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terça-feira, 7 de abril de 2020

O "imbecil" Weintraub (ele se chamou assim) e as relações Brasil-China - Comex

Declarações de Weintraub podem prejudicar da agroindústria à infraestrutura, dizem especialistas



Última atualização: 7 de Abril de 2020 - 10:52
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Da Redação (*)

Brasília  – “Num primeiro momento, a China não deverá impor retaliações ao Brasil, mas pode vir a adotar um distanciamento gradativo que poderá prejudicar importantes setores da nossa economia, do agronegócio à infraestrutura. . Em meio a uma crise sanitária, econômica e política, o Brasil não está em condições de dobrar a aposta e provavelmente trabalhará por uma reaproximação silenciosa. Ainda há muitos dentro do governo que entendem a importância da China para o avanço dos interesses brasileiros”.

A afirmação foi feita pelo professor de Política Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), Guilherme Casarões, ao comentar publição, pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Twitter, com referias “rascistas” e “xenofóbicas”  associando a China à origem da COVID-19.

Para o professor de política internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), Guilherme Casarões, nunca um presidente brasileiro escolheu alvos internacionais tão claros para agressões sistemáticas.

“Parece haver uma estratégia nessas agressões que atende aos interesses de setores do governo. Externamente, vemos uma tentativa mal-acabada de mimetizar a retórica de Donald Trump, mais uma vez ignorando as assimetrias de poder entre o Brasil e a China, nosso principal parceiro comercial”, afirmou o professor.

Casarões lembrou que tal estratégia tem um fundo ideológico, característico do grupo do governo conhecido no Brasil como “olavista”, ligado ao astrólogo Olavo de Carvalho, do qual fazem parte os ministros da Educação Abraham Weintraub, e das Relações Exteriores Ernesto Araújo, entre outros integrantes do governo. Casarões explicou que para este grupo a China é vista como ameaça à civilização ocidental, e o atual vírus seria parte de uma conspiração.

Para o professor e diretor adjunto de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dawisson Belém Lopes, a tradição da diplomacia brasileira é acomodar-se às circunstâncias de forma inteligente.

“O Brasil hoje nas suas relações exteriores adotou um caminho de alinhamentos automáticos, sem levar em consideração interesses objetivos que estejam em jogo, o que tem guiado a relação com a China. No triângulo Brasil, Estados Unidos e China, existe um forte vetor ideológico que leva o Brasil a se aproximar dos EUA. Mas do ponto de vista material, o Brasil depende muito de suas exportações para a China. Curiosamente tem vencido um vetor mais ideológico”, avaliou Lopes.

Para o mestre em Política Chinesa na Universidade do Povo e mestrando em Economia na Universidade de Pequim, ambas na capital chinesa, Jordy Pasa, desde que o Brasil estabeleceu relações diplomáticas com a China, em 1974, a relação com Beijing foi de cordialidade. Ele lembra que a política externa brasileira é reconhecida pela regularidade e conteúdo de Estado, mesmo durante transições domésticas expressivas entre um governo e outro.

“A administração Bolsonaro, seja diretamente através do ministro das Relações Exteriores e seus subordinados ou do próprio presidente da República, seja indiretamente através de outros membros do governo e demais apoiadores, como é o caso de Weintraub e do deputado federal Eduardo Bolsonaro, representa uma ruptura e um dano inconsequente à essa tradição”, acredita Pasa.

China pede fim de acusações

A manifestação do ministro Weintraub recebeu dura resposta através de nota divulgaa na segunda-feira pela Embaixada da China em Brasilia, na qual a missão diplomática pediu que as acusações infundadas por parte de membros do governo fossem interrompidas. Ainda que, segundo Pasa, seja evidente que os ataques à China vêm de uma ala específica do governo e, reforça o pesquisador, a contragosto de outras, como a dos agropecuaristas e a dos militares, cabe ao Planalto garantir a unidade do governo.

“A Presidência é não somente responsável pelo comportamento de seus membros como também associada às declarações de seus aliados. Os danos infringidos aos laços com Beijing ainda não são irreparáveis. Entretanto, revertê-los exige que entendamos, de uma vez por todas, que nosso inimigo é o novo coronavírus, e não a China, nossa amiga, aliada de longa data, e que, portanto, merece ser tratada como tal. Para o Brasil, não há o que se ganhar com qualquer caminho que não esse”, indicou o pesquisador, também co-fundador do projeto Shumian, que analisa semanalmente os principais fatos relativos à China.

Para Lopes, trata-se de um governo disfuncional e sem coesão no Brasil, em que há uma ala ideológica que hoje é majoritária para assuntos de política externa.

“É uma forma que Bolsonaro encontrou de driblar dificuldades. Toda vez que alguém disse que no episódio envolvendo o filho Eduardo e China, que aquilo era uma afronta ao Estado chinês, o presidente poderá argumentar que não se trata de posição governamental, mas apenas da fala de um deputado. O mesmo vale para declarações de seus ministros. Então tal falta de coesão passar a ser conveniente”, avaliou o especialista.

Relações com a China

Para Casarões, o governo chinês reconhece a importância do Brasil como pilar de sua estratégia de segurança alimentar, além de agir com cautela no tabuleiro internacional.

“Não vejo retaliações diretas da China num primeiro momento, mas um distanciamento gradativo que poderá prejudicar importantes setores da nossa economia, do agronegócio à infraestrutura. Em meio a uma crise sanitária, econômica e política, o Brasil não está em condições de dobrar a aposta e provavelmente trabalhará por uma reaproximação silenciosa. Ainda há muitos dentro do governo que entendem a importância da China para o avanço dos interesses brasileiros”, avaliou o professor.

“Parece que (Jair) Bolsonaro se esforça para desqualificar o trabalho de seu ministro da Saúde, Henrique Mandetta, que já disse publicamente que a China é uma importante parceira no combate à COVID-19. Um efeito colateral dessas provocações é o risco ao agronegócio brasileiro, cujas exportações para a China ainda sustentam a economia brasileira”, afirmou Casarões.

Aos que se preocupam com o futuro das relações sino-brasileiras, segundo Pasa, resta esperar que a China identifique nestes desdobramentos recentes que estes são fruto de um governo fragmentado, em processo de enfraquecimento devido, dentre outros fatores, à resposta pífia à eminente crise com a pandemia da COVID-19.

“A China não está tremendamente incomodada pelas posições de alguém sem expressão internacional, como Weintraub, mas deixa um recado claro de respeito ao seu povo, a seu Estado e ao projeto de civilização que representa”, afirmou Lopes.

(*) Com informações da Xinhua


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Ensino superior no Brasil está sofrendo ataque`, mostra relatório internacional

Ensino superior no Brasil está sofrendo ataque`, mostra relatório internacional
POR AGÊNCIA O GLOBO - IG EDUCAÇÃO – 10/12/2019 – SÃO PAULO, SP

Os repetidos ataques às universidades públicas desde a campanha eleitoral do ano passado, que prosseguiram após a eleição de Jair Bolsonaro, levaram o Brasil a ser o destaque negativo do relatório ` Free to Think ` (livre para pensar), publicado pela rede internacional Scholars at Risk (acadêmicos em risco), baseada na Universidade de Nova York.
A edição deste ano do documento tem sua capa ilustrada pela foto de uma das manifestações a favor da educação no Brasil, e o país também é tema de um capítulo próprio, intitulado `Ataque ao espaço do ensino superior no Brasil `.
`No Brasil, pressões sobre comunidades universitárias dispararam desde as eleições presidenciais do país, em outubro de 2018. Invasões policiais em campi, relatos de estudantes e professores membros de minorias sendo ameaçados e atacados dentro e fora dos campi e ações orçamentárias e legislativas para minar as instituições de ensino superior e limitar a liberdade acadêmica e a autonomia institucional refletem crescentes preocupações encontradas em outras nações onde o conceito de `democracia iliberal` ganhou força entre os líderes`, afirma o relatório.
Entre os exemplos de ataques no Brasil, o documento cita o estupro, em 25 de outubro de 2018, de uma aluna negra da Universidade de Fortaleza (Unifor) que havia recebido `inúmeras ameaças racistas on-line e pessoalmente`.
`O ataque ocorreu em um contexto de uma série de ataques politicamente motivados contra minorias e membros da comunidade LGBTQ perpetrado por apoiadores do então candidato a presidente Jair Bolsonaro . Antes do incidente, a aluna havia sido assediada e ameaçada por um homem que afirmou que ele e outros `purificariam a universidade` de `seu povo` quando Bolsonaro assumisse o cargo`, diz o relatório.
Segundo o documento, a Unifor condenou o ataque e ofereceu à vítima aconselhamento psicológico e jurídico. Até a publicação dele, o autor ainda não havia sido identificado.
Outro exemplo citado foi o ataque, em 19 de outubro do ano passado, a quinze estudantes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) que faziam campanha para o então candidato à presidência Fernando Haddad do lado de fora do campus.

Críticas a Weintraub
O documento também cita as ações do ministro da Educação, Abraham Weintraub , incluindo sua acusação de que três universidades federais — a Fluminense (UFF), a de Brasília (UnB) e a da Bahia (UFBA)— promoviam ` balbúrdia ` e sua ameaça de reduzir os recursos às faculdades de filosofia e sociologia.
Em suas conclusões, o relatório urge o governo brasileiro a `tomar medidas razoáveis para garantir a segurança dos acadêmicos, estudantes, funcionários e outros membros de comunidades de ensino superior, inclusive investigando incidentes e responsabilizando seus autores`.
Pede também que os membros da administração abstenham-se `de declarações ou ações que estigmatizem o ensino superior, acadêmicos ou estudantes e corroem as condições de segurança, liberdade acadêmica ou autonomia institucional das instituições brasileiras de ensino`.
Em entrevista à BBC News Brasil , o diretor-executivo da Scholars at Risk , Robert Quinn, afirmou que a inclusão do país no relatório deste ano não signifiica que ele é o que mais restringe a liberdade acadêmica, mas chama atenção pelo ineditismo —os relatos que a ONG recebeu de acadêmicos que se dizem vítima de perseguição nunca foram tão numerosos.
`Há algo acontecendo e precisamos olhar para isso. Não quer dizer que há um grande problema, mas significa que precisamos analisar. E, quando olhamos, uma parte dos incidentes foi muito bem pronunciada por representantes do governo ou políticos no Brasil. Algumas destas falas circularam pelo mundo`, disse Quinn à BBC Brasil.
O GLOBO procurou o Ministério da Educação para que a pasta comentasse o relatório `Free to Think`, mas não obteve resposta até a conclusão deste texto.