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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Chefe do Pnud defende taxar múltis e ‘super-ricos’ - Estevão Taiar

 Chefe do Pnud defende taxar múltis e ‘super-ricos’

Para Achim Steiner, medidas permitiriam fortalecer o combate a pobreza, desigualdade e mudanças climáticas

Por Estevão Taiar — De Brasília 

Medidas que elevem a arrecadação dos países, como a taxação global de multinacionais e um imposto sobre os "super-ricos" ao redor do planeta, abrem espaço para fortalecer o combate a pobreza, desigualdade e mudanças climáticas. A avaliação é do subsecretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Achim Steiner. Ele está no Brasil para as reuniões do G20, grupo que reúne as principais economias do planeta, além de União Europeia e União Africana.

Em entrevista exclusiva ao Valor, Steiner destaca a importância "de os governos aumentarem receitas para realizarem os investimentos necessários" no combate aos três desafios: pobreza, desigualdade e mudanças climáticas.

"Isso depende bastante da arrecadação doméstica", diz. A ONU calcula que, para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos em 2015 pela Assembleia Geral da entidade sejam alcançados, os países precisarão investir US$ 5,4 trilhões anualmente, dos quais US$ 2,4 trilhões em investimentos climáticos.

A taxação de multinacionais foi defendida ontem pela secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, em entrevista coletiva realizada em São Paulo - onde ela também está para as reuniões do G20. A proposta, elaborada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), sugere taxação de pelo menos 15% sobre os lucros de multinacionais com receita anual superior a € 750 milhões, independentemente do local em que elas operem.

Para Steiner, as declarações de Yellen são "um sinal importante de que muitos países concordaram" que a proposta é "boa para todo mundo". Ele reconhece, no entanto, que a implantação do imposto "obviamente vai demorar para ser negociada".

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou em entrevista ao jornal "O Globo" no fim de semana que apresentará nas reuniões do grupo uma proposta para a taxação global dos "super-ricos".

O subsecretário da ONU destaca que não conhece o conteúdo da proposta. Mas diz que com o aumento da arrecadação governamental talvez essa seja "uma maneira melhor" de direcionar "parte da riqueza global" para "enfrentarmos alguns dos grandes desafios" atuais. Entre os exemplos dos desafios, ele cita a "necessidade de investimentos em tecnologias que levem a economia e a criação de empregos para o futuro".

Para Steiner, a presidência brasileira do G20 também é uma notícia positiva, justamente por trazer um foco "muito bem-vindo" para o combate a pobreza, desigualdade e mudanças climáticas. A presidência começou em 1-de dezembro do ano passado e vai até 30 de novembro próximo.

Mas o subsecretário da ONU chama atenção para outros problemas que pretende tratar durante as reuniões ao longo da semana. Um é a performance desigual da economia mundial depois das elevações das taxas básicas de juros em todo o planeta. Enquanto os países ricos vêm conseguindo alcançar um "pouso suave", a mesma coisa não acontece com os países em desenvolvimento, de acordo com o administrador do Pnud.

Um segundo problema é o serviço da dívida pago também pelos países em desenvolvimento. Durante a maior parte da pandemia, o G20 suspendeu o pagamento da dívida que essas nações tinham com o grupo e organismos multilaterais. Posteriormente, criou uma espécie de tratamento comum ("common framework") para lidar com essas obrigações.

Ainda assim, números da ONU mostram as dificuldades que diversas economias vêm enfrentando: países de renda baixa gastam em média 130% a mais no serviço da dívida do que em assistência social e 40% a mais do que gastam em saúde; 48 países gastam mais de 10% de sua arrecadação com o serviço da dívida, contra 28 países uma década atrás; em 22 dos "países mais pobres do mundo" o custo do serviço da dívida externa deve superar 20% da arrecadação no futuro, o que não acontecia há mais de duas décadas.

"Tudo isso significa que esses recursos não estão disponíveis para educação, saúde, infraestrutura e certamente não estão disponíveis para os grandes investimentos necessários no combate às mudanças climáticas", afirma. "A nossa responsabilidade é lembrar para o G20 que as decisões deles afetam todos os países."

Um desafio adicional com o qual o grupo terá que lidar são as tensões geopolíticas. "A geopolítica imediatamente afeta a habilidade de os países se unirem no G20 e concordarem em atuarem juntos", diz Steiner, destacando que "passos mais ousados" em temas como mudanças climáticas e serviço da dívida das nações em desenvolvimento já vêm esbarrando nessas tensões.

Dentro do Brasil especificamente, ele elogia o Plano de Transição Ecológica coordenado pelo Ministério da Fazenda. De acordo com o subsecretário da ONU, "há sinais extraordinários" de que o plano traça um "bom caminho" a ser seguido por outros países. Mas, mais uma vez, Steiner reconhece que a implantação de todas as medidas não é algo simples. 

"Estamos observando como o Brasil vai avançar, porque são assuntos complexos. Alguns são de curtíssimo prazo, ligados a questões fiscais, subsídios, impostos. Outros são de longo prazo, como qual a maneira de incentivar o setor privado a investir na mitigação e na adaptação às mudanças climáticas", afirma. 


Steiner nasceu no Brasil, mas se mudou ainda na infância e também tem nacionalidade alemã. Ele é administrador do Pnud desde 2017, atualmente no segundo mandato. É graduado em filosofia, política e economia pela Universidade de Oxford e tem passagens acadêmicas, entre outras instituições, pela Universidade Harvard e pelo Instituto Alemão de Desenvolvimento.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Centro de Política Tributária da OCDE elogia proposta de reforma tributária do Brasil - Estevão Taiar (Valor)

O que talvez a Diretora da OCDE não saiba é que o Brasil foi um dos primeiros países do mundo, depois da então Comunidade Econômica Europeia, a adotar o sistema tributário do IVA, em meados dos anos 1960, por reformas promovidas pelo então ministro do Planejamento Roberto Campos, o ICM, que depois foi sendo deformado nos anos seguintes, em especial pela Constituição de 1988, até virar o "manicômio tributário" de que fala o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Paulo Roberto de Almeida

 Centro de Política Tributária da OCDE elogia proposta de reforma tributária do Brasil

Por Estevão Taiar, Valor — Brasília

06/03/2023 11h54  Atualizado há uma hora

A diretora do Centro de Política Tributária da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Grace Perez Navarro, elogiou nesta segunda-feira (06) a proposta de reforma tributária do governo federal, baseada no Imposto sobre Valor Agregado (IVA).

A afirmação foi feita por Navarro a jornalistas antes de ela participar de reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na sede da pasta. Segundo ela, a proposta está “em linha” com as diretrizes da OCDE. A reforma “é um passo muito positivo”, disse.

Um ponto que Navarro abordaria com Haddad na reunião seriam as mudanças nos preços de transferência, como é chamada a tributação que incide sobre transferências realizadas por um mesmo grupo empresarial entre países diferentes.

“Estamos trabalhando com o Brasil nisso há cinco anos, então estamos muito ansiosos para ver [as mudanças] completamente implantadas”, afirmou.

Ela também defendeu que o Brasil adote o imposto global mínimo ligado à digitalização da economia. “Isso vai garantir que, não importa qual o planejamento tributário das multinacionais, o Brasil tenha um imposto mínimo efetivo de 15%”, afirmou.
Por fim, destacou a importância de o Brasil adotar medidas, de precificação ou não, que ajudem a diminuir as emissões de carbono. Navarro afirmou que o combate às mudanças climáticas é uma das prioridades do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A acessão do Brasil à OCDE era um dos principais pontos da agenda do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o governo Bolsonaro. A organização é uma espécie de clube global de boas práticas de políticas públicas.

Em janeiro, Lula disse que “o Brasil tem interesse em participar da OCDE”, mas também destacou que gostaria de “saber qual será o papel” do país na organização.

 “[O Brasil] não pode participar como se fosse um país menor, como se fosse um país observador”, disse. “Estamos dispostos a discutir outra vez e saber quais são as condições da entrada do Brasil na OCDE.”

Haddad, por sua vez, já afirmou que a “aproximação” com a organização estava “acontecendo naturalmente” e que seria necessário “ver com o Itamaraty e o presidente da República os próximos passos”.

“Temos de desenhar a política que vai ser feita para se alinhar às determinações do presidente da República”, disse. 


https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/03/06/centro-de-poltica-tributria-da-ocde-elogia-proposta-de-reforma-tributria-do-brasil.ghtml