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segunda-feira, 13 de junho de 2016

A FRAUDE do Ciencia Sem Fronteiras: aproveitamento NULO, ou quase nulo - O Antagonista

Transcrevo nota do Antagonista Mario Sabino sobre o Ciência Sem Fronteiras.
Desde o início do CsF, considerei o programa demagógico, absolutamente ineficaz para os fins proclamados e totalmente fraudador das contas públicas, especialmente para os fins de C&T. Acompanhei o início, quase todos em direção de países de língua portuguesa (vale dizer unicamente Portugual) e espanhol, e marginalmente em universidades de língua inglesa ou outras.
Depois tive contato, direto e indireto, com vários estudantes desse programa no exterior, e de praticamente todos recolhi testemunhos sinceros, voluntários, esclarecedores, quanto à pouca utilidade desses estágios em universidades de segunda ou terceira linha do exterior, servindo se tanto para "turismo acadêmico", algum aprofundamento "linguístico" e não muito mais do que isso.
Visitei, pessoalmente, vários desses estudantes em universidades da costa leste dos EUA, e praticamente todos eles NÃO estavam cumprindo NENHUMA matéria substantiva, mas apenas fazendo cursos de inglês, por seis meses ou mais.
Ou seja, o programa é, sempre foi, uma FRAUDE, e representou milhões gastos indevidamente, irresponsavelmente, criminosamente, com intenções claramente eleitoreiras. Nada que seja muito diferente de muitas outras políticas dos companheiros, sempre torrando dinheiro de todos os políticos brasileiros a fim de manter, preservar, ampliar um CURRAL ELEITORAL que lhes mantivesse no poder.
Lamento que outras áreas de C&T do Brasil tenham perdido recursos para que o governo fraudulento dos companheiros pudesse fazer demagogia eleitoral.
Paulo Roberto de Almeida

Sem-vergonhice sem fronteiras
Por Mario Sabino
O Antagonista, 13/06/2016

Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que as universidades, os laboratórios e centros de pesquisa do Brasil estão a anos-luz de distância daqueles dos países avançados.
Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que são fatores determinantes para o desenvolvimento de uma nação.
Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que é um inferno encontrar um bom instalador de ar-condicionado por aqui.
Foi com certa curiosidade, portanto, que li a notícia da Folha segundo a qual apenas 3,7% dos participantes do programa federal Ciência Sem Fronteiras foram estudar nas melhores universidades do mundo -- aquelas que realmente fariam diferença para a formação dos beneficiados e, portanto, para o avanço científico e tecnológico nacional. A massacrante maioria aproveitou o intercâmbio com dinheiro público apenas para “ter uma experiência lá fora”. E o “lá fora”, não raro, foi Portugal -- essa ilha de excelência na Europa Ocidental.
É claro que o programa inventado pelo PT era demagógico, um trem da alegria destinado principalmente a uma porção de gente sem requisitos acadêmicos para estudar seriamente no exterior. O meu ponto não é esse. O meu ponto é justamente a quantidade de gente disposta a pegar qualquer trem da alegria no Brasil, desde que pago com dinheiro público, sem a preocupação de dar retorno ao país.
Não há diferença moral entre o estudante que pegou bolsa do governo para fazer curso de nanotecnologia na Universidade de Coimbra e o político que vai ao estrangeiro às nossas expensas, a pretexto de discutir alianças estratégicas, e passa o dia circulando em lojas de grife de Nova York, Londres, Paris ou Roma.
Somos um país de salafrários, essa é a verdade, e os trens da alegria nos espelham, não importa o nome que se dê a eles. A taxa de honestidade brasileira talvez seja mesmo de míseros 3,7%.
Vou ter de continuar procurando um bom instalador de ar-condicionado.

sábado, 3 de maio de 2014

Turismo Sem Fronteiras Para Monoglotas

O que mais surpreende é que os monoglotas acham que o governo, isto é, todos nós, precisamos pagar cursos de linguas indefinidamente. 
Turismo Sem Fronteiras?
Paulo Roberto de Almeida

Alunos do Ciência sem Fronteiras foram orientados a racionar alimentos

Um grupo de estudantes brasileiros que foram selecionados pelo programa federal Ciência sem Fronteiras para estudar no Canadá e tiveram as bolsas cortadas começou a retornar nesta semana ao Brasil, reclamando do tratamento recebido. Sem dinheiro, contam que foram orientados a "racionar alimentos".
Luana Monteiro Leite, 27, e Rondinelly Guimarães, 23, estavam entre os 80 estudantes do Ciência sem Fronteiras que estavam no Canadá -há mais deles 30 na Austrália- e que foram chamados de volta ao Brasil por não terem atingido o nível de proficiência no inglês necessário para serem aceitos pela universidade de sua escolha. Os estudantes começaram a chegar no Brasil nesta semana.
Esses alunos foram selecionados pelo programa para cursar um período de sua graduação em uma universidade de Portugal. Mas o edital foi cancelado e eles foram transferidos para o Canadá, onde chegaram em setembro, para realizar seus estudos.
Weimer Carvalho/Folhapress
Rondinelly Guimarães, 23, bolsista do Ciência Sem Fronteiras, que retornou ao país
Rondinelly Guimarães, 23, bolsista do Ciência Sem Fronteiras, que retornou ao país
Como o nível de inglês desses estudantes era insuficiente para ingressar diretamente em uma universidade do Canadá, foi estabelecido, inicialmente, que eles fariam um curso de inglês até janeiro, quando realizariam testes. Os que não obtivessem a nota necessária continuariam o curso e fariam novo teste em março ou abril.
Os estudantes contam que houve apenas o primeiro teste, em meados de janeiro, e que aqueles que não obtiveram a nota tiveram a bolsa cortada e receberam a ordem de voltar ao Brasil.
"No começo foi um sonho, mas, depois de todas as injustiças, é como se tivéssemos recebido uma punhalada nas costas", diz Luana.
O momento mais tenso ocorreu em dezembro de 2013, quando a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) atrasou por quase um mês o pagamento das bolsas.
Após relatarem dificuldades financeiras, os estudantes receberam, em 4 de dezembro, um e-mail de Nathalí Rosado, coordenadora do CBIE, órgão que gerencia o programa no Canadá, dizendo: "Racionem a sua alimentação, mas não excessivamente (isto é, não cessem de comer)".
No mesmo e-mail, Rosado recomendou que os estudantes fossem ao banco de roupas e alimentos da Universidade de Toronto para receberem uma cesta de comida gratuita.
"Foi um período em que tivemos de racionar comida mesmo", diz Rondinelly. Luana e Rondinelly recorreram ao banco de alimentos mais de uma vez.
CRITÉRIO DE RETORNO
Ela conta que alunos da mesma turma que obtiveram notas idênticas àqueles que estão voltando continuarão no Canadá, estudando inglês até setembro.
Os estudantes questionam também a falta de critério para decidir sobre quem ficaria ou voltaria.
Documentos obtidos pela Folha mostram dois resultados dos testes realizados em janeiro, uma aluna que obteve a nota 56 no teste TOEFL IBT foi convocada pela Capes para retornar, enquanto um aluno que obteve a nota 45 no mesmo teste recebeu o aceite da Universidade de Toronto. A Capes disse que não discute casos de alunos específicos.
Rondinelly e Luana dizem considerar o programa positivo, apesar de tudo. "Mas não podemos ficar calados diante da falta de planejamento e de compromisso", diz Rondinelly.
Eles tentarão retomar a vida universitária no Brasil, mas como o semestre letivo já iniciou há dois meses, só devem conseguir retornasr às aulas em agosto. 

sábado, 31 de agosto de 2013

O$ Americano$ go$tam muito dos e$tudante$ do Ciencia $em Fronteira$... Of cour$e...

INSIDE Higher Ed, August 29, 2013
You may be hearing more Portuguese in the hallways on your campus this semester.
More than 4,000 Brazilian undergraduates will be studying at universities in the United States this fall through the Brazil Scientific Mobility Undergraduate Program (formerly called Science Without Borders), a more than twofold increase over last fall. The scholarship program, launched by the Brazilian government in 2011, has quickly become an important source of international students -- and revenue -- for many American universities.
“When the government of Brazil first started talking about this program maybe three or four years ago, there was a strong desire to get the flow of students to the United States healthy again,” said Tom Farrell, vice provost for global engagement for the University of Nebraska system. Nebraska’s Lincoln campus cracks the top three in terms of the total number of Brazilian students hosted through the Scientific Mobility program. According to numbers provided by the Institute of International Education, which administers the program in the U.S., the University of Nebraska at Lincoln has hosted a total of 91 Brazilian students (this includes students who are newly enrolled this fall). The Omaha campus has also hosted 27 Brazilian students through the scholarship program and the Kearney campus will enroll its first group of 23 Brazilian students in its English as a second language program this fall. (The numbers, current as of August 15, are preliminary pending fall enrollment changes.)
"I think this is strategically important for both countries, so I really appreciate the way the Brazilians are managing and developing this talent pool,” Farrell said. 
The scholarship program funds a year of overseas study for Brazilian undergraduates, primarily in STEM (science, technology, engineering and mathematics) fields. The top fields of study are civil, mechanical, electrical and industrial engineering, followed by computer science, chemical engineering, architecture, computer engineering, environmental science and engineering, and biomedical science and public health. About 60 percent of the scholarship recipients have completed a summer internship either at a company or in a university research lab.  
New this year the scholarship will also fund six months of intensive English study over and above an academic year. Of the 3,913 new Brazilian students enrolling at U.S. universities this fall, 2,681 are starting out in intensive English programs while the remaining 1,232 have been placed directly into academic programs. In addition to the new matriculants, 440 scholarship students who started in the spring semester will be continuing their studies this fall. 
Nationwide, for the fall 2012 cohort, 56.9 percent of students had a grade point average of 3.5 or higher, 28.5 percent were in the 3.0-3.49 range, 10 percent in the 2.5-2.99 range, 3.1 percent in the 2.0-2.49 range, and 0.8 percent had G.P.A.s below 2.0. Another 0.7 percent – about 10 students – did not respond to the survey. 
A survey of 531 scholarship recipients who studied in the U.S. from spring 2012 until spring 2013 yielded 429 responses; asked whether they were satisfied, over all, with their U.S. host institution, 79 percent of students said yes. Another 15 percent said no; 6 percent did not respond to the question. To date, a total of 348 universities in the U.S. have hosted Brazilian students through the Scientific Mobility program, either for academic or pre-academic English programs or both.
Top Destinations for Brazil Scientific Mobility Undergraduate Program Students in the U.S.
University
Total Number of Students Hosted to Date
University of California at Davis
118
Illinois Institute of Technology
99
University of Nebraska-Lincoln
91
Western Michigan University
89
University of Utah
74
Arizona State University
73
University of Kentucky
72
University of Colorado at Boulder
72
Tennessee Tech University
63
Montana State University
63
Source: Institute of International Education. Numbers current as of Aug. 15.
The Brazilian government has a goal of sending 100,000 undergraduate and graduate students abroad through the scholarship program in order to enhance the country's competitiveness in STEM fields. Although other top destination countries include France and the United Kingdom, the U.S. hosts the largest numbers of Brazilian undergraduates.
"It is certainly the most exciting activity between Brazil and the United States at the moment that promises to create longer-term linkages between universities in the U.S. and universities in Brazil,” said Edward Monks, the director of academic and experiential learning at IIE. American universities have increasingly been turning to Brazilian universities with an eye toward forming partnerships. Brazil is one of four countries -- along with China, India and Turkey -- on which the University of Nebraska system has placed a strategic focus.
Beth Greenwood, associate dean of the Center for International Education at the University of California at Davis Extension, said the program "really has contributed to the globalization of UC Davis."
"Looking at the goals of this university and looking at the goals of the Science Without Borders initiative, I think it’s been a very successful match."

Read more: http://www.insidehighered.com/news/2013/08/29/brazils-scientific-mobility-scholarship-program-keeps-growing#ixzz2dVt7nxQn
Inside Higher Ed 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Ciencia Sem Fronteiras: relatos de jovens na reuniao da SBPC

Bolsistas do Ciência sem Fronteiras contam suas experiências no exterior
Jornal Ciência Hoje, 25/07/2013

Em sessão especial da reunião da SBPC, estudantes relataram a vivência em outros países e deram dicas para quem quer se candidatar a uma bolsa

Do Recife - Todas as expectativas foram superadas. Essa foi a opinião unânime dos dez alunos que participaram da sessão especial "Impactos e relatos de bolsistas do Ciência sem Fronteiras", realizada durante a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Coordenado pela presidente da SBPC, Helena Nader, o evento teve a presença do ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, do presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Jose Raimundo Braga Coelho; do presidente da Capes, Jorge Guimarães; e do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, entre outros.

Dentre os objetivos alcançados com a participação no programa, os estudantes apontaram o aperfeiçoamento profissional, a troca de cultura por conta do convívio com pessoas de outras nacionalidades, o aperfeiçoamento do inglês, e a oportunidade de aprender uma terceira língua."Sempre tive o sonho de viver um tempo fora, melhorar meu inglês e ainda progredir na profissão", disse Lilian Rosa, doutoranda da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais. "Com a bolsa, consegui fazer tudo isso. Foram vários sonhos realizados ao mesmo tempo", disse.

Bruno Koff, aluno de engenharia mecânica na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, recomendou para aqueles que querem também pleitear uma bolsa que invista no inglês. Ele passou um ano estudando engenharia mecânica no Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul, o Kaist (apelidado de "MIT coreano"). "Escolhi a Coréia do Sul, por diversos motivos, entre eles, porque o país estava crescendo, além da curiosidade pela cultura", disse. E acrescentou: "Tive de estudar coreano, mas o inglês foi muito importante porque algumas disciplinas eram dadas em inglês, já que a universidade incentiva e força o conhecimento na língua", disse.

Já o estudante Pedro Doria Nehme, da Universidade de Brasília (UnB), estagiou na Agência Espacial Americana (Nasa), no Goddard Space Flight Center, em Greenbelt, após o período letivo na Universidade Católica da América (UCA), em Washington. Depois dessa experiência, Nehme será o segundo brasileiro no espaço, ao ganhar uma promoção mundial realizada pela companhia aérea holandesa KLM. Em 2014, Nehme fará uma viagem suborbital, que deve atingir altitude de até 100 quilômetros.

O físico Rafael Rodrigues Nascimento, doutorando no Instituto de Física na Universidade de São Paulo (USP), também ressaltou a necessidade de conhecer o inglês. "O idioma é necessário e importante para a vida toda. Chegando no país escolhido, existe a oportunidade de aprender outra língua", comentou ele que foi estudar na Alemanha. Nascimento também comentou que o começo é difícil porque a saudade da família, amigos e namorada é muito grande, mas a solução encontrada por ele para superar isso, foi se jogar nos estudos. "Meu esforço foi reconhecido e até fui convidado agora para voltar para fazer o pós-doutorado", animou-se.

A biológa Lídia Ferreira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), disse que na hora de escolher a universidade é preciso escolher a melhor na área de interesse. "Fui para a Austrália porque queria estudar o comportamento dos golfinhos e lá seria possível", disse ao comentar que muitos amigos se frustraram porque não realizaram essa análise preliminar. Lídia, como os outros bolsistas, também comentou a diferença curricular. "Lá temos que aprender a lidar com o tempo, já que não há aulas todos os dias", contou. "Eu, por exemplo, consegui um estágio como voluntária em um laboratório que acrescentou muito na minha profissão", disse.

Impactos

Os relatos dos estudantes foram comentados pelos participantes da sessão. "Sempre achei esse projeto ousado, mas ele só vai dar impacto daqui a alguns anos", disse a presidente da SBPC, Helena Nader, que acredita nos resultados práticos para a ciência brasileira já para os próximos anos. "Mas já é possível fazer algumas avaliações a partir do que pudemos ver nesses depoimentos", completou.

Helena Nader criticou a falta de regras para aproveitamento, pelas universidades brasileiras, das matérias cursadas durante o intercâmbio. "A universidade tem que aprender a valorizar os cursos feitos fora do país", disse. Para a presidente da SBPC, o programa é ousado. "Não é trivial enviar 101 mil estudantes para o exterior", observou.

Na opinião de Jorge Guimarães, o aprendizado é sempre gratificante. "Sabia que teríamos resultados. Mas me surpreendi porque não sabia que havia tantos alunos excelentes no Brasil", disse o presidente da Capes. "A convivência com pessoas do mundo todo, aprender a lidar com o tempo, isso tudo é muito importante", avaliou.

O ministro Raupp também avaliou positivamente os relatos dos estudantes. "Fico supersatisfeito que haja um pleno aproveitamento do curso, desde que vá com vontade para aprender", afirmou, acrescentando que há uma grande satisfação por parte do governo em transformar sonhos em realidade. "Temos esperanças em todos os alunos que participam do programa. O Brasil agradece seus retornos", disse.

(Vivian Costa / Ascom da SBPC)

Reportagem da Ascom do MCTI sobre a sessão especial:
Jovens falam sobre experiências no Ciência sem Fronteiras

domingo, 28 de abril de 2013

Confusao Sem Fronteiras, sem coordenacao, sem direcao, sem visao - Assim e' se lhe parece...

Parece que as improvisações do governo começam a causar problemas. Afinal de contas, não é fácil mandar milhares de estudantes para o exterior, e depois deixá-los sem condições de estudar...
Paulo Roberto de Almeida

Notícias de 24/04/2013

PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS

Folha de S. Paulo – Mercadante nega problemas em programa de bolsas 

Ministro da Educação criticou 'pessimismo' sobre o Ciência sem Fronteiras e anunciou que programa atingiu 41.133 bolsas no exterior

DE BRASÍLIA

O ministro Aloizio Mercadante (Educação) disse ontem que os bolsistas no exterior que estão sendo migrados para o programa Ciência sem Fronteiras abrirão espaço orçamentário para alunos de ciências humanas, que hoje não são contemplados pelo programa.
Ele negou que haja maquiagem de dados e afirmou que os estudantes migrados "sempre estiveram" no programa, mas não explicou como se dava esse processo.
A Folha revelou anteontem que o governo vinha computando no Ciência sem Fronteiras os bolsistas regulares da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que não tinham se inscrito ou passado no programa, há pelo menos um mês e meio --o MEC depois confirmou que a prática acontecia desde 2011.
Na sexta-feira (19), a Capes informou os bolsistas de seus programas regulares que eles seriam migrados se estivessem dentro de certos critérios.
Segundo Mercadante, as condições do Ciência sem Fronteiras são "muito melhores" por concederem benefícios como subsídio para cursos de idiomas e compra de computadores.
Questionado por que apenas na semana passada os alunos foram informados da migração, disse que somente os estudantes de pós-doutorado foram comunicados.
"Era uma resposta a ações judiciais de alunos de pós-doutorado, que também queriam direito à verba para laptop e curso de inglês", disse.
Ocorre que, como a Folha mostrou, foram alunos de doutorado que receberam o comunicado. Questionado novamente, Mercadante só negou o fato e passou a criticar o que chama de "certo problema de pessimismo no país" sobre o programa.
Mercadante disse ainda que "não há possibilidade de dupla contagem" nos programas. "Nós temos os CPFs e GPSs de onde eles estão."
Ele anunciou também novas 17.282 bolsas de estudos no exterior e disse que o programa chegou a 41.133 bolsas concedidas desde 2011.
Afirmou ainda que o governo limitará neste semestre a ida de estudantes a Portugal para incentivar os bolsistas a aprimorar o inglês. 

O Globo – Portugal deixa de ser destino do Ciência Sem Fronteiras 

Objetivo é estimular estudantes brasileiros a aprenderem novo idioma
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou ontem que as universidades portuguesas não estarão mais entre as instituições de graduação do programa Ciência Sem Fronteiras. Segundo o ministro, a mudança é temporária, para estimular o aprendizado de outras línguas pelos estudantes, e vale para os editais abertos neste semestre.
- Nós não consideramos neste momento bolsas para Portugal para estimular os alunos na proficiência de outras línguas. Eles têm que enfrentar o desafio da segunda língua - afirmou Mercadante.
De acordo com o ministro, a língua inglesa é uma das prioridades do programa, por isso o MEC pretende aumentar as relações com instituições de ensino dos EUA.
Cerca de 600 estudantes que escolheram Portugal como destino e ainda não optaram por outro país não foram contemplados com a bolsa. Segundo o ministério, esses estudantes farão parte de próximos editais do Ciência Sem Fronteiras, mas ainda não existe data para que o aluno informe sua nova escolha. ( Do G1 )

O Estado de S. Paulo - Sobram bolsas para brasileiros em Harvard e MIT 

As Universidades Harvard, Stanford, Columbia, da Califórnia, o Instituto de Tecnologia de Massacfausetts (MIT) e outras instituições americanas de ponta vão reservar 1,5 mil bolsas de. estudo integral até 2015 para estudantes brasileiros cursarem doutorado completo. As bolsas serão financiadas pelo governo federal, por meio do programa Ciência Sem Fronteiras (CsF).
Apesar do convênio com as universidades ter sido firmado no ano passado - motivado pela ida da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos em abril de 2012 -, a falta de divulgação da oportunidade levou a Laspau (entidade vinculada à Harvard), que administra a concessão das bolsas, a realizar ontem uma visita ao País.
Trata-se de um acordo histórico, sem precedentes. Os estudantes brasileiros precisam saber que eles podem estudar nas melhores universidades norte-
americanas", disse Angélica Natera, diretora adjunta da Laspau, durante agénda de reuniões comparceiros institucionais em São Paulo.
Mesmo exigindo que os estudantes tenham apenas diploma de graduação nas áreas prioritárias do CsF - Engenharia, Tecnologias e Saúde -, além de bom nível de inglês, pouco mais de cem candidatos foram pré-selecionados até o momento. É prevista neste primeiro ano de acordo a seleção de outros 400 estudantes. As inscrições para início dos estudos em 2014 vão até setembro e podem ser feitas pelo site da Laspau (www.laspau.harvard.edu).
Abaixa demanda pelas bolsas pode ser justificada pelo desconhecimento de muitos estudantes, que tendo apenas diploma de graduação podem se candidatar diretamente para o curso de doutorado. Ou seja, não precisam cursar primeiramente o mestrado. "Geralmente, quem sabe desse detalhe é aquele estudante que teve maior aproximação com pesquisa na graduação, com projetos de iniciação científica, por exemplo. Mas quem não teve muito esse contato desconhece , disse Luana Bonone, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos.
A falta de domínio de inglês é outro entrave às candidaturas. "Até o pós-graduado tem inglês ruim, mas essa deficiência é curável", disse o economista Cláudio Moura Castro, ex-diretor-geral da Capes, uma das agências de fomento federal que administram o CsF.
Solução. E a "cura" pode ser até mensurada, afirma André Marques, diretor da EF Englishtown, especialista em certificação. "Para alcançar o patamar que é exigido pela seleção, o pós-intermediário, o estudante que tem nível básico de inglês, precisaria estudar diariamente por um ano e meio", afirmou.
O esforço para preencher as vagas disponíveis pode aumentar a presença de pesquisadores brasileiros nas melhores universidades do mundo. Isso deve fazer avançar áreas da ciência estratégicas para o País, afirmou Luiz Felipe d"Avila, diretor-presidente do Centro de Liderança Pública (CLP). "Podemos nos desenvolver ainda mais na agroindústria e aviação", disse d"Avila. O CPL pretende implementar uma incubadora nos Estados Unidos para identificar boas ideias dos doutorandos.
"Esperamos com o convênio retomar o envio de pesquisadores brasileiros para fazer o doutorado pleno nos Estados Unidos, algo que ocorria mais intensamente nos anos 1960 e 1970", afirmou o presidente da Capes, Jorge Guimarães.

Alta
312% foi o crescimento do número de mestres e doutores formados em instituições brasileiras, entre 1996 e 2011, segundo centro ligado ao Ministério da Ciência.

O Estado de S. Paulo - País ainda envia poucos estudantes a melhor do mundo


Considerada uma das melhores instituições de ensino do mundo e também a de maior reputação pelos principais rankings internacionais, a Universidade Harvard tinha apenas 75 alunos brasileiros em 2011, segundo registros oficiais da própria instituição.
O número de estudantes do País é infinitamente menor do que a quantidade de alunos chineses, por exemplo. No período, a China tinha mais de 550 estudantes - número próximo à quantidade de canadenses, que concentravam pouco mais de 540 vagas de estrangeiros.
Ao analisar a listagem completa divulgada pela instituição com os 15 países estrangeiros de maior presença na universidade, o Brasil ficou na 14- posição, atrás de Cingapura e México. Desde 2007, a evolução de estudantes brasileiros em Harvard é tímida. Até 2010, foi sempre inferior a 70 alunos. / D.L.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Portugal suspenso do Ciencia Sem Fronteiras

Sem comentários:

Portugal é suspenso do Ciência sem Fronteiras

Segundo Mercadante, mudança é temporária e visa a estimular bolsistas a aprender outras línguas

24 de abril de 2013 | 18h 50
Lisandra Paraguassu, de O Estado de S. Paulo


BRASÍLIA - O Ministério da Educação (MEC) anunciou nesta quarta-feira, 24, a concessão de mais 17.282 bolsas do programa Ciência sem Fronteiras (CsF) em vários países. Com isso, o número de bolsas para este ano soma mais de 41 mil.
Ainda estão abertos para este ano editais com 3.970 bolsas para China, Irlanda, Áustria, Bélgica e Finlândia. O ministério decidiu, porém, não conceder as bolsas que estavam previstas para 2013 em Portugal. A intenção é obrigar os estudantes a estudar uma nova língua, além de se formarem em sua área. “Queremos que os estudantes enfrentem a questão da língua, que todos aprendam uma nova língua”, afirmou o ministro Aloizio Mercadante. Nos últimos processos seletivos, Portugal, apesar de estar longe da excelência universitária de países como EUA e Alemanha, era um dos mais procurados.
Segundo Mercadante, a maior parte dos que queriam uma vaga em Portugal aceitou migrar para outro país. Pouco mais de 600 ainda resistem, mas, como não haverá mais vagas para instituições portuguesas, terão de escolher outras ou não serão aceitos pelo CsF.
O MEC decidiu oferecer um curso online de inglês para ajudar os candidatos a uma bolsa do programa. De acordo com o ministro, o mesmo será feito com línguas como espanhol, alemão, francês e até mandarim.
O ministro aproveitou a divulgação dos dados do CsF, em um auditório da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior, para rebater críticas feitas ao programa.
Citando uma reportagem do Estado, afirmou que não há como o MEC usar convênios já existentes entre universidades brasileiras e estrangeiras para evitar o pagamento do curso porque esses acordos são “pontuais” e servem apenas para estudantes das instituições conveniadas. “Em geral, conseguimos o abatimento de taxas”, garantiu, citando especificamente o caso de um contrato com a Fundación Universidad, da Espanha, que ajuda a administrar o programa naquele país.
“Eles nos ofereceram um seguro saúde por 420, quando o normal seria 1.080 por estudantes. Além disso, eles fazem pesquisas de vagas, toda a tramitação de documentos e vistos e os pagamentos para as diferentes universidades. No cômputo geral, o valor é inferior ao que pagaríamos”, garantiu, acrescentando ainda que há convênios semelhantes nos EUA, Alemanha, França e Grã-Bretanha.

terça-feira, 12 de março de 2013

Ciência sem Fronteiras… e sem critérios - Alexandre Barros


Ciência sem Fronteiras… e sem critérios

O Estado de S.Paulo, 12 de março de 2013
Autor: Alexandre Barros
Alexandre Barros
Começam a pipocar alertas sobre o programa Ciência sem Fronteiras, mais uma das soluções de burocratas para renderem muita notícia e depois serem esquecidas. Há um casamento de conveniência entre a ânsia da burocracia brasileira e a das burocracias universitárias num mundo em crise. Estudantes estrangeiros com bolsas governamentais são uma verdadeira bênção para qualquer universidade: governos pagam em dia e os alunos não dão muito trabalho. A maioria deles volta para o país de origem e as instituições de ensino superior evitam a má fama de graduados menos competentes rodando no mercado.
Os vendedores de admissões nas universidades estrangeiras vêm mais aqui, agora. É fácil recrutar gente que dá lucro, incomoda pouco e não deixa rastros.
Não é acidental que muitos estudantes brasileiros escolham Portugal: lá a língua é parecida com a daqui, embora as universidades nem sempre sejam melhores (“Estado”,5/3). Em outros países, porém, a porca torce o rabo. É difícil ter a proficiência desejada para estudar em outro idioma. E há também muitos choques na chegada: adaptação cultural, língua diferente, sistema mais “puxado” que o nosso (mas nem sempre)…
O Ministério da Educação (MEC) diz que vai afrouxar os critérios de proficiência em língua estrangeira para acomodar mais estudantes. (Atenção: há uma grande diferença entre estudar numa boa universidade estrangeira e visitar a Disney!) Ora, aceitando tal afrouxamento, as universidades participantes com pactuarão comum sistema em que o governo brasileiro cobrirá prejuízos com o seu, o meu, o nosso dinheirinho.
O “Financial Times” publicou a notícia de que a ministra do Interior da Inglaterra quer dificultar os vistos para brasileiros, por preocupações de sua pasta com a avalanche verde-amarela (incidentalmente, nossos conterrâneos vão lá para comprar de tudo e agora… educação). Praticamente todos os seus colegas de Gabinete estão contra ela, porque isso reduziria a produção de ovos de ouro que a galinha tupiniquim anda botando na Britânia. E eles são muito bem-vindos, sobretudo agora.
Há um casamento de conveniência entre a ânsia da burocracia brasileira e a das burocracias universitárias num mundo em crise
Minha experiência pode ajudar. Fui admitido na Universidade de Chicago em 1968. Não era enturmado nem tinha bolsa. Corri atrás dela em 12 lugares possíveis. No fim, voltei ao início do jogo e fui conversar como representante da Fundação Ford, que eu conhecia porque havia trabalhado com um jovem brasilianista, dos muitos que andaram por aqui na época. Trabalhei, em inglês, com ele durante quase dois anos. Tinha seis anos de Cultura Inglesa.
Com o atraso da bolsa perdi o prazo de chegada para o trimestre do outono. Fui então orientado por uma senhora de nome Cassandra, daquela universidade, a fazer o teste de inglês de Michigan, para dar tempo de começar os estudos em janeiro.
Marchei. Fiz tudo: tirei passaporte, visto e a Ford deu-me a bolsa. Fui instruído a viajar em 25 de dezembro. No dia 26 haveria uma reunião de bolsistas da fundação em Nova York.
Dez dias antes do embarque chegou uma carta da dona Cassandra dizendo que eu não poderia ir porque, embora tivesse boa nota em todos os itens do teste de inglês, na redação havia tirado 90 e o mínimo era 94. Ruiu o castelo de cartas.
Fui falar com um amigo bolsista americano que estava aqui, mostrei-lhe a carta e, com um muxoxo, lamentei: “Acabou o sonho”. Ele a leu, olhou firme nos meus olhos e disse: “Você vai! Você nunca recebeu essa carta!”. Surpreso, retruquei: “Mas não posso! A carta está aí”.
“Você vai!”, insistiu ele. “Você sabe inglês mais do que suficiente. Essa senhora tem um título pomposo, mas é apenas uma burocrata. Ela deve assinar umas 30 cartas dessas por dia.
Você vai porque, senão for, você terá um problema; se for, ela terá um problemão. Terá de se ver livre de um corpo e engatar uma marcha à ré para reverter os movimentos de todas as máquinas burocráticas já acionadas: a Fundação Ford, os administradores da bolsa, o seguro de saúde e tudo o mais. Vá que não haverá problema.Você entrará na universidade direitinho.”
Fui. Apresentei-me à dona Cassandra. Depois do bom-dia, ela me perguntou se eu não havia recebido sua carta. Respondi firme: “Carta? Que carta?”. Lá estava eu, o “cadáver” a que ela teria de dar um destino, exatamente como o meu amigo americano previra.
Primeiro choque: os americanos têm “jeitinho”, sim, só que, como eles não têm complexo de vira-lata, não admitem isso. Fui posto numa “pena condicional de língua”depois que ela conversou com meu orientador pelo telefone. Ele lhe disse que eu sabia falar inglês muito bem, pois havia trabalhado com ele quase dois anos.Elá professor mandava mais que burocrata.
Os primeiros meses foram de choques culturais diários: acostumar-me a viver no inverno, entender o que os americanos diziam, como funcionavam os seminários, aprender a operar as máquinas de venda, usar o sistema de reservas da biblioteca. E entender toda aquela engrenagem complexíssima da universidade (depois descobri, conversando com amigos americanos, que eles também haviam ficado confusos quando chegaram a uma universidade pela primeira vez). Finalmente, o grande choque: conheci, em 15 dias, a maior parte dos brasileiros do câmpus e o meu inglês era melhor que o de todos eles, sem exceção.
Passado o primeiro trimestre o choque se foi elá passei os três melhores anos da minha vida. Agora pergunto: se o governo brasileiro está baixando os requisitos de língua em 20 pontos ou mais, como vão se virar os estudantes brasileiros sem a proficiência necessária?
Aqui fica um depoimento de quem viveu situação um pouco parecida, somente como advertência para os responsáveis pelo programa. Se era difícil mandar o Alexandre “cadáver” de volta, como fará a burocracia brasileira para repatriar esses milhares de “cadáveres” herdeiros do Ciência sem Fronteiras? O nosso dinheiro já terá sido gasto.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 11/03/2013

quarta-feira, 6 de março de 2013

E agora, vamos fingir que vou estudar no exterior...

Estava com ar de férias remuneradas no exterior. Agora, parece que não é só o ar...
PRA

'Puxadinho' sem fronteiras

06 de março de 2013 | 2h 13
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Com menos de dois anos, o programa Ciência sem Fronteiras, uma iniciativa acertada do governo federal, já começa a mostrar sinais de que está contaminado pela cultura do "puxadinho", que tão bem tem caracterizado a administração da presidente Dilma Rousseff.
O Ciência sem Fronteiras tem como objetivo internacionalizar o ensino superior no País, por meio da concessão de bolsas de estudo em universidades competitivas no exterior. A intenção, alardeia o governo, é "investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e habilidades necessárias para o avanço da sociedade do conhecimento". Ainda se espera que esse objetivo seja alcançado, porque esse é um dos fatores dos quais depende o pleno desenvolvimento do Brasil, mas multiplicam-se evidências de que, por trás do palavrório repleto de boas intenções e metas ousadas, viceja a conhecida inépcia da administração lulopetista.
Um exemplo escandaloso disso é a decisão do governo de diminuir a exigência de conhecimento de alemão, francês, inglês e italiano para seleção de bolsistas, de modo que os candidatos com nenhum domínio desses idiomas poderão participar do programa. Com a medida, o governo pretende conseguir cumprir sua promessa de enviar 101 mil bolsistas ao exterior até 2015 - até agora, graças em grande parte ao obstáculo do idioma, apenas 22% dessa meta foi atingida. O governo oferecerá aulas intensivas de idiomas, de até dois meses, para tentar compensar a deficiência dos candidatos, mas especialistas salientam que isso não basta, já que os cursos na área tecnológica, principal foco do programa, exigem pleno domínio da língua em que são dados. Em dois meses, é improvável que os bolsistas possam atingir esse nível de proficiência. O governo reduziu a tal ponto a exigência de domínio do inglês que, no caso da seleção de alunos dos Institutos Federais de Educação Tecnológica e das Faculdades de Tecnologia (Fatecs) para estudar nos Estados Unidos, o candidato ganhará a vaga mesmo se não conseguir manter uma conversação básica. Não é possível imaginar que um bolsista com essas credenciais consiga ser bem-sucedido nas melhores universidades americanas e europeias.
Ante a evidente limitação de muitos candidatos, vários deles têm optado por concorrer a bolsas para estudar em Portugal, para driblar o obstáculo da língua. O problema é que a maioria dos bolsistas optou por universidades portuguesas que são consideradas mais fracas que as brasileiras, apesar do Ciência sem Fronteiras propagandear que tem convênios com "as melhores universidades do mundo". Um desses estudantes, ouvido pelo Estado (5/3), disse que o importante não era o curso em si, mas o "contato com a cultura europeia" - uma espécie de turismo à custa dos cofres públicos.
Para tentar contornar o problema, a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) ofereceu a esses alunos em Portugal a oportunidade de estudar nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e em outros países com universidades de ponta - sem necessidade de passar por teste de proficiência.
A precariedade do Ciência sem Fronteiras não é uma novidade. Entre 2011 e 2012, muitos dos estudantes enviados ao exterior receberam da ajuda prometida apenas a passagem aérea, e ficaram um bom tempo sem dinheiro para pagar o aluguel, a alimentação, os livros, o plano de saúde e o transporte.
Essa situação constrangedora é mais uma a revelar as práticas de um governo que precisa produzir continuamente números vistosos para alimentar seus slogans eleitoreiros, enquanto faz remendos grosseiros para esconder a fragilidade de suas alegadas conquistas.
Não se esperava que um programa com essa magnitude fosse isento de problemas e contratempos. No entanto, é notável que, na cartilha da administração petista, quando se trata de corrigir falhas e rumos, recorre-se, como regra, ao improviso. Enquanto isso, o Ciência sem Fronteiras, numa flagrante contradição em termos, seguirá formando esforçados monoglotas.

terça-feira, 5 de março de 2013

Ciencia para tras? O CsF vai atrasar ainda mais o Brasil?

Perguntas pertinentes: se os estudantes saem do Brasil para universidades piores do que aqueles nas quais poderiam estudar no Brasil, então se trata apenas de turismo remunerado, e férias pouco acadêmicas. Ou seja, o Brasil vai gastar dinheiro para alunos que vão voltar pior do que estariam se permanecessem no Brasil.
Faz sentido?
Pouca coisa faz sentido em certas políticas do governo.
Se é para dar férias pouco estudiosas aos nossos estudantes, não seria melhor mandá-los para as praias do Nordeste?
Paulo Roberto de Almeida 

Bolsistas fazem curso pior em Portugal
Davi Lira
O Estado de São Paulo, 5/03/2013

Entre estudantes do Ciência sem Fronteiras, quase 70% estão em universidades mais fracas
Dos 2.587 bolsistas do Ciência Sem Fronteiras (CsF) em Portugal - o país é o segundo principal destino do programa -, quase 70% foram para universidades consideradas mais fracas que as principais instituições brasileiras ranqueadas pelo SCImago, reconhecido grupo de pesquisa internacional que classifica os melhores locais para se estudar na América Latina, Portugal e Espanha.

A situação - que preocupa os gestores do programa e custa aos cofres públicos R$ 48 milhões por ano - fez com que o governo federal agisse. Na sexta-feira, cerca de 9,7 mil candidatos ao intercâmbio em Portugal foram notificados pelo CsF sobre a possibilidade de trocar de país (mais informações nesta página).

Para chegar aos números, o Estado cruzou as informações sobre a quantidade de bolsas implementadas até janeiro de 2013 com o atual ranking ibero-americano da SCImago. Foram considerados índices de qualidade da produção científica e internacionalização dos pesquisadores.

No cruzamento, observou-se que, das bolsas implementadas nas cerca de 50 instituições portuguesas, apenas 818 universitários e pesquisadores brasileiros foram para instituições lusas como a Universidade do Porto e a Técnica de Lisboa. Elas são consideradas tão boas quantos as sete melhores universidades públicas do Brasil - USP, Unicamp, Unesp e as federais de São Paulo (Unifesp), Rio de Janeiro (UFRJ), Rio Grande do Sul (UFRGS) e Minas Gerais (UFMG) -, todas ranqueadas no top 20 da SCImago. Na lista das 250 melhores, o Brasil ocupa 82 postos e Portugal, 21.

Uma das principais plataformas políticas do governo, o CsF atingiu desde 2011 apenas 22% da meta de enviar 101 mil bolsistas "às melhores universidades do mundo" até 2015.

"O programa está mais preocupado em mostrar números. As universidades de Portugal não estão à altura das nossas, a não ser em algumas especialidades", afirma o economista Cláudio Moura e Castro, especialista em educação.

Cursos piores. Com base no prestigioso ranking QS World University, quando se compara o curso de Engenharia Civil da UFRJ com o da Universidade de Coimbra - que recebe a maior quantidade de brasileiros -, a instituição do Brasil se sai melhor.

No próprio site da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), umas das administradoras do programa, nenhuma universidade portuguesa é sequer listada como referência na seleção de melhores instituições europeias, muito menos na relação das mais destacadas em Engenharia e Tecnologia, áreas consideradas prioritárias para o programa.

Um dos motivos da grande quantidade de universidades portuguesas disponíveis é a facilidade na assinatura dos convênios com o programa, afirma Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-embaixador em Portugal.

"Não significa que elas não tenham critério nem parâmetros de aceitação de alunos. Mas a demanda por uma universidade de ponta americana, como Stanford e Harvard, é certamente maior", diz Lampreia.

Além de não estarem sendo enviados para instituições de excelência internacional, os bolsistas em Portugal ainda deixam de aprender a segunda língua - outra missão central do CsF.

"Independentemente da instituição em que vai estudar, o aluno retornará ao País com um importante ganho cultural e acadêmico", pondera Erasto Fortes, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), também gestor do programa, diz que busca parcerias com as melhores universidades "disponíveis".

O CNPq informa ainda que o Ministério da Educação está desenvolvendo o programa Inglês sem Fronteiras para aumentar o número de bolsistas enviados para Estados Unidos, Canadá, Austrália e Grã-Bretanha.

'O IMPORTANTE É O CONTATO COM A CULTURA EUROPEIA'

As justificativas que levaram o estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rafael Girardi, de 21 anos, a tentar uma bolsa em Portugal pelo Ciência sem Fronteiras são quase as respostas-padrão dos demais candidatos que acabam optando pelo mesmo país.

"Eu queria ter uma experiência lá fora, muitos amigos e até minha namorada escolheram Portugal. Além disso, não tive tempo de fazer o exame de proficiência em outra língua para tentar outro país", conta Girardi, que havia concluído o 5.º período no Brasil antes de partir para o país luso no segundo semestre de 2012.

A intenção de estudar em Portugal veio antes da decisão de optar pela universidade de destino. "Escolhi a Universidade de Coimbra, mas não conhecia muito sobre ela. O que sabia mesmo é que ela era famosa em Direito."

Depois de quase um semestre de aulas, foi possível conhecer um pouco mais sobre o curso. "É difícil avaliá-lo. As realidades brasileira e portuguesa são diferentes. A Federal do Rio é boa, mas o sistema público do Brasil têm suas deficiências", fala.

No entanto, mesmo reconhecendo que os professores de Coimbra são mais "focados" e praticamente nunca faltaram às aulas, existem outros quesitos em que a UFRJ é melhor, afirma o jovem.

Segundo ele, na UFRJ o estudante tem mais possibilidade de trabalhar com pesquisa, há mais laboratórios, é possível conciliar os estudos com estágio e, no Rio, as atividades extracurriculares eram realizadas de forma mais intensa. "Em Coimbra, não achei esses pontos muito positivos não", fala Girardi.

Mas, segundo ele, o princípio do intercâmbio tem mais relação com outras questões. "Em termos de currículo não muda muito. Acho que o mais importante é o contato com a cultura europeia", diz.

Ele fica em Coimbra até o final de junho de 2013. "Até lá, estou tentando conversar com professores, para participar de projetos envolvendo a área de urbanismo."
 
Capes oferece a alunos transferência de país

Preocupada com o número excessivo de universitários interessados numa bolsa do Ciência Sem Fronteiras (CsF) para estudar em uma das 50 instituições disponíveis em Portugal - onde há menos universidades de excelência internacional -, a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) enviou uma notificação para os futuros bolsistas desse país.

Conforme revelado pelo Estado no dia 2, foram encaminhados e-mails para 9,7 mil estudantes das áreas prioritárias, a maioria alunos de cursos de exatas. Todos eles queriam estudar em Portugal, mas agora podem transferir sua candidatura para Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, Irlanda, Itália, França ou Alemanha.

Para esses estudantes, no entanto, não foi exigido nenhum conhecimento do idioma estrangeiro do país de destino. Seriam concedidos a eles cursos imersivos de seis meses de duração para a melhoria da proficiência.

A maneira como foi conduzido o episódio ainda está gerando uma série de dúvidas nos alunos que tiveram de optar até ontem pela transferência. O e-mail foi encaminhado na madrugada da última sexta-feira, segundo relatos de estudantes.

Mesmo já tendo optado pela Itália, Sergio Machado, de 23 anos, aluno do curso Engenharia Biomédica da Universidade Federal do ABC, ainda possui uma série de perguntas sem respostas. "Não sei bem qual será a nova data de viagem, nem se terei direito assegurado ao curso de italiano e se a minha vaga na Itália será de fato garantida", diz.

De acordo com a Capes, a distribuição desses candidatos para outros destinos visa alcançar "maior equilíbrio na formação dos estudantes de acordo com os objetivos estratégicos do CsF".

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ciencia sem Fronteiras: candidatos tropecam no Ingles

Governo reduz exigência de inglês para bolsas do Ciência Sem Fronteiras

07 de fevereiro de 2013 | 2h 03
DAVI LIRA - O Estado de S.Paulo
 
A alta taxa de reprovação dos estudantes que concorreram a uma bolsa do programa Ciência Sem Fronteiras (CsF) na Grã-Bretanha, em decorrência principalmente do nível insatisfatório do inglês, levou o governo brasileiro, a embaixada britânica e a Universities UK (entidade que intermedeia a relação dos bolsistas com as instituições) a reduzir a pontuação mínima exigida nos exames de certificação.
"Gostaríamos de ver ocupada a maior parte das vagas ofertadas pelas 110 universidades britânicas. Por isso, a partir deste ano, os alunos que atenderem aos requisitos do programa, mas não atingirem a nota mínima em seus exames de proficiência, serão beneficiados com cursos de inglês intensivos na Grã-Bretanha", afirmou Jaqueline Wilkins, consultora em Educação da embaixada britânica.
Das 4 mil bolsas destinadas até agora pelo Ciência Sem Fronteiras para brasileiros estudarem no país, apenas 1,8 mil, ou 45%, foram preenchidas.
A redução da pontuação mínima consta em uma das retificações do edital do CsF, que teve suas inscrições encerradas no dia 25 de janeiro.
Antes, para o Toefl - um dos exames de certificação aceitos pelo programa -, era necessário que o estudante atingisse 72 pontos nas quatro modalidades da prova (compreensão auditiva, leitura, escrita e fala). Com a flexibilização, a exigência mínima caiu para uma pontuação de 42, uma diferença de 30 pontos.
No caso do Ielts - o outro exame aceito na seleção -, era necessário que o estudante atingisse a pontuação de 5,5 nas quatro modalidades. Com a mudança, ele pode, por exemplo, obter 4,5 em duas habilidades e ser considerado apto ao intercâmbio.
O candidato que não conseguir a nota necessária terá de participar de um curso intensivo de inglês na Grã-Bretanha, com duração de três ou seis meses, bancado pelo governo brasileiro (mais informações nesta pág.).
As aulas da língua estrangeira ocorrerão antes e durante os estudos acadêmicos. Ao final do curso, os candidatos precisarão se submeter a um novo teste de proficiência. Quem não conseguir as pontuações originariamente estabelecidas será obrigado a retornar ao Brasil.
Custo-benefício. O vice-reitor e pró-reitor de Coordenação Acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Rui Vicente Oppermann, elogia o programa, mas questiona o fato de o aluno aprender o idioma no exterior.
"O governo tem de avaliar muito bem o custo-benefício de enviar alunos brasileiros para aprender inglês na Grã-Bretanha. Temos capacidade para preparar os aluno com um custo menor aqui no Brasil", diz.
Segundo Oppermann, "os alunos deveriam ser enviados para estudar no exterior da maneira como o programa foi originalmente concebido, para que se aperfeiçoem em tecnologia".
A realização dos cursos intensivos é criticada por Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
"Quando analisamos a educação no Brasil, vemos que é comum trocarmos o pneu enquanto o carro anda. Eu duvido que na década de 80 as universidades da Grã-Bretanha aceitariam essa flexibilização. Hoje elas precisam dos bolsistas brasileiros, pois o ensino superior britânico está falido."
Consultado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um dos órgãos que administram o programa, informou que a "flexibilização dos requisitos linguísticos, associada à participação em cursos de idioma intensivo no país de destino, faz parte das estratégias do programa para a ampliação da participação dos alunos".
O CNPq ainda ressaltou que é necessário que os alunos tenham um nível de proficiência mínimo para o acompanhamento das aulas nas universidades.
Para a próxima oferta de vaga na Grã-Bretanha - com previsão para início dos estudos no exterior em setembro de 2013 -, a embaixada britânica espera preencher a "maioria" das 2 mil bolsas previstas por semestre.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

As Humanidades e o Ciencia Sem Fronteiras: anti-hegemonicos furiosos...

Essa conversa de atores hegemônicos é slogan velhaco de quem não tem melhor argumento a esgrimir em defesa de posições claramente insustentáveis.
Apesar deste blogueiro ser sociólogo, pronuncio-me claramente, neste momento, CONTRA a inclusão das ditas ciências sociais e humanas no programa CsF.
Como os recursos da sociedade são por definição limitados, melhor investir nas carências brasileiras, que não são as de sociólogos, psicólogos, cientistas políticos, historiadores e afins, e sim de engenheiros e cientistas.
As simple as that.
Creio ter deixado bastante clara minha posição.
Paulo Roberto de Almeida
Comentário recebido do leitor André Rozembaum:

Pensei que talvez uma pequeniníssima parte das bolsas, como 2%, pudesse ser destinada a nata da nata dos nossos cientistas "humanos". Concordo que os recursos financeiros sao limitados, e por isso que o governo acertou em priorizar o que temos de extrema carencia.
Mas daí a dizer que estamos bem de ciências sociais e humanas é loucura!
Você ao longos dos seus vários posts diz isso.
Veja por exemplo as "saúvas" freirianas do MEC que você tanto critica, assim como os acadêmicos "marquissistas".Addendum PRA:
Nunca pensei que as Ciências Sociais no Brasil se apresentassem de forma positiva, ou seja, que elas "estão bem". Ao contrário, acho que estamos muito mal, pésimos, mesmo, de CS, e isso tem a ver com a dominância do marxismo vulgar. Nos tempos da brilhantina, isto é, no meu tempo, os marxistas liam Marx; hoje, os marquissistas só lêem uma vulgata mal informada, simplista, incompleta, da contribuição importante que Marx deu para as ciências sociais, mas que foi reduzida por eles a um conjunto de slogans contra o capitalismo e o neoliberalismo que eles sequer estudaram como Marx. Por isso mesmo me oponho a qualquer bolsa para o pessoal da tribo, que escreve como o cidadão ai abaixo, cheio de slogans e poucos argumentos.
Paulo Roberto de Almeida

Ciências com fronteiras: A exclusão das Humanidades pelo MEC


postado por Alyson Freire
Carta Potiguar, 19/01/2013
humanidades1Como um veículo idealizado por cientistas sociais, e, mais importante, feito a partir dos conhecimentos aprendidos nas Ciências Sociais, a Carta Potiguar não poderia deixar de se manifestar a propósito da suspensão da liminar que determinava a inclusão dos cursos da área de Ciências Humanas no programa Ciência Sem Fronteiras do Ministério da Educação (MEC). A decisão do Tribunal Federal da 5ª Região e o entendimento do MEC sobre a natureza do Programa devem ser não apenas lamentadas e repudiadas, mas, como convém a postura das Humanidades, analisadas e discutidas.  Muito embora, bastasse para verificar o déficit em Humanidades no Brasil confrontar a realidade social do país e as percepções enviesadas e estreitas sobre esta, e, assim, constatar, com certa melancolia, os enormes desafios e incompreensões que existem acerca de nossos problemas.
A indignação gerada não pode, porém, embotar a reflexividade exigida para produzir, de uma só vez, um entendimento claro do que está em disputa no CsF e, sobretudo, uma crítica aos pressupostos tácitos que o presidem. Afinal de contas, as Ciências Humanas notabilizam-se precisamente por constituírem um tipo de trabalho intelectual cujo cerne consiste em sua capacidade ímpar de elaborar autorreflexão crítica, a partir da qual a sociedade pode dispor das ferramentas para pensar a si mesma como problema e fenômeno humano, aberto e contingente, e, desse modo, entender por meio de que processos sociais e históricos as coisas se tornaram de uma forma e não de outra.
A posição do MEC e a interpretação da Justiça não são simplesmente neutras e técnicas. São seletivas e prescritivas na medida em que expressam, por um lado, interesses sociais, políticos e econômicos, e, por outro, concepções e valores acerca das classificações das ciências e o papel destas no interior de um projeto determinado de sociedade e de desenvolvimento. São essas fronteiras materiais e simbólicas que a análise crítica deve enfrentar e desmistificar.
A disputa a propósito de quem está ou não autorizado a participar do Ciências sem Fronteiras ou que áreas devem ser priorizadas no financiamento de bolsas, intercâmbios e estágios no exterior são reveladoras a respeito da visão de desenvolvimento que o Governo do PT e outros setores abraçam e cultivam. Priorizar as Ciências Naturais e Exatas significa privilegiar uma determinada concepção de desenvolvimento, que é certamente a concepção de certos grupos de interesse. O que está jogo em toda essa polêmica resume-se a questão de definir os parâmetros pelos quais a sociedade deve ser organizada e estruturada para atingir os tão almejados fins do desenvolvimento. Quer dizer, que caminhos o país e a vida das pessoas devem trilhar para alcançar um estágio elevado de bem-estar humano, segurança, conforto e liberdade.
Mas que ideia de desenvolvimento é esta adotada no Ciências Sem Fronteiras? Ora, uma ideia redutora e estreita de “desenvolvimento” que o identifica prioritariamente com crescimento econômico e progresso tecnológico puro e simples. Nesse sentido, desenvolvimento ou sociedade desenvolvida é sinônimo da elevação do PIB, da capacidade produtiva e criativa de indústrias e empresas, aumento da renda per capita e da disponibilidade de recursos humanos hiperqualificados do ponto de vista técnico, etc.. Sem satisfazer esses indicadores e critérios uma sociedade não pode considerar-se desenvolvida, tal qual entende esta concepção tecnicista de progresso.
É no interior dessa visão de desenvolvimento, que a Ciência e suas divisões adquirem um lugar e um papel determinados. Dentro desse paradigma, as Ciências Naturais e Exatas são consideradas as mais aptas para fomentar as condições de desenvolvimento. Elas são indutoras de progresso porque seus resultados e inventos podem ser diretamente aplicados e apropriados pelo Estado e pelas empresas, segundo, obviamente, os interesses estratégicos de dominação política, militar, social e econômica. Por isso, a elas reservam-se as melhores oportunidades de recursos e investimentos.
O maior investimento na formação e qualificação de recursos humanos no campo das ditas “ciências duras” ganha prioridade sobre todos os demais por conta do comprometimento do Governo do PT e das instituições de apoio e fomento com uma determinada visão de progresso, assim como pela força dos interesses estratégicos que o Governo, seguindo o modelo técnico-desenvolvimentista e sua política de coalizão, assume para manter sua governabilidade –  esse comprometimento pode ser observada no conjunto de outras disputas em que o Governo está envolvido, como por exemplo a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
As Ciências Humanas são, desse modo, escamoteadas porque seu saber e formação não se coadunam tão intimamente com esta concepção de desenvolvimento e com os interesses dos atores hegemônicos (Estado e Mercado) neste processo. Elas seriam “ciências moles”, imprecisas e teóricas, e o progresso necessita de “ciências duras”, fálicas e masculinas, as únicas que, como diz o qualificativo, são capazes de serem suficientemente viris e ativas para fecundar o desenvolvimento numa sociedade. Como se pode deduzir, a analogia com o machismo e androcentrismo na ideia de “ciências duras e moles” não é nada gratuita e acidental – o que reforça o argumento de a ciência existe num contexto de valores, representações e repertórios culturais.
A dificuldade e os preconceitos que as Ciências Humanas sofrem para obter o devido reconhecimento de seu estatuto e valor científico é bem mais o resultado de avaliações políticas e culturais cristalizadas e compartilhadas em instituições de poder dominantes (Estado e Mercado) do que o produto de avaliações científicas e epistemológicas sérias. O valor e as classificações das ciências ganham o seu sentido particular e hierarquizante em razão das representações sociais que se tem acerca da potencialidade delas no interior de concepções culturais específicas sobre progresso, desenvolvimento e bem-estar humano, assim como pelo papel que elas cumprem numa divisão de trabalho mais ampla sob a finalidade de atingir os objetivos produtivistas e quantitativos do crescimento econômico – PIB, renda per capita, etc..
Restringir o programa CsF aos estudantes oriundos da área tecnológica e biomédica é uma decisão política, no sentido de que o Governo, o mercado e as instituições de fomento enxergam nessas áreas os subsídios técnicos e humanos capazes e necessários de alavancar o desenvolvimento econômico de uma sociedade a partir da criação de tecnologia e da formação de quadros hiperqualificados para o mercado e suas necessidades.
O problema, portanto, não reside na questão de medir qual ciência é superior ou mais relevante do que a outra, o problema está na concepção de desenvolvimento abraçada e partilhada pelo MEC, e flagrantemente expressa no Ciência Sem Fronteiras. A exclusão das Ciências Humanas do CsF é resultado de um modo tecnocrático e desenvolvimentista de conceber o progresso de uma sociedade. Nesta concepção de desenvolvimento, o sucesso de uma sociedade é medido pela elevação das riquezas que um país produz mais do que a forma e o grau com que ele a distribui; mais pela quantidade e exploração de recursos que ela capaz de realizar do que pela qualidade dos serviços públicos básicos que oferece; mais pela industrialização do que pelo impacto que ela causa nas condições ambientais e de existência das pessoas; mais pelo progresso tecnológico e quadros qualificados que possui do que pelo grau de participação política e social das pessoas na vida pública.
O que temos de criticar veementemente é esta visão que privilegia unilateralmente indicadores quantitativos e economicistas em detrimento de outros indicadores de caráter mais qualitativos e sociais. Estes últimos podem ser reunidos naquilo em que o economista Amartya Sen chamou de expansão das “liberdades substantivas” e das capacitações para o agir autônomo das pessoas – o que envolve, segundo Sen, desde as liberdades políticas e econômicas básicas ao desenvolvimento de condições para evitar subnutrição e a mortalidade precoce e capacidades de promoção da autonomia e participação ativa das pessoas na vida política da sociedade (educação, liberdade de expressão, etc.).
Se pensarmos como economista indiano e ganhador do Nobel de economia, defendendo que o desenvolvimento é essencialmente um processo de expansão das liberdades reais de que as pessoas desfrutam, então as Ciências Humanas possuem um papel central e pertinente como “indutoras” das condições de desenvolvimento. Os obstáculos na expansão das liberdades reais e na efetivação das capacidades humanas são resultados, em larga medida, de fenômenos humanos, isto é, de processos, instituições e estruturas sociais que modelam o destino das pessoas, suas chances de vida e oportunidades.
Ora, se não podemos falar em sociedade desenvolvida se nela vigoram, de maneira persistente e seletiva, dominações, desigualdades e restrições que impactam enormemente o exercício dos direitos e o desenvolvimento das capacidades pessoais, então, a contribuição das Ciências Humanas é indispensável e inestimável para reverter tal quadro. O entendimento, com clareza e profundidade, de fenômenos humanos, como a reprodução da pobreza, da violência, da ineficiência institucional, os conflitos entre grupos, a exploração e injustiça econômica, os dramas interpessoais, a desigualdade e marginalização social, a privação de direitos em razão de estigmas e preconceitos, entre tantos outros, somente é possível mediante um consistente conhecimento e pesquisas pertencentes ao campo das Ciências Humanas. Esses conhecimentos podem ser convertidos em políticas públicas e reformas políticas. No entanto, a contribuição das Ciências Humanas não se esgota em oferecer informações úteis que servirão de matéria para políticas sociais.
As Ciências Humanas proporcionam um exercício intelectual formidável de desvelamento e questionamento das suposições tácitas e ponto de vistas morais em que se fundamentam determinadas visões de mundo – como a noção de desenvolvimento aqui criticada. Revelar as opacidades subjetivas e causais do comportamento e pensamento humanos, situando-os histórica e socioculturalmente, é o seu principal mérito. O esclarecimento que as Ciências Humanas proporcionam é um esclarecimento não tanto da ordem da previsão e do controle dos fenômenos mas da reflexividade dos sujeitos sobre si mesmos, suas vidas, crenças e ações – o que pode servir tanto numa escala individual quanto, também, numa escala coletiva para governos comprometidos com reformas e movimentos sociais engajados na luta por transformações sociais.
Portanto, por mais enervante que seja a exclusão das Ciências Humanas do CsF, em vez do ressentimento, a crítica deve alimentar-se do comprometimento público que as Ciências Humanas possuem com o avanço e fortalecimento da emancipação humana em todos os seus sentidos. Este comprometimento obedece uma convicção intelectual e ética iniludível acerca do papel do conhecimento das Humanidades em geral e das CH em particular para esclarecer, de um lado, os mecanismos e estruturas sociais responsáveis que dificultam alcançar uma situação de maior emancipação, liberdade e dignidade compartilhadas e, de outro, revelar os pressupostos tácitos que governam as tentativas políticas de superação e solução desses mesmos mecanismos e estruturas.
Além da função crítica, as pesquisas e conhecimentos em Ciências Humanas podem contribuir para alargar o escopo do que entendemos por desenvolvimento e progresso, contemplando temas, indicadores e metas costumeiramente negligenciados e invisibilizados pela pujança e feitiço dos números e taxas econômicas. Um bom exemplo de desenvolvimento – entendido num sentido mais civilizatório do que economicista – propiciado pelas Ciências Humanas pode ser observado no debate acerca dos Direitos Humanos, igualdade, direito à diferença, políticas afirmativas e outros tantos temas que avançaram em nossa sociedade graças a ação de movimentos sociais e de trabalhos e teorias produzidos nas Humanidades.  Em matéria de reconhecimento social obtivemos, nas últimas décadas, um inegável ganho civilizatório, alavancado, em certo medida, por trabalhos em Ciências Humanas. Foram esses trabalhos e seus resultados conceituais e práticos que permitiram o desenvolvimento de uma atitude de maior sensibilidade e compreensão diante da alteridade e das formas sociais de opressão e inferiorização de grupos específicos – mulheres, negros, pobres, imigrantes, homossexuais, índios, etc..
De uma maneira decisiva, podemos afirmar que as Ciências Humanas contribuem com o desenvolvimento de uma sociedade na medida em que elas podem fornecer, a um só tempo, um conhecimento aplicável e reflexivo sobre os fenômenos e questões que esta sociedade busca resolver e, também, acerca das implicações dos valores, compreensões e aspirações em nome dos quais esta sociedade ou grupos dela pensam e agem. O investimento em conhecimentos orientados para a explicação dos fatos humanos e para o esclarecimento dos valores que as pessoas e grupos assumem e praticam em suas percepções e aspirações é um fator indispensável para qualquer sociedade que se pretenda desenvolvida num sentido mais pleno da palavra. Engenharias e tecnologias ajudam a construir e fazer crescer um país, mas não produzem por si mesmas compreensões capazes de impulsionar um processo de autoentendimento sobre o país, seus dilemas e ambições.
A exclusão reiterada das Ciências Humanas no programa Ciências sem Fronteiras abre mais um flanco para reflexão e crítica a propósito dos rumos que o Governo tem adotado como diretrizes do projeto nacional de desenvolvimento. Apostar numa concepção de desenvolvimento que abre mão de “pensar e entender o Brasil” para além das categorias econômicas mais redutoras e autoreferenciadas é bem mais do que um equívoco ultrapassado, é antes e fundamentalmente um equívoco bastante perigoso e ameaçador.

Alyson Freire

Professor de Sociologia. Mestrando no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais - UFRN. Editor e integrante do Conselho Editorial da Carta Potiguar. Contato: alyson_thiago@yahoo.com.br