O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 12 de janeiro de 2020

Resenhas dos melhores livros do ano - Amálgama

Melhores Livros de 2019

15 obras selecionadas por colunistas da Amálgama e autores convidados.

8 livros de ficção e 7 de não ficção compõem nossa relação dos melhores livros lançados no Brasil em 2019 ou no final de 2018. Há três clássicos em novas edições. 12 editoras estão representadas. Boas leituras!
* * *

Os donos do inverno, de Altair Martins (Não Editora, 256 páginas)

 por Rafael Bán Jacobsen, físico (UFRGS) e escritor – Dois irmãos de criação, afastados há décadas, desde a morte do terceiro mano, reencontram-se para cumprir uma insólita missão: levar os ossos dele, um jóquei promissor, para a grande noite do turfe em Buenos Aires, páreo que nunca chegou a disputar. Com esse intuito, cruzarão os solitários cenários meridionais do Rio Grande do Sul e do Uruguai, atravessarão o coração do inverno, enfrentarão memórias gélidas e íntimas rupturas, recompondo, pouco a pouco, a voz em primeira pessoa do plural que um dia foram. Em seu terceiro romance, o premiado Altair Martins surpreende ao remodelar o seu estilo. Antes, a linguagem derramada e transbordante de metáforas; agora, maior contenção no uso das figuras de linguagem. Substituindo o experimentalismo de radicar toda diegese no solo movediço de paisagens interiores sobrepostas, a psicologia das personagens construindo-se a partir de falas e ações. Em lugar do tom surreal e em constante flerte com o fantástico, a narrativa realista e alicerçada na velha arte de contar uma boa história. Mas Altair Martins segue sendo Altair Martins naquilo que o fez um dos nomes mais notáveis da nossa atual cena literária: sua capacidade ímpar de plasmar mitologias próprias e encantar pela profusão de humanidade em seus textos.

Os cadernos de solidão de Mario Lavale, de Arthur Telló (Zouk, 320 páginas)

 por José Francisco Botelho, escritor – O gaúcho Arthur Telló – que é professor de Latim, Grego e Escrita Criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre – costuma definir a si mesmo como, essencialmente, um escritor sul-americano. Não apenas pela circunstância geográfica de seu nascimento, mas pela filiação a uma tradição literária – tradição essa que tem no conto um de seus traços principais, assim como certas temáticas recorrentes, como a solidão, o ensimesmamento, e a percepção às vezes obsessiva das estranhezas da condição humana. Em seu livro de estreia, a coletânea de contos Os Cadernos de Solidão de Mario Lavale, Telló interliga narrativas curtas para construir ou sugerir uma narrativa mais ampla, centrada no personagem que dá nome ao livro: um escritor de quarenta anos, “dono de um estilo vivaz, colorido e econômico”, envolvido em desventuras amorosas que oscilam entre o desastroso e o patético, e cuja trajetória pessoal e artística acaba saindo pela tangente e se desviando em direção à loucura. Esse mosaico de ficções não esconde sua lealdade àquela estirpe continentina de que já falamos: como todo gaúcho que se preze, Telló é bom leitor dos argentinos e dos uruguaios, mas a influência que deles extrai jamais é mero decalque. Bebendo em fontes como Cortazar, Onetti, Felisberto Hernández e Mario Levrero, o autor encontra já em seu primeiro livro um jeito próprio de falar sobre nossas vastas e às vezes contíguas solidões. Ao longo da coletânea, alguns contos apresentam-se como escritos pelo próprio Lavale; outros, por um supra-narrador que paira acima dos fatos mais ou menos como o deus de Espinosa; e ainda há outros que podem ter sido escritos por qualquer um dos dois. Um dos prazeres oferecidos pela obra é, precisamente, tentar decidir qual o criador de cada conto. As peripécias e os infortúnios de Lavale se refletem e se recriam em seus textos, duplicando-se, refinando-se, mas jamais se resolvendo, o que oferece ao leitor a possibilidade de uma reflexão instigante e labiríntica sobre a própria natureza da criação literária — já que a perícia de Telló faz com que Lavale e os personagens criados por Lavale pareçam igualmente reais. Sobre todas as narrativas paira uma vaga sombra de enlouquecimento, o temor ou o desejo de esfacelar a realidade, coisa que todas as almas reflexivas experimentam ao menos uma vez por dia; pois, nas palavras do próprio Telló, ou do próprio Lavale: “Um homem sensível e inclinado às artes precisa destruir muita coisa neste mundo”.

Chapadão do Bugre, de Mário Palmério (Autêntica, 416 páginas)

 por Fabrício de Moraes, crítico literário – Publicado originalmente em 1965, Chapadão do Bugre se inspira no assassinato (posteriormente conhecido como “Tocaia do Fórum”) de dois líderes locais, ocorrido na cidade mineira de Passos, num confronto entre o mandonismo dos coronéis e forças repressivas do Estado. Palmério, que, além de escritor, atuou no cenário político como deputado pelo PTB, criou, à semelhança de Guimarães Rosa – a quem inclusive sucedeu na Academia Brasileira de Letras – um vocabulário próprio, recolhido da fala coloquial, barroca e austera do sertanejo mineiro. No seu “regionalismo expressionista” (conforme definição de André Azevedo da Fonseca), Palmério mostra o embrutecimento progressivo do peão José de Arimatéia, que, tendo assassinado o amante de sua noiva, abandona, em fuga, seu ofício de dentista ambulante para tornar-se o temido jagunço dos mandantes da cidade de Santana do Boqueirão. Atormentado pela vergonha e ódio, José de Arimatéia faz uma jura de vingança – e um estranho voto de manter-se casto enquanto não cumprisse seu intento – contra Maria do Carmo, aquela que o traiu, impelido pela obsessão em matá-la de modo visceral. A tensão local aumenta quando forças policiais, lideradas pelo capitão Eucaristo Rosa e sargento Hermenegildo, são enviadas para a contenção (leia-se: eliminação) das fraudes eleitorais e contravenções dos jagunços do interior. Encarnações draconianas do punitivismo que perpassa grande parte da história brasileira, esses dois militares interrogam metodicamente todos os suspeitos mergulhando-os na barrica da cadeia onde se recolhia os excrementos dos presos, além de aterrorizarem a cidade por meio do exercício criativo de suas arbitrariedades – por exemplo, obrigando um infeliz a assentar-se num bloco de gelo até que este se derretesse. Também como reflexo de um dos arquétipos de nossa formação social, temos o juiz Damasceno Soares, defensor ardoroso da moralização impositiva e abstemia de toda a Santana do Boqueirão, o qual busca, com suas ações extremadas e prédicas edificantes, o fim dos capangas, em especial José de Arimatéia, para que viva secreta e tranquilamente com sua nova amante, a famigerada Maria do Carmo. Testemunhando todo esse redemoinho de ações brutais, e apresentando por vezes mais sensibilidade que os homens ao seu redor, a égua Camurça antevê não apenas o fim trágico de seu dono, José de Arimatéia, mas também a subjugação do homem por forças obscuras e atávicas, pela violência primordial e por uma natureza impiedosa para com aqueles que dela dependem imediatamente. Testemunho dos nossos dramas espirituais enquanto nação, este clássico nos revela um território onde, ainda segundo André Azevedo da Fonseca, “a inocência não merece compaixão”.

Fenda, de Ranieri Ribas (Penalux, 124 páginas)

 por Pedro Almendra, crítico literário e ensaísta – Fenda, livro de poesias de Ranieri Ribas, é um marco recente de nossa literatura. Ranieri surge na poesia nacional em 2019 com dois grandes livros de uma só vez, Fenda e Aos renovos da erva – o qual foi lançado quase na mesma semana de Fenda, no entanto, escrito dez anos antes. Os dois livros merecem elogios, é claro, mas, em Fenda, os méritos do poeta se nos mostram mais nítidos e imponentes; Ranieri demonstra um domínio tão amplo quanto natural da formas poéticas (o leitor encontrará de tudo: retrancas, sonetos, sextinas, vilanelas…), e o faz com a facilidade de quem maneja uma ferramenta de trabalho, sem qualquer resquício de reverência ou devoção. Por outro lado, o livro surpreende pela diversidade de conteúdo que, a princípio, soa caótica, mas se condensa sob o ritmo de um movimento coeso e acabado; ora místico, ora cotidiano, ora triste, ora engraçado, sem jamais – e este é um dos grandes triunfos do poeta – perder a unidade. Ranieri Ribas é um nome a ser guardado. Trata-se de um tipo cada vez mais raro de poeta: o que fala porque tem o que falar e não porque precisa ser ouvido; a quem a poesia é vocação e não terapia.

A fúria, de Silvina Ocampo (Companhia das Letras, 224 páginas)

 por Gustavo Melo Czekster, escritor – O simples fato de ser uma escritora admirada por autores como Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares (de quem era cunhada), Julio Cortázar, Alejandra Pizarnik e Roberto Bolaño, para ficar em somente alguns nomes, já seria o suficiente para atrair a atenção para a obra de Silvina Ocampo (1903-1993). No entanto, basta uma lida nos contos que compõem A fúria para essa admiração estar plenamente justificada. Por meio de contos límpidos, escritos com clareza exemplar, Silvina tece atmosferas fantásticas que realçam os grandes conflitos humanos. É um livro que exige releituras, não por ser complicado, mas por ser enganadoramente simples; tão logo as histórias acabam, uma sombra desconfortável passa a pairar sobre o espírito do leitor, o qual sente que perdeu algo muito importante, que estava ao alcance dos seus olhos e, ainda assim, ele não viu. Somente a releitura irá aplacar o seu espírito e, assim, Silvina Ocampo realiza o grande mistério da literatura: contar histórias que se renovam constantemente , apesar das palavras do livro sempre serem as mesmas.

Serotonina, de Michel Houellebecq (Alfaguara, 240 páginas)

 por Rodrigo de Lemos, doutor em Literatura (UFRGS) – Florent, protagonista de Serotonina, se situa em uma linhagem de personagens misantropos na literatura francesa. É uma tentação de simplificação crítica sugerir que a degradação da vida social leva à proliferação de personagens desse tipo na ficção. Afinal, Molière escreveu O Misantropo (1666) enquanto o Rei-Sol transformava a França no centro da Europa; J.-K. Huysmans criou o dândi recluso Des Esseintes em Às avessas (1884) enquanto a Belle Époque irradiava de Paris, e a descrição da incômoda liberdade solitária de Roquentin, em A Náusea (1938), de Sartre, precede a derrota dos franceses na Segunda Guerra e sua perda de um dos maiores impérios do planeta. Não seria a crueldade da sociabilidade à francesa – com suas hierarquias, seus conflitos e suas vaidades versalheses – que convidaria a essa fuga do outro em favor de uma reclusão melancólica num eu cansado pelo mundo? Como quer que seja, o Florent, de Houellebecq, não deixa de lembrar esses tristes anacoretas modernos, sobretudo Des Esseintes (pelo sofrimento psiquiátrico cuja progressão acompanha a da narrativa) e Roquentin (pelo conforto material que lhe permite viver e analisar seu mal-estar na plena ociosidade). Se me parece apressado compreender esse mal-estar individual como simbólico de um suposto declínio do país ou da Europa – como é tentador fazer ao transformar Serotonina em profecia dos coletes amarelos -, o certo é que Houellebecq vincula a seu herói alguns temas sensíveis da Modernidade avançada, quase como num compêndio: o poder da neuro-psiquiatria, a crise da masculinidade, a ressaca da revolução dos costumes, a onipresença midiática, os estragos do liberalismo econômico, a cisão entre cidadãos e citadinos. Em filigrana, o tema huysmaniano da impossibilidade de uma vida sem Deus, mas também da impossibilidade da conversão; como Às avessasSerotonina termina em aberto, por uma referência sem conclusões ao Cristo. São todos tópicos sobre os quais o populismo conservador atualmente em voga pode capitalizar. Provavelmente isso faça de Serotonina o romance do ano de 2019. De quantos mais?

As flores do mal, de Charles Baudelaire (Penguin Companhia, 656 páginas)

 por Jerônimo Teixeira, jornalista e escritor – A primeira edição, em 1857, foi um sucesso escandaloso: custou ao autor um processo judicial, uma multa, e a censura. Seis poemas foram proibidos, outros tantos adicionados às edições posteriores, e a fama de maudit pegou de vez no poeta que cantava as carcaças apodrecidas na beira da estrada, os trapeiros, os bêbados e as mulheres decaídas – Charles Baudelaire (1821-1867), hoje um respeitável mas ainda incômodo clássico da literatura francesa. As flores do mal já contava com três traduções integrais no Brasil, e mais algumas em Portugal. Esta nova tradução de Júlio Castañon Guimarães, fluente e eloquente, lembra a um tempo no qual a santimônia militante domina a cultura e o filistinismo mais mesquinho ocupa o poder que é preciso “mergulhar (…) no desconhecido para achar o novo”.

O jogo de amarelinha, de Julio Cortázar (Companhia das Letras, 592 páginas)

 por Sérgio Tavares, crítico literário e escritor – Publicado originalmente em 1963, O jogo da amarelinha é um daqueles livros cuja extensão transcende seus limites paginados, sendo calculada através do impacto que causou em seu tempo e em obras e escritores de gerações que o sucederam. A primorosa edição lançada pela Companhia das Letras, com tradução de Eric Nepomuceno, acerta em cheio ao entender essa equação e usá-la para formular o projeto literário, no qual as raias do romance são orbitadas por ensaios e textos críticos de nomes de respeito, como Mario Vargas Llosa, Haroldo de Campos e Davi Arrigucci Jr., que analisam ao mesmo tempo que celebram este que foi eleito pela revista Times londrina “o primeiro grande romance hispano-americano”. O mais irônico é que o autor, o argentino Julio Cortázar, planejou originalmente a obra como uma negação do romance em sua tradição literária, rompendo com os padrões do gênero, de modo a dar forma a um antirromance. Isso se evidencia na estruturação descontinuada da narrativa, uma trama movediça e labiríntica, que desafia o leitor a ordená-la tal qual um jogo em que os capítulos podem ser lidos de maneira linear ou aos saltos, em direções possíveis de acordo com as escolhas. A história trata da procura incessante do exilado argentino Horacio Oliveira pela uruguaia Maga, uma mulher misteriosa que o faz perambular pelas ruas e pontes de Paris, atrás do amor encarnado em si, que também é um fantasma perdido no fluxo do tempo. Nesse processo de ir e voltar num circuito que nunca se fecha, cria-se um espaço de aventura entre as palavras, uma errância verbal que transgride as fronteiras da ficção repercutindo o cenário político-social da época, de um tempo de criatividade e de luta pela liberdade. O volume ainda contém uma pérola: uma seleção de cartas em que Cortázar comenta e reflete sobre o processo de confecção do jogo e a recepção da crítica e de seus pares literários. Numa delas, endereçada ao poeta estadunidense Paul Blackburn, em maio de 1962, o autor argentino escreve que, no alto de sua “habitual modéstia”, sua impressão é que o livro “será uma espécie de bomba atômica no cenário da literatura latino-americana”. Foi, de fato, um Big Bang, um marco literário, uma obra-prima, que irá ressoar infinitivamente na história da humanidade.

Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira: pensamento e ação, de Celso Lafer (FUNAG, 2 volumes, 1.524 páginas)

 por Paulo Roberto de Almeida, diplomata – A obra em dois volumes reproduz meio século de ideias, reflexões, pesquisas, andanças e um exercício direto de responsabilidades à frente da diplomacia brasileira (em duas ocasiões) e, através dela, de algumas funções relevantes na diplomacia mundial, como a presidência do Conselho da OMC, assim como em outras instâncias da política global. Celso Lafer, professor emérito da USP, articulista consagrado, mestre de várias gerações de estudiosos de relações internacionais e de direito, esteve à frente de decisões relevantes em alguns foros decisivos para as relações exteriores do Brasil, na integração regional, no comércio mundial, nos novos temas do multilateralismo contemporâneo. A obra constitui um aporte fundamental para os estudiosos de diplomacia e de relações internacionais do Brasil, uma vez que reúne os relevantes escritos do mais importante intelectual desse campo, praticamente o fundador da disciplina no Brasil, com a vantagem de o autor ter sido o condutor da diplomacia brasileira em momentos significativos da história recente. A trajetória intelectual do autor se confunde com a evolução dos estudos e da prática das relações exteriores do Brasil no último meio século, mas a obra reproduz apenas uma pequena parte de sua gigantesca produção acadêmica, profissional ou jornalística, deixando de integrar, por especialização temática nas áreas do título, uma outra parte essencial de suas atividades intelectuais, que cobrem os terrenos literário, cultural e mesmo de política doméstica. Percorrendo as páginas dos dois volumes é possível registrar alguns grandes nomes do estadismo mundial, com quem Celso Lafer interagiu ou conviveu ao longo dessas décadas. Ele discorre sobre líderes estrangeiros como Mandela, Shimon Peres, Koffi Annan, Antonio Guterres e, retrospectivamente, sobre o êmulo português do embaixador Souza Dantas, o cônsul Aristides de Souza Mendes, um justo entre os injustos do salazarismo.

Lucros de sangue: Como o consumidor financia o terrorismo, de Vanessa Neumann (Matrix, 320 páginas)

 por Bruna Frascolla, doutora em Filosofia (UFBA) e pesquisadora (Unicamp) – Se há um assunto em que todos querem ter opinião, é o da violência urbana. A correlação entre esta e o narcotráfico é razoavelmente estabelecida para qualquer um que tenha bom-senso, e por isso as discussões acerca da violência logo descambam para uma discussão acerca da legalização de drogas. Lucros de sangue é bom para mostrar como o buraco é muito mais embaixo do que supõe a vã ciência política de muitos de nós. As drogas ilícitas são meras coadjuvantes num cenário de crime transnacional em que se entrelaçam organizações mafiosas (ideológicas ou não) e autoridades públicas. Aprendemos, por exemplo, que PCC figura como um grande contrabandista de cigarros paraguaios, advindos da fábrica pertencente ao ex-presidente Horacio Cartes (o mesmo que agora desponta no noticiário político-policial brasileiro), e como parceiro comercial do Hezbollah. E aprendemos que organizações criminosas transnacionais se associam independentemente de ideologia, de modo que aquelas de cunho religioso podem até terceirizar um atentado terrorista contratando um cartel mexicano para concretizá-lo. É possível que muitos mantenham sua posição pró ou contra a descriminalização de drogas após a leitura. Mas certamente farão isso inteirados de que as drogas ilícitas não são o cerne do problema, e que organizações terroristas (ideológicas ou não) não se extinguem apenas por meio de atos legislativos ou econômicos. Esse é um problema de soberania.

O sofrimento humano: Fundamentos antropológicos da psicoterapia, de Viktor Frankl (É Realizações, 368 páginas)

 por Daniel Lopes, psicólogo e editor da Amálgama – As duas ideias principais que dão unidade a esta reunião de artigos e conferências do neurologista, psicoterapeuta e psiquiatra Viktor Frankl se complementam maravilhosamente. A primeira é a de que o indivíduo em sofrimento não se resume apenas ao seu sofrimento. Traduzindo em termos de saúde mental: um indivíduo não é apenas o seu diagnóstico, e quem o reduz desta forma já andou meio caminho para aumentar-lhe ainda mais o sofrimento. E a segunda ideia de Frankl é que o ser humano que existe além dos sintomas sempre tem um potencial para se desenvolver – desde que associe suas ações a valores que lhe são importantes. É este modo de vida que preenche uma existência de sentido. Por outro lado, o indivíduo que busca orientar sua vida apenas pela satisfação de necessidades imediatas são aqueles que têm grande chance de parar em um consultório psicológico com a queixa de sensação crônica de vazio. Eu gosto de pensar que a Logoterapia de Frankl tem na Terapia de Aceitação e Compromisso do americano Steven Hayes sua versão moderna e baseada em evidências. Todo leitor interessado em psicologia ou filosofia precisa ler Viktor Frankl.

O cadete e o capitão: A vida de Jair Bolsonaro no quartel, de Luiz Maklouf Carvalho (Todavia, 256 páginas)

 por Paulo Roberto Silva, jornalista – A Luís Maklouf de Carvalho não cabe a objeção bolsonarista default: “Mas e o PT?”. Muito antes de ser modinha, ele descobriu a relação fora do casamento de Lula com Miriam Cordeiro e sua filha Lurian. Isto lhe valeu uma inimizade eterna com o petismo. Em O cadete e o capitão, Maklouf volta suas baterias para o processo que levou Bolsonaro para fora do Exército. Baseado apenas nos documentos oficiais das Forças Armadas sobre a trajetória do atual presidente, desde a Aman até o julgamento no Superior Tribunal Militar, descobrimos seu gosto pelo garimpo, sua postura sindicalista, seu comportamento de mentiroso crônico – indicado no documento assinado pelo Ministro do Exército e que resultou em sua expulsão. Também descobrimos que em sua absolvição pelo STM, foi menos julgado o plano terrorista de Bolsonaro contra o abastecimento de água no Rio de Janeiro e mais o incômodo dos ministros indicados pela ditadura com a liberdade de imprensa na abertura democrática. Para quem quer conhecer o caráter de quem nos governa neste final de década, O cadete e o capitão é leitura obrigatória.

Sobre o relativismo pós-moderno e a fantasia fascista da esquerda identitária, de Antonio Risério (Topbooks, 142 páginas)

 por Eli Vieira, biólogo geneticista (UnB, UFRGS, Cambridge) – Antonio Risério se cansou dos pequenos stálins de diretório central de estudantes das universidades federais. Ele, como eu, pensa que Bolsonaro está onde está como resultado do besteirol identitário e relativista, entre outros motivos, mas, se há um motivo intelectual, é esse: retaliação conservadora a loucuras identitárias. É autoritária e indesejável a tentativa de refundar o pensamento social e a opinião pública com base em análises rasas de dicotomias dogmáticas de opressores vs. oprimidos, patriarcado vs. mulheres, heterossexuais vs. LGBT, supremacia branca vs. movimento negro unificado, e a pseudo-complexificação dessas dicotomias na forma de uma “teoria interseccional”. Risério quer vingar a memória de Spinoza, nos levando de volta ao ponto de vista da eternidade, exigindo objetividade, imparcialidade e demais valores epistêmicos que pós-modernos porcamente atacaram.

Capanema: A história do ministro da Educação que atraiu intelectuais, tentou controlar o poder e sobreviveu à Era Vargas, de Fábio Silvestre Cardoso (Record, 420 páginas)

 por Martim Vasques da Cunha, crítico literário e escritor – No livro de estreia do historiador Fabio Silvestre Cardoso temos a descrição de um processo histórico cujo epicentro foi o Ministério da Educação e Saúde comandado por Gustavo Capanema, de 1934 a 1945, o mais longevo ministro desta pasta que o Brasil já teve. Sem hesitar, Cardoso prova que a estratégia principal deste personagem foi a criação de um projeto autoritário que, lentamente, se expandiu para um totalitarismo cultural que perdura até os nossos dias. Segundo o biógrafo, Capanema foi um dos responsáveis, junto com Getúlio Vargas, por “uma mudança de mentalidade, que envolvia, de um lado, a ressignificação do papel do Estado como elemento necessário para a vida brasileira; e, de outro, a ideia de que este mesmo ator podia fazer uso de quantos instrumentos fossem indispensáveis para que seus objetivos fossem alcançados – mesmo que, para tanto, as liberdades fossem invadidas”. Desde jovem, Capanema era reconhecido entre seus pares como um intelectual invejável – e foi infelizmente esta habilidade que o levou aos corredores do poder, de acordo com o livro. A sua percepção sobre si mesmo era de que sua trajetória foi a de um “político da cultura”. Em outras palavras: o seu Ministério da Educação e Saúde não foi apenas uma revolução política ou técnica. Foi sobretudo uma revolução nos fundamentos da cultura tupiniquim, muito semelhante ao que o dono da pasta nestes tempos de Brasil acima de todos, com Deus acima de tudo – o sr. Abraham Weintraub –, quer fazer na estrutura educacional brasileira. A diferença é que, desta vez, o ministro dos nossos dias não tem ideias próprias. Somente retalhos confusos, disfarçados com a retórica apocalíptica de um marxismo e de um a guerra culturais que, na verdade, são palavras de ordem para incitar uma militância que deseja apenas o caos. Uma biografia admirável, corajosa e fundamental para se entender esses dias plenos de “som e fúria”.

O Brasil inevitável: Ética, mestiçagem e borogodó, de Mércio Gomes (Topbooks, 413 páginas)

 por Joel Pinheiro da Fonseca, economista (Insper) e mestre em Filosofia (USP) – O antropólogo e ex-presidente da Funai Mércio Gomes tenta algo bastante fora de moda em seu novo livro. Na esteira de Darcy Ribeiro, com quem trabalhou nos anos 90 (e a quem, junto de Vilém Flusser e Luiz Sérgio Coelho de Sampaio, dedica o livro), Mércio busca a identidade nacional. Em meio à história de violência que foi a constituição do Brasil a partir da fusão de europeus, negros e índios, criou-se algo novo neste vasto território: um novo tipo de homem e de sociabilidade. A mestiçagem – cuja origem não foi apenas violenta, como ele bem descreve – não misturou apenas raças, mas também culturas. Em geral, salienta-se muito a herança portuguesa para nosso jeito de ser, mas o autor, com sua extensa experiência junto aos índios, consegue mostrar que muito do modo de ser tupi está presente conosco até hoje. Em tempos em que esquerda e direita, em guerra, propõem visões apenas negativas do Brasil (para a esquerda, o país da desigualdade e da exploração; para a direita, o país da preguiça e da corrupção), Mércio ousa nos pintar um Brasil como ele é em toda sua complexidade, no que deixa entrever o que ele poderia ser, o seu potencial ainda inexplorado. Sem nunca deixar de enfrentar nossas piores características, como o desprezo pela coisa pública e o racismo. Apesar de um ou outro momento fora de lugar – como páginas algo ternas defendendo o hábito de criar passarinhos em gaiolas e uma longo e desnecessário panorama da história da filosofia ocidental à luz das teorias de Luiz Sérgio Coelho de Sampaio – as ambições desse livro ousado, recheado de história e antropologia, podem inspirar qualquer leitor em busca de um Brasil que possa nos inspirar. Se queremos superar nossas divisões e adquirir um verdadeiro orgulho nacional por aquilo que nos distingue, talvez parte da resposta esteja neste caminho.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Revista Exame seleciona alguns livros de 2018

Entre eles o do nosso colega e amigo, historiador Luis Claudio Villafañe G. Santos, que escreveu a melhor biografia do Barão do Rio Branco. Veja abaixo.
Paulo Roberto de Almeida


Os livros imperdíveis de 2018 para quem quer entender o mundo melhor

Confira uma seleção de livros sobre acontecimentos históricos e atuais que são boas alternativas de presente para este Natal

Exame, 22/12/2018


São Paulo – O ano de 2018 trouxe impactos significativos para o Brasil e para o mundo. Mais do que nunca, estar a par dos acontecimentos históricos e atuais, bem como compreender seus desdobramentos, se tornaram essenciais. E nada melhor do que mergulhar em livros interessantes sobre temas relevantes para se preparar para as mudanças que estão por vir.
Veja também
  • O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Com isso em mente, EXAME selecionou alguns títulos lançados em 2018 no Brasil e que cumprem esse objetivo e incluiu, ainda, duas alternativas ainda não lançadas no Brasil e em inglês, mas que podem ser facilmente encomendadas pela internet. Essas obras são, ainda, excelentes alternativas de presentes para si, amigos ou familiares neste Natal. Veja abaixo a seleção.

Como as Democracias Morrem
Autores: Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
Preço: a partir de 47 reais
Um dos livros mais vendidos no Brasil em 2018, a obra dos professores de Harvard se propõe a analisar o estado atual da democracia no mundo. Mostra, ainda, como rupturas ao sistema político não ocorrem hoje necessariamente por meio de golpes ou revoluções, mas pela corrosão lenta, gradual, quase que imperceptível, das instituições que têm como papel o monitoramento e a proteção dos valores democráticos em uma sociedade.
Pouco antes de o livro chegar ao Brasil e antes da eleição de Jair Bolsonaro à Presidência, Levitsky concedeu uma entrevista a EXAME sobre o momento que a democracia enfrenta no mundo e também no Brasil e deixou um alerta: “Todas as democracias enfrentam crises e é essencial que tenham capacidade de sobreviver às tempestades. A tempestade irá passar pelo Brasil. A questão é se as elites vão resistir à tentação de quebrar as regras antes que o pior tenha passado.”
Veja também
  • Professor de governo da Universidade de Harvard Steven Levitsky, autor de Como as Democracias Morrem
Fascismo – Um Alerta
Autora: Madeleine Albright
Preço: a partir de 45 reais
Madeleine Albright foi embaixadora dos Estados Unidos na ONU e é ex-Secretária de Estado dos Estados Unidos da gestão democrata de Bill Clinton. Neste livro, a diplomata revisita os conflitos entre a democracia e o fascismo durante todo o século passado. E o faz com conhecimento de causa: nascida na ex-Tchecoslováquia, a diplomata viveu os horrores do nazi-fascismo europeu com familiares mortos em campos de concentração nazistas.
Pertinentemente escrito como um alerta ao mundo em razão da ascensão de governos populistas e do recrudescimento do discurso autoritário, o livro chegou ao Brasil em outubro de 2018.
Veja também
  • Cena do filme A Onda, de 2008, sobre ascensão do fascismo dentro de uma escola
Filhos e Soldados
Autor: Bruce Henderson
Preço: a partir de 50 reais
Uma das últimas histórias ainda não exploradas em profundidade sobre a Segunda Guerra Mundial, a saga dos meninos judeus alemães que escaparam no nazismo e escolheram volta à Europa para combatê-lo é o tema desse livro do autor americano Bruce Henderson.
Fluentes na língua e conhecedores dos costumes dos alemães, o grupo fez parte de uma unidade de inteligência do exército americano treinada em Camp Ritchie, em Maryland. Os “Ritchie Boys”, como foram apelidados, foram os responsáveis por levantar cerca de 60% da inteligência usada pelas forças aliadas no palco europeu da guerra.
EXAME, Henderson concedeu uma entrevista exclusiva na qual tocou, ainda, nos aspectos humanos dos personagens que entrevistou para compor a obra. “O aspecto mais emocionante foi o momento em participaram da libertação dos campos de concentração. Eles entraram nesses campos sem saber se encontrariam suas famílias”, contou. Apesar do tema delicado, Henderson conseguiu narrá-lo de forma leve, emocionante e interessante.
Veja também
  • Soldados judeus alemães que lutaram contra o nazismo pelos Aliados
“Minha História”
Autora: Michelle Obama
Preço: a partir de 59 reais
Michelle Obama é um fenômeno nos Estados Unidos: além de ter sido a primeira mulher negra a ocupar o posto de primeira-dama, é de uma popularidade tão impressionante entre os americanos que seu nome surgiu diversas vezes como possível candidata à Presidência dos EUA. Especulação sempre negada por ela, pelo menos até agora.
Nesse livro, que foi lançado em novembro de 2018, ela fala sobre as experiências que a moldaram, saindo da infância em Chicago, a vida conciliando o papel de mãe e o de executiva e os anos na Casa Branca entre 2009 e 2017, no qual teve um papel central na promoção dos direitos das mulheres, inclusividade de diversidade.
Michelle é vista como um exemplo por mulheres e meninas mundo afora e sua história está agora disponível em 24 idiomas. Em apenas 15 dias depois do lançamento, a advogada conquistou mais um título do qual se orgulhar: o de livro mais vendido do ano nos Estados Unidos.
Veja também
  • Michelle Obama, ex-primeira dama dos EUA
Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco
Autor: Luís Cláudio Villafañe G. Santos
Preço: a partir de 80 reais
Escrito por Villafañe, que é diplomata e historiador, esse livro narra em detalhes a vida pessoal de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco, e é um retrato das transformações que o Brasil, e o mundo, viveram na virada do século 19 para o século 20.
Em entrevista a EXAME, Villafañe contou que seu objetivo era o de mostrar aspectos da personalidade de Juca Paranhos, um grande articulador das fronteiras territoriais brasileiras. “Mostro um Rio Branco que muda muito. Ele vai. Ele volta. Ele se arrepende. Ele se reinventa. Ele tenta se regenerar”, explicou. O maior mérito do patrono da diplomacia brasileira? “Não optar por saídas simplistas”.
Em um momento no qual a política externa brasileira está, mais do que nunca, no centro das atenções, a biografia do Barão do Rio Branco, sem dúvidas um dos personagens mais importantes da história do país, é essencial.
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Arriscando a Própria Pele – Assimetrias Ocultas no Cotidiano
Autor: Nicholas Nassim Taleb
Preço: a partir de 54 reais
“Nunca confie em alguém que não arrisca a própria pele”. É a partir dessa premissa que o ensaísta Taleb, autor de A Lógica do Cisne Negro (2007) e apelidado de “O Nietzsche de Wall Street”, se debruça sobre os atos e decisões de pessoas em posições de poder e cobra que essas mesmas pessoas assumam a responsabilidade pelas consequências disso.
Na sua visão, a sociedade é governada por um pequeno grupo de indivíduos que vivem em posições privilegiadas e não são impactados pelos desdobramentos dos seus atos, e, portanto, “não arriscam a própria pele”, como o autor sugere no título. Supondo que isso mudasse e as decisões passassem a ser tomadas considerando as responsabilidades do tomador, “podemos alterar condições fundamentais da sociedade”.
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Medo: Trump na Casa Branca
Autor: Bob Woodward
Preço: a partir de 78 reais
Se tem uma coisa que o jornalista Bob Woodward conhece, são os meandros do poder na Casa Branca. Foi ele, afinal, que desvendou ao lado de Carl Bernstein em 1974 um dos maiores escândalos da história da presidência americana, o caso que ficou conhecido como Watergate, cujos desdobramentos ajudaram a derrubar o então presidente Richard Nixon.
Agora, Woodward usa da sua habilidade investigativa e narrativa nesse livro que investiga os bastidores da gestão do atual mandatário, o republicano Donald Trump, e detalha o clima que permeou momentos-chave da sua presidência, como o bombardeio das forças sírias após um ataque químico contra civis que teria sido ordenado pelo presidente Bashar Al-Assad.
E o retrato montado por Woodward com base em entrevistas com oficiais da confiança de Trump não é nada positivo: sua gestão foi tachada como “casa de loucos” e o presidente descrito como “uma criança da quinta série”.
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O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo
Autor: Steven Pinker
Preço: a partir de 65 reais
Neste livro, cientista cognitivo Steven Pinker quer trazer boas notícias: deixe de lado as manchetes urgentes e apocalípticas, o bem-estar está ascensão. Para tanto, e reconhecendo o momento atual de turbulências mundo afora, ele analisa gráficos e dados em diferentes áreas, educação e saúde, por exemplo. A partir do retrato dessa evolução, defende que o avanço do conhecimento da humanidade é essencial para garantir que o progresso continue.
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21 Lições para o Século 21
Autor: Yuval Noah Harari
Preço: a partir de 54 reais
Em “Sapiens”, ele investigou o passado. Em “Homo Deus”, destrinchou o futuro. Agora, o historiador israelense Harari, que se tornou um fenômeno mundial da literatura com esses dois títulos, se debruçou sobre o presente. Em “21 Lições para o Século 21”, ele se propõe a analisar perguntas complexas sobre fenômenos atuais que se colocaram diante da sociedade neste século, como fake news, terrorismo, educação e religião.
O mundo pós-ocidental
Autor: Oliver Stuenkel
Preço: a partir de 64 reais
Vivemos um momento de profunda transformação nas dinâmicas de poder e é justamente sobre isso que trata a obra de Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas. Nela, o autor se propõe a analisar o futuro da ordem global e prevê a descentralização dos poderes políticos, econômicos e globais. E no horizonte estarão oportunidades cada vez maiores de cooperação.
Dear Madam President: An Open Letter to the Women Who Will Run the World
Autora: Jennifer Palmieri
Preço: a partir de 10 dólares
Jennifer Palmieri, diretora de comunicação do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e da ex-Secretária de Estado e candidata à Presidência pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, não acreditava que alguém pudesse se interessar no que ela teria a dizer sobre as eleições de 2016. Hillary, afinal, havia sido derrotada e a Casa Branca teria um novo e improvável mandatário, Donald Trump.
Momentos depois de ter digerido o resultado eleitoral daquela disputa, Jennifer percebeu que tinha, sim, algumas coisas a dizer e muito tinha a ver com a percepção que o público tinha acerca de Hillary e que, segundo a autora, não estava dissociada da questão de gênero. E o fez neste livro que é considerado uma mensagem inspiradora para todas as mulheres que buscam posições de liderança em qualquer área. O livro não conta com tradução para o português e pode ser adquirido no Brasil via internet.
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The Future Is History: How Totalitarianism Reclaimed Russia
Autora: Masha Gessen
Preço: a partir de 16 dólares
Considerado um retrato fiel e atual da Rússia de Vladimir Putin, que está se agarrando cada vez mais ao poder e transformando o país em um regime autoritário, esse livro foi escrito pela jornalista russa, radicada nos Estados Unidos, Masha Gessen. 
Na obra, ela segue a história de quatro personagens, cada qual com seu background, mas todos nascidos em um momento no qual as esperanças pela democracia estavam mais fortes do que nunca na Rússia. A partir de suas jornadas, propõe a montar um retrato sobre o estado político do país hoje. 
Eleito como um dos melhores de 2018 pela conceituada revista Foreign Affairs, o livro de Masha não tem tradução para o português e pode ser comprado via internet.