Parece que as improvisações do governo começam a causar problemas. Afinal de contas, não é fácil mandar milhares de estudantes para o exterior, e depois deixá-los sem condições de estudar...
Paulo Roberto de Almeida
Notícias de 24/04/2013
Folha de S. Paulo
– Mercadante nega problemas em programa de bolsas
Ministro da
Educação criticou 'pessimismo' sobre o Ciência sem Fronteiras e anunciou que
programa atingiu 41.133 bolsas no exterior
DE BRASÍLIA
O ministro
Aloizio Mercadante (Educação) disse ontem que os bolsistas no exterior que
estão sendo migrados para o programa Ciência sem Fronteiras abrirão espaço
orçamentário para alunos de ciências humanas, que hoje não são contemplados
pelo programa.
Ele negou que
haja maquiagem de dados e afirmou que os estudantes migrados "sempre
estiveram" no programa, mas não explicou como se dava esse processo.
A Folha revelou
anteontem que o governo vinha computando no Ciência sem Fronteiras os bolsistas
regulares da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), que não tinham se inscrito ou passado no programa, há pelo menos um
mês e meio --o MEC depois confirmou que a prática acontecia desde 2011.
Na sexta-feira
(19), a Capes informou os bolsistas de seus programas regulares que eles seriam
migrados se estivessem dentro de certos critérios.
Segundo
Mercadante, as condições do Ciência sem Fronteiras são "muito
melhores" por concederem benefícios como subsídio para cursos de idiomas e
compra de computadores.
Questionado por
que apenas na semana passada os alunos foram informados da migração, disse que
somente os estudantes de pós-doutorado foram comunicados.
"Era uma
resposta a ações judiciais de alunos de pós-doutorado, que também queriam
direito à verba para laptop e curso de inglês", disse.
Ocorre que, como
a Folha mostrou, foram alunos de doutorado que receberam o comunicado.
Questionado novamente, Mercadante só negou o fato e passou a criticar o que
chama de "certo problema de pessimismo no país" sobre o programa.
Mercadante disse
ainda que "não há possibilidade de dupla contagem" nos programas.
"Nós temos os CPFs e GPSs de onde eles estão."
Ele anunciou
também novas 17.282 bolsas de estudos no exterior e disse que o programa chegou
a 41.133 bolsas concedidas desde 2011.
Afirmou ainda que
o governo limitará neste semestre a ida de estudantes a Portugal para
incentivar os bolsistas a aprimorar o inglês.
Objetivo é estimular estudantes brasileiros
a aprenderem novo idioma
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
anunciou ontem que as universidades portuguesas não estarão mais entre as
instituições de graduação do programa Ciência Sem Fronteiras. Segundo o
ministro, a mudança é temporária, para estimular o aprendizado de outras
línguas pelos estudantes, e vale para os editais abertos neste semestre.
- Nós não consideramos neste momento bolsas
para Portugal para estimular os alunos na proficiência de outras línguas. Eles
têm que enfrentar o desafio da segunda língua - afirmou Mercadante.
De acordo com o ministro, a língua inglesa
é uma das prioridades do programa, por isso o MEC pretende aumentar as relações
com instituições de ensino dos EUA.
Cerca de 600 estudantes que escolheram
Portugal como destino e ainda não optaram por outro país não foram contemplados
com a bolsa. Segundo o ministério, esses estudantes farão parte de próximos
editais do Ciência Sem Fronteiras, mas ainda não existe data para que o aluno
informe sua nova escolha. ( Do G1 )
As Universidades
Harvard, Stanford, Columbia, da Califórnia, o Instituto de Tecnologia de
Massacfausetts (MIT) e outras instituições americanas de ponta vão reservar 1,5
mil bolsas de. estudo integral até 2015 para estudantes brasileiros cursarem
doutorado completo. As bolsas serão financiadas pelo governo federal, por meio
do programa Ciência Sem Fronteiras (CsF).
Apesar do
convênio com as universidades ter sido firmado no ano passado - motivado pela
ida da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos em abril de
2012 -, a falta de divulgação da oportunidade levou a Laspau (entidade
vinculada à Harvard), que administra a concessão das bolsas, a realizar ontem
uma visita ao País.
Trata-se de um
acordo histórico, sem precedentes. Os estudantes brasileiros precisam saber que
eles podem estudar nas melhores universidades norte-
americanas",
disse Angélica Natera, diretora adjunta da Laspau, durante agénda de reuniões
comparceiros institucionais em São Paulo.
Mesmo exigindo
que os estudantes tenham apenas diploma de graduação nas áreas prioritárias do
CsF - Engenharia, Tecnologias e Saúde -, além de bom nível de inglês, pouco
mais de cem candidatos foram pré-selecionados até o momento. É prevista neste
primeiro ano de acordo a seleção de outros 400 estudantes. As inscrições para
início dos estudos em 2014 vão até setembro e podem ser feitas pelo site da
Laspau (www.laspau.harvard.edu).
Abaixa demanda
pelas bolsas pode ser justificada pelo desconhecimento de muitos estudantes,
que tendo apenas diploma de graduação podem se candidatar diretamente para o
curso de doutorado. Ou seja, não precisam cursar primeiramente o mestrado.
"Geralmente, quem sabe desse detalhe é aquele estudante que teve maior
aproximação com pesquisa na graduação, com projetos de iniciação científica,
por exemplo. Mas quem não teve muito esse contato desconhece , disse Luana
Bonone, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos.
A falta de
domínio de inglês é outro entrave às candidaturas. "Até o pós-graduado tem
inglês ruim, mas essa deficiência é curável", disse o economista Cláudio
Moura Castro, ex-diretor-geral da Capes, uma das agências de fomento federal
que administram o CsF.
Solução. E a
"cura" pode ser até mensurada, afirma André Marques, diretor da EF
Englishtown, especialista em certificação. "Para alcançar o patamar que é
exigido pela seleção, o pós-intermediário, o estudante que tem nível básico de
inglês, precisaria estudar diariamente por um ano e meio", afirmou.
O esforço para
preencher as vagas disponíveis pode aumentar a presença de pesquisadores
brasileiros nas melhores universidades do mundo. Isso deve fazer avançar áreas
da ciência estratégicas para o País, afirmou Luiz Felipe d"Avila,
diretor-presidente do Centro de Liderança Pública (CLP). "Podemos nos
desenvolver ainda mais na agroindústria e aviação", disse d"Avila. O
CPL pretende implementar uma incubadora nos Estados Unidos para identificar
boas ideias dos doutorandos.
"Esperamos
com o convênio retomar o envio de pesquisadores brasileiros para fazer o
doutorado pleno nos Estados Unidos, algo que ocorria mais intensamente nos anos
1960 e 1970", afirmou o presidente da Capes, Jorge Guimarães.
Alta
312% foi o
crescimento do número de mestres e doutores formados em instituições brasileiras,
entre 1996 e 2011, segundo centro ligado ao Ministério da Ciência.
Considerada uma
das melhores instituições de ensino do mundo e também a de maior reputação
pelos principais rankings internacionais, a Universidade Harvard tinha apenas
75 alunos brasileiros em 2011, segundo registros oficiais da própria
instituição.
O número de
estudantes do País é infinitamente menor do que a quantidade de alunos
chineses, por exemplo. No período, a China tinha mais de 550 estudantes -
número próximo à quantidade de canadenses, que concentravam pouco mais de 540
vagas de estrangeiros.
Ao analisar a
listagem completa divulgada pela instituição com os 15 países estrangeiros de
maior presença na universidade, o Brasil ficou na 14- posição, atrás de
Cingapura e México. Desde 2007, a evolução de estudantes brasileiros em Harvard
é tímida. Até 2010, foi sempre inferior a 70 alunos. / D.L.