Descobriram a pólvora os acadêmicos: parece que os nossos militares foram uns bonecos nas mãos dos agentes americanos. Quanto bobagem disfarçada de pesquisa histórica...
Parece que se não fosse pelos americanos, o governo Goulart continuaria feliz e bem sucedido, no seu itinerário de reformas progressistas, alta inflação, caos administrativo, quebra de hierarquia nas FFAA, deterioração das instituições (com Brizola recomendando fechar o Congresso), enfim, sem os americanos, tudo teria dado certo no Brasil, e teríamos aderido gentilmente ao socialismo, se não fossem esses malditos americanos.
Parece que vamos ter de continuar com a mistificação histórica durante muito tempo mais.
Paulo Roberto de Almeida
Ditadura orquestrada
Documentos secretos recém-revelados confirmam protagonismo dos Estados Unidos na instauração da ditadura militar no Brasil. A investigação é tema de documentário.
O então presidente do Brasil João Goulart (à esq.) e o embaixador norte-americano Lincoln Gordon (à dir.) em 1961. Gordon foi figura-chave no planejamento do golpe que depôs Jango em 1964. (foto: TV Brasil – EBC/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)
Não é exatamente uma novidade. Rezam as más línguas que a
ditadura militar brasileira foi arquitetada pelos Estados Unidos. Para alguns, é um fato histórico inquestionável. Para outros, no entanto, isso é mera teoria da conspiração.
O tema é sensível. Mas, de acordo com documentos históricos recém-revelados, não resta dúvida: o golpe militar de 1964 foi, de fato, uma tramoia dos ianques.
Os dados indicam que os norte-americanos tramaram e executaram, meticulosamente, cada passo que culminaria, em abril de 1964, na deposição do presidente João Goulart
Essa história sempre foi mal contada. Agora, um instigante documentário –
O dia que durou 21 anos – apresenta fatos e dados de difícil refutação. São documentos oficiais e gravações em áudio que mostram conversas de embaixadores e políticos norte-americanos tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Esses dados indicam que os norte-americanos tramaram e executaram, meticulosamente, cada passo que culminaria, em abril de 1964, na deposição do presidente João Goulart e na instauração de um dos períodos mais sombrios de nossa história política.
E é claro que, para o sucesso do plano, foi fundamental a cumplicidade de alguns conhecidos
barões de imprensa. Em tempo: o regime militar alavancou a ascensão de um império midiático ainda hoje influente no país – assunto que, é claro, não poderia ficar de fora do documentário.
Vale a pena assistir. Dirigido por Camilo Tavares, o documentário foi lançado em março de 2013. E a dica vem em boa hora. Pois em 2014 memoramos – ou lamentamos – os 50 anos do início da ditadura militar no Brasil.
Veja abaixo a primeira parte do documentário O dia que durou 21 anos
Em narrativa bem estruturada, o diretor apresenta documentos e gravações outrora secretos que provam a intervenção estadunidense em nosso país. Historiadores brasileiros e norte-americanos são entrevistados, além de militares da velha guarda – que, em discursos ora cínicos, ora realistas, expõem as contradições do regime que, em nome de uma suposta democracia, impôs uma ditadura.
Figura-chave é o embaixador norte-americano
Lincoln Gordon. A mando dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson, ele dedicava-se com afinco ao planejamento de estratégias de intervenção.
Ciência e subversão
A ciência brasileira foi particularmente afetada pelo regime ditatorial – que durou de 1964 a 1985. Quem nos dá um relato vivaz a esse respeito é o patologista Luiz Hildebrando Pereira da Silva, atualmente diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia. Ele publicou, em 2012, o livro
Crônicas subversivas de um cientista (resenhado na
CH 294, disponível para assinantes em nosso
acervo digital).
No Brasil, houve uma verdadeira diáspora de cientistas
Hildebrando relata os percalços de sua carreira científica – e da de seus colegas – durante as décadas em que a academia estava subjugada aos caprichos dos militares. E dá exemplos contundentes de que, no Brasil, houve uma verdadeira diáspora de cientistas, que, sob acusações descabidas de subversão, exilaram-se ou rumaram em definitivo para outras terras.
Foi assim que, segundo Hildebrando, o país atrasou em pelo menos duas décadas seu progresso científico e tecnológico.