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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A rigidez do gasto publico - Mansueto Almeida

A Rigidez do Gasto Público: Problemas e Soluções

Mansueto Almeida
Revista Interesse Nacional, ano 8, n. 31, outubro-dezembro 2015

De 1991 a 2014, a despesa primária do governo central cresceu 9 pontos de percentagem do PIB, um crescimento da despesa da ordem de R$ 512 bilhões, dos quais 78,7% decorrente da expansão de programas de transferência de renda: Benefício Mensal de Prestação Continuada, seguro-desemprego e abono salarial, Bolsa Família, INSS e aposentadorias de servidores públicos. Essa tendência do crescimento da despesa do governo central foi agravada, nos últimos três anos, com a criação de novos programas, em especial, subsídios setoriais, subsídios para o Minha Casa Minha Vida e desoneração da folha de salários.
Há hoje na economia brasileira dois grandes problemas. No curto prazo, a despesa do governo central continua crescendo acima da sua receita, o que significa que o resultado continua deficitário. A meta de 2% do PIB de superávit primário até 2018 exigirá que o setor público arrecade R$ 200 bilhões a mais do que arrecadou em 2014.
No longo prazo, regras para previdência (INSS), educação e saúde sinalizam um crescimento da despesa de pelo menos seis pontos do PIB até 2030. Controlar o crescimento da despesa pública significa modificar as regras que determinam a dinâmica da despesa. Não há alternativa que não seja uma profunda reforma nas vinculações e regras de crescimento do gasto público para que um maior crescimento da economia não se transforme, automaticamente, no crescimento mais rápido da despesa.
Este texto aborda a questão da rigidez do gasto público, destacando possíveis mecanismos de desvinculação da despesa à receita e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Sem alterações das regras atuais que indexam a despesa pública ao crescimento da receita e ao crescimento do PIB, corre-se o risco da necessidade de um aumento da carga tributária de pelo menos oito pontos de percentagem do PIB até 2030, sem que isso signifique aumento da poupança e do investimento do setor público.
As transferências De renda do governo central
O debate fiscal, algumas vezes, se destaca pela busca de uma saída fácil. Algumas pessoas acreditam que um gestor eficiente poderia, com ações voluntárias, reduzir desperdícios e fazer um ajuste fiscal sem a necessidade de aumentar carga tributária ou rever regras que determinam o crescimento de despesas obrigatórias.

(...)
 Leia a íntegra neste link: http://interessenacional.uol.com.br/index.php/edicoes-revista/a-rigidez-do-gasto-publico-problemase-solucoes-2/

domingo, 6 de setembro de 2015

Debate fiscal: Samuel Pessoa, Mansueto Almeida, Marcos Coimbra (OESP)


‘MEU MEDO NÃO É O BRASIL VIRAR GRÉCIA, É VIRAR UMA GRANDE ARGENTINA
Em debate no ‘Estado’, economistas discutem explosão da dívida e dos gastos
Alexa Salomão e Ricardo Grinbaum
O Estado de S.Paulo, 29 Agosto 2015 | 15h 13

Os pesquisadores Marcos Lisboa, Mansueto Almeida e Samuel Pessôa produziram um estudo que virou referência no debate econômico: mostram que o gasto público, desde 1991, cresce num ritmo maior que o da renda nacional. Para eles, é preciso um ajuste estrutural capaz de deter a explosão das despesas e da dívida. Mantida a tendência, os gastos serão R$ 300 bilhões maiores em 2030, puxados por “benefícios sociais”. A dívida bruta, que equivalia a 59% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, pode ir a 72% do PIB em 2018, transformando o Brasil numa espécie de nova Grécia. Na sequência, trechos da entrevista à TV Estado.

Vocês atribuem os gastos com educação, saúde e previdência como os maiores responsáveis pelos aumentos dos gastos públicos. Eles totalizariam um aumento de 6% do PIB até 2030. Acabou o sonho do bem-estar nacional? Como que se resolve isso? 
Samuel Pessôa Eu acho que não porque muito dos benefícios do nosso Estado do bem-estar social, são ineficientes. Custam muito em geral e dão pouco retorno para a população. O que eu acho que acabou é o sonho desse gasto desenfreado, sem medir resultado, sem critério. Isso acabou.
Marcos Lisboa Tem uma agenda que o Brasil precisa enfrentar. Não estou falando de aposentadoria de idosos - este é um ponto importante a ressaltar. A idade média de aposentadoria de uma mulher por tempo de contribuição no Brasil hoje é 52 anos. A de um homem, 54 anos. Isso destoa de qualquer país desenvolvido. Países admirados, como os nórdicos europeus, que construíram um Estado de bem-estar social, que realmente protegem às suas sociedades, não têm esse tipo de prática. Não é viável numa sociedade em que se vive cada vez mais. Todos os países que não fizeram esse ajuste estão tendo que fazer em meio a uma severa crise, como a Grécia. Países desenvolvidos fizeram isso há algum tempo. O Chile, nosso vizinho, fez isso há mais de 20 anos. E o Brasil se recusa a enfrentar o drama de que a aposentadoria, para ser preservada, para ser garantida, deve ser concedida a idosos, não a jovens de 52 anos. A segunda parte do problema é a falta de avaliação. Vamos comparar o Brasil com países semelhantes. A Coreia o Chile conseguem, com gastos equivalentes, em alguns casos menores, indicadores de educação incomparavelmente melhores. Por que o nosso gasto é tão ineficaz? 
Mansueto Almeida Eu complementaria falando que a discussão orçamentária no Brasil tem um pouco de anomalia. Quando se discute tudo isso fora do orçamento, em áreas separadas, educação, saúde, tudo é prioridade. Quando você junta tudo, não cabe no PIB (Produto Interno Bruto). Um bom exemplo é o da educação. O Brasil gasta com educação hoje 6% do PIB. Tem uma meta, pelo Plano Nacional de Educação, desse gasto crescer, até 2024, para 10% do PIB. Isso é uma loucura. A gente perde a percepção que essa vinculação do gasto torna quase impossível um ajuste fiscal sem aumento carga tributária. Nos Estados e municípios, gasto com saúde é vinculado à receita. Você tem ideia do que é isso? De 2004 a 2014, a receita real de Estados e municípios cresceu mais ou menos 70% - isso implica que o gasto com saúde e educação cresceu na mesma proporção. 
Só para entender: é para não vincular ou para vincular diferente?
Lisboa Deixa eu polemizar um pouco com o Mansur. Eu acho que pode ser razoável que um País como o Brasil gaste 10% do PIB com educação, desde que esse gasto seja eficaz, produtivo. Seria fantástico que o Brasil superasse o seu atraso educacional. O que falta é a avaliação integrada do orçamento público. Colocar todos os gastos na mesma cesta e entender. Será que não tem outros gastos que a gente pode cortar. Qual é a prioridade do Estado brasileiro? Para isso eu preciso saber onde mais estamos gastando. Qual é a avaliação de impacto? 
Pessôa Entendo o ponto do Marcos. Faz todo o sentido a agenda de avaliação, de olhar o orçamento como um todo. Mas parece que vinculação, como exercício ou instrumento orçamentário, é um instrumento ruim. As demandas do país mudam ao longo do tempo. A gente está envelhecendo. Está reduzindo a quantidade de crianças. Acho que a origem das vinculações fez sentido. Os governadores, às vezes, cortavam algumas rubricas. Criavam oscilações muito grande nos gastos para a educação, para a saúde lá nos anos 80. Mas eu acho que a gente melhorou muito. As nossas instituições avançaram muito. A sofisticação do debate aumentou muito. Com a estabilização da economia, a transparência dos dados aumentou muito também. A gente tem total condição de reduzir brutalmente essa vinculação. 
O que deveria ser cortado para fazer o Estado caber no orçamento?
Mansueto O que cortar? Esse é o problema. Quando você olha o gasto do Estado, o que você pode cortar, a curto prazo, é muito pouco. No ano passado, no governo central - governo federal, Previdência e Banco Central -, o primário, sem incluir juros, foi de R$ 1,031 trilhão. Quando você tira o que é gasto obrigatório - benefício de prestação continuada para idosos, benefícios do Bolsa Família, aposentadorias e pensões, gastos com saúde e educação que são baseados em regras, quando você tira tudo isso - no ano passado foi, mais ou menos, sei lá: uns R$ 77 bilhões de investimento e uns R$ 60 bilhões de reis de custeio, quando tira todos os gastos sociais. Investimento o governo está cortando. A maior economia do governo este ano vai ser um corte de investimento. No ritmo que está, vai cortar uns R$ 30 bilhões de investimentos e levar o investimento ao nível que era em 2007. Em pouco mais de 8 meses, o investimento em relação ao PIB, vai voltar ao que era em 2007.
Pessôa Investimento do Estado brasileiro, do governo federal. 
Mansueto No caso de despesas de custeio, que a gente chama de custeio mesmo - gasolina, xerox - se fechar metade dos ministérios, economiza R$ 25 bilhões, R$ 30 bilhões. Todo resto são gastos baseados em regras. E essa questão da vinculação é importante. Na verdade, a gente desvinculou parte do orçamento sem uma discussão política, com mecanismos como a DRU, que é a desvinculação de receitas da União. Agora o governo está querendo aumentar o porcentual da desvinculação...
Pessoa ... para 30, né?
Mansueto A gente não quis fazer um debate aberto sobre a desvinculação e ficou criando subterfúgios. Ninguém discute que o gasto com saúde pública na Inglaterra é muito importante. É um modelo para o mundo todo. Gasto com saúde na Inglaterra não é vinculado. Não tem regra indicando que o orçamento do setor de saúde para o próximo ano tem que crescer tantos por cento. A desvinculação é um debate bom. Como o Samuel falou, hoje a gente tem instituições e dados para acompanhar, para mostrar o que é prioritário ou não. Todo mundo quer ajuste fiscal. Mas ajuste fiscal no Brasil se faz com corte de investimento. Você corta investimento num ano. No outro, não. Então, ajuste fiscal acaba sempre recaindo sobre aumento de carga tributária.
Lisboa Não tem saída. O ajuste fiscal vai ser feito. Pode ser feito de uma maneira democrática, transparente, com uma discussão sobre o que vamos manter, o que vamos empenhar, o que vamos cortar. Ou ele vai ser feito em meio a uma grave crise - que foi aliás o que o Brasil teve de fazer nos anos 80. 
Mas como é que mexe nisso? Mexer em previdência, desvincular saúde, desvincular educação, a esta altura do campeonato, vai ser uma grita. Desvincular significa poder reduzir os gastos...
Lisboa ...de algumas áreas. 
Pessôa Exatamente.
Lisboa É definir prioridades. Nós temos que rediscutir o Estado brasileiro. A gente fala muito de previdência, de saúde, educação. Mas tem concessão de benefícios para todo lado no Brasil. Todo mundo tem um pedaço do que a gente costuma chamar de “meia entrada”. Todo mundo tem. Está espalhado. Disseminado. A gente saiu concedendo benefícios de forma disseminada pela sociedade. Bom, acabou. Acabou o dinheiro. Se queremos crescer com qualidade, temos que resgatar uma agenda diferente. Uma agenda de tratar os iguais como iguais. Que não tem privilégios. Uma agenda que seja de fato para proteger os mais frágeis. Não proteger os mais ricos. 
A gente viu os protestos em 2013, que a maioria dos analistas atribuiu a maior desejo da população por mais serviços, mais gastos. Como é que se concilia politicamente essa pressão da população e esta necessidade de ajustar as contas?
Pessôa Esse é um problemão. Eu tive esta leitura daquelas manifestações. A sociedade tem uma miopia. A sociedade, as pessoas, evidentemente, querem uma saída fácil. 
Mansueto A miopia que você fala é mais qualidade com mais gastos?
Pessôa Acho que tem duas miopias. A miopia maior é a questão da meia entrada. A sociedade não percebe que este Estado grandão desfavorece ela mesma com um monte de ineficiências. Todos nós de alguma forma temos a nossa meia entrada, o nosso benefício, que a soma de tudo isso está cada vez mais disfuncional. A sociedade acha que não. Isto ficou claro lá na ruas. A sociedade acha que tem uma coisa chamada corrupção, tubarões não sei de onde, alguém, que é responsável pelos males, que está roubando, está se locupletando, e produz todos os males. E se eu conseguir eliminar todos os males dessa engrenagem, vai sobrar um monte de dinheiro no orçamento para gente ter metrô legal e um monte de coisas. A gente não pode ter metrô porque a gente tem aposentadoria aos 52 anos. Então, as pessoas, evidentemente, todo mundo, gostaria que existisse alguém, um ser fora da gente, quer sejam os políticos corruptos, que tivessem produzido todos os nossos males, e se eu eliminar essa cara, estão resolvidos todos os problemas.
Mansueto Eu escuto muito isso de profissionais liberais: se a corrupção se reduzisse, teria dinheiro para tudo. O que não é verdade. Isso me impressiona. O caso da Petrobrás é bom exemplo. Teve muita corrupção. Mas a estimativa da perda com a corrupção foi R$ 10 bilhões. A ineficiência com o congelamento dos combustíveis, com gasolina, foi uma perda de R$ 80 bilhões. 
Lisboa Sem contar as refinarias que foram construídas: caríssimas.
Mansueto Dinheiro jogado fora. Má gestão, intervenções micro, essas maluquices - tudo isso causou um prejuízo muito maior do que corrupção. Corrupção é um mal que todo mundo deve combater. Mas esse ponto do Samuel é importante. Até na universidade, às vezes, a gente vê colegas nossos, a procura de uma saída fácil. E muitas vezes - eu vou deixar para o Marco comentar - as pessoas falam: se o Brasil passar a crescer mais, resolvem-se todos os problemas. E não. O Marcos tem uma explicação para isso...
Lisboa. Não, não há uma explicação para isso (risos). Até porque é inexplicável. É saída fácil: “olha, eu tenho uma dieta ótima para a perda de peso: come doce, doce emagrece.” É a saída fácil. A saída que não tem custo. O inimigo é outro. Tem um inimigo lá fora. Parte do que o Samuel descreveu, o Mansueto descreveu, vem um pouco dessa obscuridade da concessão de benefícios. Todo mundo trata o seu benefício como justo: “Eu não quero pegar esta fila aqui.” “Não quero pagar universidade”. “Não quero pagar ônibus”. As pessoas acham razoável. Mas não tem ônibus de graça. Tem ônibus de Antônio pago por João. Alguém está pagando a conta.
E se taxar os mais ricos para pagar a conta dos benefícios sociais?
Lisboa As estimativas dos impostos sobre os mais ricos não fazem cócegas no tamanho do déficit. A gente tem sempre a ilusão de que alguém muito rico vai poder dar uma contribuição. Os ricos somos nós. Quem tem que fazer isso é o Brasil. A gente tem que sair um pouco da fantasia. A gente tem no Brasil o problema das distorções tributárias. Temos. Por exemplo: as famosas pejotinhas (profissionais que prestam serviços como pessoas jurídica) que faturam R$ 2 milhões, R$ 3 milhões de reais: quase não pagam impostos no Brasil. Em alguns casos, a renda de um proprietário nem é muito alta. Em alguns casos, os R$ 3 milhões, R$ 4 milhões são inteiramente renda de proprietário e a taxação é mínima. São distorções tributárias que nós temos. De novo: o Brasil tem essas distorções espalhadas e eu acho que a gente ganharia muito suprimindo esse tipo de coisa.
Pessôa Classe média é o porteiro do nosso prédio. O imposto sobre o rico é sobre nós.
Lisboa Samuel tem razão. A renda média brasileira é de US$ 12 mil por ano. Se pegasse toda a riqueza do Brasil - se o País fosse justíssimo - e todo mundo ganhasse igual, cada brasileiro teria US$ 1 mil dólares por mês para viver. 
Mas não temos taxação progressiva, temos isenção para distribuição de lucros e dividendos (parcela do lucro distribuída aos acionistas): essas coisas não precisam mudar?
Lisboa A Receita produziu um relatório sobre benefícios tributários de pessoas que não pagam pelas regras estabelecidas. É um número astronômico. O advogado que está no Simples não vai pagar 27,5% de imposto. Ele paga 4,5% de imposto. O corretor de seguros está no Simples. Serviço está no Simples. Tem um vazadouro de recursos nas exceções tributárias e nos benefícios tributários. “Olha, tem o IPI (Imposto sobre produto Industrializado), mas o IPI vale para Ricardo, mas não vale para Samuel”. “Tem o ICMS. É, mas depende: ICMS para quem? É para o Mansueto ou para o Marcos?” Proposta. Primeiro: isonomia. Tratar os iguais como iguais. Todo mundo é que parecido tem alíquota de imposto parecida. Quer fazer exceção? Separa, faz um protocolo de política pública, para garantir aquela exceção, que ela de fato é justificável, meritória, e se ela não tiver sucesso, ela se extingue. Terceiro: vamos ver os grupos sociais que são beneficiados pelas transferências do governo. Que grupo são meritórios? O que é razoável? 
Pessôa Mas na verdade o Estado perguntou se a gente não tem uma estrutura tributária muito pouco progressiva. Acho que a gente até tem. Acho que pode pensar em aumentar outras alíquotas de imposto de renda. Acho que a PJ pega todo mundo, na nossa classe social. A gente tem que repensar isso. É um debate legal. Merece. Mas a gente tem que ter consciência é que isto pode dar mais justiça para a estrutura tributária, porém, não vai gerar muitos pontos porcentuais do PIB de arrecadação para resolver os nossos problemas. 
A gente consegue escapar de virar uma nova Grécia?
Lisboa Eu não consigo pensar em outro caminho que não abrir os dados e trazer o debate. Saber porque os gastos com educação são tão ineficazes. Ter transparência nas políticas setoriais, nas regras de conteúdo nacional, e botar tudo isso em discussão no Congresso. 
Mansueto Em relação a outros emergentes, a gente tem instituições que funcionam. Tem Ministério Público, tem Justiça. Tem um setor público que é muito mais eficiente do que o de outros países emergentes. Temos uma democracia vibrante. Eventualmente, se pode, com um agravamento da crise, sem chegar a uma crise grega, a gente pode criar o consenso para fazer mudanças. Isso, claro, não consigo responder se a gente vai conseguir fazer as mudanças antes de bater com a cabeça na parede.
Pessôa Se vai ter uma crise aguda ou não, eu não sei. Gostaria que não tivesse. Ehá o risco real de ter. A comparação com a Grécia, numa certa dimensão, é um pouco infeliz. A Grécia é uma país com uma renda per capita mais alta que a nossa. Grego vive muito melhor que brasileiro com crise, sem crise. Além disso, em alguma dimensão, nós já somos Grécia. A dívida grega é muito maior do que a nossa. Mas ela têm a união monetária (moeda única, que é defendida por todos os países da União Europeia).
O custo de financiamento é muito mais barato. O que importa é quanto custa rolar a dívida. Na rolagem da dívida, a gente gasta mais ou menos o que eles gastam. Do ponto de vista financeiro, o nosso Tesouro está numa situação tão dramática quanto o grego. 
O meu pesadelo não é Grécia. O meu pesadelo é a gente entrar numa dinâmica política disfuncional, e virarmos uma grande Argentina. A Argentina é o caso mais dramático, provavelmente, de decadência de um país que não passou por guerras desde a revolução industrial. Um país que estava entre as 10 economias mais ricas nos anos 30, 20. E desde os anos 40, todo ano, ela está um pouco pior que no ano anterior. Sistematicamente. A distinção, a diferença, é que eles partiram de uma renda per capita tão alta que, após 60 anos de bobagens, ainda têm uma renda 40% maior que a nossa. 

domingo, 19 de abril de 2015

Economia brasileira: pedalando para o desastre - Mansueto Almeida

    Pedaladas fiscais desde sempre? Não.

    O advogado geral da União, Luís Adams, falou hoje que as pedaladas fiscais sempre existiram e que o governo FHC também as utilizava. Confesso que não sabia, mas se o advogado geral da União tem convicção que isso ocorria antes, ele precisa urgentemente trazer isso à tona.
    Talvez a convocação do advogado geral da União para uma das comissões do Congresso poderia ajuda-lo a explicar esses truques anteriores a 2003 e até fazer uma representação junto ao TCU para que investigue o assunto.
    Tenho quase certeza que o advogado geral da União se equivocou. Atrasar repasses para bancos públicos pagar obrigações sociais sempre ocorreram, mas não com a frequência identificada em 2012 e, mais ainda, em 2014. O que configura o financiamento dos bancos públicos ao Tesouro foi a frequência dos atrasos, que deixaram de ser atrasos e passaram a ser truques para burlar os dados fiscais. Inclusive, nos atrasos o Tesouro pagava juros aos bancos públicos o que configura operação de empréstimo. Leiam esse meu post do ano passado com a tabela de atraso de repasses do Tesouro para a Caixa Econômica Federal – clique aqui. Reproduzo abaixo a tabela que coloquei no post citado.
    Quantidade de meses que o saldo da conta do Bolsa Família na CEF ficou negativo no último dia do mês – 2007-maio/2014
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    Se há algo que todo mundo sabe em Brasília são os truques do Tesouro para fechar as suas contas. Já escutei isso de vários, repito, vários técnicos do Banco Central, Tesouro e do Ministério da Fazenda.
    O advogado geral da União e o Ministro da Justiça afirmarem que as pedaladas sempre existiram e ainda acusar o TCU de uso político não me parece correto. Mas se falaram deveriam provar, pois isso seria ótimo para o debate. E por que será que até os ministros nomeados pelo PT nos últimos anos votaram contra a tese do governo de que não houve financiamento de bancos públicos?
    A unanimidade do TCU no julgamento deste caso era algo inesperado e é uma prova de que as instituições, ou melhor algumas instituições, funcionam. Espero que essa decisão do TCU tenha consequências para aqueles que pensavam que eram mágicos e trouxeram seus truques para as contas públicas.

    3 Respostas

    1. Está cada vez mais difícil ouvir explicações sem fundamentos dessa turma do PT. O ministro da justiça tornou-se um advogado do partido e é evidente seu desgaste pois como ministro não faz. Quem acusa tem provar e mandar investigar e isso quero ver. O partido paladino da moralidade perdeu o rumo e está definhando aos poucos.

    2. Essa história vai longe, muito longe. E o resultado não será bom para o governo rs

    3. É impressionante o descaramento, a irresponsabilidade, a insensatez, para não dizer cara de pau, dos membros do atual governo em querer justificar e buscar explicações para algo que não tem justificativa. O Senhor Luis Adams, Advogado Geral da União, foi extremamente infeliz em argumentar que as pedaladas fiscais sempre existiram. Este ignóbil e “serviçal petista” deveria provar suas afirmações. Se realmente Dilma e seus assessores econômicos ( Mantega e Arno) tenham efetivamente infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme parecer do TCU, que seja aplicada as penalidades da LRF.
      O Brasil é o pais da impunidade; quem deveria estar preso está solto, e paradoxalmente, quem deveria estar solto está preso.


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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ajuste economico: cortes nos investimentos, quase nada em custeio - Mansueto Almeida

Nem precisa comentar. Está tudo expresso claramente nesta postagem do melhor especialista em contas públicas do Brasil, o economista Mansueto Almeida (não é meu parente).
Paulo Roberto de Almeida

O lado real do ajuste fiscal: corte de 30% do investimento público

Sempre que falei que, INFELIZMENTE,  o governo cortaria fortemente o investimento público para tentar alcançar a meta do primário, as pessoas se revoltavam contra mim. Bom, peço para não atacarem o mensageiro. Levantei os números do investimento público para o primeiro trimestre do ano, completando a série com os dados do SIAFI para março de 2015.
O que os dados mostram? a valores de março de 2015, o investimento público da União (exclui estatais) passou de R$ 22,3 bilhões no primeiro trimestre de 2014 para R$ 15,6 bilhões no primeiro trimestre de 2015. Uma queda real de R$ 6,7 bilhões ou de 30%!
E quem são os grandes perdedores? Olhem na tabela abaixo:  (1) Min da Defesa: – R$ 1,8 bilhões; (2) Min do Desenvolvimento Agrário: – R$ 1,2 bilhão; (3) Min da Educação: – R$ 1,2 bilhão; (4) Min dos Transportes: – R$ 1,1 bilhão e (5) Min da Saúde: – R$ 941,8 milhões. Sinto informar que as áreas de educação e saúde tiveram cortes. Por enquanto, não se nota corte no Minha Casa Minha Vida (ver Ministério das Cidades) mas isso é questão de tempo. A propósito, eu espero um corte de investimento de, no mínimo, uns R$ 30 bilhões este ano. Em três meses governo já cortou quase R$ 7 bilhões de investimento e nada do custeio.
Investimento público da União (exclui estatais) – 1o TRIM de 2014 vs 1o TRIM de 2015 – R$ milhões de março de 2015
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Fonte: Tesouro Nacional e SIAFI. Elaboração: Mansueto Almeida
OBS: inclui o Minha Casa Minha Vida no Ministério das Cidades.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Economia brasileira: a volatilidade embutida nas politicas economicas -Mansueto Almeida

Tem muita gente, sobretudo os companheiros neófitos e incultos em economia -- como certo ministro que arranjou um doutorado falso, mas que continua um keynesiano de botequim --, que acredita que volatilidade é coisa de capital especulativo, esse "dinheiro de motel", como diz o mesmo economista fajuto, que vem explorar o povo brasileiro, mas que não não percebe que isso só ocorre por causa da volatlidade das políticas do governo, justamente, que toda hora muda normas e regras e diminui a previsibilidade dos agentes, que são obrigados a trabalhar num ambiente altamente instável.
Esse é o sentido do artigo abaixo do economista Mansueto Almeida, que não é meu parente; somos apenas amigos.
Paulo Roberto de Almeida

O crescimento anormal dos juros

Qual foi a grande mudança de outubro de 2014 a janeiro de 2015? Nenhuma grande modificação nos fundamentos da economia brasileira. Os grandes problemas do Brasil de hoje são os mesmos do ano passado, agravados pela perspectiva de racionamento de energia que poderá nos levar a um crescimento do PIB negativo.
A grande mudança do antes e do pós eleição é, como falou o ministro da fazenda, que o governo mudou. Será? Este mesmo governo que mudou abruptamente depois do segundo turno é o mesmo que pode mudar repentinamente em algum momento no futuro tão logo o custo do ajuste se transforme em uma forte queda na popularidade da presidente. Se isso vai ou não acontecer não se sabe.
Países normais com líderes responsáveis fazem as mudanças de forma gradual à medida que os problemas aparecem. Mas para fazer jus a nossa tradição falta de planejamento, em pouco mais de dois meses a taxa de juros para empréstimos de algumas linhas do BNDES aumentaram em 100%.
Em outubro, um empresário comprava um caminhão a uma taxa de juros de 0,49% ao mês ou de 6% ao ano. Essa taxa agora é de 0,93% ao mês ou de 11,75% ao ano. O que é anormal no nosso caso não é o aumento da taxa de juros, mas a velocidade que esse crescimento ocorreu, o que mostra de forma clara uma de duas coisas: (i) a equipe econômica anterior era formada por economistas muito fracos, ou (ii) a necessidade de crescimento do custo das linhas do PSI era conhecida, mas foi propositadamente atrasada para enganar parte dos eleitores na campanha.
Qualquer das duas explicações acima mostra porque o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para dar previsibilidade aos investidores. O único fato concreto agora é que, em pouco mais de dois meses, um mesmo governo pode fazer mudanças bruscas que podem ser revertidas no todo ou em parte no curto prazo. É bom lembrar que o ministro da fazenda não é o presidente da república, nem tão pouco controla os parlamentares.
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domingo, 14 de dezembro de 2014

Petrobras: o silencio dos inocentes - Mansueto Almeida (inocentes? -PRA)

Artigo do economista Mansueto Almeida ( não é meu parente) em seu blog muito lido.
Eu hesitaria em chamar os jornalistas silenciosos de "inocentes". No mínimo são cúmplices ideológicos do governo celerado. No limite, são coniventes involuntários, mas também cegos políticos, em relação aos crimes cometidos pela associação de neobolcheviques mafiosos que tomou de assalto o Estado e todas as suas companhias.
Paulo Roberto de Almeida

O silêncio dos inocentes
Mansueto Almeida, 14/12/2014
Uma coisa que tem me chamado atenção é o silêncio dos “inocentes” dos colunistas de esquerda dos nossos grandes jornais. Esses mesmos colunistas que vêm a possibilidade concreta de um radicalismo nos levar ao risco de um golpe militar, o que é um evidente delírio, se mantêm em silencio em relação aos escândalos envolvendo a Petrobras e que dizimou o valor de mercado da companhia com profundo e ainda incerto impacto no seu plano de investimento, nos partidos da base aliada, na política industrial do governo e no cronograma de obras públicas.
Acabei de voltar de uma rodada de encontros em NY com gestores de fundos e economistas e todos, sem exceção, perguntaram sobre o escândalo da Petrobras. Todos se preocupam com o possível efeito deste episódio na governança da empresa e na governabilidade do “novo” governo, pois grande parte das medidas fiscais necessárias para viabilizar o ajuste prometido precisa da aprovação do Congresso Nacional.
Um governo fraco correndo atrás de apagar escândalos recorrentes que a imprensa passou a noticiar todas as semanas é um péssimo sinal para o início de governo que se inicia e de um ano que seria de reformas econômicas. Cada vez mais me parece difícil que o “novo” governo tenha espaço político para mudanças profundas.
No caso da Petrobras, me impressiona como tanto desmando tenha passado tanto tempo despercebido pela grande maioria daqueles com algum envolvimento com a empresa. É claro que há muita gente envolvida. Não se desviam bilhões de Reais por anos sem a conivência de muitas pessoas que “não sabiam de nada”.
O tamanho da deterioração da Petrobras é de uma extensão que será impossível recuperar a governança da empresa em um curto espaço de tempo. O ideal seria que toda a sua diretoria fosse destituída e se colocasse na direção da empresa pessoas com reconhecida competência na área aqui no Brasil e no exterior recrutadas por headhunters.
Qualquer solução parcial de ajuste gradual na governança da Petrobras com a atual diretoria terá um custo elevado e será inócua. Os trabalhadores da Petrobras, os filiados do Sindipetro e os participantes do fundo de pensão da estatal, a Petros, que por tantas vezes levantaram a bandeira do fortalecimento da empresa e defesa do conteúdo nacional, deveriam agora ser os primeiros a exigir maior transparência da empresa e mudança radical da atual administração. A administração atual pode até ser bem intencionada, mas foi de uma incompetência extraordinária para descobrir o que seus colegas e subordinados faziam à luz do dia.
Muita gente critica o “too big to fail” quando se trata de instituições financeiras. E por que não quando se trata de empreiteiras? Onde estão os nossos progressistas que atacam bancos e se calam sobre a relação incestuosa entre nossas grandes empreiteiras e governos? Não há risco sistêmico algum em fechar grandes empreiteiras e a entrada de grupos estrangeiros nos processos de licitação no Brasil deveria agora ser incentivada. As grandes empreiteiras brasileiras têm um mercado doméstico protegido que não se justifica qualquer que seja o critério.
O governo subestima o escândalo da Petrobras como fez no passado recente com a piora dos indicadores macroeconômicos e com a piora fiscal. Há pouco mais de dois meses era normal escutar do secretário do Tesouro Nacional e do nosso já demitido ministro da fazenda que a meta de 1,9% do PIB seria cumprida.
A mesma ousadia parcial que o governo mostrou na área econômica deveria mostrar com uma mudança radical na Petrobras, caso contrário, a empresa que já foi orgulho de todos nós brasileiros continuará a se destacar mais pelo escândalo de corrupção do que pelo brilhantismo dos sucessivos recordes de exploração de petróleo em águas profundas que destacou a história da companhia.
No caso dos colunistas “progressistas” dos nossos meios de comunicação, estes continuarão atrás de um golpe militar ou choramingando a suposta guinada de 180o da política econômica, ao invés de discutirem profundamente o uso politico de estatais e o capitalismo de compadres que pode surgir quando há excesso de intervenção do governo na economia. A esquerda brasileira  (como a direita) precisa se modernizar.
O biênio 2014-2015 será marcado na história do Brasil não pela Copa do Mundo ou por uma eleição competitiva, mas sim pela descoberta de um caso de corrupção em uma extensão que ninguém imaginava e que muita gente muito próxima aos envolvidos falava e ainda fala  que “não sabia”. A esperança é que esse episódio leve a uma mudança institucional positiva para o país que agora sabemos que não veio com o caso do mensalão.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Brasil dos mandarins abusados: juiz pensa ser uma especie de divindade acima dos comuns

Uma brasileira que cumpriu o seu dever

Luciana Tamborini é uma agente de trânsito do Rio de Janeiro que foi condenada a pagar uma indenização de R$ 5 mil a um juiz, João Carlos de Souza Correia, que foi parado em uma blitz da lei seca.
Segundo reportagem do portal G1 (clique aqui), o carro do juiz estava sem placa, ele sem carteira de habilitação e sem os documentos do carro, mas quem foi condenada foi ela, por abuso de poder.
Luciana pensou que um juiz era uma pessoa comum é que não era “Deus”. O desembargador José Carlos Paes entendeu que isso foi um deboche, um abuso de poder.
Sou simpático a agente de trânsito Luciana Tamborini que estava apenas cumprindo o seu dever.
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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O que poderia ter sido: o primeiro discurso da Presidente eleita em 2010 - Mansueto Almeida


Mansueto Almeida relembra o primeiro discurso da presidente eleita em 2010.
Vale a pena ver de novo, como diria um antigo programa vespertino de televisão.
Na sequência, vou colocar o discurso que ela poderia ter pronunciado, e não fez, mas eu ajudo ainda assim.
Paulo Roberto de Almeida

O primeiro discurso da Presidente eleita em 2010

Dado que chegamos nesta reta final das eleições, talvez seja interessante julgar a candidata Dilma pelo que ela prometeu para os brasileiros logo após ser eleita e o que conseguiu entregar. Clique aqui para ler o primeiro discurso da presidente Dilma depois de eleita em 2010. Quero destacar alguns pontos com rápidos comentários:
(1) “É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.”
 …. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida”
Bom, apesar dos nossos avanços sociais, não apenas no Brasil mas na América Latina, depois de uma década com o vento soprando a favor o governo Dilma termina com a estagnação da queda da desigualdade de renda e, como era esperado, o Brasil ainda não conseguiu erradicar a miséria. Segundo análise do IETS, o número de indigentes no ano passado passou 5,8% para 6% da população, ou seja, no Brasil, há 11,1 milhões de indigentes.
No Brasil, existe um debate sobre a faixa de renda utilizada para definir se uma pessoa é ou não indigente. O IETS utiliza como linha da miséria o valor de R$ 123. O governo, em 2014, reajustou em maio a linha da miséria de R$ 70 para R$ 77 per capita. Mas mesmo com a linha de corte anterior de R$ 70, o IPEA calculava que existiam 6,5 milhões de indigentes no Brasil em 2012 – ver matéria da Folha aqui.
A verdade é que, no Brasil, temos um número de indigentes acima de 10 milhões e, assim, se você encontrar algum deles na rua diga que ele não existe, segundo a promessa de campanha da presidenta eleita Dilma em 2010.
(2) “No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.
Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.”
Hoje, a presidenta e sua equipe econômica falam que não conseguiram entregar o que prometeram por causa da (maldita) crise externa. No entanto, quando eleita, em 2010, a presidenta Dilma falou de forma muito clara que “não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento” e que o crescimento dependeria de nossas própria políticas. Isso mesmo, corretíssimo! Mas as políticas do seu governo nos levou para situação atual de estagnação econômica.
O segundo parágrafo acima nem merece comentário. A presidente adotou políticas protecionistas com convicção e prejudicou o país de “realizar plenamente suas vocações”.
(3) “Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável…..Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.”
Adoro essa parte do discurso. No entanto, mais uma vez, o que o governo fez foi o contrário do que a presidenta prometeu no seu discurso de posse. A inflação média do governo Dilma será de 6,2% ao ano, acima da inflação média do segundo governo Lula (5,7% ao ano), apesar do crescimento que este ano será próximo de “zero” e do baixo crescimento econômico ao longo do seu mandato.
E o governo gastou muito acima do sustentável. O superávit primário do setor público, em 12 meses até agosto, foi de 0,9% do PIB, mas quando se desconta receitas extraordinárias e despesas que tiveram o seu pagamento postergado, esse superávit se transforma em um déficit primário de 0,3% do PIB (ver meu artigo do valor).
Em quatro anos de governo Dilma, o crescimento da despesa primaria do governo central será de 2,2 pontos do PIB, valor muito próximo ao observado nos doze anos anteriores ao governo Dilma, quando essa despesa cresceu 2,4 pontos do PIB. Ou seja, baseado nas palavras da presidenta eleita, em 2010, chegou a hora de mandar ela e sua equipe econômica para casa.
(4) “Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público.
“As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.
Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos.
Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária…..Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública.
Será que as nomeações do governo Dilma são exemplos de meritocracia? Não vou responder. Será que as agências reguladoras trabalharam de forma independente? Isso não parece ter sido o caso. Ao contrário. Soubemos recentemente que servidores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) elaboraram um documento no qual temem pelo desmonte da agência (ler aqui).
Mas talvez o maior desvio do discurso de pose da presidente tenha sido em relação ao “afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública”. Bom, uma das maiores marcas deste governo foi o uso e abuso do que passou a ser chamado de “contabilidade criativa” para fechar as contas fiscais.
Esses truques começaram, em 2012, e desde então o governo vem aperfeiçoando sua lista de truques que alcançou até mesmo o pagamento dos benefícios sociais pela Caixa Econômica Federal (CEF), que fazia os pagamento mas recebia com atraso os repasses do Tesouro Nacional. Se você que entender alguns dos truques contábeis deste governo recomendo a leitura de alguns dos posts deste blog: (1) Sobre truques fiscais e a contabilidade criativa; (2) O menu de truques contábeis; (3) Truques com custo fiscal do PSI, (4) Houdini, Tesouro e Caixa Econômica Federal – 3.
Infelizmente, a presidenta Dilma não conseguiu cumprir muito do que prometeu no seu discurso de posse de 2010, logo após ser eleita presidente do Brasil. O que mais me impressiona hoje é o governo querer culpar a crise mundial quando, em 2010, a presidente eleita deixou muito claro que:
“…..não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas”.

Eleicoes 2014: pesquisas Datafolha e Ibope, com toneladas de sal

Transcrevo apenas postagem do conhecido economista Mansueto Almeida, que por sua vez transcreve nota de colega economista não identificado -- provavelmente trabalha para o governo, ou para algum banco, e não quer sofrer retaliações, como outros, anteriormente -- com observações muito pertinentes sobre a "fiabilidade"das duas pesquisas que colocam a candidata oficial na frente.
Resumindo: esses institutos realizaram uma distorção na amostragem para obter um resultado que satisfaça a candidatura oficial.
Outras pesquisas provavelmente teriam respeitado os critérios metodológicos corretos.
Paulo Roberto de Almeida

Eleição apertada a ser definida nas urnas

Ontem recebi de um amigo uma análise muito boa dos últimos resultados das pesquisas de intenção de voto. Esse amigo é um excelente economista com larga experiência na análise cuidadosa de dados.
Ele explica que os números das pesquisas recém divulgadas são muito próximos e sinalizam para uma eleição muito apertada. É verdade que, na margem, as intenções de voto na presidente Dilma cresceram. Mas não dá para falar absolutamente nada além disso em uma eleição tão competiria como esta. Segue a análise.

“…. os números tanto IBOPE quanto Datafolha não podem ser levados ao pé da letra. Tenho analisado a amostra de ambas pesquisas, nos dois casos encontrei uma amostra com muito mais pobres do que no mundo real. A diferença é inexplicável.
Na PNAD são 26% das pessoas em idade de votar que pertencem a famílias com mais de 5 salários mínimos de renda. Em uma das pesquisas essa fração é de apenas 12 por cento. Uma discrepância similar ocorre com o sinal trocado entre as famílias pobres. Corrigindo por esse erro, até 3 por cento dos votos saem da coluna do PT para a coluna do Aécio (o que empataria a pesquisa do Datafolha e cortaria a vantagem do PT no IBOPE para 2pp).

Existem outros fatores que favorecem Aécio e tornam a eleição mais apertada e competitiva. Tanto Datafolha quanto IBOPE não controlam para o efeito da abstenção, que é historicamente correlacionada com IDH (municipios mais pobres tendem a ter maior abstinência, nulos e brancos). Mais que isso, o aumento na abstinência no segundo turno tende a ser correlacionado com o IDH. Esse efeito não é grande, mas em uma eleição apertada pode fazer a diferença….”
 [Nota PRA: o economista quis dizer abstenção, e não abstinência, que costuma estar ligada a abstinência de alimentos ou de sexo...]

Esta é uma eleição muito competitiva e quem ganha são os brasileiros que têm a chance de escolher projetos diferentes. A grande diferença de propostas entre os candidatos, do meu ponto de vista , não é o social, pois gastos sociais são serão prioritários quem quer que seja o presidente da República. A grande diferença é a política econômica – os meios para  a retomada do crescimento econômico e progresso social do Brasil- e a capacidade de administração do governo federal e da coalização política.
Bos sorte a todos no domingo e vamos ajudar o próximo presidente eleito, seja o Senador Aécio Neves ou a atual presidente Dilma Rouseff, a cumprir com suas promessas de campanha.
No caso do senador Aécio, acho que ficou claro que será necessário um ajuste corretivo na economia brasileira. No caso da presidente candidata Dilma, a sua campanha negou a necessidade de um ajuste pós eleições, mas uma das primeiras medidas do seu governo, independente do resultado das urnas, será comunicar para o mercado que a meta do resultado primário para este ano de 1,9% do PIB não será cumprida.
Adicionalmente, se a presidente for reeleita, não e claro como a sua promessa de campanha de manutenção e ampliação dos subsídios do BNDES e de outros bancos públicos será cumprida. De onde vem o dinheiro eu não sei.
Boo final de semana a todos, boa votação e vamos torcer para que o próximo presidente consiga avançar nas reformas estruturais e no ajuste macroeconômico que precisamos para retomarmos o crescimento econômico com progresso social. Não é normal uma economia com a brasileira crescer apenas 1,6% ao ano (média do governo Dilma). Podemos mais!!!

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Addendum:
Observação de um facebookiano:

Caras, o Datafolha e o IBOPE usam os pesos do Censo do IBGE de 2010 para ponderar os votos por faixa de renda. 

Se você usar os pesos da PNAD 2013 (que retrata com maior precisão a situação atual), o Aécio está na frente em AMBAS as pesquisas IBOPE e Datafolha.

Aécio vai ganhar. Acreditem.

domingo, 28 de setembro de 2014

Politica economica: o debate de qualidade - Blog do Mansueto Almeida




Bons artigos e entrevistas nos jornais

Que tal aproveitar o domingo para ter um bom choque de realidade? Os jornais de hoje trazem artigos muito bons de excelentes economistas que nas suas análises destacam os pontos certos dos nossos dilemas.
O primeiro artigo excepcional que recomendo são dos economistas e amigos Marcos Lisboa e Zeina Latif na Folha de São Paulo. Fazia tempo que não lia em um artigo tão curto as provocações corretas dos nossos dilemas que não estão sendo adequadamente discutidos no debate eleitoral (clique aqui).
Os autores advertem para a piora do cenário econômico, o que prejudica a sustentabilidade das conquistas sociais e mostram, corretamente, que o debate entre ideias não é devido a interesses contrariados mas sim “sobre a eficácia da política econômica adotada a partir de 2009, que resultou na estagnação, comprometendo a agenda social iniciada há duas décadas”
O outro artigo no mesmo jornal é do meu amigo Samuel Pessôa mostrando o mesmo ciclo de politica econômica dos governos militares e dos governo civis. Como bem destaca Samuel, não está em debate a politica social nem o tamanho do estado que é determinado pela rede de assistência social. Mas sim a politica econômica intervencionista que desde 2008 lembra muito a política econômica do ex-presidente Geisel (clique aqui para ler o artigo).
O terceiro bom artigo é do economista Gustavo Franco no jornal o Estado de São Paulo (clique aqui) que mostra de forma elegante como sempre os fatores por trás do crescimento do Brasil no governo Lula e o que explica o crescimento da classe média: “Eis a mágica da classe média: demografia e crédito, com alguma ajuda do salário mínimo. Nada disso tem a ver com o bolsa família, que tem sua utilidade para o que se passa dois extratos mais para baixo, na região da pobreza.”
Gustavo adverte corretamente que tudo isso está em risco com os erros da política econômica do governo Dilma: “O maior dos equívocos é o de sempre: a desordem nas contas públicas. Diretamente, descontada a maquiagem, ou via bancos públicos ou obrigações não reconhecidas, a situação fiscal se tornou crítica, por simples opção ideológica.”
O quarto bom artigo deste domingo é do economista e amigo José Roberto Mendonça de Barros também no Estado de São Paulo (clique aqui) . O artigo é uma das mais competentes análises de conjuntura que li recentemente. Em especial quero destacar um trecho do artigo que mostra muito bem o fracasso da nossa política industrial:
“Há poucos dias a Inepar pediu recuperação judicial, da mesma forma que já haviam feito no passado a Lupatech e a Jaraguá, três dos maiores fornecedores nacionais de equipamentos da Petrobrás. É impossível não se perguntar que política industrial é essa – que acaba por arrasar tantas companhias – que se quer proteger. Esses três casos ilustram o que já se sabe: uma economia não para impunemente.”
Como corretamente adverte José Roberto Mendonça de Barros: “Como as autoridades insistem em dizer que estão a fazer tudo certinho, e que todos os nossos problemas decorrem da situação internacional, o cenário de reeleição é o de “mais do mesmo”, incluindo baixo investimento, inflação alta, desarranjo fiscal, juros elevados e expectativas ruins.” Assino em baixo.
Por fim, e para fechar as recomendações deste domingo, tem a excelente entrevista do economista Bernard Appy (clique aqui), do qual compartilho com praticamente 90% ou mais do que ele adverte. Em especial, prestem atenção na entrevista anexa quando Bernard Appy pede aos entrevistadores para explicar a dinâmica do crescimento do gasto público e a rigidez do gasto, o que impossibilita ajuste fiscal no curto prazo por meio de corte de despesas.
Leiam todos os artigos acima e reflitam. Os mesmos serão recorrentemente citados nas minhas análises ao longos das próximas semanas.

Bons artigos e entrevistas nos jornaiswp.me/pAMib-1cc 7 hours ago