O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Gustavo Carneiro de Mendonça. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Gustavo Carneiro de Mendonça. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre as manifestacoes de "massa" (talvez muita massa e pouco cerebro) - Rodrigo Constantino

Não tenho tempo, por excesso de trabalho em outras frentes (como revisar um livro de 500 páginas, por exemplo, texto por texto, linha por linha), para comentar os eventos correntes, como se diz, ou seja, dizer o que penso sobre as "manifestações" (triplas aspas) em curso no Brasil, um ajuntamento heteróclito de vontades diversas, caminhando em direções muito diferenciadas, com espertalhões aqui e lá, vândalos em alguns cantos, e muitas pessoas de bem, sinceramente indignadas com o quadro lamentável oferecido hoje no país -- corrupção, desfaçatez de políticos, corrupção, ineficiência das políticas públicas, corrupção, vida cara, corrupção, serviços públicos vagabundos, corrupção, baixo crescimento, corrupção, inflação, corrupção, queda nos indicadores educacionais, corrupção, ameaças às liberdades por dirigentes totalitários, corrupção, etc, e chega, pois eu teria de ficar relatando todos os nossos males e desastres -- não tenho tempo, retomo, para falar de tudo isso, embora meus posts já deixam muito claro o que penso a respeito, pela minha escrita ou a de outros.
Não há muito o que dizer, por enquanto, dessa enorme transpiração, com muito pouca inspiração, a não ser que existe muita confusão mental, em quase todos os participantes, a maioria porque sabe o que não quer, mas ainda não sabe o que quer, exatamente e como conseguir, e uma minoria porque sabe bem o que quer, mas seus objetivos são tão malucos e perversos que nem vale a pena falar deles.
Na falta de tempo, portanto, faço o que mais faço aqui, postar algum material reflexivo.
Aliás, provavelmente 90% do material aqui postado é de terceiros, pois eu não vivo para ficar escrevendo no blog o dia inteiro, fazendo-o apenas nos intervalos ou no curso de leituras rápidas, que me permitem apenas e tão somente fazer comentários iniciais muito rápidos, depois de ler alguma matéria interessante que penso deva merecer registro neste blog (um repositório, ou biblioteca, de ideias e problemas).
Consoante esse espírito, portanto, vou postar uma mensagem de um amigo e um artigo de outro amigo.
Raivosos opositores podem comentar, desde que seja quanto aos argumentos, não atirando sobre o mensageiro, ou xingando o blogueiro, muitas vezes anonimamente.
Esse pessoal é tão canhestro que não consegue conviver com a liberdade de ideias.
Eu, por exemplo, leio tudo o que eles escrevem, mas eles só leem o que eles mesmos escrevem, e quando é diferente ficam com raiva e saem atirando.
Triste. Mas assim é mundo.
Mais da metade do mundo vive sem liberdade e na pobreza, justamente devido a esses energúmenos.
A parte do mundo que é rica e próspera é constituída de democracias de mercado, perfeitamente capitalistas (ainda que com muito besteirol keynesiano).
Dito isto, vamos aos materiais...
Paulo Roberto de Almeida

=========

Charles de Gaulle, ex-presidente francês, dizia que uma nação se ergue com conhecimento da língua pátria (já que não é possível expressar qualquer compreensão do mundo à sua volta sem conhecer bem sua forma de expressar isso aos outros); alta cultura e cristianismo. (Para quem dúvida que o Cristianismo seja necessário nessa lista, leia o capítulo 5 do evangelho de Mateus e apenas imagine sua aplicação em âmbito nacional...).

O Brasil tem vaguíssima noção dos três, talvez, hoje, zero a respeito de alta cultura...

A política apenas reflete o que está na cultura do país. A cultura é o rio mais profundo que irriga toda uma nação. Uma boa cultura gera excelentes frutos para a política, economia, saúde e para tudo o mais. Cultura não é adorno que se põe sobre uma nação. É o fundamento da mesma, sem o qual nada mais pode ser feito.

Alguém já viu por aí um novo Manuel Bandeira? Um Guimarães Rosa? Um Joaquim Nabuco? Um Machado de Assis? Um Gustavo Corção? Um Carlos Drummond? Um Gilberto Freire? 

Brasileiro sonega imposto, arruma "TV a gato", pirateia o que pode etc. De onde vêm nossos políticos, nossos governantes, se não de nossas próprias casas?

Será uma semana, um mês de protestos suficientes para mudar uma situação que já dura décadas de falecimento cultural segundo o padrão citado por De Gaulle?


Abraços.
Gustavo Carneiro de Mendonça

=========


Posted: 18 Jun 2013 06:53 AM PDT
Rodrigo Constantino

“A raiva e o delírio destroem em uma hora mais coisas do que a prudência, o conselho, a previsão não poderiam construir em um século.” (Edmund Burke)

Não vou sucumbir à pressão das massas. É claro que eu posso estar enganado em minha análise cética sobre as manifestações, mas se eu mudar de idéia – o que não só não ocorreu ainda, como parece mais improvável agora – será por reflexões serenas na calma de minha mente, e não pelo “linchamento” das redes sociais.

Ao contrário de muitos, eu não vejo nada de “lindo” em cem mil pessoas se aglomerando nas ruas. Tal imagem me remete aos delicados anos 60, que foram resumidos por Roberto Campos da seguinte forma: “É sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’...”

Eu confesso aos leitores: tenho medo da turba! Eu tenho medo de qualquer movimento de massas, pois massas perdem facilmente o controle. Em clima de revolta difusa, sem demandas específicas (ao contrário de “Fora Collor” ou “Diretas Já”), o ambiente é fértil para aventureiros de plantão. Um Mussolini – ou um juiz de toga preta salvador da Pátria – pode surgir para ser coroado imperador pelas massas.

Alguns celebram a ausência de liderança, se é mesmo esse o caso. Cuidado com aquilo que desejam: sem lideranças, há um vácuo que logo será preenchido. As massas vão como bóias à deriva. E sem rumo definido, não chegaremos a lugar algum desejado. Disse Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas:

Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.

Muito me comove a esperança de alguns liberais que pensam que o povo despertou e que será possível guiá-lo na direção do liberalismo. Não vejo isso nos protestos, nas declarações, nos gritos de revolta. Vejo uma gente indignada – e cheia de razão para tanto – mas sem compreender as causas disso, sem saber os remédios para nossos males. Que tipo de proposta decente e viável pode resultar disso?

Estamos lidando aqui com a especialidade número um das esquerdas radicais, que é incitar as massas. Assim como a década de 60 no Brasil, tivemos o famoso e lamentável Maio de 68 na França, quando apenas Raymond Aron e mais meia dúzia de seres pensantes temiam os efeitos daquela febre juvenil. A Revolução Francesa, a Revolução Bolchevique, é muito raro sair algo bom desse tipo de movimento de massas. Os instintos mais primitivos tomam conta da festa. Por isso acho importante resgatar alguns alertas de Edmund Burke em suas Reflexões sobre a Revolução em França, a precursora desses movimentos descontrolados.

Não ignoro nem os erros, nem os defeitos do governo que foi deposto na França e nem a minha natureza nem a política me levam a fazer um inventário daquilo que é um objeto natural e justo de censura. [...] Será verdadeiro, entretanto, que o governo da França estava em uma situação que não era possível fazer-se nenhuma reforma, a tal ponto que se tornou necessário destruir imediatamente todo o edifício e fazer tábua rasa do passado, pondo no seu lugar uma construção teórica nunca antes experimentada?

Não se curaria o mal se fosse decidido que não haveria mais nem monarcas, nem ministros de Estado, nem sacerdotes, nem intérpretes da lei, nem oficiais-generais, nem assembléias gerais. Os nomes podem ser mudados, mas a essência ficará sob uma forma ou outra. Não importa em que mãos ela esteja ou sob qual forma ela é denominada, mas haverá sempre na sociedade uma certa proporção de autoridade. Os homens sábios aplicarão seus remédios aos vícios e não aos nomes, às causas permanentes do mal e não aos organismos efêmeros por meios dos quais elas agem ou às formas passageiras que adotam.

Se chegam à conclusão de que os velhos governos estão falidos, usados e sem recursos e que não têm mais vigor para desempenhar seus desígnios, eles procuram aqueles que têm mais energia, e essa energia não virá de recursos novos, mas do desprezo pela justiça. As revoluções são favoráveis aos confiscos, e é impossível saber sob que nomes odiosos os próximos confiscos serão autorizados.

A sabedoria não é o censor mais severo da loucura. São as loucuras rivais que fazem as mais terríveis guerras e retiram das suas vantagens as conseqüências mais cruéis todas as vezes que elas conseguem levar o vulgar sem moderação a tomar partido nas suas brigas.

São importantes alertas feitos pelo “pai” do conservadorismo. Ele estava certo quanto aos rumos daquela revolução, que foi alimentada pela revolta difusa, pela inveja, pelo ódio. Oportunistas ou fanáticos messiânicos se apropriaram do movimento e começaram a degolar todo mundo em volta. Se a revolução é contra “tudo que está aí”, então quem é contra ela é a favor de “tudo que está aí”. Cria-se um clima de vingança, revanchismo, que é sempre muito perigoso. As partes íntimas da rainha morta foram espalhadas pelos locais públicos, eis a imagem que fica de uma turba ensandecida.

O PT tem alimentado há décadas um racha na sociedade brasileira. Desde os tempos de oposição, e depois enquanto governo (mas sempre no palanque dos demagogos e agitadores das massas), a esquerda soube apenas espalhar ódio entre diferentes grupos, segregar indivíduos com base em abstrações coletivistas, jogar uns contra os outros. Temos agora uma sociedade indignada, mas sem saber direito para onde apontar suas armas. Cansada da política, dos partidos, do Congresso, dos abusos do poder, as pessoas saem às ruas com a sensação de que é preciso “fazer algo”, mas não sabe ao certo o que ou como fazer.

E isso porque o cenário econômico começou a piorar. Imagina quando a bolha de crédito fomentada pelo governo estourar, ou se a China embicar de vez. Imagina se nossa taxa de desemprego começar a subir aceleradamente. É um cenário assustador. Alguns pensam que nada pode ser pior do que o PT, e eu quase concordo. Mas pode sim! Pode ter um PSOL messiânico, um personalismo de algum salvador da Pátria, uma junta militar tendo que reagir e assumir o poder para controlar a situação. Não desejamos nada disso! Temos que retirar o PT do poder pelas vias legais, pelas urnas, respeitando-se a ordem social e o estado de direito.

O desafio homérico de todos que não deixaram as emoções tomarem conta da razão é justamente canalizar essa revolta para algo construtivo. Mas como? Como dialogar com argumentos quando cem mil tomam as ruas e sofrem o contágio da psicologia das massas? Alguém já tentou conversar com uma torcida revoltada em um estádio de futebol? Boa sorte!


Por ser cético quanto a essa possibilidade, eu tenho mantido minha cautela e afastamento dessas manifestações. Muita gente acha que o Brasil, terra do pacato cidadão que só quer saber de carnaval, novela e futebol, precisa até mesmo de uma guerra civil para acordar. Temo que não gostem nada do gigante que vai despertar. Ele pode fazer com que essa gente morra de saudades do "homem cordial". Não se brinca impunemente de revolução. Pensem nisso, enquanto há tempo.