Toda vez que você pensa que será possível viver sem o Wikileaks, ele surge com uma novidade interessante. Essa notícia que você está lendo o blogue publica em primeira mão.
Acabo de ler um telegrama secreto da diplomacia americana que contém uma revelação constrangedora para o governo brasileiro.
Antigo assessor especial do Ministério da Justiça, o advogado Pedro Abramovay deixou o posto para cumprir uma missão designada pelo governo brasileiro: disputar a direção executiva do escritório da ONU para o Combate às Drogas e ao
Crime Organizado.
Não era uma missão qualquer. Também não era uma ação individual, mas um projeto de governo, coerente com a política de ocupar espaços disponíveis em organismos internacionais.
Sabe-se agora, graças ao Wikileaks, que a candidatura de Abramovay não só foi atacada por países que tinham outros candidatos. Também foi sabotada por dentro, por diplomatas brasileiros. Num telegrama de fevereiro de 2010, classificado como “Confidencial”, menciona-se que um diplomata brasileiro “comentou confidencialmente” que a candidatura de Abramovay tinha apoio do Ministério da Justiça, mas enfrentava oposição dentro do Itamaraty. A mensagem não dá o nome do diplomata, mas informa que ocupava um posto de adjunto na missão brasileira em Viena naquela época.
O documento registra também que havia uma discussão em torno do candidato brasileiro. Cita inclusive a posição do “México e outros países”, para quem o posto em debate talvez fosse “importante demais” para um pretendente tão jovem. Pode ser.
Também pode ser que a intervenção do diplomata brasileiro não tenha sido tão decisiva assim. Mas não é isso que se espera de um diplomata, vamos combinar. Antes de tudo, seu dever é a lealdade com seu próprio país.
E aí está a vantagem de viver num mundo que tem um Wikileaks. Pelo menos fica-se sabendo da história ou de uma parte dela.
Em 1987, quando o governo brasileiro decretou a moratória da Dívida Externa, criou-se um ambiente de pressão e crítica em torno do país. Em parte, isso se devia à própria moratória, ideia que até hoje provoca polêmica e debate entre economistas de todas as correntes. Mas ao menos em parte isso também se deveu a vazamentos internos.
Emissários do próprio governo brasileiro costumavam reunir-se com bancos estrangeiros para informá-los do enfraquecimento da equipe econômica junto aos empresários e à base de apoio do governo Sarney. Informavam que a proposta de moratória recebia críticas e provocava muitas incertezas. Com essa atitude, eles contribuíam para enfraquecer a posição de Brasília quando sentava-se para conversar com credores. “A gente já começava a conversa numa posição de fraqueza”, relata um integrante da equipe. “Se já era difícil obter alguma concessão, essa atitude tornava tudo mais difícil ainda.”