Joe Biden é um presidente impopular e sem alguma recuperação ele poderia facilmente perder para Donald Trump em 2024.
THE NEW YORK TIMES, 13/09/2023
O que, em si, não é nenhuma surpresa: seus dois antecessores também eram impopulares neste ponto de suas presidências e também corriam perigo em suas postulações à reeleição. Mas com Trump e Barack Obama havia explicações razoavelmente simples. Para Obama, o índice de desemprego de 9,1% em setembro de 2011 e os ferimentos das batalhas do Obamacare. Para Trump, o fato dele jamais ter sido popular, tornando índices baixos de aprovação o padrão natural de sua presidência.
Para Biden, contudo, houve uma lua de mel normal, meses de índices de aprovação razoavelmente altos que terminaram apenas com a caótica retirada do Afeganistão, e desde então tem sido difícil condensar uma explicação para o que tem prejudicado sua popularidade. A economia está melhor do que no primeiro mandato de Obama, a inflação está baixando e a temida recessão não se materializou. As guerras lacradoras e as batalhas sobre a covid que prejudicaram os democratas não são mais fatores centrais, e as guerras culturais pós-Roe parecem um terreno mais amigável. A equipe de política externa de Biden tem defendido a Ucrânia sem uma escalada perigosa com os russos (até aqui), e Biden alcançou até legislações bipartidárias, cooptando promessas trumpistas sobre política industrial no caminho. Isso criou uma mistificação entre democratas sobre por que tudo isso não é suficiente para dar ao presidente uma vantagem decente nas pesquisas. Eu não compartilho dessa mistificação.
Mas acredito que há uma incerteza real a respeito de quais são as forças mais importantes prejudicando os índices de Biden. Comecemos com a teoria de que os problemas de Biden ainda decorrem principalmente da inflação — que as pessoas simplesmente odeiam ver os preços aumentando e que o presidente não recebe crédito por evitar a recessão porque os aumentos de salários foram consumidos pela inflação até recentemente. Se for esta a questão principal, a Casa Branca não terá muitas opções além de paciência. O pecado original inflacionário do governo, o gasto excessivo no Plano Americano de Resgate Econômico, não se repetirá, e exceto pela possibilidade de um armistício na Ucrânia aliviar parte da pressão sobre os preços do gás, não há muitas outras alavancas políticas a se acionar.
A esperança tem de ser que a inflação continue a baixar, os salários reais aumentem consistentemente e, em novembro de 2024, Biden receba o crédito que não está recebendo agora pela condição da economia. Um afastamento do centro Mas talvez não seja só a economia. Em várias pesquisas Biden parece estar perdendo apoio de eleitores de minorias, continuando uma tendência da era Trump. Isso levanta a possibilidade da existência de um repuxo para os democratas em relação a temas sociais, no qual mesmo que lacração não seja frontal e central, o fato de que o núcleo ativista do partido está posicionado tão à esquerda gradualmente empurra afro-americanos e hispânicos culturalmente conservadores para o Partido Republicano — num movimento muito parecido com o de democratas brancos conservadores que vaguearam gradualmente para a coalizão republicana entre os anos 60 e 2000. Bill Clinton conteve temporariamente esse movimento rumo à direita comprando brigas públicas com facções à sua esquerda.
Mas a estratégia de Biden não é esta. Ele se moveu um pouco para a direita em temas como imigração, no qual a visão de políticas do progressismo vai mal. Mas Biden não faz alarde sobre suas diferenças com o flanco progressista. Eu não espero que isso mude — mas isso pode estar lhe cobrando de maneiras um tanto invisíveis para os progressistas neste momento. Um presidente idoso Ou talvez o grande problema seja apenas a ansiedade latente sobre a idade de Biden. Talvez seus índices de aprovação despencaram primeiro na crise do Afeganistão porque a retirada americana evidenciou o absentismo público que com frequência caracteriza sua presidência.
Talvez alguns eleitores assumam agora que um voto por Biden é um voto na desafortunada Kamala Harris. Talvez exista simplesmente um vigor intensificado em campanhas presidenciais que dê vantagem a Trump. Em qualquer caso, um líder diferente com as mesmas políticas poderia ser mais popular. Sem nenhuma maneira de elevar um líder assim, porém, tudo o que os democratas podem fazer é pedir para Biden mostrar mais vigor público, com todos os riscos que isso pode implicar. Pelos menos é uma — espécie de — estratégia.
O problema mais difícil para Biden abordar poderá ser o tormento da depressão privada e do pessimismo geral que paira sobre os americanos, especialmente os mais jovens, que foi piorado pela covid mas parece arraigado em tendências sociais mais profundas. Eu não vejo nenhuma maneira óbvia de Biden tratar dessa questão por meio de algum posicionamento normal. Eu não recomendaria atualizar o “discurso do mal-estar” de Jimmy Carter com a terminologia terapêutica do progressismo contemporâneo. E também não considero que o presidente seja o político adequado para travar uma cruzada contra o desarranjo digital ou algum arauto do reavivamento religioso. Biden elegeu-se, em parte, definindo a si mesmo como uma figura transicional, uma ponte para um futuro mais jovial e otimista.
Agora ele precisa de alguma crença generalizada nesse futuro melhor para ajudá-lo a reeleger-se. Mas onde quer que os americanos venham a encontrar esse otimismo, nós provavelmente passamos bastante do ponto em que um presidente de aparência decrépita poderia esperar ser capaz de, ele próprio, gerá-lo. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO