought to find among the Mongol Khans converted Christians likely to become allies of Europe against the Muslims. Pian di Carpine was sent by Pope Gregory IV, whereas Rubruck was sponsored by Louis IX. Both left unique and crucial works in the task of making the Steppe peoples better known to a Europe which, at that time, was already
looking beyond its confines.
Key words: Travel journals. Mongol khanates. Eastern Christians.
_____________________
Artigo recebido em: 05/11/2011
Artigo aprovado em: 22/02/2012
                                                       
E-mail: carmenlicia@yahoo.com

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Oriente Medio: um blog de especialista



Um blog a serviço do conhecimento e da informação sobre o Oriente Médio: 
A autora, Carmen Lícia Palazzo acaba de postar, hoje, um artigo sobre xiitas e sunitas que está muito bom (embora eu seja suspeito para dizer...).
Existe uma coluna, à esquerda, que se atualiza automaticamente com notícias sobre o Oriente Médio (cortesia do serviço do blog).

http://carmenlicia.blogspot.com/

Aliás, eis o artigo mencionado:

Sunitas e xiitas no processo de reconstrução do Iraque

Carmen Lícia Palazzo (5/09/2011)

A análise dos conflitos entre as duas principais correntes muçulmanas, sunitas e xiitas, procurando entendê-las numa perspectiva histórica de longa duração, permite lançar algumas luzes no complexo quadro de violência que retrata o Oriente Médio contemporâneo. Múltiplos são os fatores que têm levado a guerras na região, mas a luta dentro do próprio Islã, com seus desdobramentos merece uma atenção especial na medida em que se faz presente nas mais diversas realidades regionais.

A fratura interna no mundo muçulmano ocorreu muito cedo, já no século VII, como conseqüência de uma guerra civil na disputa pela sucessão do califado. Após a morte do quarto califa, Ali, primo e genro de Maomé, a comunidade (”umma”) cindiu-se em dois grupos ou facções. Aqueles que defendiam que os candidatos à sucessão fossem necessariamente membros da família do Profeta ficaram conhecidos como os partidários de Ali (”xiit’Ali”). No entanto venceu o conflito a facção que havia se insurgido contra a descendência familiar e que pregava a escolha do califa entre os membros mais respeitados da “umma” e que melhor representassem a tradição (”sunna”). Aqueles que mais tarde seriam denominados xiitas, derrotados, não apenas eram vistos como contestadores da ordem vigente mas tornaram-se também suspeitos de conspirar contra o poder. O trágico fecho da disputa sucessória foi o assassinato, no ano de 680, de Hussein, filho de Ali, em Karbala (atual Iraque). Consolidava-se, assim, a hegemonia sunita mas, ao mesmo tempo, criava-se um mártir. Ainda hoje a morte de Hussein ecoa na memória coletiva das comunidades xiitas, erguendo-se como um símbolo da opressão dentro do próprio Islã. 

Muitos foram os percalços e as lutas que envolveram as duas principais facções muçulmanas no decorrer dos séculos. É importante lembrar que, apesar da ênfase que costuma ser dada aos aspectos religiosos das disputas, no rompimento do século VII o que estava em jogo era essencialmente uma questão de ordem política. Naquele momento não havia diferença significativa de dogma e nem de prática religiosa. Mas com o passar do tempo, os rituais de um e de outro grupo foram se distanciando e os xiitas, minoritários no conjunto do Islã, desenvolveram uma cultura do martírio e uma espiritualidade carregada de emoções, muito visível no chamado festival de Ashura, quando é anualmente evocada a morte de Hussein.
Com exceção do Irã onde o xiismo, a partir do século XVI, passou a se constituir em religião oficial, com o apoio da dinastia safávida, em outros países tem sido registrada uma história de discriminação e muitas vezes de perseguições, especialmente no Líbano, na Arábia Saudita, no Bahrein, no Kuwait e no Iraque na época de Saddam Hussein.
O grau extremo de violência anti-xiita por parte do ditador iraquiano encontra-se bem documentado já que o seu partido, o Baath, realizava abertamente perseguições sistemáticas cujo intuito era o de disseminar o medo. Um dos exemplos mais marcantes de tais atos foi o assassinato do respeitado aiatolá Baqr al-Sadr que, antes de ser executado, em 1980, foi obrigado a presenciar o estupro e a morte de sua própria irmã.
O fosso existente entre sunitas e xiitas iraquianos tornou-se quase intransponível à custa da crescente violência. Assim, por mais que, atualmente, o moderado e pragmático aiatolá Sistani se esforce no sentido de lembrar que ambas as facções pertencem a uma única raiz islâmica, o contencioso político entre elas continua muito grande. E amplia-se o espaço para as ações da Brigada Mahdi, liderada por Muqtada al-Sadr, portador de uma mensagem de revolta, pouco afeito ao diálogo e ancorado em representações passionais do xiismo, como a do retorno do Imã oculto, o Mahdi.

Outro dado importante a ser levado em conta quando se analisa o relacionamento entre sunitas e xiitas no Iraque e as possibilidades de um entendimento duradouro entre ambas as partes é o da discriminação étnica. Há muitos iranianos entre a comunidade xiita, principalmente na região de Karbala, Najaf e Kufa, e a elite árabe do país sempre os tratou como cidadãos de segunda categoria, acentuando ainda mais as diferenças numa sociedade onde o federalismo poderia ser uma solução viável para a reconstrução do Estado.
Ainda que a chamada questão curda tenha conduzido aos dramáticos ataques de extermínio por parte de Saddam Hussein e envolva também problemas de fronteiras e de relacionamento com países vizinhos, são as disputas entre xiitas e sunitas que maiores dificuldades podem trazer para a consolidação de um governo unido e administrativamente eficaz. E, se por um lado, a tão temida ingerência do Irã é algo a ser observado no decorrer do processo de maiores conquistas políticas por parte dos xiismo iraquiano, por outro lado não seria demais lembrar que, em 1991, a Arábia Saudita conseguiu convencer os Estados Unidos de que estes não deveriam apoiar uma revolta xiita que tinha como objetivo a derrubada de Saddam.
O frágil equilíbrio da política interna iraquiana fica, pois, dependente não apenas de seus próprios problemas mas também da atuação de duas grandes forças regionais, a dos aiatolás iranianos e a do imanato wahabita que é o esteio da casa de Saud. E bem maior do que a preocupação com os inflamados discursos xiitas deveria ser a atenção dada às ações do sunismo, o qual, no Iraque, tem buscado apoio nos grupos fundamentalistas que consideram o xiismo uma heresia do Islã.
A invasão americana inverteu a ordem no poder abrindo espaço para uma representação xiita mais justa no governo mas não levou em conta as conseqüências que inevitavelmente se seguiriam após o desmantelamento do baathismo, ou seja, o enfraquecimento das elites sunitas moderadas e dos componentes laicos na política do Iraque. Assim, a tendência atual é a de que o sunismo, antes pouco afeito, no país, a uma religiosidade estrita, agora passe a estreitar os laços com o wahabismo saudita e com os chamados neo-salafistas da Al Qaeda, que fornecem uma ideologia jihadista de luta para a recuperação do poder perdido.
Partilhando o mesmo livro sagrado, sunismo e xiismo foram, ao longo dos séculos, aprofundando o rompimento que os separou nos primórdios do Islã. A tal ponto que, atualmente, uma análise acurada de ambas as correntes deixa claro que as diferenças são mais significativas do que as semelhanças.
No caso do Iraque, qualquer proposta para uma paz efetiva terá que levar em conta tanto a enormidade da fratura quanto o crescimento do componente religioso. Ou seja, a maneira como política e espiritualidade interagem de modo a enfatizar não apenas o discurso do messianismo xiita, que vem assumindo grandes proporções na região mesopotâmica, mas também o recrudescimento do fundamentalismo sunita. Se, inicialmente, as diferenças de caráter religioso eram pouco significativas na divisão entre os dois grupos, hoje em dia, e principalmente no Iraque, etnia e religião são elementos incontornáveis na busca da construção da Nação.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lancamento de livro: Alexandra David-Néel - Carmen Lícia Palazzo

O Espaço Cultural Lendo & Pintando
convida para o lançamento do livro:

Alexandra David-Néel: Itinerários de uma orientalista
de autoria da historiadora Carmen Lícia Palazzo

a ser realizado no seguinte endereço:
CLN 309 Bloco C Subsolo
no dia 10/02/2011 (quinta-feira) das 17h às 20h
Asa Norte, Brasília

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Alexandra David-Neel: uma orientalista - Carmen Licia Palazzo

Dica de leitura:

Carmen Lícia PALAZZO:
Alexandra David-Néel: itinerários de uma orientalista
São Paulo: Annablume, 2010

Em Alexandra David-Néel: itinerários de uma orientalista Carmen Lícia Palazzo apresenta a vida e a obra de uma francesa que durante muitos anos viajou através da Ásia e foi a primeira mulher ocidental a entrar em Lhassa. Em seus livros, Alexandra analisou com grande perspicácia uma fase de muitas transformações na índia, na China e no Tibete e entrevistou grandes personalidades como Gandhi, o 13º Dalai Lama, o Panchen Lama, entre muitas outras.

"Numa época na qual o encontro entre as culturas era ainda muito marcado por distorções herdadas do colonialismo, Alexandra David-Néel aventurou-se num insólito périplo, desvinculada de amarras oficiais, munida de coragem, de ousadia e de uma enorme vontade de tudo ver e de tudo conhecer (...) é possível considerá-la também um elemento-chave na construção do imaginário ocidental sobre o Oriente." (p.98)

www.carmenlicia.org