Pronto: lá vão os companheiros protestar novamente contra os tais de mercados, dizendo que só estão fazendo assim por motivos eleitorais.
Paulo Roberto de Almeida
Contas públicas
Moody's muda perspectiva de nota brasileira para "negativa"
Rating do país continua em Baa2. Deterioração fiscal e economia fraca são explicações da mudança
Logotipo da agência Moody's no escritório de Nova York (Reuters/VEJA)
A agência de classificação de risco Moody's mudou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de "estável" para "negativa", refletindo a piora dos indicadores de risco dos títulos públicos do país. Isso quer dizer, na prática, que os analistas da agência diminuíram a confiança na capacidade de pagamento de dívida soberana do Brasil, na medida que aumenta a deterioração das contas públicas (política fiscal).
Entre janeiro e julho de 2014 foram economizados pelo setor público (Governo Central, estatais, Estados e municípios) apenas 24,7 bilhões de reais, menos da metade da cifra vista em igual período de 2013 (54,4 bilhões de reais). Além de ser o pior para o período desde o início da série histórica, em 2002, o resultado também está distante da meta de superávit primário para todo o ano, de 99 bilhões de reais, o equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo dados do Banco Central, em 12 meses até julho a economia feita para pagamento de juros equivale a apenas 1,22% PIB - ou seja, falta ainda 0,68 ponto porcentual.
A desaceleração da economia, que entrou em recessão no segundo trimestre e a baixa confiança dos investidores também pesaram na decisão da Moody's. "Esses ventos econômicos contrários representam desafios fiscais que impedem a reversão da tendência de baixo crescimento", comenta a agência em relatório divulgado nesta manhã. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 0,6%, depois de ter caído 0,2% (dados revisados) entre janeiro e março. Com isso, a economia brasileira entrou em recessão técnica, representada por dois trimestres consecutivos de queda do PIB.
A nota brasileira, Baa2, porém, continua mantida, apenas foi alterada a perspectiva, alegando que o país continua resiliente aos choques financeiros externos por seu colchão de reservas internacionais. O relatório cita ainda a vulnerabilidade limitada do balanço patrimonial do governo e os benefícios derivados da economia extensa e diversificada do Brasil.
A mudança para "negativa", vale ressaltar, é o primeiro passo para que haja um rebaixamento da nota, também chamada de rating. Essas são importantes sinalizadores da confiabilidade de um país (qual o risco de um calote). Recentemente a Argentina teve seu rating rebaixado devido aos problemas de negociação e pagamento de dívidas.
Em março, a agência de classificação de risco Standard and Poor's (S&P) cortou a nota da dívida soberana brasileira para BBB-, de BBB. Em nota, ela explicou que "as ações contraditórias do governo, com implicações negativas para as contas públicas e a credibilidade da política econômica, somada às estimativas de desaceleração nos próximos dois anos, continuam a limitar a alternativas e o desempenho da economia brasileira". A agência havia alterado para "negativa" a perspectiva da nota brasileira em junho do ano passado — e, desde então, o mercado especulava sobre o rebaixamento.