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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 18 de outubro de 2014

Monteiro Lobato e a ciencia para as criancas - Ciencia Hoje

Ciência com Monteiro Lobato

Histórias infantis menos conhecidas do autor brasileiro tratam de temas que podem ser excelentes recursos no ensino de disciplinas científicas.
Por: Vera Rita da Costa
Ciência Hoje, 17/10/2014
Ciência com Monteiro Lobato
Em diversos livros, Monteiro Lobato fornece aos leitores os princípios básicos da química, física, geologia e noções do surgimento da vida e de evolução – importantes para quem trabalha na área de educação em ciências. (montagem: Alicia Ivanissevich)
Responda essa pergunta: você já leu Monteiro Lobato? Mas responda com sinceridade e observe bem a pergunta: não se trata apenas de saber se você conhece a obra de Monteiro Lobato (1882-1948). Se considerássemos apenas isso, já saberíamos a resposta. Ela seria sim, pois não há obra da literatura infantil brasileira mais explorada pela mídia.
O Sítio do picapau amarelo foi adaptado para a TV inúmeras vezes. Desde a década de 1960, já foi transmitido, como série televisiva, pela extinta TV Tupi, TV Cultura, TV Bandeirantes e Rede Globo. E, ainda hoje, pode-se assistir ao programa por essa última emissora ou, como desenho animado, em canais pagos, como o Cartoon Network.
Portanto, não há dúvidas de que todo mundo conhece – ou pensa conhecer – o Sitio do picapau amarelo e seu autor. O fato, no entanto, é que aquilo que se conhece da obra de Monteiro Lobato ‘via TV’ é apenas um fragmento. Justamente aquele que foi selecionado e adaptado segundo os pressupostos da ‘linguagem televisiva’ ou, ainda, com base na ideia preconcebida do que seria do interesse do público, em especial das crianças.
No Sítio que conhecemos pela TV, e mais recentemente por meio das séries de histórias em quadrinhos que também foram lançadas, quase nada entra do conteúdo científico que Monteiro Lobato incluía em suas histórias
Muita coisa legal e importante de Monteiro Lobato ficou, assim, de fora das adaptações de sua obra. Entre elas, a ciência. No Sítio que conhecemos pela TV, e mais recentemente por meio das séries de histórias em quadrinhos que também foram lançadas, quase nada entra do conteúdo científico que Monteiro Lobato incluía em suas histórias.
Talvez você não saiba, mas o autor era fascinado por ciência e considerava que a disseminação da informação científica e o próprio ensino de ciências seriam ótimos caminhos para o avanço e o desenvolvimento da sociedade brasileira.
Suas histórias infantis contêm muita ciência e podem, justamente por isso, ser excelentes recursos no ensino, em atividades que aliem ciência e literatura. Podem, também, auxiliar na formação de professores das séries iniciais do ensino básico, que se queixam de formação insuficiente nessa disciplina.

Instrução e diversão garantidas

Para isso, no entanto, seria necessário conhecer melhor sua obra. É preciso esquecer as versões ‘pasteurizadas’ do Sitio do picapau amarelo, nas quais se deu mais destaque aos aspectos do folclore brasileiro e das aventuras imaginativas dos personagens, em especial da boneca Emília, e debruçar-se sobre as versões originais. Mais ainda: procurar ler os livros infantis menos conhecidos de Monteiro Lobato e usá-los com as crianças.
Se você fizer isso, vai se deliciar e aprender e ensinar muita ciência. É garantido.
Para quem gosta de ciências naturais, História das invenções, O poço do Visconde e Serões de Dona Benta são fascinantes.
Visconde de Sabugosa
O Visconde de Sabugosa é o personagem que, ao longo da obra de Lobato, vai encarnando a figura do cientista. (imagem: portaldoprofessor.mec.gov.br)
Em História das invenções, o autor conta, pela boca do personagem Dona Benta, a história do mundo, desde o surgimento do universo até a invenção da boneca Emília e do próprio Visconde de Sabugosa, o personagem que ao longo da obra de Lobato vai encarnando a figura do cientista.
Nesse livro, em especial, o escritor introduz os princípios elementares que sustentam a teoria científica sobre o surgimento e a evolução da vida na Terra; descreve o surgimento da espécie humana e o modo de vida dos hominídeos; fala da importância da invenção da agricultura e do valor da criatividade e adaptabilidade humanas. Detalha, especialmente, como surgiram e evoluíram os artefatos humanos, apresentando-os como extensões dos órgãos e das capacidades humanas.
Você já pensou sobre isso? Que uma moradia, como um alto edifício, nada mais é do que uma extensão de nossa pele que tem a função de nos abrigar? Ou, ainda, que os óculos, o telescópio, o microscópio, as câmeras fotográficas e todos os demais artefatos óticos são extensões do olho humano, assim como todos os utensílios manuais, entre eles as armas, são prolongamentos de nossas mãos, e as rodas, a canoa, os barcos a vela e a vapor, os balões e os aviões, bem como todos os meios de transporte, são extensões de nossos pés ou adaptações culturais que nos tornam mais eficientes no desempenho de nossas funções biológicas? Em última instância, já refletiu sobre o fato de que todas as invenções são extensões do cérebro humano, ou seja, de nossa capacidade imaginativa?

Temas variados

Pois bem, Monteiro Lobato pensou sobre isso e transmite essa ideia às crianças leitoras de História das invenções, fundamentando-a com informações sobre o processo de evolução biológica e cultural da humanidade, de uma forma completamente inovadora e deliciosa, relacionando-as e entrelaçando-as. Fornece, assim, nesse livro, de forma muito atrativa e lúdica, aulas básicas (e essenciais) de astronomia, biologia e antropologia às crianças. Além disso, as instiga a pensar, em uma abordagem da ciência que os professores dessa disciplina deveriam conhecer melhor e buscar imitar, pois tornariam as aulas muito mais interessantes.
O mesmo acontece em Serões de Dona Benta, quando o autor introduz os leitores nos princípios básicos da química e da física, ou em O poço do Visconde, quando ele apresenta a geologia. Também acontece em Viagem ao céu, Emília no país da gramática, Geografia de Dona Benta, Reforma da natureza e Aritmética da Emília, apenas para citar as obras mais diretamente interessantes para quem está na área de educação em ciências.
Se quiser usar Monteiro Lobato para ensinar ciências deve, no entanto, ter cuidado: não se esqueça de que a obra literária desse autor data de mais de 50 anos atrás e de que há nela algumas ideias e informações que já se encontram ultrapassadas e que precisam ser ampliadas e discutidas
Se você se interessar por ler Monteiro Lobato e quiser usá-lo para ensinar ciências deve, no entanto, ter cuidado e seguir uma recomendação: não se esqueça de que a obra literária desse autor data de mais de 50 anos atrás e de que há nela, portanto, algumas ideias e informações que já se encontram ultrapassadas e que precisam ser ampliadas e discutidas.
Para se evitar aprendizagens equivocadas, é necessário, portanto, considerar essas ideias, abordando-as e tomando-as também como recursos de reflexão e de aprendizagem.
Mas, se você fizer isso, perceberá que algumas das ideias presentes na obra de Monteiro Lobato, que inadvertidamente poderiam ser consideradas ‘erradas’, refletem, de fato, ideias de senso comum e concepções alternativas ainda mantidas entre nós e, em especial, entre nossos alunos. São ideias, portanto, com as quais estamos constantemente lidando e que é melhor tê-las como aliadas da aprendizagem, discutindo-as em aula, do que como inimigas ocultas, a minar o trabalho proposto.
Como já discutimos aqui, é preciso lembrar que a construção da ciência (e do conhecimento de modo geral) é um processo contínuo de elaboração e reelaboração de ideias, conceitos e teorias, que se sucedem e se aprimoram ao longo do tempo. Por isso, para ensinar ciência adequadamente, não podemos deixar de abordar os caminhos tortuosos que muitas vezes se percorrem ao praticá-la, revelando a história de sua construção e reconstrução permanentes.
Mais que isso, depois de ler Monteiro Lobato, só resta um conselho para ensinar bem ciência: é preciso fazê-lo de modo claro e prazeroso. Como diz Pedrinho à Dona Benta: a ciência de que se gosta não é necessariamente aquela que está nos livros de ciência, complicada e difícil. É aquela “falada”, “contada”, “clarinha como água do pote”, que contempla “explicações de tudo quanto a gente não sabe, pensa que sabe, ou sabe mal e mal”.


Vera Rita da Costa
Ciência Hoje/ SP

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Ciencia Hoje: "Brasileiro, analfabeto cientifico?" (nao precisava perguntar)

Não sei se alguém ainda se espanta com matérias como essas. Nada do que está aqui me surpreende, mas mesmo assim é importante que se diga, para ver se algum dia, os responsásveis da ÁREA decidem corrigir esses problemas.
A menos, claro, que eles estejam apenas interessados em "conscientizar" os alunos do elementar...
Paulo Roberto de Almeida

Brasileiro: 'analfabeto' científico?

Novo índice mostra que a ciência influencia a forma de ver o mundo e de lidar com situações complexas de apenas 5% dos avaliados, enquanto mais da metade sequer consegue aplicar o que aprendeu na escola em situações cotidianas.
Por: Marcelo Garcia
Ciência Hoje online,  em 18/08/2014
Brasileiro: 'analfabeto' científico?
Desempenho brasileiro no primeiro Índice de Letramento Científico mostra que ciência não está integrada ao cotidiano do brasileiro. (foto: Flickr/ Fortimbras - CC BY-NC-ND 2.0) 
 
Como você avalia a sua capacidade de utilizar o conhecimento científico para resolver questões do dia a dia? E para fazer abstrações, criar hipóteses, planejar e inovar? Em um mundo em que a ciência e a tecnologia estão cada vez mais presentes, em que a sociedade é chamada a se posicionar sobre grandes questões como pesquisas com células-tronco e cultivo de transgênicos e no qual inovar é a palavra de ordem das empresas, essas questões são fundamentais. Mas, segundo a primeira edição do Índice de Letramento Científico (ILC), no Brasil é muito baixa a quantidade de pessoas ‘letradas’ em ciências, capazes de empregar os conhecimentos escolares no seu cotidiano e no planejamento do futuro.
Bem diferente das avaliações de ensino existentes no Brasil, a proposta do ILC é medir quanto do conhecimento escolar é de fato aplicado na prática. Para seus criadores, o resultado negativo ajuda a entender alguns gargalos sociopolíticos e econômicos do país, como a baixa capacidade de inovação. O índice, cuja versão completa foi divulgada recentemente, é fruto de uma parceria entre o Instituto Abramundo, o Instituto Paulo Montenegro, responsável pela ação social do Grupo Ibope, e a ONG Ação Educativa.
O maior desafio foi traduzir o domínio de conceitos científicos em perguntas diretas e práticas para agrupar os participantes em faixas claras e facilitar ações posteriores
Para sua construção, foram aplicados questionários a 2002 pessoas entre 15 e 40 anos, com ao menos quatro anos do ensino fundamental completos, em oito capitais estaduais e no Distrito Federal. O questionário era composto por mais de 60 perguntas, que avaliaram a capacidade de identificar simples informações explícitas em texto, tabela ou gráfico (como consumo de energia ou dosagem em bula de remédio), de comparar informações simples para tomar decisões; de empregar informações não explícitas para resolver problemas práticos e processos do cotidiano e, ainda, de propor e analisar hipóteses sobre fenômenos complexos, mesmo não diretamente ligados ao seu dia a dia. A partir das respostas, os participantes foram classificados por nível de letramento: ausente, elementar, básico e proficiente.
O maior desafio foi traduzir o domínio de conceitos científicos em perguntas diretas e práticas para agrupar os participantes em faixas claras e facilitar ações posteriores. A metodologia aplicada foi adaptada do Índice de Analfabetismo Funcional (IAF), também produzido pelo Instituto Paulo Montenegro e que avalia os conhecimentos de português e matemática na prática. A ideia é que a avaliação seja repetida a cada dois anos.

Resultados preocupantes

De forma geral, 79% dos participantes ficaram na zona intermediária (48% no nível 2 e 31% no nível 3), enquanto 16% apresentaram letramento ausente (nível 1) e apenas 5% do total se mostraram de fato proficientes em ciência. O índice torna clara a dificuldade de grande parte dos entrevistados em realizar tarefas simples: 43% deles declararam ter problemas para compreender gráficos e tabelas, enquanto 48% acham difícil interpretar rótulos de alimentos. Entre aqueles com ILC elementar (mais comum), 58% tem problemas, por exemplo, para consultar dados sobre saúde e medicamentos na internet.
Ciência na gestão pública
Resultado ruim mesmo entre gestores públicos mostra que pensamento científico pouco influencia suas decisões, o que pode ter consequências negativas em todos os campos, da própria educação à saúde, ao saneamento e ao planejamento urbano, por exemplo. (foto: Flickr/ Samchio – CC BY-NC-SA 2.0)
Os resultados também foram relacionados ao nível de formação e à área de atuação dos entrevistados – e ficam ainda mais preocupantes, já que os indivíduos com ensino superior considerados proficientes em ciência foram apenas 11%, enquanto 48% estão no nível 3, 37% no nível 2 e quase inacreditáveis 4% apresentaram letramento ausente.
Em relação ao mercado de trabalho, as áreas de administração pública, educação e saúde alcançaram o melhor resultado, apesar de pouco animador: 43% das pessoas têm letramento básico e 9%, proficiente. Na indústria e na prestação de serviços, 42% e 31% dos trabalhadores ficaram no nível 3, enquanto apenas 5% e 6% eram proficientes, respectivamente.
A diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lucia Lima, diz ter ficado surpresa com a baixa proficiência dos indivíduos mais escolarizados e dos tomadores de decisões, empreendedores e empresários, envolvidos diretamente no investimento e planejamento de atividades que vão desde o descarte do lixo à gestão da saúde e da educação. “Os dados mostram que o aprendizado fica restrito à escola e é preocupante que a ciência influencie tão pouco a visão de mundo dessas pessoas, sua atividade cotidiana e as decisões que tomam”, avalia.

Consequências adversas

Para os responsáveis pelo ILC, os impactos do cenário apontado pelo índice vão desde questões cotidianas a problemas que abrangem a vida econômica e social do país. “No dia a dia, isso se manifesta quando a cabeleireira usa um produto que ela deveria saber que faz mal ou quando os pais medicam os filhos por conta própria sem pensar nos efeitos colaterais ou nas interações entre medicamentos”, exemplifica Lima.
Garcia: “Os reflexos também aparecem na pífia capacidade de inovação de nossas empresas: os trabalhadores pouco refletem sobre seu trabalho, não desafiam o status quo
“Os reflexos também aparecem na pífia capacidade de inovação de nossas empresas: os trabalhadores pouco refletem sobre seu trabalho, não desafiam o status quo”, afirma Ricardo Uzal Garcia, presidente do Instituto Abramundo. “Além disso, o brasileiro não parece, em geral, preparado para opinar sobre grandes temas da ciência nem para tomar decisões cada vez mais necessárias sobre temas como transgênicos e células-tronco.”
Lima aponta ainda a formação de um gargalo de mão de obra no país e faz um alerta para o futuro. “Os empregos no país têm aumentado, mas apenas as vagas pouco especializadas; cargos melhores permanecem ociosos também pela inexistência de um pensamento científico aplicado, necessário para tais posições”, analisa. “Algo precisa ser feito para mudar essa situação, pois se nossos gestores tomam decisões que pouco consideram o conhecimento científico, a ciência nunca será valorizada como deve e isso continuará a impactar a inovação, a saúde, o meio ambiente e todas as áreas.”  

Ensino de ciências

Junto com o índice, também foi feita uma pesquisa de percepção pública da ciência, cujo resultado é significativo: apesar do fraco desempenho no ILC, os participantes reconhecem a importância da ciência para a compreensão de mundo (42% concordam plenamente e 30% concordam em parte) e para obter boas oportunidades de trabalho (41% e 27%, respectivamente). “As pessoas têm interesse e acham a ciência importante, mas não vão a fundo porque não se sentem competentes”, avalia Lima. “É uma pista importante de que há algo errado na formação dos estudantes”, completa Garcia.
Uma olhada em outros indicadores de ensino reforça a má situação do país na área: no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), por exemplo, um dos piores desempenhos do Brasil é em ciências (59º entre 65 países).
Ciência para crianças
Para melhorar o índice, segredo pode estar em investir mais no ensino fundamental e buscar maneiras de manter o interesse dos jovens pela ciência. (foto: Flickr/ emeryjl - CC BY 2.0)
Lima recupera a história da educação no país para explicar a situação atual. “O ensino se tornou um grande desafio a partir da década de 1990, pois sua universalização incluiu pessoas historicamente segregadas, famílias com níveis muito baixos de escolaridade”, afirma. A mudança, segundo ela, levou a um natural privilégio do ensino de português e de matemática, por serem competências mais básicas. “Em 25 anos, os avanços nessas áreas ainda não foram suficientes, mas ainda assim acredito que já seja hora de avançar para outros campos, e a ciência é a candidata natural para receber mais atenção.”
Lima:  “Como matamos essa curiosidade natural? Deve haver muita coisa errada, do currículo à forma de ensinar.”
Um dado que se destaca no ILC é o desempenho semelhante de indivíduos com ensino fundamental e com ensino médio – 50% de pessoas do primeiro grupo têm letramento elementar, contra 52% no segundo, que também conta com 15% de pessoas com letramento ausente. Para Lima, as conversas com professores dão pistas sobre os motivos por trás desse resultado, por reforçarem que nas séries iniciais as crianças adoram ciências, mas perdem o interesse depois. “O desempenho no ensino médio deveria ser proporcional ao investimento maior, com professores especialistas e maior carga horária”, diz. “Como matamos essa curiosidade natural? Deve haver muita coisa errada, do currículo à forma de ensinar.”
Garcia ressalta a necessidade de criação de programas de ensino voltados para as séries mais baixas. “O impacto da iniciação científica de qualidade desde as primeiras séries pode ser fundamental para despertar o gosto por ciências no futuro”, diz.
Os organizadores também apostam na educação não formal e na parceria com a iniciativa privada para tentar mudar esse quadro. “Precisamos criar museus e centros de ciência para estimular uma cultura científica que hoje não existe”, defende o presidente da Abramundo. “Podemos pensar, por exemplo, em exposições sobre os ciclos do petróleo ou da agricultura, áreas em que atuam empresas enormes.” Lima conclui: “O problema não é só da escola, já que muitas pessoas não voltarão à sala de aula; é aí que a ação de igrejas, sindicatos e empresas pode ser fundamental.”

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line

quarta-feira, 9 de abril de 2014

1964: a versao da conspiracao americana prevalece na academia

Descobriram a pólvora os acadêmicos: parece que os nossos militares foram uns bonecos nas mãos dos agentes americanos. Quanto bobagem disfarçada de pesquisa histórica...
Parece que se não fosse pelos americanos, o governo Goulart continuaria feliz e bem sucedido, no seu itinerário de reformas progressistas, alta inflação, caos administrativo, quebra de hierarquia nas FFAA, deterioração das instituições (com Brizola recomendando fechar o Congresso), enfim, sem os americanos, tudo teria dado certo no Brasil, e teríamos aderido gentilmente ao socialismo, se não fossem esses malditos americanos.
Parece que vamos ter de continuar com a mistificação histórica durante muito tempo mais.
Paulo Roberto de Almeida

Ditadura orquestrada

Ciência Hoje, em 01/04/2014
Documentos secretos recém-revelados confirmam protagonismo dos Estados Unidos na instauração da ditadura militar no Brasil. A investigação é tema de documentário.
Ditadura orquestrada
O então presidente do Brasil João Goulart (à esq.) e o embaixador norte-americano Lincoln Gordon (à dir.) em 1961. Gordon foi figura-chave no planejamento do golpe que depôs Jango em 1964. (foto: TV Brasil – EBC/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)
Não é exatamente uma novidade. Rezam as más línguas que a ditadura militar brasileira foi arquitetada pelos Estados Unidos. Para alguns, é um fato histórico inquestionável. Para outros, no entanto, isso é mera teoria da conspiração.
O tema é sensível. Mas, de acordo com documentos históricos recém-revelados, não resta dúvida: o golpe militar de 1964 foi, de fato, uma tramoia dos ianques.
Os dados indicam que os norte-americanos tramaram e executaram, meticulosamente, cada passo que culminaria, em abril de 1964, na deposição do presidente João Goulart
Essa história sempre foi mal contada. Agora, um instigante documentário – O dia que durou 21 anos – apresenta fatos e dados de difícil refutação. São documentos oficiais e gravações em áudio que mostram conversas de embaixadores e políticos norte-americanos tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Esses dados indicam que os norte-americanos tramaram e executaram, meticulosamente, cada passo que culminaria, em abril de 1964, na deposição do presidente João Goulart e na instauração de um dos períodos mais sombrios de nossa história política.
E é claro que, para o sucesso do plano, foi fundamental a cumplicidade de alguns conhecidos barões de imprensa. Em tempo: o regime militar alavancou a ascensão de um império midiático ainda hoje influente no país – assunto que, é claro, não poderia ficar de fora do documentário.
Vale a pena assistir. Dirigido por Camilo Tavares, o documentário foi lançado em março de 2013. E a dica vem em boa hora. Pois em 2014 memoramos – ou lamentamos – os 50 anos do início da ditadura militar no Brasil.

Veja abaixo a primeira parte do documentário O dia que durou 21 anos



Em narrativa bem estruturada, o diretor apresenta documentos e gravações outrora secretos que provam a intervenção estadunidense em nosso país. Historiadores brasileiros e norte-americanos são entrevistados, além de militares da velha guarda – que, em discursos ora cínicos, ora realistas, expõem as contradições do regime que, em nome de uma suposta democracia, impôs uma ditadura.
Figura-chave é o embaixador norte-americano Lincoln Gordon. A mando dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson, ele dedicava-se com afinco ao planejamento de estratégias de intervenção.

Ciência e subversão

A ciência brasileira foi particularmente afetada pelo regime ditatorial – que durou de 1964 a 1985. Quem nos dá um relato vivaz a esse respeito é o patologista Luiz Hildebrando Pereira da Silva, atualmente diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia. Ele publicou, em 2012, o livro Crônicas subversivas de um cientista (resenhado na CH 294, disponível para assinantes em nosso acervo digital).
No Brasil, houve uma verdadeira diáspora de cientistas
Hildebrando relata os percalços de sua carreira científica – e da de seus colegas – durante as décadas em que a academia estava subjugada aos caprichos dos militares. E dá exemplos contundentes de que, no Brasil, houve uma verdadeira diáspora de cientistas, que, sob acusações descabidas de subversão, exilaram-se ou rumaram em definitivo para outras terras.
Foi assim que, segundo Hildebrando, o país atrasou em pelo menos duas décadas seu progresso científico e tecnológico.

sábado, 8 de junho de 2013

Literatura brasileira nos EUA: Yale University - Prof. Paulo Moreira

Foco na periferia

À margem dos centros locais e nacionais, o mundo rural atraiu o olhar simultaneamente crítico e afetivo de William Faulkner, Juan Rulfo e Guimarães Rosa. Esse é o ponto de partida de obra lançada no Brasil pelo professor Paulo Moreira, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Por: Roberto B. de Carvalho, 
Ciência Hoje, 05/06/2013
Os escritores William Faulkner (1897-1962), Juan Rulfo (1917-1986) e João Guimarães Rosa (1908-1967) estão entre os maiores nomes da literatura dos Estados Unidos, do México e do Brasil, respectivamente. Estudioso dos contos desses autores, o professor Paulo Moreira, do Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Yale (EUA), acaba de publicar, pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a obraModernismo localista das Américas.
Capa de Modernismo localista das AméricasNo livro, Moreira – que se graduou em letras na UFMG e fez mestrado e doutorado em literatura comparada na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA) – articula, em perspectiva comparativa, três pontos que, a seu ver, aproximam a obra daqueles autores: o conto, a estética narrativa moderna e o localismo (termo que prefere usar no lugar de ‘regionalismo’). “Embora se diga que a narrativa moderna é expressão primordial das metrópoles, quase toda a obra de Faulkner, Rulfo e Rosa se ocupa de áreas rurais”, diz Moreira.
Nesta entrevista ao sobreCultura +, ele trata desses eixos temáticos de seu livro, da antologia imaginária de contos dos três autores que criou para embasar suas análises e do quadro atual dos estudos de literatura brasileira nos Estados Unidos.

Ver a entrevista no link: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/sobrecultura/2013/06/foco-na-periferia

domingo, 19 de agosto de 2012

Interpretacoes do Brasil: Paulo Prado, Sergio Buarque, Gilberto Freyre


Ensaios de interpretação do Brasil

A reedição de 'Retratos do Brasil', livro clássico de Paulo Prado, nos leva a indagar sobre a possível atualidade desse gênero. Será que ainda há espaço, hoje, para ensaios desse tipo? Os sociólogos Renan Springer de Freitas e Leopoldo Waizbort respondem a essa pergunta no 'sobreCultura 9', suplemento trimestral da CH.
Por: Renan Springer de Freitas e Leopoldo Waizbort
Ciência Hoje online, em 11/08/2012
Ensaios de interpretação do Brasil
Além de e 'Retratos do Brasil', 'Raízes do Brasil', de Sérgio Buarque de Holanda, e 'Casa-grande & senzala', de Gilberto Freyre, são exemplos de livros que no passado tentaram interpretar o país. (foto: Breno Peck/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

Mórbido exercício de ajustar contas com o passado

por Renan Springer de Freitas
Receio que o tempo dos ‘ensaios de interpretação do Brasil’ já tenha ficado para trás. Claro, ninguém pode ser impedido de se mover nessa direção, da mesma forma que ninguém pode ser impedido de escrever um poema épico, mas duvido muito que qualquer desses caminhos possa se revelar promissor. Na verdade, essa analogia não é muito feliz porque os poemas épicos têm uma grandeza que os ditos ‘ensaios de interpretação do Brasil’ jamais tiveram.
Receio que o tempo dos ‘ensaios de interpretação do Brasil’ já tenha ficado para trás
Tomemos o caso de Casa-grande & senzala – para muitos, o que de melhor já se produziu no gênero. Nesse livro, Gilberto Freyre se empenha em mostrar que o nosso passado colonial imprimiu sua marca sobre a ‘nossa’ maneira (especial) de ser. Como tantos estudiosos de sua geração, Freyre se deixou seduzir pela ideia de converter a ‘singularidade brasileira’ em objeto de reflexão sociológica e, na medida em que o fez, sua obra capital pode mesmo ser considerada um ‘ensaio de interpretação do Brasil’. 
No meu entendimento, entretanto, a grandeza do livro nada tem a ver com isso. Ela reside, antes, na prosa incomparável e no extraordinário talento etnográfico do autor. São os registros etnográficos, muito mais que as considerações a respeito das raízes socioculturais do ‘modo brasileiro de ser’ ou das características distintivas do ‘brasileiro’, que fazem de Casa-grande & senzala o monumento que é.
Em Sobrados e mocambos, publicado poucos anos depois, já não há vestígio daquela preocupação em interpretar o Brasil. O desafio, agora, está em reconstruir o processo de transformação pelo qual passou a sociedade brasileira entre os séculos 18 e 19. Limito-me a um exemplo: até o século 18, as mulheres dos sobrados eram confinadas à cozinha. Freyre mostra como isso vai gradativamente se alterando; como as mulheres vão pouco a pouco conquistando os novos cômodos dos sobrados, até ganharem as janelas. 
Uma etnografia dessa natureza, cuja riqueza chega ao ponto de incluir uma descrição do modo como o corpo das mulheres se altera com o tempo, nada tem de ‘ensaio interpretativo’: não se busca, aqui, especular sobre as raízes das características distintivas da sociedade brasileira. Talvez seja conveniente esclarecer que nada vejo de errado em discorrer sobre este ou aquele traço característico dos brasileiros. Crônicas inspiradas podem ser produzidas por meio desse exercício. Mas ‘crônica inspirada’ não se confunde com etnografia e muito menos com a erudita e laboriosa reconstrução de processos históricos feita por historiadores. 
Capa, Raízes do Brasil
O que acabo de dizer não é novidade para os leitores do historiador Evaldo Cabral de Mello. Para ele, Raízes do Brasil é o livro menos importante de Sérgio Buarque de Holanda (embora o mais conhecido) exatamente por reverberar o “vezo entre mórbido e narcísico de ajustar contas com o passado nacional” peculiar à literatura ensaística da década de 1930. 
A literatura sobre o Brasil que se produziu nessa época, esclarece Evaldo Cabral no posfácio aRaízes do Brasil, “constituiu uma moda intelectual que, da península Ibérica, transmitiu-se ao Brasil e América hispânica. Sintomaticamente, este gênero de ensaio não frutificou nem na Europa nem nos Estados Unidos, como se, através de uma cadeia de mediações complexas, ele cristalizasse a própria marginalização histórica a que Espanha e Portugal se viam relegados e, com eles, as suas ex-colônias americanas”. 
Posteriormente, em 1998, em entrevista à revista Veja, Evaldo acrescentou que esforços em produzir interpretações sobre o próprio país, como se vê, por exemplo, em Retrato do Brasil, de Paulo Prado, foram uma moda peculiar aos países europeus que, no século 19, padeciam (em razão de sua condição periférica) de uma “angústia de identidade”.
Não precisamos proceder como se vivêssemos com um furúnculo latejante a nos atormentar...
Curiosamente, há um sociólogo alemão cujos escritos conduzem à mesma conclusão. Refiro-me a Norbert Elias (1897-1990). Não tenho conhecimento de sociólogo americano que tenha se interessado em ‘interpretar’ os Estados Unidos, nem de sociólogo inglês em ‘interpretar’ a Inglaterra ou francês em ‘interpretar’ a França. Mas Elias escreveu Studienüber die Deutschen (Os alemães, na tradução brasileira). Há uma razão óbvia para isso: a ascensão do nazismo se deu na Alemanha e isso levantou a questão de saber o que havia de errado em relação aos alemães. O mórbido exercício de ajuste de contas com o passado tornou-se imperativo nesse caso. Como escreve Elias pouco antes de morrer: “Tem-se frequentemente a impressão de que o furúnculo Hitler ainda não estourou. Lateja, mas o pus ainda não saiu. Os estudos que se seguem estão primordialmente interessados em problemas do passado alemão”. 
Elias se pôs, então, a discutir o modo como o “passado alemão” imprimiu sua marca no modo de ser ou, como ele diz, no habitus alemão. Mas é ele próprio quem ressalva: “encontramo-nos hoje num ponto de mutação em que muitos dos problemas, incluindo os de habitus, estão perdendo sua pertinência, e novas tarefas para as quais não existem paralelos históricos estão surgindo de todos os lados”. Mais de 20 anos se passaram desde que Elias escreveu essas palavras. Muita coisa mudou. O furúnculo Hitler (assim quero crer!) já estourou; o mórbido exercício de prestação de contas em relação ao passado para descobrir “o que significa ser alemão” perdeu sua razão de ser. O “problema do habitus”, que então apenas “perdia sua pertinência”, já a perdeu (assim espero!) completamente. O mesmo vale para o Brasil. Não precisamos proceder como se vivêssemos com um furúnculo latejante a nos atormentar...

Renan Springer de Freitas é professor de sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais
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O voo grandioso da síntese

por Leopoldo Waizbort
Ainda há espaço para ensaios de interpretação do Brasil? Eis aí um problema. Aponto algumas de suas faces. Os ‘ensaios’ são tentativas de uma síntese acerca do que seria o Brasil – o ‘povo’, a ‘nação’, a ‘história’, a ‘raça’, ou ainda alguma característica sua peculiar e potencialmente definidora. Uma síntese que fosse capaz de dizer algo de substantivo acerca de um ser, de algo que é: precisamente o que ele é, e como é. Ocasionalmente, de seu devir. E não se trata somente de síntese, mas, em mesma medida, de afirmação. Exige que se descubram os elementos a sintetizar, que se descubra a fórmula mágica da síntese, que se descubra o sentido da afirmação, que se revele por meio de tudo isso o verdadeiro ser.
Hoje as humanidades, o terreno dos ‘ensaios de interpretação do Brasil’, são muito diferenciadas e diversas. Diferenciadas disciplinar e institucionalmente; diversificadas conceitual, analítica e metodologicamente. Um conjunto de diferenças que torna, cada vez mais, as sínteses inalcançáveis, pois falta um chão comum e uma perspectiva que vislumbre por inteiro seu objeto. O resultado já se antevê: fragmento na perspectiva de abordagem e especialização como campo de decolagem (e pouso?). Seria possível um ‘ensaio’ nessas condições? Creio que aqui a resposta ‘não’ encontra argumentos fortes.
As sínteses oferecidas no passado foram sempre marcadas por uma subjetividade forte, que dobrava a objetividade do conhecido
E onde se poderia encontrar argumentos para um ‘sim’? Antes de tudo, na vontade daqueles que não querem abrir mão dessa modalidade de expressão cognitiva acerca do Brasil. Eles laboram perscrutando a história do gênero, escrevendo-a, reescrevendo-a e ensinando-nos a respeito do assunto. Conhecendo mais e melhor, ganhamos uma outra perspectiva, que se não é a que permite a síntese, ao menos a situa histórica e socialmente. Ao fazer isso, começamos a criar um chão comum em meio à diversidade. Em virtude da diversidade, tentativas de síntese só podem brotar sob a sombra de campos disciplinares e especializações determinadas, sem potencial analítico e metodológico para alçar o voo grandioso da síntese. Guarnecida pelo avanço do conhecimento, a visada restrita precisa abarcar já tanto – em virtude do processo de acumulação infindo das humanidades – que nos faltam maratonistas de fôlego. 
Não há dúvida de que sínteses são importantes. Elas, contudo, nas condições atuais do conhecimento, mal atingem a altura de uma perspectiva globalizante dentro da especialidade. Os balanços disciplinares estão aí para mostrar o tamanho da encrenca.Talvez grupos de pesquisa, no molde das novas formas de organização e gestão do conhecimento, possam criar espaços de síntese, mas vai faltar sempre o coração pulsante e apaixonado que possibilitava e orientava os antigos mestres. As sínteses que ofereceram no passado foram sempre marcadas por uma subjetividade forte, que dobrava a objetividade do conhecido. 
Não há dúvida de que sínteses são importantes. Elas, contudo, nas condições atuais do conhecimento, mal atingem a altura de uma perspectiva globalizante dentro da especialidade
Hoje, essa dobra, além de mais complexa, corre o risco de não ser aceita pela comunidade leitora potencial, que se afina evidentemente com os padrões historicamente desenvolvidos de análise, método,  conceito e exposição. A isso se soma a velocidade acelerada do processo do conhecimento, que não quer saber do tempo de construção da síntese, de maturação lenta.
Após os surtos de formação da universidade moderna no século 19, de especialização da universidade pós-moderna no século 20 e em meio ao atual surto de diplomação da universidade de massas contemporânea, não há mais lugar social para a concepção e execução desses ‘ensaios’; mas eles continuam ao alcance das mãos, para leitura e reflexão.

Leopoldo Waizbort é professor de sociologia na Universidade de São Paulo e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

domingo, 29 de abril de 2012

Livros disponiveis no Scielo, alem periodicos, dezenas deles


Livros acadêmicos na rede

Repositório de periódicos e artigos científicos na internet cresce e passa a publicar livros virtuais de livre acesso.
Livros acadêmicos na rede
O Scielo Livros disponibiliza obras acadêmicas editadas por instituições de pesquisa e já conta com 200 títulos. (imagem: reprodução)
A rede Scielo, maior repositório virtual de periódicos e artigos científicos de leitura livre do Brasil e do mundo, acaba de ganhar um novo ramo, o Scielo Livros, que contempla livros acadêmicos editados por instituições de pesquisa.
A página recém-inaugurada já conta com mais de 200 títulos, a maioria da área de ciências humanas e sociais, como história, sociologia, filosofia, literatura, letras, educação e arte.
A página recém-inaugurada já conta com mais de 200 títulos, a maioria da área de ciências humanas e sociais
Por enquanto, só estão disponíveis obras editadas pela Fundação Oswaldo Cruz, Universidade Federal da Bahia e Universidade Estadual Paulista, instituições que financiam o projeto. Mas um dos coordenadores da rede, Abel Packer, avisa que o Scielo Livros está aberto a publicações de outras editoras. “À medida que novas editoras adotem o Scielo, a coleção de livros cobrirá progressivamente as demais áreas do conhecimento”, diz.
A biblioteca virtual também vai abrir espaço para a venda de livros, cuja renda será revertida para a manutenção do site. Todas as obras são disponibilizadas em pdf e em ePUB, arquivo de livro eletrônico que permite a visualização em diferentes formatos de leitores digitais, de tablets asmartphones.
Assim como os periódicos no Scielo, os livros publicados pelo Scielo Livros são selecionados segundo um controle de qualidade aplicado por um comitê científico. Packer diz que a meta inicial do projeto é atingir uma média anual de dois mil livros a partir de 2014.
Para chegar à meta, a rede vai contar ainda com publicações estrangeiras, de países que já fazem parte do Scielo tradicional. Packer anuncia que uma proposta de participação será apresentada a Argentina e Colômbia ainda neste mês. “Queremos maximizar a visibilidade, a acessibilidade, o uso e o impacto da produção científica e acadêmica do Brasil e dos demais países que participam da rede Scielo”, completa.

Assista ao vídeo de divulgação do Scielo Livros


Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

sábado, 31 de dezembro de 2011

Retrospectiva cientifica de 2011 - Ciencia Hoje


Retrospectiva 2011

Publicado em 26/12/2011
A CH On-line fez uma seleção de acontecimentos relevantes deste ano em cinco áreas: química, física, saúde, meio ambiente e ciências humanas. Confira nesta semana!
Retrospectiva 2011
2011 foi o ano da química, dos neutrinos supervelozes, das doenças crônicas, de avanços em estudos sobre a Aids, dos desastres naturais, das mudanças climáticas, das revoltas no mundo árabe... (montagem a partir de foto de Alex Slobodkin/ iStockphoto)
Retrospectivas, como bem disse a nossa colunista e historiadora Keila Grinberg, são, como a maioria das escolhas, subjetivas. A retrospectiva da CH On-line deste ano não é uma exceção. Por isso, vale explicar um pouco a ideia e as escolhas por trás dela.
Comecemos pela ideia inicial, que não vingou. Pensamos em voltar a alguns estudos importantes divulgados durante o ano e relatar seus desdobramentos desde então. A intenção era ressaltar o caráter contínuo da ciência.
A cobertura jornalística atual nessa área, no Brasil e em outros países, ao dar demasiada ênfase aos resultados de pesquisas e a suas aplicações práticas, ajuda a construir uma imagem deslocada – no tempo e no espaço – e utilitária da ciência – o que chega a justificar a ira de alguns pesquisadores diante da pergunta: “Para que serve isto?”.
Selecionamos áreas nas quais acontecimentos pontuais ganharam especial atenção e que, por motivos diferentes, devem marcar a história da ciência
Apesar das boas intenções, logo concluímos que seria difícil registrarmos desdobramentos relevantes de estudos divulgados há tão pouco tempo. Alguns meses ou mesmo um ano é um período curto para avanços significativos em pesquisas científicas.
Optamos, então, por um caminho mais seguro: selecionar áreas nas quais acontecimentos pontuais ganharam especial atenção este ano – no Brasil e no mundo – e que, por motivos diferentes, devem marcar de alguma forma a história da ciência.

Escolhas fáceis

No Ano Internacional da Química, instituído para comemorar os 100 anos do Nobel de Química da polonesa Marie Curie, não podíamos deixar essa área de fora. O Brasil participou ativamente das comemorações, realizando inúmeras atividades ligadas à divulgação da ciência que estuda a estrutura e a transformação das substâncias.
Durante o ano, dois novos elementos foram incorporados à tabela periódica, e a Academia Real de Ciências da Suécia surpreendeu ao conceder o Nobel de Química ao israelense Daniel Shechtman pela descoberta dos quasicristais, feita há quase 30 anos – o cientista já tinha desistido do prêmio. Quanto à pesquisa na área, o foco esteve principalmente na nanotecnologia.
O ano da física também foi especialmente agitado, sobretudo por conta dos neutrinos supostamente mais velozes que a luz. Não é por menos. Eles contradizem uma teoria importante de Einstein e, se comprovados, podem (e devem) causar uma reviravolta na física.
Palestra ministrada pelo físico Dario Auterio
Plateia da palestra ministrada pelo físico Dario Auterio, em 23/09/11, sobre os resultados do experimento com os neutrinos ultravelozes, do qual é um dos autores. O feito foi recebido com ceticismo pela comunidade científica. (foto: Maximilien Brice e Benoit Jeannet/ Cern)
Ainda nessa área, falou-se muito no Grande Colisor de Hádrons, o famoso LHC, e na sua insistente busca pelo bóson de Higgs. Também não é por acaso. A comprovação de sua existência garantiria a paz no universo da física de partículas, já que praticamente todas as teorias utilizadas nesse campo dependem dela. Caso contrário, a bagunça também vai ser grande – o que, no fundo, muitos físicos desejam.
Neste mês, pesquisadores que procuram pela partícula em projetos conduzidos no LHCdivulgaram resultados inconclusivos dos experimentos feitos até aqui, mas prometeram dar o veredicto no ano que vem. Fica a dúvida: se o bóson de Higgs não for encontrado, é possível descartar 100% a sua existência?

Seleção difícil

Em saúde, ficou bem mais complicado fazer escolhas. São tantas pesquisas, doenças, políticas... Optamos por uma divisão entre doenças crônico-degenerativas e enfermidades infectocontagiosas, visto que o Brasil vive um momento de transição importante no que diz respeito a esses dois tipos de problemas.
Historicamente, as doenças crônico-degenerativas são tratadas como um problema exclusivo do primeiro mundo. No entanto, nos últimos anos, elas vêm afetando cada vez mais o Brasil. Hoje, são tão ou mais preocupantes que as enfermidades infectocontagiosas – estas sim típicas de países em desenvolvimento –, o que exige uma reestruturação significativa do sistema de saúde pública do país.
No que tange às doenças crônicas, os destaques do ano se devem a novas aplicações da genética contra o câncer. Já em relação às enfermidades infecciosas, 2011 foi marcado pela estabilização das epidemias de Aids e tuberculose e pelo desenvolvimento de novas vacinas e estratégias terapêuticas.

Arenas mais conflituosas

Falar de meio ambiente em 2011 é lembrar de desastres naturais, no Brasil e no mundo.Enchentes devastaram o nordeste da Austráliao estado de Minas Gerais e a região serrana do Rio de Janeiro – evento natural com impactos sem precedentes no país.
Enchentes da região serrana no Rio
Vista aérea de Santa Rita, zona rural de Teresópolis, em janeiro deste ano. As enchentes da região serrana no Rio de Janeiro deixaram mais de 800 mortos. (foto: Daniel Marenco/ CC BY-NC 2.0)
Terremotos destruíram partes da Nova Zelândia, da Turquia e do Japão – este seguido de tsunami e de acidente nuclear na usina de Fukushima, cujos efeitos ainda estamos tentando entender. Um deles é uma reflexão mais profunda sobre o uso da energia nuclear.
O ano do meio ambiente foi marcado ainda por uma série de estudos, polêmicas e políticas relacionadas às mudanças climáticas – que se cogita estarem ligadas à maior frequência de eventos naturais extremos.
Enquanto fazia bonito na África do Sul, defendendo metas de diminuição de emissões para países em desenvolvimento e ajudando a resolver impasses político-terminológicos, o Brasil aprovava, no Senado, o texto-base do novo Código Florestal Brasileiro, que vem sendo criticado por ‘flexibilizar’ o desmatamento.
Falando em política nacional, vamos aos destaques nas ciências humanas: o primeiro ano de mandato da primeira ‘presidenta’ do Brasil; os avanços nas causas legais homoafetivas – casamento e união estável –; o caso do livro didático Por uma vida melhoracusado de ensinar regras de português erradas; e a proliferação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro.
No âmbito internacional, impossível não falar dos acontecimentos em torno do que ficou conhecido como a primavera árabe, que envolveu a derrubada do presidente da Tunísiae o fim da era Mubarak no Egito e está dando trabalho para Assad, presidente da Síria, sem falar no assassinato de Kadafi, na Líbia.

Veja vídeo com imagens da praça Tahir, no Egito, tomada por manifestantes em janeiro de 2011



Manifestações políticas também agitaram o mundo ocidental. Em Lisboa, o movimento ‘Geração à rasca’ tomou a Avenida da Liberdade para reivindicar melhores condições de trabalho. Em Madri, milhares de pessoas se reuniram na praça Puerta del Sol para protestar contra o sistema político do país. A praça Zuccotti, em Nova Iorque, foi palco do‘Occupy Wall Street’, protesto contra a crise econômica e o sistema financeiro do país. O papel das redes sociais nesses e em outros acontecimentos importantes também mereceu destaque e reflexões.
2011 também foi o ano da marca dos 7 bilhões de pessoas no mundo; da descoberta de diversos planetas extrassolares, da aposentadoria dos ônibus espaciais da Nasa, de avanços importantes relacionados à Aids, do feijão transgênico brasileiro e de tantos outros acontecimentos importantes que nem sempre conseguimos cobrir por falta de pessoal, recursos e, sobretudo, tempo. Não seria fantástico se um dia a ciência conseguisse fabricar mais tempo?
Mas voltemos aos fatos e à nossa retrospectiva. Nesta semana, você vai poder relembrar com mais detalhes a maior parte dos acontecimentos aqui destacados, escritos pela equipe que, durante todo o ano, buscou informar os leitores, da melhor forma possível, sobre acontecimentos relevantes do mundo científico, no intuito de fortalecer cada vez mais os laços entre a ciência e a sociedade.

Carla AlmeidaCiência Hoje On-line