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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

A morte da rainha Elizabeth II: entrevista à Rádio BandRS - Paulo Roberto de Almeida, Guilherme Macalossi

 A morte da rainha Elizabeth II: entrevista à BandRS  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Notas para participação na emissão de Guilherme Macalossi, “Bastidores do Poder”, na Rádio BandRS, em 9/09/2022, 14:30 hs.

  

Perguntas: 

1. A Rainha Elizabeth II e seu papel na renovação da monarquia de 1952 para cá

PRA: Elizabeth II como rainha acidental, bem diferente, mas tão decidida quanto sua predecessora de quatro séculos antes, a primeira Elizabeth, que rechaçou a Armada espanhola e nem precisou do Francis Drake para isso.

A segunda Elizabeth foi, por assim dizer, uma “rainha acidental”, pois seu pai era o segundo da lista e não estava previsto que se tornasse rei. Foi aquele rei gago, do filme “O Discurso do Rei”. O primogênito, príncipe Edward, desistiu para casar-se com uma americana divorciada duas vezes, e ele era um pouco nazista. O novo rei George VI não gostava do Winston Churchill, mas teve de convidá-lo para ser primeiro-ministro na hora mais sombria da Grã-Bretanha, ameaçada pela invasão das forças nazistas. Se George VI tivesse se alinhado com os pacifistas do gabinete britânico, que consentiram na vergonha de Munique em 1938, o Reino Unido teria se transformado num império tutelado pelo regime nazista.

Ao assumir o trono com apenas 27 anos, tendo assistido e participado das horas mais sombrias da IIGM, Elizabeth nunca perdeu o bom-humor e a simpatia que caracterizaram todo o seu reinado, o mais longo da história das monarquias britânicas.

Ela presidiu, com non chalance, pode-se dizer, ao desmantelamento do Império Britânico, depois que seu pai, ex-vice-rei na Índia, teve de se desfazer de uma das joias da coroa britânica, que a Rainha Vitória tinha ganho de presente da Companhia das Índias Orientais Britânicas, em meados do século XIX. Primeiro foi Suez, em 1957, uma humilhação, quando Grã-Bretanha e França tiveram de retirar as tropas do Sinai, em apoio a Israel numa das raríssimas ocasiões em que URSS e EUA atuaram de acordo, contra o velho colonialismo europeu. Depois foram as colônias africanas, e só restaram algumas no Caribe, poucas pérolas na Ásia, pertencentes à Commonwealth, onde ainda estão Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e alguns outros. O último desfazimento do Império, o maior do mundo um século atrás, ocorreu em 1997, quando Hong Kong foi devolvida à China, depois de conquistada nas horrendas guerras do ópio contra o Império do Meio, no século XIX.

Junto com os Beatles, a rainha trouxe bilhões de libras ao povo britânico, pela atração que ambos exercerão no mundo inteira, pela música da banda e pelo charme da Coroa.

 

2. A monarquia constitucional como sistema de governo

PRA: Trata-se do mais estável e mais democrático regime conhecido em toda a história mundial, ainda que oligárquica no início, ou um pouco menos aristocrático no século XX, quando os trabalhistas do Labour substituíram os Whigs, ou Liberais, como segundo maior partido do regime, dividindo os gabinetes com o Tories, ou Conservadores. 

A monarquia constitucional começa mais de 800 anos atrás, com a Magna Carta, de 1215, segundo a qual ninguém está acima da Lei, nem mesmo o Rei, junto com o habeas corpus, ou justiça independente, e o princípio do no taxation without representation, ou seja, o soberano não pode criar impostos ou taxar os súditos sem o seu consentimento.

A Magna Carta foi completada pelo Bill of Rights, de 1689, segundo o qual “o rei reina, mas não governa”, consolidando assim o sistema de governo parlamentar, sob uma monarquia constitucional não escrita, mas costumeira. Desde a Revolução Gloriosa, a Inglaterra, Grã-Bretanha desde 1703 – com a unificação com a Escócia – e depois Reino Unido no século XX (ainda que os irlandeses não concordassem, até 1921), os governos parlamentares se sucederam ininterruptamente nas ilhas britânicas, sem qualquer descontinuidade desde então. É, para os britânicos, o melhor sistema possível, que projeta raízes retrospectivamente desde os tempos medievais, ou pelo menos desde a invasão dos normandos em 1066, Guilherme o Conquistador.

 

3. A importância do Reino Unido na Europa Moderna

PRA: Foi relevante, mais pelo que impediu de fazer, do que pelo que fez. Impediu Napoleão de submeter toda a Europa, resistiu à tirania de Hitler, que poderia ter dominado toda a Europa por várias décadas se vencesse a resistência de Churchill, e também resistiu, já como sócio menor dos Estados Unidos, à dominação soviética sobre a mesma Europa nos tempos de Stalin. E resistiu contra a Comissão de Bruxelas, nas suas tentativas de enquadrar todos os países membros da CEE e depois UE, sobretudo no caso da moeda comum.

Depois do Brexit, no entanto, ela vai enfrentar um declínio relativo, isolada de uma das locomotivas da economia mundial. Veremos se haverá renegociação com a Comissão e o Conselho europeu.

 

4. A integridade do Reino Unido e os movimentos separatistas a partir do reinado de Charles

PRA: Existem sinais de possível fragmentação do Reino agora Desunido, sobretudo vindos da Escócia e da Irlanda do Norte. Como sempre, tudo depende de quem paga o quê. O plebiscito escocês de separação foi derrotado porque os escoceses pensaram nas suas pensões.

 

5. Relação entre Reino Unido e Brasil

PRA: A mais velha relação do Brasil, remontando a Portugal desde os Descobrimentos e a Restauração de 1640, com o mais antigo tratado bilateral ainda em vigor. No século XIX, as elites brasileiras eram financiadas em libras britânicas, mas tinha manias francesas. Depois, os britânicos foram substituídos pelos EUA. 

Mas são relações ainda importantes em todos os domínios. 

A Rainha esteve no Brasil em 1968, e diversos presidentes brasileiros efetuaram visitas de trabalho ou de Estado ao Reino Unido.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4235: 9 setembro 2022, 3 p.


sábado, 14 de março de 2015

A divisao da nacao: um missao dos companheiros - Guilherme Macalossi (IL)

Apenas transcrevendo, mas corresponde inteiramente ao que eu vinha escrevendo desde as manifestações de 2013 e novamente em 2014. Não terminei, mas bate em grande medida com o que está sintetizado aqui.
Paulo Roberto de Almeida

O Sintoma Kfouri
Por Guilherme Macalossi
Instituto Liberal, 12/03/2015

O PT, herdeiro tupiniquim do bolchevismo, tem apostado, desde muito tempo, numa divisão da sociedade brasileira. Quer impor arestas ideológicas por todos os lados. Apostou na guerra entre letrados e analfabetos, entre negros e brancos, entre a elite e os descamisados, e também até mesmo entre regiões inteiras.

Segundo a narrativa dessa gente, o petismo conquistou algo de concreto para alguns. Algo que só seria obtido enfrentando os outros. Outros que historicamente seriam responsáveis pelos privilégios, pelas prebendas, entre outras desgraças históricas que teriam nos levado a conjuntura de 2003, quando Lula chegou ao governo e o mundo se iluminou.

O modo como o PT revê a história do Brasil, passando a borracha no precedente, é um meio de cultivar o que eles precisam para predominar: a desunião geral. E quando falo de desunião, não me refiro a discordâncias naturais de uma sociedade livre, mas sim no fracionamento de sua unidade basilar por meio de disputas políticas estimuladas por grupelhos dirigidos. Como se fossemos amontoados de pessoas, cada qual tendo interesses diversos que só poderiam ser alcançados em coletivos pelo combate completo e contínuo daqueles que, de algum modo, representariam a negação dessas bandeiras. Ao longo do tempo, da mesma forma que semeou esses grupos, o partido soube se infiltrar em cada um deles. E da mídia e das universidades, onde sempre controlou penas e mentes, tratou de redigir, por meio de seus simpatizantes, uma narrativa que justificasse e desse a descrição dos fatos de acordo com as suas instruções.

Deu-se que o petismo perdeu sua capacidade de desenhar o cenário reivindicatório. Seus esbirros nos sindicatos, nos bandos de desordeiros sociais, nos diretórios de universidades, perderam força na exata medida em que a população notou que esses que se arvoravam representantes de demandas não passavam de cães amestrados, devidamente alimentados com ossos no formato de polpudas verbas estatais. Quem controla as massas não são mais os megafones treinados em diretórios de partido.

A raiva e a confusão consomem aqueles que até ondem se achavam donos das ruas. Dilma só pode aparecer protegida em distantes estúdios de TV ou em mercados uruguaios. Há um clima de revolta perene. Mesmo no Nordeste, onde o PT atacou com força, substituindo e controlando as oligarquias de outrora, a debandada de apoios é evidente.

É nesse contexto que o partido se vale se seus velhos instrumentos para recobrar a ofensiva. O sinal claro foi a declaração belicista e truculenta de Lula, que convocou seus pelegos e o “exército de Stédile” para a defesa do governo. A pancadaria rolou solta nas ruas do RJ. A milícia foi para cima dos indivíduos indignados e desorganizados que protestavam contra o ato hipócrita de “defesa da Petrobras”. É a pauleira subsidiada pelos tributos.

“Porrada para os fascistas”, diria o presidente do PT do RJ, que por esse declaração merecia uma medalha do Duce. Mas não só porradas no sentido físico. É preciso também dar pauladas na forma de injurias, de difamações, de demonizações, na tentativa de enquadrar setores inteiros da sociedade. E ai entram os soldados devidamente posicionados nos órgãos de imprensa. Muitos deles pagos, outros tantos voluntários.

Juca Kfouri sempre pareceu voluntário. Carrega consigo aquela aura de burguês envergonhado, com a qual redige textos eivados de autocrítica. Tanto é assim que em sua última coluna, aquela em que destila ódio contra os que considera odientos, não nega sua condição social. Ele é da escola de Marta Suplicy, aquela do burguês com consciência social que aponta e delata seus pares odientos. Muito mais que um esquerdista caviar, ele é o fidalgo que pensa compreender os desejos e vontades dos proletários.

O colega de Instituto Liberal, João Luiz Mauad, até escreveu uma portentosa “Carta Aberta” ao referido jornalista. Pretendeu, na melhor das intenções e com educação exagerada, refutar o seu, por assim dizer, pensamento. Perdeu tempo. Não há nada a ser refutado ali. Não há uma única ideia. Não há uma única teoria social com estofo. O que há é um conjunto de sintomas. Sintomas de anos de intoxicação mental que podem ser observados não apenas naquelas linhas. Kfouri não é um pensador do Brasil, muito menos um teórico social. Trata-se apenas de um replicador de preconceitos e mistificações devidamente fabricadas nos laboratórios de teorias do PT. A única diferença entre ele e os milicianos que desceram o cacete no RJ é o método de ação.