Falta algum sentido moral à diplomacia brasileira, ou seja, ela pouco se importa que o tirano de Moscou seja um criminoso de guerra: continuarão mantendo relações "normais". (PRA)
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sábado, 18 de março de 2023
terça-feira, 26 de julho de 2022
Por que Ucrânia acusa Lula de fazer propaganda para Rússia na guerra - Leandro Prazeres (BBC News Brasil)
Por que Ucrânia acusa Lula de fazer propaganda para Rússia na guerra
Leandro Prazeres
Da BBC News Brasil em Brasília
Há 9 horas
Um relatório divulgado pelo Centro de Contenção de Desinformação do governo da Ucrânia apontou o ex-presidente e pré-candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como uma das personalidades internacionais que disseminariam informações em consonância com a propaganda russa sobre a guerra com a Ucrânia, que começou em fevereiro após a Rússia invadir partes do país vizinho.
O relatório foi divulgado no Brasil pelo jornal Folha de S. Paulo na segunda-feira (25/7). Lula é o único brasileiro da lista que contém diversos políticos e intelectuais de diversos outros países como Estados Unidos, da Europa, África e Ásia.
O relatório cita duas supostas afirmações atribuída ao ex-presidente. A primeira é a de que ele teria dito que a Rússia deveria "encabeçar uma nova ordem mundial" e que "Zelensky é tão culpado pela guerra quanto Putin".
A BBC News Brasil não localizou citações de Lula defendendo que a Rússia deveria "encabeçar" uma nova ordem mundial. Por outro lado, o ex-presidente fez, recentemente, críticas à atuação do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na condução da crise com a Rússia.
Em entrevista à revista Time publicada em maio deste ano, Lula disse que Zelensky seria tão responsável pela guerra quanto o presidente russo, Vladimir Putin.
"Às vezes, fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado", afirmou o ex-presidente.
Especialistas em relações internacionais ouvidas pela BBC News Brasil afirmam que as declarações de Lula podem não ser as únicas explicações por trás da inclusão do petista na lista.
Entre os motivos apontados por elas estão o temor pela Ucrânia de um eventual novo governo petista se reaproximar da Rússia e a suposta ligação de setores do governo ucraniano com facções de extrema-direita. Isso, segundo elas, explicaria a não-inclusão do presidente Jair Bolsonaro (PL), que, assim como Lula, também fez declarações críticas a Zelensky nos últimos meses.
"O povo [ucraniano] confiou num comediante o destino de uma nação. Ele [Volodymyr Zelensky] tem que ter equilíbrio para tratar dessa situação aí", disse Bolsonaro em fevereiro.
A BBC News Brasil enviou questionamentos à embaixada da Ucrânia e à assessoria de imprensa do ex-presidente Lula. Nenhum dos dois enviou respostas.
Aproximação com a Rússia
A doutora em estudos estratégicos internacionais e diretora de pesquisa do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (Isape), Larlecianne Piccolli, avalia que inclusão do nome de Lula na lista possa ter a ver com o histórico das relações entre o Brasil e a Rússia durante os governos do PT, especialmente, durante os governos do ex-presidente Lula, entre 2003 e 2010.
Segundo a especialista, naquele período, o governo brasileiro defendeu uma ordem internacional multipolar como uma alternativa à hegemonia norte-americana.
Uma das formas encontradas para isso foi o incentivo à formação de blocos como os BRICS, composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Por essa lógica, um novo governo do petista poderia enfraquecer os esforços feitos pela Ucrânia para isolar a Rússia no cenário internacional.
"Me parece que a Ucrânia pode estar olhando para o futuro e vendo o que um eventual novo governo de Lula pode significar em termos de fortalecimento da Rússia. Acho que eles estão vendo a liderança de Lula nas pesquisas e avaliando quais os impactos disso para a Ucrânia", assinala.
Para a doutora em Relações Internacionais e professora da Escola Superior de Guerra (ESG) do Ministério da Defesa Mariana Kalil, a atual posição do presidente Jair Bolsonaro em relação ao conflito é considerada menos relevante que uma eventual reaproximação do Brasil com a Rússia em um novo governo petista.
Sob Bolsonaro, o governo brasileiro condenou as agressões russas à Ucrânia em reuniões na Organização das Nações Unida (ONU), mas o país não aderiu as sanções econômicas aplicadas por países como os Estados Unidos e da Europa.
Bolsonaro diz que seu governo é "neutro" em relação ao conflito, apesar de, poucos dias antes da invasão russa, ter feito uma visita a Putin na qual elogiou o presidente russo e o chamou de um "homem de paz".
"No governo de Bolsonaro, o Brasil adotou noções pró-Ocidente que são interessantes hoje à Ucrânia. Um eventual governo Lula não teria essa mesma visão e isso pode estar preocupando os ucranianos", diz Mariana Kalil.
Ligações com a extrema-direita
Mariana Kalil também destaca uma outra razão pela qual os ucranianos teriam incluído o nome de Lula: a ligação de setores do governo ucraniano com movimentos de extrema-direita.
Segundo ela, isso explicaria por que Lula foi mencionado enquanto Bolsonaro, que se assume como político de direita e que também já fez declarações críticas a Zelensky, não foi incluído.
"Esse movimento [inclusão do nome de Lula] faz sentido quando sabemos que existe uma inserção de Zelensky dentro da extrema-direita global. Assim, faria sentido o governo mencionar Lula, que é um político de esquerda, e não Bolsonaro", opina a especialista.
A lista ucraniana não cita, porém, apenas políticos e intelectuais de esquerda. Ela cita, por exemplo, a líder do partido de direita radical Rassemblement National (Reunião Nacional), a francesa Marine Le Pen. Ela ficou conhecida por defender pautas anti-imigração na França e na Europa.
As ligações entre o governo ucraniano e movimentos de extrema-direita são frequentemente citadas pelo governo russo como um dos motivos que levou à invasão da Ucrânia pelos militares do país.
O tema é considerado sensível. A Rússia, por exemplo, disse que um dos objetivos de sua invasão à Ucrânia era "desnazificar" o país. O presidente Zelensky, no entanto, é judeu.
Em entrevista à BBC News Brasil em março, o professor aposentado de História da Universidade de Alberta, no Canadá, John-Paul Himka, disse que os níveis de tolerância política com a movimentos de extrema direita na Ucrânia são semelhantes aos encontrados em outros países do mundo.
"Temos de olhar o contexto global mais amplo da tolerância da Ucrânia em relação à extrema direita. Eu vivo no Canadá. Recentemente, os postos de fronteira e a capital foram cercados pelo movimento de extrema direita dos comboios", disse o especialista.
Larlecianne Piccolli, porém, concorda com Mariana Kalil.
"É de conhecimento público que há laços de setores do governo ucraniano com movimentos de extrema-direita. Se você soma isso a um possível temor sobre o que podem representar as eleições no Brasil para a estratégia ucraniana, é possível entender melhor o que pode ter motivado a entrada de Lula nessa lista e a ausência de Bolsonaro", diz Larlecianne.
Em entrevista à TV Globo veiculada nesta semana, Zelensky negou a existência de grupos de extrema direita atuando no leste da Ucrânia contra a invasão russa.
Apesar das declarações, há evidências de que grupos de extrema direita como o Batalhão Azov, que luta contra a ocupação russa desde a invasão da Crimeia, em 2014, mantém relações com o governo ucraniano.
Mariana Kalil diz que inclusão do nome de Lula nessa lista acontece, ainda, em meio à proximidade de um exercício militar que será realizado pela Rússia, China e Irã na Venezuela, previsto para agosto deste ano.
"No Brasil, um dos argumentos usados pela direita radical contra a esquerda é o suposto risco de venezuelização do país. Considerando o contexto do exercício militar, ligar o nome de Lula à Rússia pode ressuscitar esse tema", assinala a especialista.
Recado a americanos
Mariana Kalil aponta um terceiro motivo para a inclusão de Lula na lista de supostos disseminadores de propaganda russa: pressão sobre os americanos.
Segundo ela, à medida em que a Ucrânia veria um governo petista mais próximo da Rússia que o de Bolsonaro, a menção a Lula teria o objetivo de pressionar os americanos sobre o que pode acontecer no Brasil a partir de 2023.
"Acho que eles querem dizer o seguinte: 'Americanos, olhem para o que pode acontecer no Brasil. Isso não será bom para nós'", conclui a especialista.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62301305
quarta-feira, 16 de março de 2022
Quem são os oligarcas russos com negócios no Brasil? - Leandro Prazeres (BBC News Brasil)
Quem são os oligarcas russos com negócios no Brasil?
Leandro Prazeres
Da BBC News Brasil em Brasília
16/03/2022
A invasão da Ucrânia pela Rússia fez com que diversos países disparassem uma série de sanções econômicas contra o governo do presidente russo, Vladimir Putin, mas também contra mega-empresários do país conhecidos popularmente como "oligarcas".
Mas não é só na Europa que alguns deles mantêm negócios e, em grande medida, obtêm lucro.
A BBC News Brasil identificou pelo menos quatro bilionários russos com laços empresariais estreitos no Brasil. Um deles foi condecorado pelo presidente Jair Bolsonaro, recentemente.
Dois critérios foram seguidos nessa definição.
O primeiro é terem tido seus nomes incluídos em uma lista divulgada pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos em janeiro de 2018. A lista não previa sanções. Posteriormente, ela foi alvo de críticas por ser muito similar à lista das pessoas mais ricas da Rússia publicada pela revista Forbes.
O segundo critério foi a inclusão desses empresários na lista de sanções econômicas impostas por países como os Estados Unidos, Reino Unido ou pela União Europeia.
Seus nomes são, segundo os dois critérios, Andrey Andreevich Guryev, Andrey Melnichenko, Dmitry Mazepin. Vietchslav Kantor foi incluído na lista americana, mas não foi alvo de sanções.
Todos atuam no mesmo ramo: fertilizantes agrícolas.
A BBC News Brasil procurou representantes dos quatro. A assessoria de imprensa das empresas de Mazepin e Guryev disse que não poderia fazer comentários sobre as sanções.
A assessoria das empresas de Melnichenko informou que, após as sanções, ele se afastou do quadro de diretores e não é mais seu beneficiário. Os representantes de Kantor não se manifestaram.
A termo "oligarca" vem do grego "oligoi", que significa "poucos", e "arkhein", que significa "governar". Em outras palavras: governo de poucos ou governo para poucos.
Mais recentemente, o termo vem sendo usado para designar um grupo de russos extremamente ricos e politicamente bem relacionados que acumularam suas fortunas após a onda de privatizações que se seguiu ao fim do regime comunista, em 1991.
O ex-conselheiro da presidência dos Estados Unidos sobre as relações com a Rússia e co-fundador do programa de estudos de Rússia, Europa Oriental e Eurásia da Universidade de Yale, Thomas Graham, disse, em entrevista à CNN, que o termo "oligarca" é frequentemente usado para classificar os bilionários russos porque, diferentemente do que ocorreria em outras partes do mundo, esses empresários ficaram ricos por terem conexões estreitas com o governo.
"Você pode ser um empresário rico nos Estados Unidos e não se preocupar com seus contatos no governo. É um pouco diferente na Rússia. A cada decisão empresarial que você toma, você precisa checar com seus contatos no Kremlin", disse.
Em 2018, um porta-voz do governo russo rebateu o uso do termo e disse que não há oligarcas na Rússia, "apenas representantes de grandes empresas".
Ao longo dos anos, esses bilionários começaram a chamar atenção ao investir parte de suas fortunas em países europeus como o Reino Unido, França, Espanha, Itália, entre outros. Além de comprar mansões, carros de luxo e mega-iates, alguns deles chegaram a adquirir clubes de futebol. É o caso do russo Roman Abramovich, que comprou o Chelsea e, mais recentemente, se afastou do seu comando.
Confira abaixo quatro bilionários russos com negócios no Brasil:
Andrey Andreevich Guryev
Andrey Andreevich Guryev, 39, é um dos oligarcas com maior ligação com o Brasil. Ele é presidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil. Em fevereiro deste ano, ele foi condecorado com a medalha da Ordem do Rio Branco dada pelo presidente Jair Bolsonaro, em uma cerimônia realizada em Moscou.
Ele pertence à família Guryev, que controla a PhosAgro, uma das maiores empresas do mundo de fertilizantes à base de fosfato. De acordo com a revista Forbes, a fortuna estimada da família é de US$ 6 bilhões, a 28ª maior da Rússia.
O Brasil é considerado um dos mercados estratégicos pela empresa. Segundo relatórios da companhia, a PhosAgro registrou um lucro de US$ 1,7 bilhão em 2021.
Uma parcela desse resultado positivo ocorreu, segundo a própria empresa, graças à alta demanda por fertilizantes de países como o Brasil.
O Brasil é o quarto maior importador de fertilizantes do mundo e 23% de tudo o que é importado vem da Rússia, exportado por empresas como a PhosAgro. A empresa tem um escritório em São Paulo.
No ano passado, a companhia chegou a fazer uma oferta de 50 mil doses da vacina russa Sputnik contra a covid-19 ao Ministério da Saúde. O uso do imunizante no Brasil, no entanto, nunca foi autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Guryev "Junior", como também é conhecido, foi um dos principais organizadores de um fórum de empresários brasileiros e russos realizado em fevereiro, em Moscou. O evento contou com a presença de Jair Bolsonaro.
Na mesa do evento, ele estava a menos de dois metros de distância do presidente, separado apenas pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França.
O encontro aconteceu oito dias antes do presidente russo, Vladimir Putin, com quem a família Guryev tem proximidade, ordenar a invasão da Ucrânia.
E foi justamente a importância do setor de fertilizantes para a economia russa que fez com que a União Europeia incluísse Andrey Guryev "Junior" na lista de sanções econômicas publicada pelo bloco na semana passada.
De acordo com o bloco, a empresa estaria ligada ao governo russo e suas receitas contribuiriam com as ações da Rússia na Ucrânia.
"Andrey Guryev, na sua qualidade de diretor executivo da PhosAgro, se beneficia das decisões do Governo da Rússia. A PJSC PhosAgro está, em grande medida, ligada ao Governo russo e, por conseguinte, as receitas que gera constituem uma importante fonte de receitas para o Governo russo", diz a União Europeia.
As sanções impostas pela União Europeia preveem o congelamento de bens e ativos que estejam em seu nome ou que estejam à sua disposição nos países do bloco.
A medida foi tomada no dia 9 de março. No dia seguinte, Guryev "Junior" renunciou ao posto de CEO.
Nesta terça-feira, Guryev "Junior" também foi incluído na lista de sanções do Reino Unido. Ele está impedido de entrar no país e seus bens por lá deverão ser congelados.
A BBC News Brasil enviou questionamentos à sede da PhosAgro, mas a assessoria de imprensa da companhia disse que não se pronunciaria sobre o assunto.
Andrey Melnichenko
O empresário Andrey Melnichenko era o oitavo homem mais rico da Rússia em 2021, de acordo com a revista Forbes. Seu nome também constava na lista de oligarcas russos divulgada pelo governo dos Estados Unidos em 2018.
Sua fortuna estava avaliada em US$ 17,9 bilhões. O valor é US$ 1 bilhão a mais que a fortuna do brasileiro mais rico do mundo, o investidor Jorge Paulo Lehmann, com seus US$ 16,9 bilhões.
Melnichenko ficou bilionário atuando no ramo de fertilizantes agrícolas e carvão mineral. Ele era o nome por trás da EuroChem Group, um conglomerado de empresas com negócios em diversos países, inclusive no Brasil.
Em 2016, a EuroChem comprou 51% das operações de uma empresa brasileira que operava no setor de fertilizantes. Em 2020, o grupo anunciou que compraria o restante da companhia. À época, a expectativa era de que o faturamento da empresa girava em torno de R$ 4 bilhões por ano.
Atualmente, ela é uma das principais fornecedoras de fertilizantes à base de fosfato do Brasil.
De olho no agronegócio brasileiro, a EuroChem continuou a expandir suas operações no país.
Em janeiro deste ano, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), aprovou a proposta feita pela EuroChem para comprar 51% das ações da Heringer Fertilizantes, uma transação estimada em R$ 554 milhões.
Melnichenko foi alvo de sanções impostas pelo Reino Unido e pela União Europeia. Ele teve seus bens e outros ativos financeiros congelados.
Ao justificar sua inclusão na lista de sanções, a União Europeia destacou o fato de Melnichenko ter sido um dos 36 empresários convidados por Putin a participar de um encontro para discutir os impactos das ações russas no dia 24 de fevereiro, quando Putin ordenou o avanço de suas tropas sobre a Ucrânia.
"O fato de ele ter sido convidado para esse encontro mostra que ele é membro do círculo mais próximo de Vladimir Putin e que ele está apoiando ou implementando ações ou políticas que enfraquecem ou ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia", diz o texto.
Dois dias depois de ser incluído na lista da União Europeia, autoridades italianas apreenderam um mega-iate avaliado em US$ 578 milhões (o equivalente a R$ 2,9 bilhões) que estava na cidade de Trieste.
Na quarta-feira (10/03), a EuroChem Group divulgou um comunicado informando que Melnichenko renunciou ao seu cargo na direção da companhia. O anúncio também disse que Melnichenko se retirou da condição de principal beneficiário da empresa.
Procurada, a assessoria de imprensa da EuroChem Group reforçou o conteúdo de uma nota divulgada pela empresa no dia 10 de março, na qual anunciado o afastamento de Melnichenko da companhia.
"A EuroChem Group, uma líder global na produção de fertilizantes, anuncia que Andrey Melnichenko renunciou da sua posição como diretor não-executivo do quadro de diretores e se retirou como principal beneficiário", diz um trecho da nota.
A nota continua afirmando que "o movimento segue a inclusão do senhor Melnichenko na lista de sanções da União Europeia e foi tomada para assegurar que a EuroChem seja capaz de continuar fornecendo nutrientes para a agricultura a milhões de pessoas ao redor do mundo ajudando a garantir segurança alimentar global".
Dmitry Mazepin
Dmitry Mazepin tem 54 anos e nasceu em Minsk, capital de Belarus, quando o país ainda fazia parte da antiga União Soviética. De acordo com a revista Forbes, Mazepin é dono de uma fortuna avaliada em US$ 1,5 bilhão, o equivalente a R$ 7,7 bilhões.
Em 1992, ele se formou em Economia em uma universidade de Moscou e começou a atuar no setor financeiro e petroquímico, em empresas que haviam surgido após a onda de privatizações que se seguiu à queda do regime comunista.
Em 2007, Mazepin fundou a Uralchem, que depois se tornou uma das maiores produtoras e exportadoras de fertilizantes do mundo.
Assim como seus outros concorrentes, Mazepin também mantém negócios com o Brasil. Além de exportar fertilizantes para o país, o grupo Uralchem vem comprando ativos no país ao longo dos últimos anos.
Em 2021, por exemplo, a Uralkali, uma das empresas sob o comando da Uralchem, anunciou a compra de 100% das ações da UPI Norte, acionista da Fertgrow S.A, líder na distribuição de fertilizantes agrícolas no Brasil.
Mazepin se dedica, além dos negócios, ao esporte. Um dos seus principais investimentos na área vinha sendo o patrocínio à escuderia Haas, da Fórmula 1, onde seu filho, Nikita Mazepin, era piloto.
Além disso, Mazepin se tornou uma figura pública influente na Rússia, inclusive no meio político russo. Ele era frequentemente visto em eventos com o presidente russo, Vladimir Putin.
A proximidade com o Kremlin ficou ainda mais evidente no dia 24 de fevereiro, quando ele fez parte do grupo de empresários chamados por Putin após o início da invasão russa à Ucrânia.
Essa proximidade também foi mencionada pela União Europeia ao incluir Mazepin e seu filho na lista de sanções econômicas. Seus bens nos países do bloco estão congelados.
Dmitry e Nikita também foram incluídos na lista de sanções do Reino Unido, onde estão proibidos de entrar e tiveram seus ativos bloqueados.
Um dia após ser incluído nas sanções da União Europeia, a Uralchem anunciou que Mazepin vendeu 52% das suas ações na companhia, ficando com 48% e, perdendo assim, o controle acionário da empresa.
Ele também renunciou ao cargo de CEO da Uralchem, num movimento que, segundo analistas, visa proteger a empresa das sanções impostas por conta da invasão russa à Ucrânia.
Por conta das sanções, Nikita Mazepin perdeu o posto de piloto da Haas.
Procurada pela BBC News Brasil, a Uralchem disse que não poderia fazer comentários sobre as sanções sobre os Mazepin. A companhia afirmou ainda que o Brasil tem sido "um mercado historicamente importante".
Vyacheslav Kantor
De acordo com a revista Forbes, Vyacheslav Kantor tem uma fortuna avaliada em US$ 4,9 bilhões, o equivalente a R$ 25 bilhões.
Diferentemente de Guryev, Melnichenko e Mazepin, Kantor não foi, até agora, alvo de sanções da União Europeia, Reino Unido ou dos Estados Unidos. Ele também é considerado um empresário próximo a Vladimir Putin.
A maior parte da sua fortuna veio da Acron, outra gigante russa do setor de fertilizantes.
Segundo a agência Bloomberg, em janeiro deste ano ele tinha 94% das ações da empresa. De acordo com a companhia, ele exerce o cargo de presidente do conselho de coordenação da Acron, um cargo não-executivo.
Kantor é judeu e tem nacionalidade russa, israelense e britânica. É em Londres, aliás, que ele vive com sua família.
Assim como ocorre com suas concorrentes no setor, o Brasil é considerado um mercado estratégico para a Acron, que já atua exportando fertilizantes produzidos em suas plantas na Rússia para o país.
A iniciativa mais recente da empresa no país é a negociação com a Petrobras para a compra de uma fábrica de fertilizantes nitrogenados em Três Lagos, em Mato Grosso do Sul.
No dia 4 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que a Petrobras havia fechado um acordo de venda da planta para a Acron. Analistas, no entanto, afirmam que o fechamento do contrato ainda depende da avaliação da área de governança da Petrobras.
As obras da fábrica começaram em 2007 e já teriam consumido pelo menos R$ 3,8 bilhões. O valor da venda ainda não foi divulgado. A estimativa é de que a unidade entre em operação em 2027.
Procurada, a Acron não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-60759080