Ciclos civilizatórios e desempenho de nações
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre ascensão e declínio dos impérios
Civilizações progridem, regridem, fenecem, somem, como muito bem estudado por Toynbee desde os anos 1930 até os anos 1960. Em 1947, escrevendo sobre a trajetória dos EUA, ele já previa o começo do declínio americano, ou melhor, o atingimento do auge de sua ascensão fulgurante. Demorou mais um pouco, enquanto persistiu o desafio civilizatório do comunismo, hoje inexistente (mas o fascismo é um fenômeno mais resiliente, pois que mantendo a economia privada).
Mais recentemente, Robert Gordon, em The Rise and Fall of American Growth (2014), diagnosticou o declínio industrial e o esgotamento das possibilidades de ascensão. Acho que ele está errado, mas o declínio industrial é um fato.
Os EUA não correm o risco de desaparecer, mas estão fenecendo, por falta de energia do povo, embora o seu modo de “desenvolvimento” futuro (melhor falar de evolução) ainda não está totalmente definido.
Energia do povo é o que não faz falta (ainda) na China (mas já ocorreu no passado e pode ocorrer de novo). As perspectivas demográficas não são brilhantes, mas o Japão já enfrenta essa retração humana sem perder inovação e competitividade.
Rússia e Índia são casos diferentes dos demais, requerendo diferenciação interna a cada caso. A Rússia é uma assemblagem de povos diversos, mantida sob férreo absolutismo desde sua conformação na era moderna e contemporânea. Não sabemos ainda como evoluirá, se para o democratismo ocidental, se para o despotismo asiático. A Índia foi um caos pelos últimos 3 mil anos: o nacionalismo hindu a unificou, mas ela tem muitas contradições internas.
O Brasil é muito lento em todos os seus passos: manteve o escravismo cem anos além do padrão civilizatório esperado; e ainda continua sem educação de massa de qualidade. Vai evoluir positivamente, mas vai tomar muito mais tempo para que a melhoria dos padrões educacionais gerais diminua o patrimonialismo e a corrupção endêmica de seu sistema oligárquico, a única coisa persistente ao longo de vários ciclos de sua vida política e social.
Brasília, 4707, 20 julho 2024, 1 p.