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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O BC aumenta os juros para evitar aumento de juros para o Governo,entendeu?

Não tem importância, eu explico: se o BC não aumentasse a Selic, os tomadores de títulos do Governo exigiriam juros mais altos do Tesouro.
Entendeu agora? OK!
Paulo Roberto de Almeida 
Alta da Selic gera custo extra de ao menos R$ 14 bilhões aos cofres públicosO Globo, 17/01/2014
Salto diz que sua estimativa é conservadora, pois considera apenas as operações compromissadas – instrumento do Banco Central (BC) para enxugar excesso de liquidez na economia pela venda de títulos públicos. Não está incluso o impacto dos juros sobre os títulos pós-fixados vendidos pelo Tesouro.
- Esses R$ 70 bilhões já representam três orçamentos do Bolsa Família. E o governo não vai conseguir mudar isso por decreto. É preciso mudar a base desta política fiscal expansionista, o que abriria espaço para uma política monetária mais decente – diz.
Pelos cálculos de José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o aumento de gastos com o ciclo da Selic é um pouco maior, de R$ 15,3 bilhões. O número, também considerado conservador, tem como base a estimativa informada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) da União. Segundo o texto, o aumento de um ponto percentual da Selic provoca despesa extra com pagamento de juros de 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de produtos e serviços produzidos no país).
- A taxa de juros é o instrumento predominante de política monetária também em outros países, mas parece que existe monopólio disso aqui no Brasil – disse Afonso, lembrando que o governo também tem adotado outros caminhos para conter preços. – O governo está intervindo diretamente nos preços dos combustíveis, da energia elétrica. Os chamados preços administrados estão sendo mais administrados do que nunca.
Segundo Margarida Gutierrez, professora da UFRJ, o crescimento do custo de pagamento de juros pode ser maior este ano por causa das incertezas em torno do corte da nota de classificação de risco do Brasil pela agência Standard & Poor’s (S&P) e do ano eleitoral. Ela explica que, neste cenário, os investidores tendem a exigir maior rendimento nos títulos do país.
- Se o BC não elevasse a Selic, aumentaria ainda mais a incerteza e cresceria ainda mais a conta de juros.
Fonte: O Globo

terça-feira, 16 de abril de 2013

Copom: para que te quero? Para nada? Podemos dispensar?

Eventual elevação de juros será em patamar menor, afirma Dilma

Alvo de críticas pela alta de preços, presidente volta a criticar 'pessimismo especializado' e descarta altas taxas

Fernando Gallo
O Estado de S.Paulo, 16 de abril de 2013 | 13h 06
 
Belo Horizonte - A presidente Dilma Rousseff, que vem sendo fustigada pela alta nos índices de preços oficiais, afirmou nesta terça-feira, 16, que "qualquer necessidade" de aumento de juros "para combate a inflação" hoje em dia "será possível fazê-la em um patamar bem menor" do que na época em que o País conviveu com taxas mais altas. Ela voltou a dizer que o governo não "negociará" com a inflação e assegurou que não terá "o menor problema em atacá-la sistematicamente". Dilma declarou ainda que "não há hipótese" de o Brasil não apresentar crescimento econômico em 2013 e disse estar "otimista" com o País.
A presidente afirmou também que o combate à inflação foi "uma conquista desses dez últimos anos de governo, do presidente Lula e do meu", e disse que o Brasil jamais voltará a ter altas taxas de juros reais.
"Não é hora de achar que a hora do Brasil passou. Pelo contrário, a hora do Brasil é agora. Temos que ter certeza de que passamos e estamos passando estamos passando um momento muito difícil no cenário internacional. O Brasil está passando esse momento mantendo a sua robustez, a capacidade de fazer política industrial", afirmou Dilma em Minas Gerais, na cerimônia do anúncio de uma fábrica que produzirá insulina humana no Brasil.
"A grande diferença nossa não é só que não desempregamos nem reduzimos direitos para enfrentar a crise, mas sobretudo que mantivemos a capacidade, quando todo mundo eleva impostos, de reduzi-los. Mantivemos a capacidade de buscar um maior equilíbrio entre as variáveis macroeconômicas, que é mudar o patamar de juros no Brasil. Jamais voltaremos a ter aqueles juros em que qualquer necessidade de mexida elevava os juros para 15% porque estava em 12% a taxa real. Hoje temos uma taxa real bem baixa. Qualquer necessidade para combate a inflação será possível fazer num patamar bem menor", disse a presidente.
Dilma voltou a culpar o "pessimismo especializado" pelas avaliações de que a economia pode desandar. "Acredito que tem uma parte dessa história que vocês escutam que é um pessimismo especializado, de plantão. Um pessimismo que nunca olha o que já conquistamos e a situação em que estamos. Sempre olha achando que a catástrofe é amanhã. Achando que esse processo é um processo que tem sinalizações indevidas."
Na segunda, 15, à noite, a uma plateia petista, associara o "pessimismo" aos tucanos ao dizer que os "pessimistas" eram os mesmos que haviam feito o racionamento de energia no país em 2001. Desta feita, no entanto, embora não tenha feita a mesma associação, fez os comentários na presença do governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB), um dos principais aliados do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Aécio, que deve ser um dos oponentes de Dilma na disputa presidencial de 2014, disse em entrevista recente que a presidente é "leniente" com a inflação. Ao ouvir os comentários de Dilma, Anastasia apenas olhou, constrangido. Ele fizera um discurso brando, no qual ressaltou as parcerias entre os governos federal e mineiro e agradeceu Dilma por elas.
Outro possível adversário da presidente em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também vem fazendo críticas à política econômica de Dilma. Ele costuma dizer que economicamente "2012 foi pior do que 2011 e 2011 foi pior que 2010" e já chegou a afirmar que a crise internacional "está chegando ao Brasil".
No PT há um temor de que o aumento de preços possa vir a se transformar num problema eleitoral para o projeto de reeleição da presidente.
 Veja também:
link Dilma diz que inflação está sob controle e faz crítica a 'pessimistas especializados'
link Dora Kramer: Atenção, concentração
link Presidente do PT chama Aécio de 'cara-de-pau'

quarta-feira, 27 de março de 2013

Se eu fosse do Copom, cederia o meu lugar para um economista da UniCamp...

Nada como ter brilhantes assessores econômicos em todos os quadrantes da administração pública, não é mesmo?
Como por exemplo esse pessoal que aprendeu economia com as melhores cabeças da UniCamp, a Maria da Conceição Tavares, por exemplo, aquela que acha que os capitais externos estão sempre conspirando contra os interesses nacionais e que melhor ter uma mão sapiente de algum burocrata estatal, pois os mercados simplesmente não sabem o que fazer, e o que fazem sempre dá errado.
Como é que a gente vivia sem esse pessoal todo antes?
Fazendo bobagem, certamente. Ainda bem que eles apareceram para nos salvar de nós mesmos...
Paulo Roberto de Almeida

Tombini esclarece declaração de Dilma e diz que BC subirá juro se necessário

Em entrevista ao Broadcast, presidente do BC informou que Dilma pediu que ele esclarecesse suas declarações

O EStado de S.Paulo, 27 de março de 2013 | 14h 59
João Caminoto
SÃO PAULO - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em entrevista exclusiva ao Broadcast - serviço de informações financeiras em tempo real da Agência Estado - disse que as declarações da presidente Dilma Rousseff na manhã desta quarta-feira, 27, foram entendidas de forma equivocada. Tombini afirmou que Dilma pediu que o "mal entendido fosse desfeito e que não há tolerância em relação à inflação".
Segundo ele, a presidente solicitou a ele também que reforçasse que, se fosse preciso, os instrumentos de política monetária serão usados. "De inflação fala a equipe econômica. Em relação à política de juros, fala o Banco Central", destacou Tombini, reforçando que esta é a posição da presidente Dilma.
Mais tarde, por meio do blog do Planalto, a presidente disse que "houve interpretações equivocadas" sobre seus comentários a respeito de inflação. "Foi uma manipulação inadmissível de minha fala. O combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu governo."
Na manhã desta quarta, em encontro de chefes de Estado dos Brics - grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - na África do Sul, a presidente Dilma disse que "não acredita em políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico" (veja abaixo a declaração da presidente). As declarações da presidente reduziram as apostas de elevação da Selic, a taxa básica de juros da economia. As taxas futuras, que já caíam desde a abertura do mercado, acentuaram o movimento imediatamente após as palavras da presidente.
Com as declarações de Dilma, os analistas do mercado financeiro entenderam que o governo acredita que a inflação no Brasil seja algo temporário e que o Banco Central poderá adiar o início do aperto monetário. As palavras de Dilma, na véspera da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, também foram criticadas por alguns agentes, porque atrapalharia o esforço do presidente do BC, Alexandre Tombini, em ancorar as expectativas do mercado.
Na semana passada, Tombini voltou a alertar que a instituição está atenta à evolução da inflação, e caso necessário, vai agir para coibir sua alta. O presidente do BC retomou o termo "resistência da inflação". "A maior dispersão recentemente observada de aumentos de preços ao consumidor, pressões sazonais e pressões localizadas, entre outros fatores, contribuem para esse quadro de maior resistência", disse.

Mas é só o discurso, a preocupação fica sendo nossa...
PRA

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Bancos brasileiros: ainda por cima da carne seca - The Economist

Brazilian banks

No more free lunch

As interest rates fall, spreads and profits are coming under pressure


ON OCTOBER 10th Brazil’s Central Bank cut its policy interest rate for the tenth time in just over a year, to 7.25%. The move surprised analysts, since rates were already historically low and inflation above the centre of the monetary-policy committee’s 2.5-6.5% target. Neither economic growth, likely to finish the year at an anaemic 1.5%, nor the currency, which tends to rise with rates as return-seeking foreign investors pile in, are supposed to play a part in its deliberations. But most analysts now believe that its decisions are taken with an eye to boosting growth and weakening the currency, and that unless inflation threatens to break the 6.5% barrier, rates will stay low for some time.
For now, subdued global demand means that inflation is unlikely to slip its leash. But in the longer term the government will have to rein in public spending and push through difficult reforms if it wants Brazil to grow faster than 3-4% a year without fuelling inflation. Recent moves to cut payroll taxes, limit public-sector pay rises, reduce energy costs and improve a woeful transport infrastructure should help to raise this distinctly modest economic speed limit. They have also convinced many that the president, Dilma Rousseff, will do whatever it takes to save the bank from having to hike again.
Permanently lower interest rates would be the most positive economic development in Brazil since hyperinflation was vanquished almost 20 years ago, says Enestor dos Santos of BBVA, a Spanish bank active in the region. Firms would invest more—and making a decent return would mean funding productive projects, not just parking cash in government bonds.
Returns to lender
But some industries will see profits fall. When investors realised that electricity firms would have to accept much lower returns from early next year, or else be ineligible to rebid for concessions that run out between 2015 and 2017, share prices slumped. Masha Gordon of PIMCO, a fund manager, praises the government for blocking its ears to vested interests and calling time on Brazil’s “free lunch”. Toll-road and energy concessionaires who signed deals when rates were much higher benefited hugely as they fell, she points out, leaving some low-risk projects earning real returns approaching 20%. That could hardly be expected to last.

But it is banks that will have to do most to adapt to Brazil’s new low-interest environment, says Ms Gordon. Their net interest margins have been falling for years as the rates they charge on loans fall in line with the policy rate, and the room to cut the rates they offer on deposits reduces. That has eaten into returns (see chart). The pressure on profits has built recently as the government has pushed banks to pass on lower rates to customers, faster.
The two big state-controlled banks, Caixa Econômica Federal and Banco do Brasil, have slashed rates at the government’s behest. Private banks have had to follow suit or lose market share. According to Anefac, an accountants’ trade body, the average rate paid by Brazilian retail borrowers in September fell below 100% for the first time. Rates for business loans are also at an all-time low—48% a year.
By Brazilian standards such rates may be low; by international ones, they are eye-watering. The biggest reason, says Sergio Furio of bankFacil, a start-up that offers consumer-finance information online, is the inefficiency of Brazilian banks. Although their revenues per employee are broadly in line with other large economies, their low productivity is masked by very high prices. They need twice as many staff to generate the same volumes as banks in Europe or America, he points out—but are still profitable because margins are two or three times as high, too.
“Brazilian banks have been relying on the last gasp of outrageous interest rates,” says Mr Furio. Instead they should be trying to become more efficient and to attract a better class of customer. High-cost loans put off numerate, well-heeled types who could be relied on to repay them. That adverse selection means rates must be pushed up even higher to cover frequent defaults. BankFacil hopes to make money by breaking this cycle, referring newly educated, creditworthy users to financial institutions which can then charge them less.
The highest interest rates of all are on credit cards, which in Brazil are mostly used to buy goods in “interest-free” instalments. Retailers offer self-financed payment plans over up to 18 months. They hide their own financing costs inside the sticker price and only request payment from the customer’s card issuer month by month. Banks make little money from this peculiar “credit on credit”, which makes up 70% of total credit-card loans in Brazil. Only when a cardholder misses a payment does the card issuer finally get to charge interest. But the chance of default among such late payers is a hefty 28%, meaning rates must be astronomical if banks are to make a profit at all.
Last month Itaú Unibanco, Brazil’s largest privately controlled bank, let it be known that it would like to put an end to credit cards being used this way. But the government worries that Brazilian consumers are so used to paying for everything from clothes to white goods to cars in supposedly interest-free instalments that they might then stop spending altogether, nipping a nascent recovery in the bud. Any move will have to be gradual.
The good news is that Brazilian banks have lots of fat to cut before they reach the bone. They have also acquired plenty of new customers during the past decade, says Franklin Santarelli of Fitch Ratings, an expensive process that should reap rewards during the next one. Brazil is “just moving into the mainstream,” says Ceres Lisboa of Moody’s, another ratings agency. Its banks, like those elsewhere, have to work out how to make money with lower margins and higher volumes.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Hora da Saudade: como era doce nossa inflacao

O que eu gosto do Drunkeynesian é que ele coloca em gráficos as estatísticas mais loucas, como essas dos juros nominais e reais no Brasil ao longo das últimas décadas.
Samba do crioulo doido, se não fosse impoliticamente incorreto dizer essas coisas atualmente.
Assustem-se, rapazes, e convençam-se de que escapamos de tempos muito loucos. Mas hoje tem gente que tem saudades desse tempo, e autoridades econômicas se dão por satisfeitas com uma inflação de 5%. Bandidos...
Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um histórico longo de juros no Brasil

The Drunkeynesian

Quando se estuda juros e inflação no Brasil (ao menos no mercado financeiro), costuma-se usar a conveniência de assumir que a história começa em 1994 (após o Plano Real) o que torna os dados bem mais tratáveis e compreensíveis. Meu lado masoquista está tentando montar uma base de dados mais longa. Até agora consegui montar o frankenstein abaixo, juntando dados de diversas fontes. Quem souber de uma base melhor, pode indicar nos comentários, agradeço antecipadamente.

 

Curioso ver a longa história de 35 anos de juros reais negativos, a maluquice entre o calote de 1987 e o Plano Real e o posterior retorno à sanidade, ao menos olhando para a ordem de grandeza.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Brasil chega aos juros "normais" do capitalismo: demorou...

Ufa! Finalmente o Brasil chega aos juros que, historicamente, sempre foram os do capitalismo industrial, na média: 3,5% ao ano. Demorou um bocado e resta saber se é sustentável (a palavra da moda, mas com outro sentido).
Agora são os países capitalistas "normais" que não exibem juros normais, ou seja, de mercado. Estão anormalmente baixos, o que é uma punição ao poupador e um prêmio (indevido) ao devedor, ainda que sirva ao investidor.
Parabéns ao Banco Central, e a Alexandre Tombini em particular, por este desempenho, mas muitos acreditam, a começar por certos comentaristas internacionais que isso foi alcançado mais por razões políticas do que por real condição econômica.
Em todo caso, cabe esperar que se mantenham nesse nível.
O trabalho a ser feito, agora, está com o resto do governo, especialmente na área fiscal e de ambiente macro e microeconômico para o crescimento.
Paulo Roberto de Almeida 


SELIC

Brasil não tem mais os maiores juros do mundo

Com a nova redução da Selic o Brasil deixa de ter a maior taxa de juros reais do mundo

Opinião e Notícia, 19/04/2012
Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira, 18, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 0,75 ponto percentual, confirmando a tendência de baixa que vem sendo adotada no governo Dilma Rousseff.
Com a Selic agora a 9% ao ano, os juros no Brasil estão no seu menor patamar desde março de 2010, quando eram de 8,75%. É também a menor taxa do governo Dilma.

Rússia agora tem os maiores juros

Segundo o analista internacional Jason Vieira, da Apregoa.com – Cruzeiro do Sul, e o analista de mercado Thiago Davino, da Weisul Agrícola, com a nova redução da Selic o Brasil deixa de ter a maior taxa de juros reais do mundo.
Os cálculos dos analistas apontam que, com a Selic a 9% ao ano, os juros reais do Brasil — descontando a inflação projetada para os próximos 12 meses — são hoje de 3,4%. O primeiro posto, segundo eles, agora é da Rússia, que tem juros reais de 4,2%.

domingo, 25 de março de 2012

Rei Midas ao contrario: dinheiro transformado em...

Tudo o que o governo se dispõe a fazer, em suposto benefício da população, acaba resultando em maiores problemas para a própria população. A começar por essa coisa maluca que se chama crédito consignado.
Em países normais, onde existem mercados de créditos regidos por regras de mercado, poupadores e tomadores participam de um sistema aberto, onde os juros são normalmente os de mercado (salvo quando o governo, novamente, mete sua mão torta, por exemplo, pretendendo oferecer casas baratas aos de renda baixa, e acaba criando uma bolha imobiliária).
Num país como o Brasil, o juro, que se acredita "baixo", é de quase 30% ao ano, o que já espantaria qualquer pessoa vivendo em um país normal.
É evidente, por outro lado, que onde houver uma facilidade qualquer sendo oferecida, espertos vão sempre procurar distorcer as regras para seus negócios escusos, resultando em coisas como as que se vêem abaixo.
Paulo Roberto de Almeida 
Burla nas operações de crédito consignado

O Estado de S.Paulo, 25 de março de 2012
Uma terça parte das reclamações recebidas pelo Banco Central (73 mil, em 2011, feitas por 46 mil correntistas de bancos) está relacionada com o crédito consignado. E 90% das queixas dizem respeito a um só item: as dificuldades com a emissão, pelo banco credor, do boleto necessário para a quitação antecipada.
O crédito consignado é a principal modalidade de empréstimo das pessoas físicas, com custo módico (27,5% ao ano, em média, ante 70,2% ao ano das outras operações de crédito pessoal) e acessível a trabalhadores formais, na ativa ou aposentados. O volume de consignados atingiu R$ 160 bilhões, em janeiro, 8% do total das operações de crédito e 58% das operações de crédito pessoal.
O crédito consignado foi disciplinado várias vezes desde sua criação, em 2003. Há um teto máximo de 30% ao ano para os juros, para o comprometimento da renda (30%) e para os prazos (60 meses). Mas ainda são frequentes os casos de golpes.
O problema mais recente ocorre quando o tomador quer migrar o empréstimo para outro banco, por causa de condições melhores ou pela ação de intermediários. Reportagem do Estado, na semana passada, relata que isso ocorre mais nos bancos pequenos e médios, que empregam intermediários - os "pastinhas" - para conquistar clientes. As comissões dependem do número de operações. Se um cliente do banco A transfere a operação para o banco B, o "pastinha" ganha duas comissões. Como o cliente já pagou algumas prestações, ao migrar o contrato para outro banco, quitará a dívida, contratará um novo crédito e ainda receberá algum dinheiro.
Para não perder o cliente, alguns bancos têm atrasado a entrega do boleto pedido pelo devedor e a migração não ocorre ou demora meses. O "pastinha", então, faz as vezes de "defensor" do cliente. O Banco Central constatou que "pastinhas" fizeram reclamações sem autorização do cliente.
O presidente da Associação Brasileira de Bancos Comerciais, Renato Oliva, enfatiza a falta de ética de alguns "pastinhas" e nota que alguns bancos têm descredenciado o representante. Mas alerta: "Esse promotor pode ser associado a mais de um banco e, por isso, segue fazendo suas transações no mercado".
Regular a atividade dos "pastinhas" não é o melhor caminho. Na verdade, alguns bancos parecem depender demais deles, enquanto os clientes parecem ignorar que, com o holerite da empresa ou do INSS, têm acesso fácil ao consignado.
Ainda mais importante é que os bancos não infrinjam a lei, para impedir os clientes de migrar a operação.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Juros no Brasil (sem querer estragar o seu dia...)

Desculpe, mas a única coisa que faço é postar estas informações do Jornal Nacional (10/10/2011)

 BRASIL: AS INACREDITÁVEIS TAXAS DE JUROS PARA OS CIDADÃOS!
            
Empréstimo Pessoa Física: 6,69% ao mês ou 117,51% ao ano \ Cheque Especial: 8,23% ao mês ou 158,33% ao ano \ Cartão de Crédito: 10,69% ao mês ou 238,30% ao ano.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Caro consumidor: pense tres vezes antes de comprar a prazo...

Caro leitor-consumidor,
Quando você vai a uma loja de departamentos, na verdade qualquer grande superfície de compras -- e provavelmente em qualquer boteco da esquina também -- e a gentil vendedora lhe diz que aquele bem, aquele produto (geralmente durável ou semi-durável) custa x reais, mas que é "seis vezes sem juros" (não raro DEZ vezes sem juros), a palavra mágica, caro contribuinte explorado, é o "sem juros".
Você então diz, possivelmente, que preferia pagar à vista, para ver se consegue um preço melhor.
Ela então lhe diz que é o mesmo preço, e que você "pode pagar em x vezes SEM JUROS".
Você então se conforma e aceita, e ainda acha, talvez, que está fazendo um grande negócio, pois pagará em suaves prestações mensais, um valor alto que talvez não coubesse no seu orçamento mensal. Compra, assina, e vai embora.
SEIS VEZES SEM JUROS...
Você acha que isso existe, caro leitor?
O vendedor está lhe chamando (sem querer, claro) de idiota consumado.
NÃO EXISTE essa coisa de "x vezes sem juros".
O preço que você está pagando já embute um juro altíssimo sobre o custo do capital, ou do financiamento.
O que menos importa, na verdade, em sua compra, é o produto. Pode ser qualquer coisa, pode ser até coisa alguma. O que você paga, na verdade, é o financiamento.
Você acaba de adquirir um financiamento altíssimo, em seis ou dez vezes, que vai fazer com que você forneça um lucro extraordinário ao sistema financeiro, que vive disso.
Aliás, as lojas de departamento vivem disso e poderiam alegremente vender qualquer coisa, desde que seja financiada.
O governo também pensa que somos todos idiotas, e talvez acerte. Assim como NENHUM PRODUTO -- salvo certas faturas de serviços -- contém o valor dos impostos discriminado, nada do que compramos nas lojas possuem os preços "saído das fábricas" acrescidos do custo dos juros.
Se fosse assim, muitos consumidores cairiam para trás, pois os juros do financiamento correspondem a um valor maior do que o custo do produto.
Caro leitor, você está pagando DOIS TELEVISORES, mas levando só um para casa..
Pense nisso, e veja o que recolhi hoje num desses boletins financeiros, abaixo:

OPERAÇÕES COM RECURSOS LIVRES - CRÉDITO REFERENCIAL PARA TAXA DE JUROS. Nas modalidades destinadas a pessoas físicas, destaca-se o arrefecimento dos financiamentos para aquisição de veículos, cujo saldo, R$158,1 bilhões, acumulou crescimento semestral de 12,6% até junho, comparativamente a expansões de 18,2% e de 26,2% no primeiro e no segundo semestres de 2010. Nessa modalidade, a média diária das concessões no primeiro semestre de 2011 foi 24,8% inferior à observada no semestre antecedente. Entre as modalidades destinadas às empresas, sobressaíram os empréstimos de capital de giro, com crescimento de 6,2% em seis meses, alcançando R$282,7 bilhões. Nas modalidades com recursos externos, as operações de adiantamentos sobre contratos de câmbio (ACC), após crescimento expressivo desde o início do ano, apresentaram redução de 2,2% no mês, ao atingirem R$36 bilhões. A taxa média de juros referente ao crédito referencial situou-se em 39,5% a.a. em junho, com decréscimo de 0,5 p.p. no mês e alta de 4,9 p.p. relativamente a junho de 2010.

Já viu isso caro leitor?
As financiadoras obtém um capital a 5 ou 6% no exterior e o colocam aqui a 40%, gerando um lucro extrardinário, qualquer que seja o nível de impostos do governo.
Você está pagando isso caro leitor-consumidor...
E não adianta chorar: você não conseguirá escapar do "seis vezes sem juros" da próxima vez que for às compras...

O Brasil, definitivamente, não é um país normal.
Somos o protótipo da teoria da jabuticaba.

Paulo Roberto de Almeida

PS.: Desculpe estragar o seu dia, caro leitor...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Juros no Brasil - Ilan Goldfajn (um debate relevante)

A longa travessia para a normalidade: juros reais no Brasil
Ilan Goldfajn
Valor Econômico, 27/06/2011, pág. A14

Quanto mais os indivíduos preferem o consumo à poupança no presente, maior é taxa de equilíbrio.

São Paulo - Parece uma eternidade. Mas foi há menos de uma década. O circo estava pegando fogo e eu me sentei para escrever um texto1. Não era algo natural. A crise de 2002 estava instalada e, na diretoria do Banco Central (BC), nos ocupávamos do intenso dia a dia. O Brasil estava no meio do furacão e a comunidade internacional duvidava que a dívida pública brasileira seria paga. O texto argumentava que não havia razões econômicas para essa dúvida e que a trajetória da dívida futura era declinante (tinha projeções até o distante 2011!). Deve ter sido um dos textos mais contestados da minha carreira. O final, como sabemos, foi feliz. O Brasil teve uma década de sucesso e a dívida declinou de 63%, na época, para em torno de 40% do Produto Interno Bruto (PIB), hoje.
Mas nessa viagem ao passado, um fenômeno salta aos olhos. Na época, projetávamos manutenção dos superávits fiscais primários, crescimento razoável, câmbio mais apreciado (no auge da crise chegou a cerca de US$ 4 reais) e juros menores. Tudo mais ou menos em linha com o ocorrido. Mas os juros reais no Brasil permanecem acima do padrão internacional, mesmo de países de similar desenvolvimento.
Não quer dizer que os juros tenham permanecido nos mesmos patamares do passado. De fato, a economia brasileira tem experimentado uma tendência de queda dos juros reais nos últimos anos, principalmente após a adoção do regime de metas de inflação em 1999. As taxas de juros reais básicas no Brasil recuaram de 11,4% ao ano, em média, no período entre janeiro de 2000 e junho de 2004, para 9,7% entre julho de 2004 e dezembro de 2008, e para próximo de 7% mais recentemente. Mas esta ainda é uma taxa muita alta para uma economia estável e próspera como o Brasil nos últimos anos.
Como mostrado por Bacha2, há evidências empíricas de redução do juro real no Brasil em relação ao resto do mundo, e a diferença entre essas duas taxas diminuiu com a adoção do regime de metas de inflação. No entanto, controlando para os ciclos econômicos no Brasil e no resto do mundo, e para a inércia do ajustamento, a diferença entre as duas taxas permanece elevada.
"Redução do diferencial de juros exige ajuste fiscal que controle o crescimento dos gastos do governo"
Não considero que o alto nível da taxa de juros no Brasil seja um fenômeno permanente. Na sua travessia, o Brasil precisa gerar as condições para passar a ter uma taxa de juros baixa. É uma tarefa difícil, mas não intransponível. Há vários casos bem-sucedidos de redução de juros em países emergentes. A Turquia, no começo de 2003, amargava juros reais (acima da inflação) de 25% ao ano, e depois conseguiu que suas taxas convergissem para níveis de um dígito. A Polônia derrubou sua taxa de juros reais de 9% ao ano para 3%, a partir de 2001. Na América Latina, ocorreu o mesmo. No Chile, as taxas caíram de 8% para 3%, assim como houve quedas significativas no Peru.
A pergunta no Brasil é por que a transição para um patamar de juros reais tem sido tão lenta?
Tenho preferência pelas explicações fundamentais. Entendo a taxa de juro real de equilíbrio (ou neutro) como aquela que permite ao Brasil crescer no seu potencial, sem gerar pressões inflacionárias. Essa taxa depende das condições econômicas como a estabilidade, o risco percebido, a produtividade, a política fiscal (crescimento de gastos), assim como das distorções ainda existentes da economia brasileira. Depende também de quanto os brasileiros estão dispostos a poupar, em vez de consumir hoje. Quanto mais os indivíduos preferem o consumo no presente, maior é taxa de juro real de equilíbrio.
A alternativa de os juros altos serem resultado de equívocos de política monetária (mais altos que o necessário) não é compatível com os dados, pois teriam de ter durado por décadas e levariam a forças deflacionárias, com inflação sistematicamente abaixo das metas, o que não tem sido o caso.
O entendimento de por que os juros ainda são tão altos passa pela compreensão cuidadosa de seus determinantes. Na busca pelos determinantes é interessante distingui-los pela sua relevância temporal na taxa de juros de equilíbrio. Alguns podem impactar a taxa de equilíbrio apenas no curto prazo, enquanto outros mudam sua trajetória de longo prazo.
O juro real neutro de longo prazo depende dos fundamentos da economia, de fatores estruturais, alguns mencionados acima, como a produtividade, preferências intertemporais, prêmio de risco soberano, dívida pública, prêmio de risco de inflação, questões institucionais, etc. São fatores diretamente associados ao comportamento da poupança no longo prazo.
"O melhor a fazer é conduzir a política monetária de forma pragmática e avaliar continuamente o seu impacto"
O juro real de equilíbrio de curto prazo depende do juro real de longo prazo e de elementos conjunturais. Mudanças temporárias no ritmo de crescimento da economia global, assim como acelerações cíclicas no gasto do governo ou alterações na taxa de câmbio real afetam o juro real de equilíbrio no curto prazo.
Introduzo aqui já a minha preferência pela explicação da insuficiência de poupança doméstica, como já introduzido por André Lara Resende3 neste espaço, como explicação para a manutenção dos juros altos nessa transição para a normalidade. Os juros servem para inibir o consumo privado e estimular a poupança, na ausência de poupança pública suficiente para financiar os necessários investimentos.
Estimativas de um estudo recente com Aurelio Bicalho4 identificam que a redução do diferencial de juros em relação a outras economias exige um ajuste fiscal que controle o crescimento dos gastos do governo.
Os resultados também revelam que o prêmio de risco-país, a dívida pública em proporção do PIB e o crédito em proporção do PIB, todos com defasagens, afetam o nível da taxa de juro real e explicam a trajetória de queda observada nos últimos anos. Mostram também que a taxa de juros real de equilíbrio de longo prazo tem se reduzido nos últimos anos, mas o nível estimado continua bastante elevado quando comparado a outras economias emergentes.
O impacto do prêmio de risco e da dívida pública na taxa de juro real é coerente com outros resultados encontrados na literatura. As estimativas mostram também que o aumento do crédito em proporção do PIB contribui, com longas defasagens, para a redução do juro real de equilíbrio de longo prazo. Essa relação pode ser reflexo do impacto de avanços na estrutura institucional do mercado financeiro, que estaria sendo captada pela variável crédito. Uma melhora na estrutura dos mercados poderia, por exemplo, ampliar as opções de ativos em termos de retorno, risco e liquidez disponíveis para os poupadores. Isso funcionaria como um estímulo à poupança, o que diminuiria a taxa de juro real de equilíbrio. O aumento do crédito na economia pode estar relacionado a esse avanço nas estruturas dos mercados, com o desenvolvimento de novos produtos, o que tenderia a reduzir a taxa de juros. Mas para que o crédito contribua para a redução da taxa de juro real de equilíbrio de longo prazo, é necessário que sua expansão seja determinada por fatores estruturais, como a redução da assimetria de informação, avanço institucional que acelere a recuperação do colateral e desenvolvimento de novas estruturas financeiras (caso contrário, o efeito no curto prazo pode ser o inverso).
Mas há outras explicações na literatura para a taxa de juros elevada. Uma delas é a existência de incerteza jurisdicional e ausência de conversibilidade da moeda desenvolvida por Persio Arida, Edmar Bacha e Andre Lara Resende5. A incerteza jurisdicional afeta a poupança e evita o desenvolvimento de um mercado de crédito de longo prazo. A ausência da conversibilidade da moeda pressiona as taxas de juros de curto prazo, pois os poupadores exigem uma taxa maior para alocar seus recursos no mercado de dívida local. Esses fatores institucionais afetam a curva de poupança doméstica e o fluxo de capitais, influenciando a taxa de juro real de equilíbrio.
Considerando dados de diversos países, os estudos mostram que o efeito da dolarização (ou a falta de conversibilidade da moeda) é significativo6, embora pequeno, em explicar o nível mais alto da taxa de juro real no Brasil. Os resultados também evidenciam a importância do risco de crédito soberano em explicar o nível da taxa de juro real. Países de classificação de risco grau de investimento possuem taxas de juros reais de cerca de 2 pontos percentuais mais baixas do que países com classificação de risco pior. No longo prazo, essa diferença pode chegar a 4 pontos percentuais.
A trajetória recente dos juros parece confirmar os resultados do estudo com Aurelio Bicalho. Esse identifica que a recente crise internacional reduziu temporariamente a taxa de juro de equilíbrio de curto prazo, mas o mesmo não parece ter ocorrido com a taxa de equilíbrio de longo prazo. A queda da atividade econômica global reduziu o crescimento do país, permitindo que a taxa de juro real ficasse abaixo da taxa neutra de longo prazo para equilibrar a economia através dos estímulos ao consumo e ao investimento. Notamos, também, que a incerteza sobre o nível do juro real de equilíbrio de curto prazo aumentou substancialmente durante a crise internacional. Essa incerteza refletiu, em grande medida, a intensidade do impacto do crescimento mundial na economia doméstica, além da intensidade dos impactos das medidas anticíclicas adotadas durante a crise.
O impacto da crise no juro de equilíbrio de curto prazo teve consequências na condução da política econômica naquele momento. No auge da crise, o Banco Central reduziu a taxa de juros para estimular o crescimento. Ao mesmo tempo, o governo adotou uma política fiscal expansionista via aumento de gastos e redução de impostos. Além disso, utilizou o canal de crédito como instrumento para incentivar a atividade econômica. A partir do momento em que essas medidas começaram a atuar na economia e o mundo voltou a crescer, a taxa de juro real de equilíbrio de curto prazo inverteu a sua trajetória de queda e passou a subir em direção à taxa neutra de longo prazo.
No início de 2010, as estimativas mostravam que a taxa de equilíbrio de curto prazo estava próxima da neutra de longo prazo. Logo, os estímulos monetários e fiscais deveriam ser retirados, pois o risco era um aquecimento exagerado da atividade econômica, com elevação das pressões inflacionárias. No final de 2010 e início de 2011, esses estímulos começaram a ser retirados.
A dinâmica da taxa de juros real de equilíbrio é de suma relevância para a condução da política monetária. É através dos desvios entre a taxa de juros efetiva, que é afetada pelas decisões do Banco Central, e a taxa de juro de equilíbrio de longo prazo que a autoridade monetária estimula ou contrai a demanda agregada com o intuito de alcançar seu objetivo final, que é o de manter a inflação na meta.
É importante reconhecer que há um alto grau de incerteza nas estimativas das taxas de juros de equilíbrio. As evidências internacionais mostram que é bastante incerta a estimativa da taxa de juro real de equilíbrio em diferentes países, mesmo para aqueles com taxas muito inferiores e com menor volatilidade do que a taxa do Brasil. De fato, os intervalos das estimativas para a taxa de juro real de equilíbrio em diversos países revelam o grau de incerteza que cerca essas variáveis. É comum um intervalo de 1 ponto nessas estimativas, mesmo para economias com níveis baixos de taxas de juros. No Brasil, onde a taxa de juros tem tido uma tendência de queda, como evidenciam os dados e as nossas estimativas, e o nível da taxa ainda é bastante elevado, quando comparado aos padrões internacionais, é provável que o grau de incerteza seja ainda mais alto.
Dadas as elevadas incertezas associadas às medidas das taxas de equilíbrio, acreditamos que o melhor que a autoridade monetária possa fazer é conduzir a política monetária de forma pragmática, avaliando continuamente o impacto de suas ações sobre a economia. Deste modo, a política monetária deve continuar baseando-se nos sinais advindos da inflação, da atividade e de outras variáveis macroeconômicas, permitindo que mudanças estruturais sejam percebidas sem mais demoras.
As evidências acima sugerem que a opção da sociedade por gastos públicos crescentes (vários destes legítimos) tem contribuído para retardar o processo de convergência da taxa de juro real de equilíbrio para níveis internacionais tanto no curto prazo quanto no longo prazo. A redução do crescimento dos gastos correntes, tudo o mais constante, aumentaria a poupança da economia e reduziria o juro real de equilíbrio. Uma queda consistente dos juros possibilitaria um conjunto de desenvolvimentos que não são viabilizados com juros altos, como o alongamento dos horizontes dos poupadores e dos investidores, fundamental ao financiamento do investimento no Brasil.
A estabilidade macroeconômica e a credibilidade da autoridade monetária têm exercido papel fundamental na redução dos prêmios de risco, permitindo a queda da taxa de juros real de equilíbrio de longo prazo. Aliado a isso, uma política fiscal voltada para a redução dos gastos públicos contribuiria para acelerar esse processo e fazer com que no futuro o Brasil tenha taxas de juros reais mais próximas dos padrões internacionais.

Notas:
1 Goldfajn, I. Há razões para duvidar de que a dívida publica é sustentável? Nota Técnica do Banco Central do Brasil número 25, Julho 2002.
2 Bacha, E. Além da Tríade: Como Reduzir os Juros? Novos Dilemas da Política Econômica - Ensaios em Homenagem a Dionísio Dias Carneiro, Eds: Bacha, E. e De Bolle, M., LTC, 335p, 2011
3 Lara Resende, A. Juros: Equívoco ou jabuticaba, Valor 16/06
4 Goldfajn, I. e Bicalho, A. A Longa Travessia para a Normalidade: Os Juros Reais no Brasil. Novos Dilemas da Política Econômica - Ensaios em Homenagem a Dionísio Dias Carneiro, Eds: Bacha, E. e De Bolle, M., LTC, 335p, 2011
5 Arida, P., Bacha, E., e Lara-Resende, A. Credit, Interest, and Jurisdictional Uncertainty: Conjectures on the Case of Brazil. IEPE/CdG, 1-25, 2004.
6 Bacha, E., Holland, M. e Gonçalves, F. A Panel-Data Analysis of Interest Rates and Dollarization in Brazil. Revista Brasileira de Economia. 63, n.4, 341-360, 2009
Agradeço a Aurelio Bicalho pela contribuição a este artigo.

Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco e sócio do Itaú BBA.

Este é o nono de uma série de artigos sobre a conjuntura econômica atual, com foco maior nos problemas de câmbio, juros e inflação, feitos por renomados economistas a pedido do 'Valor'. Amanhã publicaremos o artigo de Márcio Holland.