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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Nota da Anpuh sobre o ministro da Deseducassão (ele mesmo)

NOTA DA ANPUH-BRASIL A RESPEITO DA PORTARIA N. 2.227, DE 31 DE DEZEMBRO DE 2019.

O ANTI-INTELECTUALISMO E A DISSEMINAÇÃO DO SABER

A direção nacional da ANPUH-BRASIL manifesta sua indignação com a portaria de número 2.227, de 31 de dezembro de 2019. Por este documento, o Ministério da Educação limita drasticamente a liberação de docentes para apresentação dos resultados de seus projetos de pesquisa em eventos nacionais e internacionais. A nosso ver, tal proibição é, além da perversa, fruto da mente de um ministro rechaçado pela comunidade acadêmica. É fato que há ainda alguns bolsonaristas nas universidades, mas é difícil encontrar um docente que tenha coragem de vir a público para defender o indesculpável.

Os que não produzem conhecimento costumam apoiar um indivíduo tosco, como o famoso ministro guarda-chuva, cuja obrigação legal e moral é a de defender a educação, e não a de destruí-la. O digníssimo Ministro não se importa com os efeitos daquela proposta, pela simples razão de que ele e seu colegas não representam reflexão alguma e sequer são capazes de dialogar com a comunidade que dizem fazer parte.

Quem em sã consciência convidaria um ministro da educação que sequer domina a língua portuguesa e se diverte com as besteiras que ele mesmo vincula na internet? Qual seria o teor de uma eventual conferência do ministro da educação em importantes eventos como o prestigiado Simpósio Nacional de História da ANPUH? A associação se reúne em eventos estaduais bianuais (anos pares), sob a coordenação das regionais e, a cada dois anos (anos ímpares), também há nosso evento nacional, com a participação média de mais de 4500 pessoas. O próximo será em julho em 2021, em Fortaleza.

De fato, o controle anunciado pelo governo, que dificulta a liberação de professores e professoras para participação de congressos, colóquios e de tantas outras atividades, tem como único objetivo colocar em risco a presença dos cientistas em importantes eventos distribuídos no país e no exterior. Neste último caso, pretende-se limitar ainda mais a visibilidade de nosso trabalho, inviabilizando a internacionalização do conhecimento produzido pelas universidades públicas do brasileiras.

Mas a desfaçatez é ainda maior. O que o governo não tem coragem de dizer é que muitos docentes retiram dinheiro do próprio bolso para expor seus estudos nos eventos que julgam importantes. O sistema de auxílio aos professores e professoras é cada vez mais exíguo, em face dos poucos recursos drenados para a produção da ciência nacional e sua divulgação em congressos, no país e no exterior. Como se não bastasse, o governo tenta agora limitar a circulação e disseminação do saber. Se a intenção é a de economizar recursos, apresentem os dados. É preciso que a população tenha acesso aos valores que este governo gasta para a circulação acadêmica dos cientistas; servidores públicos das centenas de universidades da Nação. Não há argumentos plausíveis para este novo descalabro. A batalha continua, pois ao contrário do senhor Ministro nós sabemos que o conhecimento nos liberta, o sofrimento nos mobiliza e a empatia nos protege. E é em nome dessa máxima que explicitamos mais uma vez a face mais sombria do anti-intelectualismo do governo.

História em combate
Associação Nacional de História - ANPUH-Brasil

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Ensino superior no Brasil está sofrendo ataque`, mostra relatório internacional

Ensino superior no Brasil está sofrendo ataque`, mostra relatório internacional
POR AGÊNCIA O GLOBO - IG EDUCAÇÃO – 10/12/2019 – SÃO PAULO, SP

Os repetidos ataques às universidades públicas desde a campanha eleitoral do ano passado, que prosseguiram após a eleição de Jair Bolsonaro, levaram o Brasil a ser o destaque negativo do relatório ` Free to Think ` (livre para pensar), publicado pela rede internacional Scholars at Risk (acadêmicos em risco), baseada na Universidade de Nova York.
A edição deste ano do documento tem sua capa ilustrada pela foto de uma das manifestações a favor da educação no Brasil, e o país também é tema de um capítulo próprio, intitulado `Ataque ao espaço do ensino superior no Brasil `.
`No Brasil, pressões sobre comunidades universitárias dispararam desde as eleições presidenciais do país, em outubro de 2018. Invasões policiais em campi, relatos de estudantes e professores membros de minorias sendo ameaçados e atacados dentro e fora dos campi e ações orçamentárias e legislativas para minar as instituições de ensino superior e limitar a liberdade acadêmica e a autonomia institucional refletem crescentes preocupações encontradas em outras nações onde o conceito de `democracia iliberal` ganhou força entre os líderes`, afirma o relatório.
Entre os exemplos de ataques no Brasil, o documento cita o estupro, em 25 de outubro de 2018, de uma aluna negra da Universidade de Fortaleza (Unifor) que havia recebido `inúmeras ameaças racistas on-line e pessoalmente`.
`O ataque ocorreu em um contexto de uma série de ataques politicamente motivados contra minorias e membros da comunidade LGBTQ perpetrado por apoiadores do então candidato a presidente Jair Bolsonaro . Antes do incidente, a aluna havia sido assediada e ameaçada por um homem que afirmou que ele e outros `purificariam a universidade` de `seu povo` quando Bolsonaro assumisse o cargo`, diz o relatório.
Segundo o documento, a Unifor condenou o ataque e ofereceu à vítima aconselhamento psicológico e jurídico. Até a publicação dele, o autor ainda não havia sido identificado.
Outro exemplo citado foi o ataque, em 19 de outubro do ano passado, a quinze estudantes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) que faziam campanha para o então candidato à presidência Fernando Haddad do lado de fora do campus.

Críticas a Weintraub
O documento também cita as ações do ministro da Educação, Abraham Weintraub , incluindo sua acusação de que três universidades federais — a Fluminense (UFF), a de Brasília (UnB) e a da Bahia (UFBA)— promoviam ` balbúrdia ` e sua ameaça de reduzir os recursos às faculdades de filosofia e sociologia.
Em suas conclusões, o relatório urge o governo brasileiro a `tomar medidas razoáveis para garantir a segurança dos acadêmicos, estudantes, funcionários e outros membros de comunidades de ensino superior, inclusive investigando incidentes e responsabilizando seus autores`.
Pede também que os membros da administração abstenham-se `de declarações ou ações que estigmatizem o ensino superior, acadêmicos ou estudantes e corroem as condições de segurança, liberdade acadêmica ou autonomia institucional das instituições brasileiras de ensino`.
Em entrevista à BBC News Brasil , o diretor-executivo da Scholars at Risk , Robert Quinn, afirmou que a inclusão do país no relatório deste ano não signifiica que ele é o que mais restringe a liberdade acadêmica, mas chama atenção pelo ineditismo —os relatos que a ONG recebeu de acadêmicos que se dizem vítima de perseguição nunca foram tão numerosos.
`Há algo acontecendo e precisamos olhar para isso. Não quer dizer que há um grande problema, mas significa que precisamos analisar. E, quando olhamos, uma parte dos incidentes foi muito bem pronunciada por representantes do governo ou políticos no Brasil. Algumas destas falas circularam pelo mundo`, disse Quinn à BBC Brasil.
O GLOBO procurou o Ministério da Educação para que a pasta comentasse o relatório `Free to Think`, mas não obteve resposta até a conclusão deste texto.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

MEC anuncia criação de escolas "cívico-militares": vai dar certo?

Governo federal lança programa para a implantação de escolas cívico-militares
GUILHERME PERA - PORTAL MEC

O governo federal lançou nesta quinta-feira, 5 de setembro, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares. Está prevista a implementação de 216 colégios até 2023 – 54 por ano, a começar por 2020. É o dobro do anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) no Compromisso Nacional pela Educação Básica, em julho. Agora é o momento de estados e municípios aderirem à iniciativa. A cerimônia de lançamento foi realizada no Palácio do Planalto.
A escola cívico-militar é um modelo desenvolvido para promover a melhoria na qualidade da educação básica do país. Para isso, será construído um ambiente de parcerias e de maior vínculo entre gestores, professores, militares, estudantes e até mesmo pais e responsáveis.
O presidente Jair Bolsonaro destacou a disciplina em escolas com tutela de militares e as classificou como fundamentais para o desenvolvimento do país. “O que nos tira da miséria, da pobreza, da ignorância, é o conhecimento. É o ensino”, afirmou após assinar o decreto que cria o programa.
O modelo de excelência vai abranger as áreas:
didático-pedagógica: com atividades de supervisão escolar e psicopedagogia para melhorar o processo de ensino-aprendizagem preservando as atribuições exclusivas dos docentes;
educacional: pretende fortalecer os valores humanos, éticos e morais bem como incentivar a formação integral como cidadão e promover a sensação de pertencimento no ambiente escolar;
administrativa: para aprimorar a infraestrutura e a organização da escola para aprimorar a utilização de recursos disponíveis na unidade escolar.
Apenas nesses dois últimos pontos haverá a participação dos militares.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, ressaltou o aumento da meta de número das escolas já no lançamento do programa. “A gente tinha uma meta e sabia qual era, de 108 [escolas cívico-militares até 2023]. E já lança o programa com o dobro da meta, 216. E tenho certeza, presidente, que o senhor vai entregar esse país com 10% das escolas sendo cívico-militares”, disse.
O modelo será levado, preferencialmente, para regiões que apresentam situações de vulnerabilidade social e baixos Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador que mede a qualidade das escolas públicas. Entre as premissas dos programas estão a contribuição para a melhoria do ambiente dos profissionais de educação e para a redução dos índices de violência, da evasão, da repetência e do abandono escolar.
O secretário de Educação Básica do MEC, Janio Macedo, enfatizou que as escolas cívico-militares já existentes, mesmo que fora do modelo MEC, têm sucesso. “Existem 203 escolas cívicos-militares, em 23 unidades da Federação, com maior Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] do que as civis, apresentando taxa de evasão 71% menor e de reprovação 37,4% inferior”, explicou.
Os 26 estados e o Distrito Federal têm de 6 a 27 de setembro para indicar duas escolas que poderão receber o projeto em formato piloto já no primeiro semestre letivo de 2020. Os colégios devem ter de 500 a 1.000 alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e/ou do ensino médio. Antes disso, a comunidade escolar deverá aceitar a mudança. Uma das condições fixadas pelo MEC é que estados e municípios apliquem uma consulta pública para esse fim, afinal a adesão ao programa é voluntária.
Apoio militar – Em parceria com o MEC, o Ministério da Defesa vai destacar militares da reserva das Forças Armadas para trabalhar nas escolas levando mais disciplina e organização. A ideia é que eles sejam contratados por meio de processo seletivo. A duração mínima do serviço é de dois anos, prorrogável por até dez, podendo ser cancelado a qualquer tempo. Os profissionais vão receber 30% da remuneração que recebiam antes de se aposentar.
Segundo o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, o trabalho em grupo é fundamental para o sucesso do programa. ”A busca por parcerias e a adoção de práticas consagradas é um dos caminhos para garantir o futuro dos brasileiros. Dessa forma, o programa foi estruturado pelo MEC, com apoio da Defesa e outros órgãos”, disse.
Os estados poderão ainda destinar policiais e bombeiros militares para apoiar a administração das escolas. Nesse caso, o MEC repassará a verba ao governo, que, em contrapartida, investirá na infraestrutura das unidades, com materiais escolares e pequenas reformas. Serão investidos R$ 54 milhões por ano, ou seja, R$ 1 milhão por escola. Desse montante sairá o pagamento dos militares da Defesa e a verba para os governos estaduais e DF que aderirem ao programa.
Capacitação – Para que militares e comunidade escolar possam se adaptar ao novo modelo, haverá treinamentos. Um plano de trabalho está em construção para ser colocado em prática antes do ano letivo de 2020.
Pesquisa – Uma pesquisa realizada pelo Instituto Checon em todos os estados e no Distrito Federal revelou que 85% dos entrevistados gostariam de matricular seus filhos em escolas cívico-militares. O levantamento aponta ainda que a média da avaliação geral das escolas cívico-militares é de 8,3, numa escala de zero a 10.
Foram analisados aspectos como segurança (nota 8,1), ensino (nota 7,8), disciplina dos alunos (nota 8,1), respeito ao professor (nota 8,3), preparo dos alunos para a vida (nota 8,1) e atenção e valores humanos e cívicos (nota 8,0).
Foram entrevistadas 2.062 pessoas entre os dias 8 e 15 de agosto de 2019. A margem de erro é de 2,3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Participaram também do evento o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, da Secretaria-Geral, Jorge Antonio de Oliveira, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, assim como o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e o subsecretário de Fomento às Escolas Cívico-Militares do MEC, Aroldo Cursino.

sexta-feira, 29 de março de 2019

MEC: a confusao se aprofunda (FSP)

Confesso que nem sei o que comentar – como sempre faço ao início da transcrição de cada matéria aqui selecionada para postagem –, pois a confusão reinante no MEC é de tal ordem que supera minha capacidade de dizer qualquer coisa.
Apenas transcrevo a matéria da FSP desta sexta-feira 29/03/2019:

Vélez retoma presença olavista no MEC, e ala militar busca reconquistar espaço
Folha de S. Paulo, 29/03/2019

Em busca de se manter no cargo, o ministro Ricardo Vélez Rodriguez reforçou a presença do grupo mais ideológico em seu gabinete. Nomeou nesta quinta-feira (28) como assessores o economista Murilo Resende, aluno do escritor Olavo de Carvalho, e o professor Ricardo Costa, que mantém trânsito com olavistas. Nesta quinta-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) admitiu que Vélez "tem problemas" por ser "novo no assunto" e que não teria "o tato político" necessário para o posto. A saída do ministro seria uma questão de tempo. O nome mais forte até agora é do senador ​Izalci Lucas (PSDB-DF), que tem apoio do bloco cristão desde o ano passado. O senador esteve nesta tarde no Palácio do Planalto. Resende assume posto similar ao desocupado por alunos de Olavo no início de março, fato que desencadeou a crise atual de disputas no MEC. Ao atingir olavistas dentro do MEC, o ministro passou a ser atacado e teve de demitir auxiliares próximos para atender a pressão que chegou até Bolsonaro.
Nomeado em janeiro para uma diretoria do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) responsável pelo Enem, Resende não chegou a ficar no cargo após má repercussão. No entanto, ele não saiu do MEC: desde então era assessor da Secretaria de Educação Superior e despachava em sala dentro do Inep. Defensor das ideias do movimento Escola Sem Partido e crítico da "ideologia de gênero", termo nunca usado por educadores, Resende chegou a chamar os professores brasileiros de "manipuladores" que não querem "estudar de verdade" ao participar de uma audiência pública do Ministério Público Federal de Goiás em 2016. Ricardo Costa foi nomeado como assessor especial do ministro. Professor da Universidade Federal do Espírito Santo e estudioso da idade média, Costa é admirador de Olavo. A crise atual expôs as disputas entre os grupos de militares, de técnicos e ideológicos, como seguidores de Olavo, considerado o guru da nova direita no país. Nos ataques, olavistas como Silvio Grimaldo (que era assessor do MEC e saiu no início do mês ao não aceitar mudar de cargo), atacaram diretamente os militares por uma suposta perseguição a eles.
Por outro lado, a ala militar em torno da cúpula do governo busca retomar espaços no MEC. Além de tentar emplacar o ministro, o grupo quer levar adiante os planos traçados antes da chegada de Vélez. Ao assumir, Vélez preteriu as pessoas que estavam nas discussões sobre educação havia meses. Primeiro ele descartou o cientista político Antonio Testa, indicado até então para secretaria-executiva, cargo número 2 da pasta. 
O coordenador da transição, tenente-coronel Paulo Roberto, também não foi aproveitado no MEC —está atualmente na Casa Civil. A saída de ambos desarticulou a transição e é o embrião da paralisia que acomete o MEC desde janeiro. Testa, por exemplo, participou de todas as reuniões com a gestão anterior do ministério. O time que tocava as discussões de educação antes da posse era coordenado por militares. Três integrantes desse grupo ficaram em órgãos ligados à pasta: o professor Carlos Alberto Decotelli, como presidente do FNDE (Fundo de Desenvolvimento da Educação), o general Oswaldo Ferreira, na Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), e Marcus Vinicius Rodrigues, no Inep. Marcus Vinicius Rodrigues acabou demitido nesta semana após a suspensão, depois revogada, da avaliação de alfabetização. Em entrevista à Folha, ele criticou o ministro e ressaltou que a definição do cancelamento da prova veio do secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, outro aluno de Olavo e poupado pelo ministro no episódio.

terça-feira, 12 de março de 2019

Fogueira das crendices - Editorial da FSP sobre ministros Araujo e Velez

Fogueira das crendices

Vélez e Araújo perdem tempo administrando vaidade, superstições e despreparo


O Brasil destina mais de 5% de sua renda ao sistema educacional público —patamar compatível com padrões internacionais— sem conseguir ensinar o básico aos jovens que farão sua economia funcionar nas próximas décadas.
Na prova internacional Pisa de 2015, nossos estudantes classificaram-se em posições decepcionantes em matemática (63ª entre 70 países), leitura (58ª) e ciências (65ª). 
Diante desse panorama, o que acontece no Ministério da Educação transcorridos mais de dois meses do governo Jair Messias Bolsonaro (PSL)? Uma sucessão de maus passos e intrigas, que nada têm a ver a produtividade nacional.
Eis a decorrência previsível de tratar a pasta como quintal para estripulias dos setores mais caricatos na coalizão de forças conservadoras que elegeu o presidente. O mesmo se observa no Itamaraty.
No MEC, fala-se numa misteriosa Lava Jato da Educação, a qual só logrou produzir oscilações na Bolsa dos títulos de conglomerados de ensino. Nos bastidores, as chamadas alas pragmática e ideológica se engalfinham.
Uma carta tresloucada do ministro Eduardo Vélez, incitando diretores a impor execução diária do hino nacional e requisitando vídeos da cantoria, teve como resultado prático uma sequência espetacular de recuos do titular. Foi, também, o estopim para um confronto aberto no ministério.
Vélez, reagindo a invectivas do escritor Olavo de Carvalho desde a Virgínia (EUA), passou a demitir ex-alunos do ideólogo que o indicara. Tal desenvoltura teria irritado o presidente, que exigiu a exoneração de um militar instalado no gabinete, ao que parece, para vigiar e coibir excessos.
Nas Relações Exteriores, o campo se mostra igualmente conflagrado. Ernesto Araújo se inclina a um  alinhamento com Washington, potencialmente prejudicial ao volumoso comércio com a China.
Ironicamente, a potência asiática se prepara para aumentar as importações de soja dos EUA, em detrimento de produtores brasileiros.
Com a vizinha Venezuela à beira de um conflito civil, Araújo voltou sua atenção, na semana passada, para textos críticos à sua gestão publicados por Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri). Demitiu-o.
Ato contínuo, constrangeu-se a adiar palestra no Ipri do próprio sogro, o embaixador aposentado Luiz Felipe Seixas Corrêa.
Vélez e Araújo perdem tempo precioso administrando uma mistura de vaidade, superstições e despreparo. A responsabilidade maior é do presidente, que enxerga o país pelas lentes enviesadas da internet.
editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​ ​ ​ 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

MEC nao sabe ainda o que fazer, mas quer dar "liberdade" 'as familias (OESP)

Patética essa entrevista: o MEC não tem ideia do que deve ser feito para melhorar a educação no Brasil, mas acha que as famílias, deixadas livres da educação compulsória, saberão educar os seus filhos melhor que as nossas péssimas escolas. Só posso desejar boa sorte. Mas tenho pena das mães, que terão uma quádrupla jornada agora...
Paulo Roberto de Almeida



'Liberdade é o principal ponto do Ministério da Educação', diz número 2 da pasta

Para Luiz Antonio Tozi, secretário executivo, nova equipe trabalha para 

a 'liberdade do cidadão'

Isabela Palhares e Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
18 Fevereiro 2019 | 15h16

SÃO PAULO - O principal ponto para orientar os trabalhos da nova equipe do Ministério da Educação  (MEC) tem sido a busca pela "liberdade do cidadão", segundo Luiz Antonio Tozi, secretário executivo da pasta. 
"Temos um consenso e o próprio presidente (Jair Bolsonaro) tem também colocado como prioridade o aprendizado, para que o jovem tenha liberdade e discernimento para ser o que quiser", disse na manhã desta segunda-feira, 18, em São Paulo, durante a abertura do seminário  "Prioridades para a Educação Básica", promovido pelo Todos pela Educação.

General vai compor equipe do alto escalão do MEC
Fachada do Ministério da Educação (MEC), em Brasília Foto: Marcos OliveiraAgência Senado
Dentre as primeiras ações previstas pelo novo comando do MEC, está a regulamentação para o ensino domiciliar. A modalidade, conhecida como homeschooling, não é liberada no País e a sua regulamentação foi colocada como prioridade para os cem primeiros dias de governo - apesar de apenas cerca de 3,2 mil famílias no País aderirem ao modelo, atendendo cerca de 6 mil crianças, o governo diz que quer dar liberdade para os pais que optam por esse tipo de ensino. 
Tozzi também elencou outros objetivos que são vistos como importantes para melhorar a educação no Brasil, mas para elas ainda não há nenhuma ação elaborada. "Ninguém duvida que nós temos que aumentar as possibilidades de aprendizagem efetiva, que nós temos que profissionalizar a carreira dos professores, fazer um novo processo de redistribuição  (de recursos) para os Estados e municípios", disse.

"Não sabemos ainda como fazer de forma precisa e sem errar", acrescentou.

sábado, 30 de setembro de 2017

Coleção Educadores, do MEC: 63 livros disponíveis para os professores


Coleção Educadores

Os professores das redes públicas da educação básica de estados e municípios, que lecionam nas áreas urbanas e rurais, têm à sua disposição livros especialmente editados para eles. É a Coleção Educadores, que reúne 31 autores brasileiros e 30 pensadores estrangeiros que exercem influência sobre a educação nacional. A coleção inclui ainda o Manifesto dos Educadores e um índice. No total, 63 livros.
A coleção, lançada em novembro de 2010, durante as comemorações dos 80 anos de criação do Ministério da Educação, seguiu também para as bibliotecas públicas do país e de universidades, para as faculdades de educação e para todas as secretarias estaduais e municipais de educação. A distribuição das coleções foi feita pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
As escolas receberam quantidades diferentes de livros, segundo a matrícula registrada no Censo Escolar. As 53,8 mil escolas com até 50 estudantes, receberam um acervo de 11 livros; as 30,9 mil com 51 a 200 matrículas, um acervo de 21 obras; as 26,5 mil escolas com 201 a 500 alunos, um acervo de 63 livros; e as 24,6 mil escolas com mais de 500 matrículas, dois acervos de 63 livros.
A obras retratam a evolução do pensamento educacional em 300 anos. A Coleção Educadores, que começou a ser organizada pelo MEC em 2006, integra as iniciativas do governo federal de formação inicial e continuada de professores das redes públicas estaduais e municipais. Cada volume traz uma apresentação do então ministro da Educação, Fernando Haddad, um ensaio sobre o autor, a trajetória de sua produção intelectual na área, uma seleção de textos — corresponde a 30% do livro — e cronologia. A última parte apresenta a bibliografia do autor e das obras sobre ele. Cada volume tem, em média, 150 páginas.

Manifestos – Faz parte da coleção a reedição de dois manifestos subscritos por expoentes da educação e da cultura do país e dirigidos à população e aos governos. Um é de 1932, subscrito por 24 personalidades, e o outro, de 1959, que teve a adesão de 161 educadores e intelectuais. Na apresentação da obra, o ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que os documentos “assinalam etapas importantes da luta e sinalizam caminhos de impressionante atualidade”.
Ionice Lorenzoni
(Texto escrito em 24 de janeiro de 2011)


Os Educadores:
Manifesto dos Educadores

Henri Wallon
Jean Piaget
Lev Vygotsky
Anísio Teixeira
Cecília Meirelles
Fernando de Azevedo
Helena Antipoff
Lourenço Filho
Paulo Freire
Valnir Chagas
Bogdan Suchodolski
Carl Rogers
Édouard Claparède
Friedrich Fröbel
Johann Pestalozzi
John Dewey
Maria Montessori
Alceu Amoroso Lima
Darcy Ribeiro
Florestan Fernandes
Almeida Júnior
Alfred Binet
Andrés Bello
Anton Makarenko
Antonio Gramsci
Burrhus Skinner
Célestin Freinet
Domingo Sarmiento
Émile Durkheim
Friedrich Hegel
Georg Kerschensteiner
Ivan Illich
Jan Amos Comênio
Jean-Jacques Rousseau
Jean-Ovide Decroly
Johann Friedrich Herbart
José Martí
Ortega y Gasset
Pedro Varela
Roger Cousinet
Sigmund Freud
Aparecida Joly Gouveia
Armanda Álvaro Alberto
Azeredo Coutinho
Bertha Lutz
Celso Suckow da Fonseca
Dumerval Trigueiro
Frota Pessoa
Gilberto Freyre
Gustavo Capanema
Heitor Villa-Lobos
Humberto Mauro
José Maria Pires Azanha
Júlio de Mesquita
Manoel Bomfim
Manuel da Nóbrega
Roquette Pinto
Rui Barbosa
Sampaio Dória
Nísia Floresta
Paschoal Lemme

Índice de nomes (ou onomástico)
 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Reconhecimento de diplomas estrangeiros de pos-graduacao: informacao util

Acabo de receber uma informação que pode interessar a muitos estudantes cumprindo programas de pós-graduação no exterior:

No que diz respeito ao reconhecimento de diplomas de pós-graduação estrangeiros no Brasil, aproveito para acrescentar que, em junho do corrente, foram alteradas as normas para agilizar o processo.

O processo de reconhecimento de diplomas de pós-graduação obtidos no exterior deverá ser admitido a qualquer data pelas universidades regularmente credenciadas que possuam cursos de pós-graduação avaliados, autorizados e reconhecidos, no âmbito do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), na mesma área de conhecimento, em nível equivalente ou superior. A revalidação deverá ser concluída no prazo máximo de 180 dias, a contar da data do recebimento do protocolo na universidade responsável pelo processo ou de registro eletrônico equivalente.

Mais informações em: http://www.capes.gov.br/acessoainformacao/perguntas-frequentes/avaliacao-da-pos-graduacao/7423-revalidacao-de-diplomas-obtidos-no-exterior

Cordialmente,
Bianca Abreu
Head - Education, Science & Technology, Innovation and Culture Section
Embassy of Brazil in Canberra, Australia

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Educacao: o Brasil continua pessimo no PISA-OCDE - Gustavo Ioschpe (draft de 11/01/2014)

Por que não falar a verdade, ministro?

Gustavo Ioschpe

Revista Veja, 11/01/2014

(Nota PRA, em 24/02/2015: esta nota tem mais de ano, e ficou parada nos drafts do meu blog todo este tempo, por razões que desconheço; devo ter dormido em cima do teclado... Mas o tema continua revelante, e a situação educacional do Brasil só tem piorado, por isso ela vai postada, e vocês podem ser ainda mais pessimistas do que eu era um ano atrás...)

Em dezembro, foram divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram péssimos. Ficamos em 58a lugar em matemática, 59- em ciências e 55e em leitura, entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).

A Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21- lugar entre os 31 participantes daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os resultados eram uma "tragédia para a educação alemã". A Der Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia com a seguinte manchete na capa: "Os alunos alemães são burros?". O alvoroço levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.

No dia do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante. convocou uma coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma "grande vitória" da educação brasileira e um sinal de que "estamos no caminho certo" (rumo ao fundo do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Haddad: "A foto é ruim, mas o filme é muito bom". Ou seja, a situação atual ainda não é boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era "o primeiro aluno da sala", o país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer pitoco é um salto enorme.

Essas reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em VEJA.com, um dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe). Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto. Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.

Eis o motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85% da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos um desempenho estelar no Pisa. Por que, então, o ministro não pode vir a público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo uma boa gestão, a melhor da era petista; não precisa disso.

Antes que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de conveniência pessoal, é muito ruim para o país.

Vocês que me leem há algum tempo sabem que estou convencido de que o grande entrave para a melhoria da qualidade educacional brasileira é o fato de que nossa população está satisfeita com
nossa escola (em pesquisa do Inep com amostra representativa de pais de alunos da escola pública, a qualidade do ensino da escola do filho teve uma inacreditável nota média de 8,6. Realidade africana, percepção coreana...). Enquanto a população não demanda nem apoia mudanças, os governantes não têm capital político para encarar a força obstrucionista dos sindicatos de professores e funcionários (um contingente absurdamente inchado de 5 milhões de pessoas). Excetuando VEJA, este colunista e mais meia dúzia de quixotes, toda a discussão nacional sobre o tema é dominada por mantenedores do status quo. Canais de TV buscam sempre alguma história de superação individual, para dar um contorno feliz a uma história triste. Rádios estão preocupadas com debates inflamados, a despeito da veracidade do que é discutido, quer o assunto seja educação, política ou futebol. Jornais acham que aprofundar um assunto é dar os dois lados da moeda, como se educação fosse questão de opinião, não de pesquisa. Empresários não querem falar nada que gere conflito; a maioria dos intelectuais é também professor e tem interesses pecuniários; políticos em geral querem se tomar prefeitos ou governadores. Nesse cenário, quem é que vai falar para o brasileiro aquilo que ele não quer ouvir? O candidato natural é o ministro da Educação. Imaginem que fantástico seria se Mercadante tivesse vindo a público para dizer: "O Brasil foi muito mal no Pisa. Nossos alunos não estão aprendendo o que precisam. Está na hora de encararmos essa realidade. Temos uma enorme crise educacional — o que, na Era do Conhecimento, significa que enfrentamos um gravíssimo problema. Para vencê-lo, todos teremos de arregaçar as mangas e trabalhar mais. Este ministério não administra nossas escolas, mas estamos à disposição de todos os prefeitos, governadores e secretários de Educação que querem melhorar".

Essas palavras poderiam marcar o início de uma nova era. E isso não traria custo político ao ministro. Acho até que geraria benefícios. São palavras de um estadista, de alguém que se preocupa com o futuro dos milhões de alunos que hoje estão sendo massacrados por um sistema educacional inepto.

P.S.: Depois da comoção de 2000, a Alemanha deu um salto. Neste último Pisa, ficou bem acima da média obtida pelos países da OCDE, abocanhando o 12. lugar em ciências, o 16º em matemática e o 19º em leitura

domingo, 24 de março de 2013

Deterioracao do ensino: do pre-primario a pos-graduacao

Se existe uma certeza no Brasil de hoje, é esta.
Mentira da reitora da UFRRJ que 'e o resultado de décadas de descaso.
Apenas uma década de governo popular...
Paulo Roberto de Almeida


 Reinaldo Azevedo 3/24/13 4:43 AM 

Estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ocuparam dependências da reitoria na noite de quarta-feira, dia 13. Protestam contra as péssimas condições da instituição. Já chego lá. Antes, algumas considerações.
Os petistas são craques na criação de realidades virtuais. Contam, é verdade, com a colaboração das corporações sindicais — estas, sim, aquinhoadas pelo regime — e de importantes setores da imprensa, que eliminaram do seu conjunto de referências a palavra “eficiência”. Com as exceções de praxe, as redações se tornaram cartórios das demandas das ditas minorias. Estamos perdendo a noção do conjunto. “Ah, mas o país avança!”, objetam alguns. É certo! Sempre se avança um pouco, a despeito, frequentemente, do estado e até contra ele. Temos setores dinâmicos na economia, que seguem fazendo o seu trabalho. Mas é inquestionável que o Brasil se desenvolve abaixo do que poderia, abaixo do seu potencial.
Uma das áreas em que se aponta uma revolução — justamente a que mais excita a pena dos áulicos e dos demagogos — é a educação. Anotem aí: estamos perdendo a batalha para o tempo e, há muito, para outros países. Confunde-se quantidade com qualidade, o que é já um clichê da gestão desastrada, e se alimenta a farsa de que primeiro é preciso operar um grande processo de inclusão para, depois, cuidar da qualificação. É claro que as coisas não acontecem desse modo. E a razão é simples e lógica: a carência, o remendo, o improviso, a incúria, o desleixo, tudo isso também é uma realidade dinâmica, que vai mudando a cada dia. Também as espirais para baixo se movem.
Procurem aí no arquivo e vocês verão quantos posts já foram escritos aqui apontando o que tenho chamado de farsa da expansão do ensino das universidades federais.
O pior é que os setores que deveriam lutar pela excelência são hoje parte do problema. As entidades estudantis foram cooptadas pelo regime se tornaram suas assalariadas. A UNE se transformou no pior exemplo de peleguismo de que se tem notícia. Foi comprada. Os sindicatos de professores, do mesmo modo, são apenas extensões do poder, braços dos partidos políticos como o PT  e o PCdoB (que também manda na UNE). Quando não é assim, quem manda é o PSOL, em parceria com o PSTU, o que piora tudo. A imprensa, no geral, não dá muita bola para o assunto. Os nossos valentes editores estão ocupados demais ajudando a vaiar o pastor Feliciano porque “ele não pensa o que a gente pensa”. As oposições, sempre com as exceções costumeiras, são burocráticas, descoladas dos problemas reais da população, reféns das fantasias com o que o petismo anima o noticiário.
É só na educação? Não é, não! Vejam a patética fila de caminhões rumo ao porto de Santos, que chegam a 30 quilômetros. Há dez anos, a atual presidente da República, Dilma Rousseff — que hoje se elegeria no primeiro turno, indicam as pesquisas — é considerada a maga (patológica?) da infraestrutura. Sim, a MP dos Portos é boa, eu mesmo a elogiei aqui (e mantenho o elogio), mas vem com atraso. Certamente será aprovada com concessões àqueles mesmos setores corporativistas que se tornaram sócios do poder.
O atraso dos portos, no entanto, com um plano agressivo de investimentos, até pode ser superado num prazo, sei lá, de 10, 15 anos. Mas não é assim na educação. Nesse caso, o que se está corroendo não é só o presente. Também o futuro está indo para o lixo. O mundo não conhece revolução do conhecimento que não privilegie o saber e os mais aptos. E o Brasil escolheu o caminho contrário. “Ah, mas Dilma será reeleita; o povo está feliz!” Que seja! Também não sou juiz da felicidade alheia. Nada disso, no entanto, torna certo o que está errado.
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
O Globo trouxe neste sábado uma reportagem impressionante sobre a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, que reproduzo no pé deste post, com algumas fotos. Muito bem, vindos os fatos e as fotos à luz, o que vai acontecer? Nada! As corporações de ofício vão avançar como aranhas saltadeiras sobre os críticos e ainda acusarão uma conspiração contra a popularização do ensino universitário, a exemplo do que fizeram no Twitter alguns vagabundos, que saíram em defesa do MEC no episódio das redações-deboche. Dois estudantes, movidos pela pena da ironia e da galhofa (ainda voltarei a eles), prestaram um grande serviço ao país. Foram três parágrafos que provaram a farsa em que se transformou o Enem, seja como instrumento de avaliação do ensino médio, seja como vestibular.
Na UFRRJ, alunos de educação física fazem aulas práticas — eu escrevi “práticas” — de natação e remo no seco, fora d’água, porque não há piscina ou tanque de remo. O professor se deita numa mesa para ensinas a remada, explica uma aluna. Sabem por quê?
O tanque de remo para instrução está assim, ó (todas as fotos são de autoria de Hudson Pontes, da Agência Globo).

E o parque aquático, fechado há quase um ano, está assim.

O laboratório do Departamento de Tecnologia de Alimentos, do Instituo de Tecnologia, está inundado. Há ali produtos tóxicos, que podem contaminar o lençol freático. Vejam.

Sem saída
Um trecho da excelente reportagem do Globo explica por que a esperança, nesse caso, pode ser vã. Reproduzo em azul:
Eleita nova reitora, mas ainda não empossada, a professora Ana Maria Dantas Soares acha que, apesar das inúmeras falhas detectadas, a universidade “está indo bem”. “Não deixamos de reconhecer os problemas. Estamos tentando resolvê-los. Foram décadas de descaso com o ensino público”, diz ela, que está na UFRRJ há 34 anos, tendo ocupado o cargo de vice-reitora nas últimas duas gestões. Ana Maria atribui algumas limitações ao Reuni, programa criado pelo governo federal em 2007 para ampliar o acesso ao ensino superior, por meio de aumento de vagas e de cursos, inovações pedagógicas e combate à evasão. “O problema, na verdade, não é o Reuni, mas a forma como ele foi adotado. Se tivéssemos tido a oportunidade de construir prédios, criar os cursos e só depois virem os alunos, tudo bem. Mas não foi assim, pois era um projeto de governo, não de Estado”, observa, referindo-se à pressa na implantação do programa.
Voltei
Foi vice-reitora por duas gestões; é, agora, reitora. É sinal de que há continuidade de mando. Apresentada aos descalabros, acha que a universidade “está indo bem”. Os petistas estão no poder há dez anos, mas ela prefere apontar o dedo para as “décadas de descaso” — a culpa é sempre alheia. Pergunte a Lula, e ele pode culpar até Pedro Álvares Cabral. Mas resta um pouco de bom senso: ela reconhece que o tal Reuni levou alunos para as universidades, mas sem a estrutura necessária. Ah, bom… Como ele é de 2007, então as tais décadas não têm nada com isso, certo?
Abaixo, segue a íntegra (em azul) da reportagem com mais algumas fotos. Depois de tudo, volto para concluir.
*
O parque aquático da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, tem quatro piscinas, mas os alunos do sexto período do curso de educação física têm aulas práticas de natação sem cair na água. Não se trata de um método de ensino inovador, mas de uma tentativa vã — e indignada — de compensar os prejuízos causados pelo fechamento do parque, que aconteceu há quase um ano. “O professor se deita na mesa para nos ensinar a remada”, conta a paulista Isabela Damasceno Cruz, de 20 anos, que se diz frustrada com os problemas da UFRRJ.
Antes, segundo ela, as aulas práticas eram ministradas num clube nas proximidades, mas, por inadequação da piscina e falta de transporte para levar os estudantes, o ensino agora fica só na teoria. Uma caminhada de quatro horas pelo segundo maior campus universitário da América Latina, na última quarta-feira, permite constatar um cenário de abandono. A universidade é centenária e funcionava em outro local. O atual campus começou a ser usado em 1948. Nossa equipe visitou a área após um grupo de alunos enviar um dossiê relatando uma série de problemas para a seção “Eu Estudante”, da página de Educação do site do GLOBO.
No parque aquático, as piscinas têm águas sujas e azulejos quebrados, e um tanque para prática de remo está tomado por lixo. A precariedade também está presente no Instituto de Tecnologia: o laboratório do Departamento de Tecnologia de Alimentos está inundado. Além de privar os alunos de usar um recurso importante, o alagamento sistemático do local também expõe a comunidade a riscos, já que há ali produtos nocivos à saúde que podem contaminar o lençol freático.

Salas de aula estão com infiltrações, e alunos e professores convivem com o mofo, que é mais do que metáfora…
Outro laboratório, o de Informática Aplicada à Arquitetura, também está de portas fechadas. O problema ali são rachaduras que cortam o teto, as paredes e o chão. Coordenador do curso de arquitetura, o professor Carlos Eduardo da Silva Costa lamenta: “É inaceitável um curso sem laboratório de informática, mas não podemos ter aulas aqui enquanto isso não for resolvido.”
Dentro dos prédios, o risco é visível também nas instalações elétricas, onde o improviso é recorrente. Aluno do sexto período do curso de relações internacionais, Lincoln Leão, de 21 anos, não quer nem pensar nos estragos que um incêndio causaria. “Não temos brigada de incêndio. E, para piorar a situação, Seropédica não tem Corpo de Bombeiros”, observa ele, que faz parte do grupo de estudantes que ocupa a reitoria desde 13 de março.

Vejam que belo exemplo de cumprimento de normas técnicas nas instalações elétricas…
Iluminação ruim é outra dificuldade
Fora dos institutos, a insegurança também é grande. Estudantes e professores reclamam de assaltos ocorridos até mesmo à luz do dia. Aluno de engenharia química, Blayley Idegard, de 28 anos, estava sentado na porta de um imóvel hoje usado como alojamento, entretido com seu computador portátil, quando foi abordado por dois homens numa moto. “Um deles me chamou de vagabundo e apontou a arma para a minha cabeça. Para mim, foi uma surpresa ser assaltado dentro da universidade”, conta ele, que veio do interior do Pará.
Se durante o dia há riscos, à noite o quadro é mais complicado, pois há vários pontos do campus onde a iluminação é precária. Esther Saraiva, de 22 anos, aluna do quarto período de química, conta que esperava o ônibus quando dois homens chegaram numa moto e levaram sua mochila: “Perdi tudo: material de estudo, dinheiro”.
Na hora em que a fome aperta, a situação no campus é igualmente desconfortável. A fila diante do restaurante universitário assusta. Sem cobertura, os alunos ficam debaixo de sol ou chuva. Um anexo foi construído, mas os funcionários da unidade, que são terceirizados, pararam de trabalhar por causa de problemas salariais .
A estudante Esther Saraiva, de 22 anos, também não gosta da comida, mas bate o ponto no local porque, apesar de morar no alojamento, não tem fogão no quarto. “Moro no antigo hotel dos professores. Invadimos há um ano, por falta de vaga no dormitório feminino. Lá também não é adequado. Faltam água e luz.
Grupo faz diagnóstico
Coordenador do Plano Diretor Participativo da UFRRJ, o professor Humberto Kzure confirma os problemas enumerados no dossiê produzido por alunos. Ele diz categórico: “Uma  palavra que resume a situação hoje da UFRRJ é insalubridade”. Há dois anos, ele iniciou um diagnóstico da situação no campus, com a participação de professores, estudantes estagiários e técnicos administrativos. Um calhamaço de cerca de mil páginas, com fotos anexadas, mostra que a lista de problemas é extensa. “São questões que vêm se acumulando ao longo do tempo. Há problemas na qualidade dos laboratórios, no descarte de resíduos químicos, biológicos, sólidos. E os alojamentos não são adequados”.
Ainda que o pavilhão central da UFRRJ, onde fica a reitoria, esteja em condições muito superiores às demais unidades do campus, Humberto Kzure observa que há problemas na manutenção dos imóveis tombados, como a instalação irregular de aparelhos de ar-condicionado.
Eleita nova reitora, mas ainda não empossada, a professora Ana Maria Dantas Soares acha que, apesar das inúmeras falhas detectadas, a universidade “está indo bem”. “Não deixamos de reconhecer os problemas. Estamos tentando resolvê-los. Foram décadas de descaso com o ensino público”, diz ela, que está na UFRRJ há 34 anos, tendo ocupado o cargo de vice-reitora nas últimas duas gestões.
Ana Maria atribui algumas limitações ao Reuni, programa criado pelo governo federal em 2007 para ampliar o acesso ao ensino superior, por meio de aumento de vagas e de cursos, inovações pedagógicas e combate à evasão. “O problema, na verdade, não é o Reuni, mas a forma como ele foi adotado. Se tivéssemos tido a oportunidade de construir prédios, criar os cursos e só depois virem os alunos, tudo bem. Mas não foi assim, pois era um projeto de governo, não de Estado”, observa, referindo-se à pressa na implantação do programa.
Dados da execução orçamentária da UFRRJ, publicados na página do Ministério da Educação, revelam que o valor pago pelo governo à instituição aumentou quase 24 vezes entre 2005 e 2012: saltou de R$ 14,8 milhões para R$ 347 milhões. Sobre o incremento significativo, a direção da universidade informa que há erro no valor registrado no site em relação a 2005: o repasse teria sido, na verdade, de R$ 140 milhões. O MEC, porém, garante que os dados estão corretos. Considerando apenas os valores relativos ao Reuni, o ministério repassou, de 2007 até o ano passado, cerca de R$ 120 milhões. Para este ano, devem ser pagos R$ 20 milhões.
Seja qual for a quantia, os alunos que ocupam a reitoria divulgaram ontem uma pauta de reivindicações e garantem que só liberam o gabinete após o compromisso da direção de que as solicitações serão atendidas. E ainda condicionam a saída à realização de uma auditoria externa pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União.

Lixo de toda natureza fica exposto ao relento. Mas reitora acha que a culpa é das “décadas de descaso”…
Concluo
Não pensem  que a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro é exceção. Não é. No dia em que a imprensa resolver fazer um raio-X pra valer das universidades federais brasileiras, teremos então clareza das mistificações destes últimos 10 anos, marcados pela baixa qualidade de ensino, deficiência de infraestrutura e espantoso desperdício de dinheiro.
Todo mundo sabe que não sou do tipo que aplaude invasão de prédio público. Nem sei que partido ou tendência, se é que há alguma, está no comando da ação da UFRRJ. Sei que, desta feita, aplaudo, sim! Quem está descumprindo a lei e as regras do estado de direito por lá é o governo federal, é o MEC. A reitora, ora vejam, em linguagem militante, culpa “décadas de descaso”. Ela só não explica por que não consegue chamar nem mesmo o lixeiro…

sábado, 8 de dezembro de 2012

Ensino Superior (superior?): reprovado, em sua maior parte...

O MEC já não é essa maravilha. Ao contrário, eu acho o MEC um horror, em todos os sentidos que se possa pensar. Se quisermos melhorar a educação brasileira, temos antes de acabar com o MEC, e criar uma outra coisa em seu lugar.
OK, eu sei que isso não vai ocorrer, infelizmente. Então vejamos a realidade.
Sendo a porcaria que é, o MEC certamente fez uma avaliação ao seu jeito.
OK, OK, não estamos falando do MEC, mas da Capes, que é um pouco menos pior.
Enfim, admitindo-se que a Capes faz algo de útil e relevante para o país, ela acaba de reprovar grande parte do ensino superior no Brasil. E não pensem que se trata apenas de um terço que não consegue cumprir requisitos mínimos. Acho que se trata da maioria absoluta, e as instituições decentes devem se contar nos dedos de uma mão, OK, duas, mas não mais de duas. Portanto, não metam os pés pelas mãos, como faz o MEC, e rendam-se à realidade.
E a realidade é esta aqui: do jardim da infância (talvez da creche) até o pós-doutorado, o ensino no Brasil está num rápido processo de deterioração, de mediocrização, de perda de qualidade, tanto no setor público (bem, mas isso é evidente, não é mesmo?), como no privado (ou eu deveria dizer particular, para evitar associações indevidas?).
Não tenho nenhuma ilusão de que essa porcaria venha a ser corrigida ou melhorada no futuro próximo, inclusive porque as saúvas freireanas e os companheiros trogloditas da educação continuam por aí, espalhando seu cortejo de barbaridades educacionais.
Enfim, façam como eu: sejam auto-didatas...
Paulo Roberto de Almeida  

Um terço das instituições de ensino superior no País é reprovada em avaliação do MEC
Agências de Notícias (Jornal da Ciência), 7/12/2012

Ministério promete pena rigorosa a 324 cursos 'repetentes'.

Quase um terço (31%) das instituições de ensino superior brasileiras tiveram um desempenho considerado insatisfatório no Índice Geral de Cursos (IGC) de 2011, o principal indicador de qualidade do ensino superior. Das 1.875 instituições que receberam conceito do Ministério da Educação (MEC), 577 obtiveram notas 1 ou 2 numa escala que vai até 5. Os números foram divulgados ontem (6) pelo MEC. Também foi apresentado o resultado de 2011 de outro índice, o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que faz uma avaliação por curso, e não por instituição. De 6.324 cursos com conceitos divulgados, 976 (15%) tiveram notas insatisfatórias (1 ou 2).

No caso das notas de instituições, em relação a 2008, houve uma diminuição de 35% para 31% na proporção de faculdades, centros e universidades com avaliação insatisfatória e um aumento de 9% para 12% no percentual com boas avaliações (conceitos 4 ou 5). A maioria dos cursos e das instituições teve nota 3.

O IGC, indicador de instituições, é o resultado da média trienal ponderada do CPC, o conceito que avalia cursos. Como a avaliação do MEC leva em conta um ciclo de três anos, a melhor base de comparação dos índices de 2011 são os resultados de 2008.

Como em anos anteriores, a instituições públicas se saíram melhor que as privadas e as universidades (instituições de maior porte e com obrigação de investimento em pesquisa) têm, em média, avaliações melhores que os centros universitários (instituições com mais autonomia que faculdades, porém menos obrigações que as universidades) e faculdades.

Ao apresentar os resultados, o MEC divide as instituições nesses três grupos (universidades, centros universitários e faculdades) por entender que eles têm porte e missões diferentes.

O CPC (conceito que avalia cursos e serve de base para o índice das instituições) é calculado a partir de três áreas: desempenho dos estudantes no Enade, responsável por 55% do índice; infraestrutura e organização didático-pedagógica, com 15%; e professores, com 30%. Em 2011, os cursos avaliados foram das áreas de ciências exatas, licenciaturas e áreas afins, além dos cursos dos eixos tecnológicos de Controle e Processos Industriais, Informação e Comunicação, Infraestrutura e Produção Industrial, pertencentes a 1.387 instituições.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante fez uma interpretação positiva da diminuição da proporção de cursos com conceitos insatisfatórios. Segundo ele, alguns programas governamentais foram decisivos para a melhora das notas, como o Programa Universidade para Todos (Prouni) - que concede bolsas para estudantes de baixa renda em instituições de ensino superior privadas - e o Programa de Financiamento Estudantil (Fies). Para participar dos programas, as instituições não podem ser mal avaliadas.

"A avaliação é uma política pública de qualidade, com resultados muito concretos. Os instrumentos de estímulo como Prouni e Fies também contribuíram decisivamente para essa melhora significativa do IGC", disse o ministro.

Mercadante também afirmou que as universidades, que em geral têm notas melhores, respondem 53,9% das matrículas no ensino superior brasileiro, ou seja, mais da metade. Os centros universitários têm 13,7% do total, e as faculdades 30,9%. Segundo o Censo da Educação Superior, havia em 2011, 6,7 milhões de alunos de graduação no País.

Sob investigação - Onze instituições não tiveram as notas no IGC (Índice Geral de Cursos) divulgadas pelo MEC por serem alvos de investigação.

Entre elas está a Facic (Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro), ligada à família de Paulo Vieira, ex-diretor de uma agência estatal preso pela Polícia Federal sob acusação de tráfico de influência no governo federal. Em conversa interceptada pela PF, ele pede a uma funcionária da instituição que altere dados da faculdade em um sistema do MEC usando a senha de um servidor do ministério.

Também estão na lista unidades mantidas pela Reges (Rede Gonzaga de Ensino Superior), União das Instituições Educacionais da Alta Paulista, a Faculdade de Educação de Colorado do Oeste (RO) e a Faculdade de Realeza (PR).

Pena rigorosa - O MEC promete punir 324 cursos universitários que, após quatro anos, continuam com um baixo indicador de qualidade. Essas graduações tiveram, tanto em 2008 como em 2011, um desempenho insatisfatório no CPC (Conceito Preliminar de Curso).

A pasta não detalhou a lista de cursos e instituições cujo desempenho ruim se repetiu em 2008 e 2011 - a relação total de escolas e suas notas, no entanto, está disponível no portal do ministério. "Nós seremos muito rigorosos com aqueles que concluíram o ciclo e não melhoraram a qualidade", disse o ministro Aloizio Mercadante.

De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, entre as medidas punitivas, o MEC considera impedir a realização de novos vestibulares. Os alunos já matriculados teriam garantida a emissão do diploma. A maior parte desses cursos está em instituições privadas.

Hoje, esses cursos já enfrentam restrições do governo, como impedimento para participar do Fies, programa de financiamento estudantil, e do Prouni, que concede bolsas para estudantes de baixa renda. "Nós queremos dar bolsa para cursos que tenham um padrão de qualidade", disse Mercadante sobre o Prouni.

O ministério analisa a possibilidade de aumentar o corte de vagas e fazer supervisão mais rigorosa nas instituições com cursos de desempenho insatisfatório nos últimos anos. Mercadante disse que o candidato precisa considerar a nota do curso que pretende pleitear. "Curso nível 1 não é recomendado. E mesmo o nível 2 ele tem de olhar com muito cuidado, muita prudência."

Apesar da promessa de punição mais rigorosa, o MEC adotou recentemente postura menos incisiva Um corte de 18,5 mil vagas em cursos de administração e contabilidade, anunciado em 2011 com base no CPC de 2009, foi adiado.

Ao mesmo tempo, a maioria das vagas efetivamente cortadas em cursos da área de saúde em 2011 eram ociosas. Das 31,5 mil vagas extintas em cursos como fisioterapia e enfermagem, 72,8% não estavam sendo usadas pelas faculdades. 

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Maioria dos formandos em Medicina não passa em exame do Cremesp

No primeiro ano da prova obrigatória do conselho paulista, 54% dos novos médicos avaliados não tiraram a nota mínima.
Mais da metade (54,5%) dos recém-formados em Medicina no Estado de São Paulo foi reprovada no exame do Conselho Regional de Medicina (Cremesp). A prova, criada em 2005, se tornou obrigatória neste ano. Nas edições anteriores, a avaliação era voluntária, o que deixava a amostra vulnerável a erros.

A maioria dos atuais formandos acertou menos de 60% das 120 questões de múltipla escolha da prova. Elas envolviam temas das nove principais áreas da Medicina - entre elas clínica médica, saúde pública, saúde mental, pediatria e ginecologia. Em 2011 e em 2010 a reprovação foi mais baixa: 46% e 43%, respectivamente, mas a participação na prova também era muito menor.

Ao todo, 2.943 alunos se inscreveram para o exame desta edição. Mas a prova foi feita por 2.872 estudantes, ou 97,6% dos inscritos, sendo que 2.411 são de escolas de São Paulo. Já em 2011, por exemplo, apenas 418 alunos se inscreveram. Para tirar o CRM (registro profissional), é necessário apresentar o documento que comprove presença na prova, mas não é necessário ser aprovado no exame.

As questões da prova eram básicas, de média e baixa complexidade. E, ainda assim, menos da metade conseguiu acertar 60% da prova. Lamentavelmente, áreas cruciais, como clínica médica, tiveram notas muito baixas", afirma Renato Azevedo, presidente do Cremesp. Na prova, detalha Azevedo, são cobrados conteúdos básicos, como vacinas obrigatórias e a identificação e o tratamento de diarreia em crianças - as questões dessa prova específica não foram divulgadas.

Boicote - Dos formandos que fizeram a prova, 119 (4,2% do total) tiveram a prova invalidada por boicote - 86 marcaram apenas a letra B - ou por outras tentativas de anulação, como desenhos. Segundo o Cremesp, 99% dos que boicotaram são de instituições públicas. O conselheiro Bráulio Luna, um dos coordenadores do exame, criticou o boicote. "São alunos extremamente egoístas. Estudam em universidades públicas, com dinheiro público, e quando se formarem vão atender em clínicas privadas, não vão para o Sistema Único de Saúde (SUS). Esse é o perfil dos boicotadores. São parte de uma elite que não quer ser avaliada", disse.

Apesar de a legislação determinar a entrega do CRM para o recém-formado, mesmo que ele tenha boicotado o exame, o Cremesp tem segurado o registro profissional de alguns alunos que decidiram protestar. Os formandos da Unicamp Josué Augusto do Amaral Rocha, de 23 anos, e Marília Francesconi Felício, de 27 anos, boicotaram o exame e não conseguiram tirar o registro profissional. Receberam uma carta afirmando que suas provas apresentavam inconsistências e, por isso, seriam revisadas. "É claramente uma forma de retaliação para atrasar a emissão do nosso CRM. Ficamos impedidos de exercer a profissão", diz Marília.

Azevedo, presidente do conselho, admitiu que as provas dos boicotadores serão reavaliadas, mas garantiu que os registros profissionais desses médicos serão entregues até 31 de janeiro. Os recém-formados vão receber o resultado individual na prova comparando com a média geral. O Cremesp, porém, não vai divulgar a lista das melhores e piores para evitar um ranking. "Havia grande resistência das instituições em apoiar o exame por causa do ranqueamento. Então temos um compromisso de não divulgar os resultados por escola", disse Reinaldo Ayer, que também coordenou a avaliação.

Resultado do Cremesp nos deixa temerosos, afirma professor
Coordenador do exame do Cremesp, o médico Bráulio Luna Filho, que também é professor na Unifesp, defende a prova e diz que o resultado retrata a qualidade do profissional que vai para o mercado de trabalho, principalmente para a periferia.

Pode-se dizer que o resultado foi muito ruim?
Bráulio Luna Filho - Sim. Uma prova de avaliação ao final do curso de medicina no Canadá, nos EUA, tem, em média, 95% de aprovação. Imaginei que nosso resultado seria de 70% e foi de 44,5%. Isso nos deixa temerosos sobre o exercício profissional futuro desses colegas.

Como o cidadão pode se defender de um médico mal qualificado?
Infelizmente, a população não tem como saber se o indivíduo foi bem treinado. O problema é maior nas camadas mais pobres porque o médico recém-formado vai atender nas unidades mais periféricas.

O boicote dos alunos não foi legítimo?
O conselho se ressente quando alunos formados em universidades de ponta, principalmente, protestam. O cidadão teve o ensino pago pelo contribuinte, teve boas condições de aprendizado e ainda é contra uma avaliação?

Prova do Cremesp deveria ser teórica e prática, diz formando
Josué Augusto do Amaral Rocha, da Unicamp, um dos líderes do movimento que defendia o boicote à prova do Cremesp, diz que a avaliação deveria ser teórica e prática.

O resultado ruim é reflexo da prova ou do ensino de medicina?
Josué Augusto do Amaral Rocha - Quando se fala da prova, é preciso falar da qualidade dela. Para ser adequada, não poderia ser só teórica. Tinha de ter uma parte prática. É preciso fazer uma avaliação global dos estudantes, ao longo de todos os anos do curso e não apenas no final. A avaliação precisa envolver a infraestrutura da escola, o corpo docente e o aprendizado do estudante. Prova de múltipla escolha, como faz o Cremesp, qualquer cursinho ajuda a passar.

A adesão ao boicote não ficou abaixo do esperado?
O movimento lançou a discussão sobre o ensino médico no Brasil.

Quem mais aderiu não vem de boas escolas e tem mais chances de emprego?
Isso mostra a mobilização das escolas publicas. Vou trabalhar na periferia de Campinas. O movimento é para discutir a qualidade de saúde pública e nosso interesse é total na população.

Quem nos salva dos médicos?
Artigo de Gilberto Dimenstein

Aconteceu o que já prevíamos: a reprovação da maioria dos estudantes de medicina que fizeram a prova para medir seus conhecimentos, realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. A pergunta mais importante ao cidadão: quem nos salva dos médicos?

Apesar de reprovados, os formados têm o pleno direito de exercer a profissão. Não somos informados quais os reprovados. Nem quais as piores faculdades - era o mínimo de transparência necessária. O que sabemos é que, em breve, eles estarão num pronto-socorro atendendo casos de emergência.

A culpa é dos estudantes que não aprenderam? Eles também são vítimas. Vítimas que geram vítimas. A culpa, em essência, é dos governos que liberaram a abertura de escolas de medicina e não desenvolveu melhores mecanismos para cobrar qualidade.

Sou solidário, até certo ponto, com estudantes que fizeram o boicote ao exame, argumentando que as escolas deveriam ser avaliadas com profundidade. Mas sou mais solidário com o cidadão comum que tem o direito de saber dos riscos à sua saúde.

(Fonte: O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo)