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domingo, 13 de junho de 2021

Recuerdos da Nova República - Paulo Roberto de Almeida

 Recuerdos da Nova República 

Paulo Roberto de Almeida


Pois é, em 1989 muita gente votou em Collor contra o Lula. 

Depois, em 2002, votaram no Lula contra o Serra.

Depois, em 2010, na Dilma pelo Lula. 

Depois, em 2018, no Bolsonaro contra o Lula. 

Em 2022 será certamente contra o Bolsonaro, em qualquer um que se apresentar, menos o Lula, obviamente, o que poderia permitir a reeleição do genocida. 

E o Brasil afundando, com todos esses “contras”…

Só não se enxerga um estadista. 

Ah, sim, teve o FHC em 1994, por obra e graça de uma brilhante equipe de economistas, que entregaram pronto o Plano Real. Que só não foi perfeito porque o Itamar impediu um ajuste fiscal que nos evitaria os problemas que tiveram de ser resolvidos em 1999. 

Mas o FHC cometeu o grande CRIME da reeleição em 1997. E depois um outro, em 2005, quando passou o pano no Mensalão do Lula. Que resultou no Petrolão, na Lava-Jato, no Eduardo Cunha, no impeachment da Dilma, na JBS do Temer e, finalmente, no genocida que está aí.

Esqueci algum episódio mais palpitante?

Sim, tem algo muito mais grave do que a própria CPI da Pandemia que ocorre atualmente, que levará a pedidos de indiciamento, que serão solenemente ignorados pelo Desprocurador Particular da republiqueta bolsonarista: eu me refiro ao “orçamento paralelo” da República do Centrão (essa sim, com R maiúsculo).

O chamado “orçamento paralelo” é o MAIOR CRIME que se comete contra o Estado de Direito, contra qualquer noção que se tenha de orçamento numa democracia digna desse nome: trata-se de uma PERVERSÃO MONSTRUOSA do que seja legalidade, recuando o Brasil a tempos sombrios, anteriores até mesmo à Magna Carta, 806 anos atrás. 

O Brasil recua, imperceptivelmente para a maioria, mas não para mim, com meus modestos conhecimentos de história.

Sempre será útil recordar esses fatos, mesmo sabendo que outros países conseguem retroceder ainda mais, alguns até de forma recorrente, pelos mesmos erros.

Não sei se é o caso do Brasil: tenho a impressão de que sempre cometemos novos erros. Mas eles são persistentes.

Azar o nosso, não é?


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13/06/2021


domingo, 12 de janeiro de 2020

Trajetória socioeducacional dos ministros brasileiros na Nova República (1985-2014) - Maria Celina D'Araujo, Guilherme L. Ribeiro

Trajetória socioeducacional dos ministros brasileiros na Nova República (1985-2014)
Guilherme L Ribeiro
Revista de Sociologia e Política, v. 26, p. 39-61, 2018, 2018

RESUMO: Analisa-se a composição ministerial da Nova República a partir de cinco fatores: sexo, etnia, idade, procedência regional e escolaridade. Métodos: A pesquisa foi realizada por meio de trabalho empírico e qualitativo sobre o perfil dos ministros da Nova República. Utilizou-se entrevistas, questionários e informações online de vários sites oficiais. Resultados: Mostra-se a tímida democratização do ministério no que toca ao gênero e etnia, a idade média avançada dos ministros ao longo de todo o período, o recrutamento prioritário nas regiões mais ricas e mais populosas, mas contemplando todas as regiões do país. Por fim, destaca-se a surpreendente escolarização desse grupo. De outra parte, verifica-se que, na área econômica, a qualificação acadêmica profissional dos ministros é superior à dos demais e que esse aspecto tem sido constante em todos os governos. Discussão: Sem levar em conta as alianças político-partidárias, inerentes ao presidencialismo de coalizão, mostra-se que, em termos regionais, o gabinete atesta a validade de um dos princípios desse modelo, qual seja, o do equilíbrio federativo. Ademais, ministros altamente educados e com longas carreiras não têm necessariamente habilidades específicas para as pastas que ocupam. São pessoas acima dos 50 anos de idade, do sexo masculino, recrutadas nos estados mais ricos e que estudaram nas melhores escolas. O recrutamento do ministério reflete o arranjo político do Brasil (o "presidencialismo de coalizão") e a desigualdade estrutural do país. 
PALAVRAS-CHAVE: Poder Executivo; ministros; elites políticas; Nova República; formação acadêmica. 
Recebido em 12 de Fevereiro de 2017. 
Aceito em 1 de Maio de 2017. 

I. Introdução 
1 O padrão de nomeação dos ministros no Brasil ainda não é suficientemente estudado e nem ao menos podemos afirmar que exista algo consistente a esse respeito. Aparentemente, à exceção da área econômica, a versão predominante endossada pela tese do presidencialismo de coalizão (Abranches 1988) é que as nomeações decorrem de arranjos político-partidários que desconsideram, na maior parte das vezes, as habilidades específicas ou a qualificação técnica dos escolhidos. Em geral, sabemos pouco sobre as características desse grupo, sua distribuição pelas regiões da federação, sua composição socioeconômica e como suas experiências e saberes disciplinares são distribuídos entre as diferentes pastas. Este artigo procura explicitar os atributos biográficos desse grupo, sua formação acadêmica e origem regional. Sobre este último ponto, lembremos que um dos traços mais importantes do sistema político brasileiro é a busca de equilíbrio entre os entes federativos, adotando um "modelo de federalismo simétrico em uma federação assimétrica" (Souza 2006, p.195). Mesmo com disparidades econômicas e demográficas entre os estados, "do ponto de vista constitucional, todas as unidades constitutivas possuem poderes e competências iguais" (Souza 2006, p.195), o que obriga o acionamento de arranjos alternativos em busca de um equilíbrio minimamente sustentável. O ministério é um dos principais recursos usados para a busca desse precário equilíbrio federativo. Permite a busca sistemática de compensações alternativas para amenizar as desigualdades abissais entre as regiões. O trabalho traz informações detalhadas sobre a maior parte dos ministros do Brasil que ocuparam o cargo por, pelo menos, três meses a partir do governo...
(...)
Doi: 10.1590/1678-987317266503
Publication Date: 2018
Publication Name: Revista de Sociologia e Política, v. 26, p. 39-61, 2018