Transcrevo nota do Antagonista Mario Sabino sobre o Ciência Sem Fronteiras.
Desde o início do CsF, considerei o programa demagógico, absolutamente ineficaz para os fins proclamados e totalmente fraudador das contas públicas, especialmente para os fins de C&T. Acompanhei o início, quase todos em direção de países de língua portuguesa (vale dizer unicamente Portugual) e espanhol, e marginalmente em universidades de língua inglesa ou outras.
Depois tive contato, direto e indireto, com vários estudantes desse programa no exterior, e de praticamente todos recolhi testemunhos sinceros, voluntários, esclarecedores, quanto à pouca utilidade desses estágios em universidades de segunda ou terceira linha do exterior, servindo se tanto para "turismo acadêmico", algum aprofundamento "linguístico" e não muito mais do que isso.
Visitei, pessoalmente, vários desses estudantes em universidades da costa leste dos EUA, e praticamente todos eles NÃO estavam cumprindo NENHUMA matéria substantiva, mas apenas fazendo cursos de inglês, por seis meses ou mais.
Ou seja, o programa é, sempre foi, uma FRAUDE, e representou milhões gastos indevidamente, irresponsavelmente, criminosamente, com intenções claramente eleitoreiras. Nada que seja muito diferente de muitas outras políticas dos companheiros, sempre torrando dinheiro de todos os políticos brasileiros a fim de manter, preservar, ampliar um CURRAL ELEITORAL que lhes mantivesse no poder.
Lamento que outras áreas de C&T do Brasil tenham perdido recursos para que o governo fraudulento dos companheiros pudesse fazer demagogia eleitoral.
Paulo Roberto de Almeida
Sem-vergonhice sem fronteiras
Por Mario Sabino
O Antagonista, 13/06/2016
Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que as universidades, os laboratórios e centros de pesquisa do Brasil estão a anos-luz de distância daqueles dos países avançados.
Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que são fatores determinantes para o desenvolvimento de uma nação.
Eu não entendo nada de ciência e tecnologia, mas sei que é um inferno encontrar um bom instalador de ar-condicionado por aqui.
Foi com certa curiosidade, portanto, que li a notícia da Folha segundo a qual apenas 3,7% dos participantes do programa federal Ciência Sem Fronteiras foram estudar nas melhores universidades do mundo -- aquelas que realmente fariam diferença para a formação dos beneficiados e, portanto, para o avanço científico e tecnológico nacional. A massacrante maioria aproveitou o intercâmbio com dinheiro público apenas para “ter uma experiência lá fora”. E o “lá fora”, não raro, foi Portugal -- essa ilha de excelência na Europa Ocidental.
É claro que o programa inventado pelo PT era demagógico, um trem da alegria destinado principalmente a uma porção de gente sem requisitos acadêmicos para estudar seriamente no exterior. O meu ponto não é esse. O meu ponto é justamente a quantidade de gente disposta a pegar qualquer trem da alegria no Brasil, desde que pago com dinheiro público, sem a preocupação de dar retorno ao país.
Não há diferença moral entre o estudante que pegou bolsa do governo para fazer curso de nanotecnologia na Universidade de Coimbra e o político que vai ao estrangeiro às nossas expensas, a pretexto de discutir alianças estratégicas, e passa o dia circulando em lojas de grife de Nova York, Londres, Paris ou Roma.
Somos um país de salafrários, essa é a verdade, e os trens da alegria nos espelham, não importa o nome que se dê a eles. A taxa de honestidade brasileira talvez seja mesmo de míseros 3,7%.
Vou ter de continuar procurando um bom instalador de ar-condicionado.
Alunos do Ciência sem Fronteiras foram orientados a racionar alimentos
Um grupo de estudantes brasileiros que foram selecionados pelo programa federal Ciência sem Fronteiras para estudar no Canadá e tiveram as bolsas cortadas começou a retornar nesta semana ao Brasil, reclamando do tratamento recebido. Sem dinheiro, contam que foram orientados a "racionar alimentos".
Luana Monteiro Leite, 27, e Rondinelly Guimarães, 23, estavam entre os 80 estudantes do Ciência sem Fronteiras que estavam no Canadá -há mais deles 30 na Austrália- e que foram chamados de volta ao Brasil por não terem atingido o nível de proficiência no inglês necessário para serem aceitos pela universidade de sua escolha. Os estudantes começaram a chegar no Brasil nesta semana.
Esses alunos foram selecionados pelo programa para cursar um período de sua graduação em uma universidade de Portugal. Mas o edital foi cancelado e eles foram transferidos para o Canadá, onde chegaram em setembro, para realizar seus estudos.
| Weimer Carvalho/Folhapress | ||
| Rondinelly Guimarães, 23, bolsista do Ciência Sem Fronteiras, que retornou ao país |
Como o nível de inglês desses estudantes era insuficiente para ingressar diretamente em uma universidade do Canadá, foi estabelecido, inicialmente, que eles fariam um curso de inglês até janeiro, quando realizariam testes. Os que não obtivessem a nota necessária continuariam o curso e fariam novo teste em março ou abril.
Os estudantes contam que houve apenas o primeiro teste, em meados de janeiro, e que aqueles que não obtiveram a nota tiveram a bolsa cortada e receberam a ordem de voltar ao Brasil.
"No começo foi um sonho, mas, depois de todas as injustiças, é como se tivéssemos recebido uma punhalada nas costas", diz Luana.
O momento mais tenso ocorreu em dezembro de 2013, quando a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) atrasou por quase um mês o pagamento das bolsas.
Após relatarem dificuldades financeiras, os estudantes receberam, em 4 de dezembro, um e-mail de Nathalí Rosado, coordenadora do CBIE, órgão que gerencia o programa no Canadá, dizendo: "Racionem a sua alimentação, mas não excessivamente (isto é, não cessem de comer)".
No mesmo e-mail, Rosado recomendou que os estudantes fossem ao banco de roupas e alimentos da Universidade de Toronto para receberem uma cesta de comida gratuita.
"Foi um período em que tivemos de racionar comida mesmo", diz Rondinelly. Luana e Rondinelly recorreram ao banco de alimentos mais de uma vez.
CRITÉRIO DE RETORNO
Ela conta que alunos da mesma turma que obtiveram notas idênticas àqueles que estão voltando continuarão no Canadá, estudando inglês até setembro.
Os estudantes questionam também a falta de critério para decidir sobre quem ficaria ou voltaria.
Documentos obtidos pela Folha mostram dois resultados dos testes realizados em janeiro, uma aluna que obteve a nota 56 no teste TOEFL IBT foi convocada pela Capes para retornar, enquanto um aluno que obteve a nota 45 no mesmo teste recebeu o aceite da Universidade de Toronto. A Capes disse que não discute casos de alunos específicos.
Rondinelly e Luana dizem considerar o programa positivo, apesar de tudo. "Mas não podemos ficar calados diante da falta de planejamento e de compromisso", diz Rondinelly.
Eles tentarão retomar a vida universitária no Brasil, mas como o semestre letivo já iniciou há dois meses, só devem conseguir retornasr às aulas em agosto.