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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Brasil chega aos juros "normais" do capitalismo: demorou...

Ufa! Finalmente o Brasil chega aos juros que, historicamente, sempre foram os do capitalismo industrial, na média: 3,5% ao ano. Demorou um bocado e resta saber se é sustentável (a palavra da moda, mas com outro sentido).
Agora são os países capitalistas "normais" que não exibem juros normais, ou seja, de mercado. Estão anormalmente baixos, o que é uma punição ao poupador e um prêmio (indevido) ao devedor, ainda que sirva ao investidor.
Parabéns ao Banco Central, e a Alexandre Tombini em particular, por este desempenho, mas muitos acreditam, a começar por certos comentaristas internacionais que isso foi alcançado mais por razões políticas do que por real condição econômica.
Em todo caso, cabe esperar que se mantenham nesse nível.
O trabalho a ser feito, agora, está com o resto do governo, especialmente na área fiscal e de ambiente macro e microeconômico para o crescimento.
Paulo Roberto de Almeida 


SELIC

Brasil não tem mais os maiores juros do mundo

Com a nova redução da Selic o Brasil deixa de ter a maior taxa de juros reais do mundo

Opinião e Notícia, 19/04/2012
Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira, 18, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 0,75 ponto percentual, confirmando a tendência de baixa que vem sendo adotada no governo Dilma Rousseff.
Com a Selic agora a 9% ao ano, os juros no Brasil estão no seu menor patamar desde março de 2010, quando eram de 8,75%. É também a menor taxa do governo Dilma.

Rússia agora tem os maiores juros

Segundo o analista internacional Jason Vieira, da Apregoa.com – Cruzeiro do Sul, e o analista de mercado Thiago Davino, da Weisul Agrícola, com a nova redução da Selic o Brasil deixa de ter a maior taxa de juros reais do mundo.
Os cálculos dos analistas apontam que, com a Selic a 9% ao ano, os juros reais do Brasil — descontando a inflação projetada para os próximos 12 meses — são hoje de 3,4%. O primeiro posto, segundo eles, agora é da Rússia, que tem juros reais de 4,2%.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mesmo assim a taxa de juros continua muito alta. Cansei de ver pessoas enforcadas em dívidas. No Brasil não dá pra financiar nada. Por outro lado a poupança paga uma mixaria que só corrige a inflação.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anônimo,
Você deve se referir aos juros comerciais do mercado de crédito ao consumidor, que não são apenas os mais altos do mundo, mas da galáxia e talvez de todo o universo.
Esse sistema perverso se explica pela cartelização e fechamento do mercado, e também por práticas não coibidas pelo governo de propaganda enganosa contra os incautos, que acham que 10 vezes sem juros é isso mesmo, quando os ingenuos estão pagando 100% de juros, ou seja, comprando dois televisores e só levando um para casa.
Um sistema como esse é um crime não coibido pelo governo, pois faz com que toda a população entre boa parte de sua renda para o sistema financeiro.
Paulo Roberto de Almeida

amauri disse...

Bom dia Paulo!
O BACEN já descartou o sistema de metas de inflação. A cada dia fica mais óbvio que tal sistema inexiste no país.


Ainda nesta semana, o BACEN atuou fortemente no mercado cambial. A atuação do BACEN deixou evidente seu propósito: desvalorizar o real. Isto é, o BACEN também está tentando bicar para escanteio a taxa de câmbio flutuante. Isto é, dos três pilares macroeconômicos que sustentaram a economia brasileira nos últimos 10 anos (taxa de câmbio flutuante, sistema de metas de inflação, e responsabilidade fiscal), o BACEN está prestes a destruir dois deles.

Do lado fiscal, o governo tem feito sua parte para desequilibrar ainda mais a situação das contas públicas. Em resumo: em menos de 1 ano e meio o governo Dilma já descartou a fórmula que garantiu a precária estabilidade brasileira nos últimos anos.

A taxa Selic alta atrai investidores, diminuindo este fluxo, como o governo vai financiar o pagamento (só de juros 250 bi $) da divida publica? Ou empréstimo ou inflacionando, aumento a quantia de dinheiro sem lastro. Está difícil!
abs

Anônimo disse...

"Pecunia non olet!"
*Vespasiano

Porque não me ufano:

-Depois que os Imperadores Romanos se converterão ao Cristianismo, o empréstimo com o juro foi regulado em diferentes épocas pelo Governo; mas nem por isso deixaram de praticar a usura;

-Nas Ordenções Filipinas (Liv.IV, Tit. LXVII "Dos contratos usurários")a prática da usura era condenada; mas nem por isso os mercadores(banqueiros!) deixavam de cobrar juro;

-Em 2003 o Congresso aprovou a Emenda Constitucional nº 40 (DOU de 30/5/2003), que, entre outros dispositivos ; alterou a redação do art.192 da Constituição Federal; revogando seu parágrafo 3º (não obstante tratar-se de "letra morta"!), in verbis:"As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, NÃO PODERÃO SER SUPERIORES A DOZE POR CENTO AO ANO(!); A COBRANÇA ACIMA DESTE LIMITE SERÁ COCEITUADA COMO CRIME DE USURA (!), punido, em todas suas modalidades, nos termos que a lei determinar."

A história que segue talvez ilustre bem a diferença entre o juro pago pelos bancos para remunerar a poupança e o cobrado em empréstimos contraidos pelos clientes:"(...) Mais maliciosa esta outra onzena(usura, juro exorbitante), que vi exercitar na Ilha da Madeira. Embarcaram-se , ali, muitos passgeiros para o Brasil e os que não têm cabedal, para se aviarem de matolagem(mantimentos) e outros aprestos , pedem aos mercadpres dinheiro emprestado a corresponder com açucar. Respondeu um:'Vendo panos, não empresto o dinheiro com que trato; se Vossa Mercê quer pano fiado, dá-lho-ei; buscará quem lho compre e fará seu negócio com o dinheiro de que necessita'.'Seja como Vossa Mêrce quiser: ouro é o que ouro vale.' E por ser fiado, talhou-lhe o preço por cima das gâveas. E feita à compra de que havia de fazer cinquenta mil réis revendendo-a, ajuntou o mercador:'Para que Vossa Mercê se não canse com ir mais longe eu lhe comprarei esse pano pelo preço que costumo em Londres, e contar-lhe-ei logo o dinheiro, que é outro benefício estimável.' E abatteu-lhe em cada côvado, mais do que lhe tinha levantado na venda; e pagou-se logo do câmbio que havia de vencer naquele ano o seu empréstimo, e assegurou o capital com boa fiança. E ficaram custando ao passageiro os cinquenta mil réis mais de cento, e o mercador interessado na corresponência e revenda do açúcar com que, no Brasil, lhe pagou mais de duzentos. E a isto chamo eu malícia refinada, mais que açúcar em ponto."
*Anônimo; in:"A ARTE DE FURTAR" (ca. 1744); cap.XXVI "Dos que furtam com unhas maliciosas."

Vale!