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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Marcos Rolim: “Brasil precisa de políticas públicas de desradicalização” - Rafael Ciscati (Brasil de Direitos)

 Marcos Rolim apresenta e disseca um amplo panorama e uma análise ponderada e acurada sobre processos de radicalização e desradicalização, não só no Brasil. Um longo caminho na construção de nossa democracia. PRA

Entrevista

Brasil precisa de políticas públicas de desradicalização, defende professor

Na avaliação de Marcos Rolim, sociedade abriu espaço para radicais que ameaçam a democracia. Combate ao extremismo passa por ações educativas e pela regulação das redes sociais


Rafael Ciscati

O Brasil passa por um processo de radicalização política que coloca em risco a democracia. Apesar da gravidade do quadro, as medidas adotadas para deter os extremismos ainda soam tímidas. A avaliação é do sociólogo Marcos Rolim, do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), de Porto Alegre. Segundo ele, em nome da “liberdade de expressão” e sob as bênçãos das plataformas de redes sociais, a sociedade brasileira abriu “espaços da democracia para aqueles que se mobilizam para destruí-la”. 

Rolim estuda processos de radicalização política. A intenção é  entender o que leva uma pessoa a considerar justificável — ou até mesmo a adotar—  ideias e posturas violentas como forma de alcançar objetivos políticos. 

É uma preocupação coerente com o Brasil de 2024. Ainda em novembro deste ano, um radical de direita detonou uma bomba diante do Supremo Tribunal Federal, em Brasília. E, em 8 de janeiro de 2023, uma horda enfurecida invadiu prédios e vandalizou a Praça dos Três Poderes, na esperança de derrubar o presidente recém-eleito.

Rolim explica que, embora a radicalização política não seja um fenômeno exclusivo da direita, é ela que mais preocupa no Brasil em função da proporção que tomou. Essa forma de extremismo ganha força no meio digital, em fóruns de internet e aplicativos de mensagem cujos participantes estimulam o radicalismo um do outro, dobrando a aposta continuamente: “ Ocorre mais ou menos assim: alguém tem uma posição conservadora mas não violenta. Quando começa a participar de bolhas radicalizadas, percebe que todos os demais compartilham posições tendencialmente violentas. Então percebe que se a sua posição for ainda mais extremada, isso lhe garantirá aprovação e prestígio”, conta Rolim

O radicalismo de direita no Brasil, por fim, carrega uma particularidade perigosa: ele tem representatividade política. “Ainda que sejam minoritários na sociedade, são grupos influentes e muito significativos politicamente, possuem bancadas inteiras que os representam e seus discursos foram “normalizados” nas redes e na mídia”. 

Na avaliação do professor,  reverter esse quadro exige a criação de políticas públicas de desradicalização que atuem em dois eixos: de um lado, envolvam ações educativas; de outro, atuem para regular as plataformas de redes sociais.

Outra medida importante, diz Rolim, é processar e punir extremistas:

“É fundamental transmitir para o conjunto da sociedade essa mensagem: quem tramar golpe de Estado, quem planejar assassinatos, quem reproduzir discursos de ódio, será processado, julgado e preso e as penas serão longas para que os punidos tenham o tempo necessário para refletir e desistir de seus ideais de morte’.

O que é a radicalização política e como identificar um indivíduo radicalizado? 

Marcos Rolim: Se tomarmos os estudos específicos sobre o tema como os trabalhos de  Olivier Roy e Gilles Kepel nos anos 1990, e de  Marc Sageman, como “Understanding Terror Networks” que saiu em 2004, a radicalização política é um fenômeno social que tem sido estudado, internacionalmente, já há pelo menos três décadas.   Antes disso, vários autores e autoras contribuíram teoricamente para a compreensão do fenômeno. Hannah Arendt, especialmente, foi muito importante e penso que seu livro sobre “As Origens do Totalitarismo” é um marco incontornável e, ainda hoje, muito atual.   Não há, nessa trajetória de estudos, um consenso sobre muitos conceitos, mas, como regra, pode-se dizer que se considera que uma pessoa ou um grupo social se radicalizou quando passa a propor, defender ou legitimar ações violentas e letais como meio para alcançar seus objetivos políticos. Há pessoas que se radicalizam apenas cognitivamente, uma parte menor delas vai além e se radicaliza comportalmente. A rigor, qualquer plataforma ideológica ou religiosa pode amparar processos de radicalização.  Pessoas e grupos radicalizados podem pensar de forma muito diversa e compartilhar noções antagônicas, à direita ou à esquerda, sendo cristão, judeus ou muçulmanos – para citar apenas três vertentes monoteístas.  O que todos os grupos radicalizados têm em comum é a disposição de empregar a violência em nome de uma “causa” que passa a oferecer um sentido as suas vidas, a ponto de estarem dispostas também a entregas as suas vidas em nome desse ideal. Funcionalmente, o processo de radicalização é uma preparação para o confronto violento e seu horizonte é sempre a guerra civil.

As pessoas que acamparam diante quartéis em 2022, por exemplo, eram radicais?

Não se pode afirmar isso com certeza para todas elas ou mesmo para a maioria, porque temos poucos dados empíricos a respeito. Algumas características ali presentes, entretanto, sugerem que muitas daquelas pessoas já haviam concluído seu processo de radicalização, enquanto outras estavam se radicalizando.  Não por acaso, aliás, partiram daqueles acampamentos muitos dos que se deslocaram à Brasília para participar da tentativa de golpe do dia 08 de janeiro.  O movimento que essas pessoas integravam – e muitas, certamente, ainda integram – era, claramente, um movimento radicalizado que propôs, desde o primeiro momento, uma ruptura com a ordem democrática, com a solicitação em favor do que chamavam, eufemisticamente, de “Intervenção militar”.  O Brasil e os Poderes constituídos, aliás, assistiram passivamente a ação de um movimento radicalizado que propunha a violência contra esses mesmos Poderes como se aquilo fosse muito normal e expressão da “liberdade de expressão”.   Tudo isso sob a vigência do Código Penal que em seu artigo  286 assinala: “Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa. Parágrafo único – Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade”.   

Parece que uma boa parte dos indivíduos radicalizados no Brasil pertence a uma certa classe média. Não são pessoas em situação de vulnerabilidade, ou que sofram perseguições por pertencerem a grupos minorizados. Levando em conta o contexto brasileiro, existem fatores  que tornem uma pessoa mais ou menos propensa à radicalização?

Há vários fatores que podem desencadear processos de radicalização e não é necessário que uma pessoa ou um grupo social estejam em situação de vulnerabilidade para que se radicalizem. O mais comum, é que determinadas circunstâncias sociais promovam ideias como a da superioridade de um grupo que se imagina detentor de uma “verdade” a qual só ele teve acesso – essas pessoas teriam sido “escolhidas”, assim, para uma “missão”. Esse é um módulo muito comum aos movimentos terroristas de base religiosa. Outras vezes, um determinado grupo social pode se sentir  vítima de uma injustiça, de um logro, de uma manipulação, o que costuma mobilizar sentimentos profundos de ressentimento pré-existentes, etc   Quase sempre, a radicalização depende de uma crença de que a  situação  é  terrível e que os resultados que virão em breve levarão o mundo, o país, as famílias, nossa classe, nossa raça, nossa religião etc para a extinção. Essa enormidade do mal a ser enfrentado, que é sempre um mantra das teorias da conspiração, é exatamente o caminho que irá fazer parecer às pessoas radicalizadas que a opção pela violência é necessária, urgente e até mesmo lógica. Há outros processos que podem envolver dinâmicas de vingança. Assim, por exemplo, as “Viúvas Negras Chechenas” buscavam matar russos como resposta à dor e à humilhação que passaram por terem sido vítimas de estupro e por terem presenciado o assassinato de seus maridos. Os “Tigres Negros” das brigadas suicidas que lutaram pela independência do povo tâmil no Sri Lanka eram sobreviventes de atrocidades cingalesas. Vários dos suicidas palestinos agiram por vingança por conta de ataques das FDI contra vizinhos ou familiares como motivo para o auto-sacrifício e assim sucessivamente. Esse tipo de dinâmica, entretanto, não se verifica no Brasil. A radicalização entre nós é motivada ideologicamente, é criada em bolhas on-line em um processo de deslocamento das posições médias em direção ao extremo pelo desequilíbrio. Ocorre mais ou menos assim: alguém tem uma posição conservadora mas não violenta. Quando começa a participar de bolhas radicalizadas, percebe que todos os demais compartilham posições tendencialmente violentas. Então percebe que se a sua posição for ainda mais extremada, isso lhe garantirá aprovação e prestígio; todos os demais percebem o mesmo e a dinâmica, naturalmente, desloca o grupo para a radicalização crescente.

Há como combater esse processo de radicalização crescente?

Os estudos na área mostram que sim, que é possível e necessário desenvolver políticas de desradicalização. Sabe-se que os fenômenos de radicalização atuais têm sido potencializados pelas interações on-line. Antes das redes sociais, era possível recrutar pessoas para movimentos radicalizados, mas esse processo era muito limitado, porque dependia de interações face a face. Desde as redes sociais e a deep web, os recrutamentos ocorrem on-line e se multiplicam aos milhares através de plataformas oferecidas por impérios de comunicação digital que lucram com a viralização de conteúdos criminosos, com a proposição do ódio, do racismo, da homofobia, da misoginia e com a reprodução ampliada de mentiras que colocam a vida das pessoas em risco e que levam muitas à morte. Um jovem radicalizado que deseje montar uma bomba com potencial para demolir um prédio irá encontrar instruções detalhadas de como fazê-lo nessas plataformas e, também, de como apagar seus rastros e dificultar sua identificação pela polícia.  Movimentos antivacina se espalham entre as  pessoas incultas com a força de uma praga bíblica que irá nos trazer de volta a paralisia infantil, entre outras doenças praticamente erradicadas e, aí, quando se tenta  no Brasil, aprovar uma lei que responsabilize as  plataformas por esse tipo de conteúdo, se dissemina nas bolhas da extrema direita a desinformação de que “querem censurar a Internet”.  Então, a regulamentação das plataformas é uma medida essencial. Pouca gente soube, mas o bolsonarista que tentou explodir o STF foi radicalizado no movimento “QAnon”, uma das grandes Teorias da Conspiração disseminadas por “chans” na “deep web”, como a pesquisa do Stop Hate Brasil identificou a partir do processamento com IA do conjunto de postagens do terrorista. 

 A radicalização política observada no Brasil, hoje, é um fenômeno exclusivo da extrema direita?

Não é um fenômeno exclusivo da extrema direita. Há alguns pequenos grupos de extrema esquerda radicalizados ou em processo de radicalização no Brasil também, mas são grupos que não possuem qualquer expressão e não têm um só vereador eleito em todo o Brasil. Já os grupos radicalizados de extrema direita mobilizam milhões de pessoas. Ainda que sejam minoritários na sociedade, são grupos influentes e muito significativos politicamente, possuem bancadas inteiras que os representam e seus discursos foram “normalizados” nas redes e na mídia, sem que a ampla maioria das pessoas se dê conta de que estamos dando espaços da democracia para aqueles que se mobilizam para destruí-la.  Aqui seria importante retomar uma das mais qualificadas vertentes do pensamento liberal representada pela obra magistral de Karl Popper, “A Sociedade Aberta e seus Inimigos”, referida como “o paradoxo da liberdade”. Uma ideia cuja síntese é: não podemos tolerar a intolerância.

 No artigo publicado no Fonte Segura (boletim enviado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública), o senhor aponta que um caminho importante para conter a radicalização é responsabilizar e punir sujeitos que cometem atos extremos. Vários indivíduos que participaram da invasão à Praça dos Três Poderes foram presos. Mesmo assim, houve um atentado à bomba contra o STF recentemente. A via da responsabilização não é suficiente?

 A Alemanha, não por acaso, é, possivelmente, o país onde mais se avançou em estudos sobre radicalização e desrradicalização, o que tem se refletido em uma alta consciência sobre a necessidade de se reprimir movimentos radicalizados. Em diferentes operações policiais, grupos radicalizados, todos de perfil neonazistas, têm sido identificados e presos, o que é uma estratégia muito importante para a desrradicalização.  É fundamental transmitir para o conjunto da sociedade essa mensagem: quem tramar golpe de Estado, quem planejar assassinatos, quem reproduzir discursos de ódio, será processado, julgado e preso e as penas serão longas para que os punidos tenham o tempo necessário para refletir e desistir de seus ideais de morte. Se tivermos isso presente, fica claro que o processo de responsabilização em curso no Brasil pelo 8 de janeiro está apenas no seu início.  Além daquela massa de manobra, é preciso processar, julgar e punir os que as manobraram. Se isso ocorrer, e nunca se sabe, né, bem isso terá um efeito extraordinário por seu símbolo. Em um país que viu torturadores e assassinos da ditadura serem promovidos, aposentados e elogiados publicamente, não será pouco mandar golpistas para a cadeia.  É claro, entretanto, que a punição não é suficiente. Os governantes precisam produzir iniciativas mais amplas de desrradicalização e a sociedade civil deve debater esse tema. Há iniciativas importantes a tomar no sistema educacional, por exemplo, porque já estamos vivendo uma dinâmica de radicalização que alcança adolescentes.  A dificuldade maior aqui, como em tantos outros temas, é a ausência de uma cultura de política pública com base em evidências. No Brasil, somos apaixonados por narrativas ideológicas. Poucas pessoas, incluindo poucos políticos e gestores, lidam com evidências científicas, o que forma um cenário que torna os processos de radicalização mais fáceis. Nos faltam muitas coisas como nação, entre elas a coragem cívica, o ceticismo e a determinação de conhecer.

 Em um outro artigo, o senhor fala em processos de desradicalização coletiva conduzidos por lideranças que abandonam sua ideologia. O senhor vislumbra algo semelhante acontecendo no Brasil hoje?

 Há muitas pessoas que já foram radicalizadas e que superaram essa perspectiva. Uma boa parte da militância de esquerda sob a ditadura, por exemplo, se formou em um processo de radicalização e, desde o início da democratização, foi se distanciando dos pressupostos violentos que compartilhou. Eu mesmo vivi isso muito de perto e considero que integrei movimentos radicalizados em minha juventude. Evidente que regimes ditatoriais que impedem a luta política e que se mantém no Poder pelo arbítrio, pela prática da tortura e dos assassinatos irá ensejar resistência; um tipo de procedimento que foi, aliás, acolhido pela mais forte tradição liberal que sempre valorizou a resistência contra os tiranos, pacífica ou não.  Determinadas perspectivas ideológicas entre a esquerda, entretanto, como muitas das que se reivindicam do marxismo, por exemplo, assumiram a ideia da “Revolução” como sinônimo de luta armada e, em muitas oportunidades, na América Latina e em outras regiões, travaram a luta armada dentro de regimes democráticos o que não se pode tolerar.  Nem todos os que se envolveram nesses processos completaram um ciclo coerente autocrítico, mas, efetivamente, nenhuma dessas pessoas cogita o emprego de métodos violentos nas disputas políticas, o que é um resultado muito importante em termos históricos. Para uma referência mais recente, basta ter presente o processo de paz na Colômbia, por exemplo.  Atualmente, já temos no Brasil várias pessoas que se radicalizaram com o bolsonarismo e que conseguiram sair da “toca do coelho”, para usar uma expressão muito usado na literatura internacional para se referir ao processo de radicalização. Algumas dessa pessoas mantém posições ideologicamente de direita e seguirão votando em partidos conservadores – o que é da democracia, mas não querem saber de mais ódio, nem se dispõe a ser massa de manobra de espertalhões que compram mansões com dinheiro vivo e de covardes que açulam o povo enquanto preparam planos de fuga.  Será preciso que esse processo se amplie e que novos desiludidos surjam às centenas de milhares.


domingo, 27 de agosto de 2023

Problemas Públicos, Soluções Privadas? Nem sempre, não necessariamente (2016, 2023) - Paulo Roberto de Almeida

Em 2016, muita gente achava que eu era um liberal completo, ou seja, em quaisquer circunstâncias, e sob chuvas e marés, o que nunca fui, a despeito de aceitar que o estatismo conduz a soluções no mais das vezes ineficientes, sendo mais adequadas respostas que se coadunem com as condições gerais de uma economia livre.

Tendo recebido um convite de estudantes liberais para que eu me expressasse com base no título desse trabalho, sem a interrogante, eu acrescentei o ponto de interrogação e passei a responder de acordo com minha percepção dos problemas, no que posso ter desagradado muita gente que esperava que eu respondesse sempre pela afirmativa. Nunca fui de agradar meus anfitriões, concordando com tudo o que eles pensam, e sempre fui de me guiar por minhas próprias percepções, com base em muito estudo e muita observação da realidade, o que me permite ter reflexões próprias e soluções ad hoc, para os problemas das políticas públicas.

Por isso, posto novamente o que eu dizia sete anos atrás, sem mudar uma virgula do que escrevi.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 27/08/2-023

 

3039. “Problemas Públicos, Soluções Privadas? Nem sempre, não necessariamente”, Brasília, 12 setembro 2016, 9 p. 

Reflexões de um liberal contrarianista para palestra organizada pelos Estudantes Pela Liberdade, capítulo de Belo Horizonte, em 20 de setembro, tentando demonstrar a importância de não ser fundamentalista de mercado no encaminhamento de questões de interesse relevante para a sociedade. Palestra divulgada no site dos Estudantes Pela Liberdade. Texto disponibilizado na plataforma Academia.edu (13/09/2016; link: https://www.academia.edu/s/e4d696a571/3039-problemas-publicos-solucoes-privadas-nem-sempre-nao-necessariamente-2016). Divulgado no blog Diplomatizzando (13/09/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/problemas-publicos-solucoes-privadas.html). Nova postagem em 27/08/2023, incorporando comentários efetuados por leitores no momento da primeira publicação, em 2016. Nova postagem na plataforma Academia.edu (27/08/2023; link: https://www.academia.edu/105988712/3039_Problemas_Públicos_Soluções_Privadas_Nem_sempre_não_necessariamente_2016_2023_).

Problemas Públicos, Soluções Privadas?

Nem sempre, não necessariamente!

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 [Palestra para Estudantes Pela Liberdade-BH, 20 de setembro de 2016]

Texto disponibilizado inicialmente na plataforma Academia.edu (13/09/2016; link: https://www.academia.edu/s/e4d696a571/3039-problemas-publicos-solucoes-privadas-nem-sempre-nao-necessariamente-2016). Divulgado em primeira mão no próprio dia, no blog Diplomatizzando (13/09/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/problemas-publicos-solucoes-privadas.html). Foi objeto de comentários de leitor na plataforma Academia.edu, transcritos ao final do texto.

 

 

Nos últimos anos, tive o privilégio de participar de diversos eventos promovidos por capítulos regionais dos Estudantes Pela Liberdade, em algumas cidades do Brasil. Acabo justamente de oferecer algumas reflexões sobre o populismo econômico e a ‘destruição destrutiva’ na América Latina em evento organizado pelo EPL de Brasília, no último dia 16 de setembro (texto publicado em Mundorama, 9/09/2016; link: http://www.mundorama.net/2016/09/09/populismo-economico-e-destruicao-destrutiva-na-america-latina-por-paulo-roberto-de-almeida/). Digo privilégio porque este tipo de iniciativa seria muito difícil de ser realizado até alguns anos atrás, e impensável quando de minha graduação universitária, entre o final dos anos 60 e a primeira metade dos 70. 

A despeito do regime militar, supostamente de direita – na verdade, ele era tão, ou mais, estatizante e nacionalista quanto se pretende ainda hoje uma esquerda que sugere e promove políticas econômicas muito semelhantes àquelas da era militar – as escolas públicas, em geral, e as universidades, em especial, já eram dominadas por essa fauna bizarra que eu denomino de “gramscianos de academia”, o que não quer dizer que seus representantes tenham lido Gramsci ou Marx, no máximo cartilhas muito sintéticas ou aquelas vulgatas simplistas que exigem poucos neurônios no esforço de leitura.

Entendo que eu esteja recebendo estes convites dos Estudantes Pela Liberdade na suposição otimista de que eu integre as correntes liberais, faça parte de movimentos libertários, ou que eu seja, de alguma forma, identificado com posturas políticas que caracterizam “pessoas de direita”. Sinto decepcionar os que assim acreditam, mas não me defino absolutamente por qualquer rótulo político muito estrito, ainda que na juventude – e lá se vão várias décadas – eu me pretendia marxista; mas eu acrescentava logo em seguida: marxista, mas não religioso. O que eu quero dizer com isto? Eu lia, sim, o meu Marx, o meu Lênin, e vários outros socialistas, mas ao lado deles eu também lia Raymond Aron, Roberto Campos e muitos teóricos e pensadores liberais, bem como de quaisquer outras tendências políticas. Sempre fui eclético em minhas leituras e em minhas tomadas de posição em relação aos principais problemas da sociedade: depois de sair do Brasil, no período mais duro do regime militar, viajei muito e li muito; visitei todos os socialismos existentes, os reais e os surreais, assim como conheci todos os tipos de capitalismo, dos ideais aos esquizofrênicos; também frequentei todas as bibliotecas abertas à minha curiosidade insaciável. Parto do princípio de que a gente aprende sobretudo mediante dois métodos de estudo e de observação: nos bons livros (e até em alguns maus, também) e no contato com a realidade, em viagens, em conversas com todo tipo de gente, sobretudo as inteligentes. 

Pelos livros, na observação atenta do modo de funcionamento dos mais diversos tipos de países, fui aperfeiçoando minhas concepções políticas e econômicas, até chegar a esta não definição atual: não me considero um liberal, ou libertário, pois não creio nos rótulos reducionistas. No máximo eu poderia ser classificado de liberal contrarianista, ou então como um racionalista, ou seja, alguém que sempre procura definir problemas nos seus próprios termos, examinando as questões pela sua substância, ou sua essência, antes que por algum princípio genérico e invariável. Sempre tento formular respostas a desafios concretos, não teóricos, segundo as melhores armas do pensamento crítico, o que sempre envolve um alto grau de ceticismo sadio em relação a respostas prontas a problemas que invariavelmente são sempre mais complexos do que nossa capacidade analítica, de diagnóstico ou de tipo prescritivo. 

Este posicionamento preliminar tem importância para esta minha palestra a vocês, nesta noite. Fui convidado pelo capítulo de Belo Horizonte dos Estudantes Pela Liberdade sob a sugestão de que eu poderia falar alguma coisa em torno deste binômio: “problemas públicos, soluções privadas”. Parece claro, transparente, unilateral, o que justamente desperta meus instintos contrarianistas, ainda que de corte liberal. O que eu tento fazer, em todos os meus escritos e palestras, é demonstrar a importância de não ser um fundamentalista de mercado, pelo lado econômico, ou um principista político, no terreno doutrinal, no encaminhamento de questões de interesse relevante na sociedade. É, portanto, com base nestas considerações de ordem geral que eu me disponho a tentar formular algumas reflexões pessoais sobre o público e o privado enquanto mecanismos supostamente antagônicos para a definição de soluções privadas a problemas públicos, ou coletivos. Não creio que se possa partir dessa dicotomia para encaminhar de modo adequado soluções efetivas a uma infinidade de problemas com que nos defrontamos nas sociedades completamente urbanizadas e altamente complexas que são as nossas.

 

Pois bem, o que poderíamos dizer a propósito dessa fórmula aparentemente sedutora que me foi oferecida como tema de palestra: problemas públicos, soluções privadas? Em primeiro lugar que ela pode ser um bom slogan, e até um bom princípio organizador, de caráter geral, para a definição inicial e um encaminhamento muito preliminar de quaisquer problemas detectados e que requerem soluções criativas, em função dos recursos disponíveis e da dimensão das populações envolvidas. Mas ela é também redutora, no sentido em que pretende enfeixar problemas necessariamente diferentes num mesmo cesto unidirecional de respostas, apontando para o polo oposto ao do problema, ou seja, sair do público, considerado talvez como pouco eficiente, para caminhar resolutamente em direção das soluções privadas, supostamente as melhores.

Pode ser que seja assim, ou talvez deva ser assim na maior parte dos casos, mas uma regra de bom senso, ou de precaução, recomendaria que adotássemos uma postura de questionamento completo, integral, de um problema específico considerado, para a partir daí começar a examinar esse problema de todos os ângulos possíveis, e com todas as informações disponíveis, para só então formular respostas tentativas, talvez parciais, de caráter eminentemente pragmático, ao desafio em causa. Vamos examinar, a título exemplificativo, alguns casos de problemas brasileiros, e suas soluções possíveis, sempre tentando adequar essas questões aos critérios que me foram oferecidos como uma espécie de guia de ação para seu encaminhamento satisfatório, ou seja: problemas públicos, soluções privadas. Serei sintético na exposição e nas prescrições.

Quais são, em minha opinião, os maiores problemas brasileiros, públicos, portanto, ou coletivos, e quais seriam as supostas soluções privadas a esses mesmos problemas? Minha lista, não exaustiva, cobre uma dúzia de problemas “coletivos”, os quais vou discutir sumariamente segundo o mesmo formato: breve exposição de qual seria o problema, proposta de solução, natureza da solução pela dicotomia proposta. 

 

1) Problema: Peso excessivo do Estado brasileiro para a economia e a sociedade.

Solução: Redução radical do peso do Estado na vida da nação, começando pela diminuição à metade do número de ministérios, com a redução ou eliminação concomitante de uma série de outras agências públicas. 

(...)


Ler a íntegra neste link: 


https://www.academia.edu/105988712/3039_Problemas_Públicos_Soluções_Privadas_Nem_sempre_não_necessariamente_2016_2023_


quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Coletânea Enap sobre políticas públicas, palestras de convidados estrangeiros: livro disponível

Uma excelente iniciativa da ENAP. Acesse a íntegra da Coletênea em português ou inglês.

https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/7211/17/enap_collection.pdf

Coletânea Enap facilita acesso aos conteúdos que demonstram as dinâmicas da inovação apresentadas em eventos na Escola entre 2019 e 2022.

Com essa publicação, a Enap pretende ser o ponto de partida para qualquer pessoa saber mais sobre os desafios do mundo e do setor público e facilitar a exploração e aprofundamento desses temas.

Confira:

yuval Harari 1  Palestra: Governo e IA / Government and AI                   

jared diamond 2 Palestra: Reviravolta: momentos cruciais de nações em crise / Turnaround: pivotal moments of nations in crisis

 jimmy wales   Palestra: Plataformas colaborativas para provocar mudanças / Collaborative platforms to bring about change

glen weyl   Palestra: Tranformar o presente para um amanhã justo, descentralizado e cooperativo / Tranforming the present for a fair, decentralized and cooperative tomorrow

steven pinker   Palestra: Racionalidade: como inspirar a reflexão ponderada? / Rationality: how to inspire a balanced reflection

deirdrePalestra: Como a inovação humana funciona / How human innovation works

carlota   Palestra: Economia em transformação: sustentabilidade, desenvolvimento e tecnologias / Economy in transformation: sustainability, development and technologies

tim    Palestra: Como construir sistemas dinâmicos e usar mais dados digitais / How to build dynnamic systems and use more digital data

audrey   Palestra: Futuros radicais: dados e coalizões de dados / Radical futures: data and data coalitions

paula  Palestra: Economia em transformação: sustentabilidade, desenvolvimento e tecnologias / Economy in transformation: sustainability, development and technologies

bruno maçaes  Palestra: Da covid à emergência climática: nosso contexto de crises e incertezas / From covid to climate emergency: our context of crises and uncertainties

dan ariely    Bate-papo com Dan Ariely /Chitchatting with Dan Ariely

 vitalik Palestra: Liberdade para transformar financiamento de bens públicos / Freedom to transform funding of public goods

 

Acesse a íntegra da Coletênea em português ou inglês.

https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/7211/17/enap_collection.pdf