O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Paul Johnson. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Paul Johnson. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os Intelectuais, de Paul Johnson - resumido e comentado por Carlos U. Pozzobon

Longo, mas apetitoso. Recomendo ir até o final, pois sobra para o próprio autor (aliás desde antes neste excelente resumo comentado).
Paulo Roberto de Almeida

Blog Resumo de livros, de Carlos U. Pozzobon, neste link:
http://carlosupozzobon.blogspot.com.br/2011/10/os-intelectuais-paul-johnson-harper-row.html

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os Intelectuais

Rosseau
Shelley
Marx
Ibsen
Tolstoi
Hemingway, Brecht, Sartre e outros
Paul Johnson tem eventualmente publicado artigos nos jornais brasileiros e é mais conhecido como jornalista, historiador free-lancer e escritor britânico. Nascido em 1928, de origem católica, estudou em escola de jesuítas e depois em Oxford, antes de iniciar sua carreira na Europa onde viveu alguns anos antes de retornar a Londres e atuar em diversos jornais ao longo de sua carreira.
Seu livro Intellectuals foi muito apreciado e recebeu uma tradução brasileira. A razão para escrevê-lo está vinculada a sua biografia. Adepto do socialismo moderado, Johnson iniciou sua carreira na esquerda trabalhista britânica. Mudou de posição mais tarde, quando se convenceu do mal causado pelo sindicalismo na estagnação da economia britânica dos anos 70. A partir de então, tornou-se um aliado de Margareth Thatcher (servindo em seu governo), e sua popularidade lhe garantiu sucesso editorial nos cerca de 40 livros que escreveu em sua carreira.
Intellectuals trata de um conjunto de biografias, com 20-30 páginas cada, de escritores relevantes no mundo das ideias dos últimos 300 anos. Inicia com Rousseau, depois Shelley, Marx, Ibsen, Tolstoi, Hemingway, Brecht, Russell, Sartre, Edmundo Wilson, e os menos conhecidos Victor Gollancz, Lillian Hellman, e diversos outros escritores citados no último capítulo, como James Baldwin.
Pode-se descrever o método de Johnson como uma investigação através da mente do escritor, suas relações familiares, afetivas e sexuais como determinantes de sua obra relativamente ao momento histórico de sua vida, característico do método psicanalítico. Através do entendimento da infância, das relações com os pais e da formação escolar na adolescência, Johnson obtém os determinantes da personalidade que definiram o escritor e sua época. Sua descoberta mais impressionante está na similaridade do temperamento entre Rousseau, Shelley, Marx, Tolstoi e outros. Em todos eles, os traços comuns identificam o mesmo tipo de consciência atormentada.
Mas sua investigação não se reduz a isso. Johnson também analisa a veracidade dos dados propostos pelo escritor em sua obra, com documentos e estatísticas de seu tempo, revelando a verdadeira natureza das propostas e objetivos perseguidos pelo autor em sua vida. Obra e vida são, portanto, duas coisas separadas e antinômicas, uma dialógica, como dizem os críticos literários. Perseguindo este princípio dialógico, Johnson acabou nos revelando as contradições, o sentimento de culpa, o comportamento anti-social e inescrupuloso desses autores com relação à imagem que produziam de si mesmos. Assim, Marx, Ibsen, Tolstoi e James Baldwin não pagavam as dívidas que contraíam dos amigos, e não se importavam com isso, achando que seu gênio era o suficiente para que os outros lhes reverenciassem com a sua ‘ajuda’.
Mas ainda faltou alguma coisa no julgamento de Johnson: a ausência de compreensão do espírito artístico e das inconsistências e contradições da mente do artista com relação a sua própria obra. Se Johnson não tivesse se limitado a autores clássicos, e tivesse tentado penetrar nas incoerências de poetas e pintores da avangarde, veria que a obra de arte está irremediavelmente comprometida com problemas mentais que vão da esquizofrenia à paranóia, da irridência à violência intelectual, da presunção à delinquência, da dissidência ao ostracismo. Essa compreensão o faria aceitar com condescendência o caráter atormentado e abusivo do artista, seu radicalismo estéril e seu egoísmo incontrolável, e não como aberrações limitantes e moralmente condenáveis do caráter. Ao não entender que a contradição é a alma do artista, sua vontade um imperativo de criatividade, e a obra uma condição do próprio artista, Johnson se coloca em um campo de distanciamento que acaba por separar o artista de sua obra. Assim, nas descrições e diálogos da psicologia da personagem, ele percebe detalhes extraordinariamente belos, mas não vê que o tumulto interior do artista age como a argila que dará forma àquela beleza. E termina condenando as incoerências das posições políticas e existenciais. Vejamos alguns casos de Johnson para voltar a esta discussão no final deste ensaio.

Rousseau (1712-1778)

Johnson faz uma dissecação do caráter e das posições de Rousseau. A inquietação de Rousseau levava-o a desconfiar do progresso gradual do Iluminismo: em vez disso, queria uma solução mais radical (p. 3).
“Como parte de sua técnica de garantir publicidade, atenção e favores, ele fazia de uma virtude positiva um dos mais repelentes vícios: a ingratidão... Enquanto professava a espontaneidade, ele era de fato um calculista; e como propagandeasse que era o mais moral dos seres humanos, seguia-se que os outros eram logicamente até mais calculistas, e por piores motivos que ele. Daí que em qualquer relação com os outros ele achava que sempre queriam tirar vantagens, e seu comportamento de homem superior era o de simplesmente superá-los. Ele só queria ganhar dos outros. Por causa de sua natureza ímpar, quem o ajudasse estava de fato fazendo um favor a si mesmo (p. 12)”
O egoísmo não tinha limites na personalidade de Rousseau, a ponto de achar que um homem de sua inteligência não poderia criar filhos. Deixando-os em um Orfanato, Rousseau se identificava com a República de Platão, onde as crianças seriam mais virtuosas se educadas e criadas pelo Estado, uma concepção fascista dos tempos antigos, totalmente repelida pela cristandade. Mas esta crueldade foi a raiz do seu totalitarismo incipiente, revelado através de sua posição a favor da educação pública.
Rousseau estando intimamente relacionado com o início do Romantismo, achava que a natureza tinha precedência na vida humana, criando aforismos que marcaram profundamente as próximas gerações, tais como ‘os frutos da terra pertencem a todos nós, e a terra mesma a ninguém’. ‘O homem nasceu livre e em toda a parte encontra-se acorrentado’.
“Rousseau queria substituir a sociedade existente por algo totalmente diferente e essencialmente igualitário; mas, feito isso, a desordem revolucionária não deveria ser permitida. Os ricos e privilegiados, com a força da ordem, seriam substituídos pelo Estado, corporificando a Vontade Geral, ao qual todos deveriam obedecer. Esta obediência tornar-se-ia instintiva e voluntária, uma vez que o Estado, por um processo sistemático de engenharia cultural, deveria inculcar a virtude em todos. O Estado era o pai, a pátria e todos seus cidadãos eram crianças do orfanato paternal (p. 24) ”.
A Vontade Geral em Rousseau era uma premonição antecipada do leninismo e sua teoria do centralismo democrático.
“Leis elaboradas pela Vontade Geral devem, por definição, ter uma autoridade moral. ‘As pessoas que fazem leis para si mesmas não podem ser injustas’. ‘A Vontade Geral está sempre correta’. Considerando que o Estado é ‘bem-intencionado’, a interpretação da Vontade Geral pode ser seguramente deixada a seus líderes uma vez que eles sabem bem que a Vontade Geral sempre favorece a decisão mais apropriada ao interesse público (p. 24) ”.
Johnson percebeu que as ideias germinativas da Vontade Geral em Rousseau seriam mais tarde substituídas pela Ditadura do Proletariado, ou por neologismos criados pelos movimentos revolucionários, e conclui:
“o Estado de Rousseau não é só autoritário: ele é também totalitário, uma vez que ele ordena todos os aspectos da atividade humana, incluindo o pensamento. Sob o Contrato Social, o indivíduo deveria alienar-se com todos os seus direitos, ao conjunto da comunidade (p. 25)”.
Esta doutrina antecipou Mussolini em 150 anos:“Tudo com o Estado, nada fora do Estado, nenhuma coisa contra o Estado”.
Em essência, a submissão do indivíduo ao Estado seria feita pela educação. O indivíduo seria a criança e o Estado o pai.
A aceitação das ideias de Rousseau provinha do fato de que ele se propagandeasse o homem mais virtuoso do seu século. Ele não seria importante se sua fama não caísse como uma luva no acontecimento histórico mais importante após a sua morte: a Revolução Francesa, que em busca de inspiração, tornou Rousseau seu herói e guia: o patrono do radicalismo do Estado de Terror.
Mas o que Johnson nos mostra através da pesquisa com diversos escritores que estudaram a vida e a personalidade de Rousseau? Diderot, seu contemporâneo e com quem conviveu durante muito tempo, considerou-o um “patife, vão como Satã, ingrato, cruel, hipócrita e cheio de malícia”. Para Voltaire, outro contemporâneo, Rousseau era “um monstro de vaidade e vileza”.

Shelley (1792 – 1822)

Foi um dos poetas que renovaram a língua inglesa no século XIX, juntamente com Byron e Keats. Shelley era um porra-louca consumado. Como Rousseau, ele estabeleceu que o propósito da virtude deveria ser compatível com a natureza.
“Seu ensaio A Defence of Poetry tornou-se a declaração mais influente da missão social da literatura desde a antiguidade (p. 28)”.
Enquanto aluno de Oxford, sua personalidade provocativa e irrequieta levou-o a escrever um panfleto em defesa do ateísmo. Para a Inglaterra vitoriana, isso foi um escândalo abominável. Não contente com suas ideias, Shelley enviou o panfleto a nada menos que as próprias autoridades universitárias, o que lhe causou a expulsão da escola e uma terrível discussão com o pai e a família. Para evitar o colapso da proteção paterna (Shelley era filho de uma família abastada), tentou conseguir o apoio de sua mãe e depois de sua irmã, mas foi rejeitado pelo seu radicalismo. Um amigo seu chamado Hunt, a quem Paul Johnson considerava desonesto, tentou persuadir o poeta que os homens de ideias avançadas como eles não tinham a necessidade moral de pagar suas dívidas: o trabalho em prol da humanidade era suficiente em si mesmo (p. 46).
Este caráter saqueador haveria de fazer sucesso no Brasil em todos os tempos, mas se tornou especialmente notável na ideologia do revolucionário, cujo espírito o predispõe a justificar erros pessoais em favor de uma grande causa. Fator determinante dos tempos modernos, essa predisposição acentuada e constante constitui uma psicopatia revolucionária. De fato, a principal característica do indivíduo que constrói em seu imaginário uma grande causa que se propõe redentora da humanidade, independentemente do nome que venha a assumir, reflete-se no relaxamento moral para com as pequenas coisas do cotidiano e nas relações pessoais mais próximas. Tudo se passa como se uma grande causa em abstrato, justificasse pequenas trapaças em concreto.
Shelley tinha esse caráter irascível de querer transformar toda a sociedade e, para isso, acabar até mesmo com a religião. Este inconformismo exasperado, entretanto, não o levou a pregar a violência. Ao contrário, durante muito tempo Shelley se mostrou simpático a ideias de não violência, uma vez que seu temperamento não era voltado para a ação. Ele não tinha o caráter revolucionário de Byron – se restringia à agitação intelectual. Teve um fim trágico na Itália. Morreu pouco antes de completar 30 anos, quando seu barco afundou próximo ao litoral de La Spezia.

Karl Marx (1818 – 1883)

Considero o principal ensaio de Johnson sobre a relação do intelectual com a personalidade abusiva. A vida pessoal de Marx foi completamente contraditória com suas postulações intelectuais. Seu ódio ao capitalismo e aos judeus tem início no seu período estudantil, quando contraiu empréstimos com juros altos, e se prolonga por toda a vida. Em Marx, a predisposição para o ódio estava intimamente relacionada com o desejo de poder. Mais que um iconoclasta, Marx queria revirar a sociedade e não mediu esforços durante toda a sua vida para a consecução deste ideal.
A primeira coisa chocante em Marx é sua desonestidade intelectual. Marx queria criar uma filosofia que fosse científica – expressão que começou a ser usada no século XIX para os fenômenos da natureza, e que Marx incorporou fraudulentamente.
“Ele e seu trabalho não eram científicos. Ele sentiu que tinha descoberto uma explicação científica para o comportamento humano na história, semelhante ao de Darwin na teoria da evolução. A noção de que o marxismo é uma ciência, de uma forma que nenhuma outra filosofia jamais poderia ser, foi implantada como uma doutrina pública nos estados que seus seguidores fundaram de tal forma que ela colore os ensinamentos de todos os assuntos em suas escolas e universidades (p. 61)”.
Mas por mais que seus seguidores chamassem suas doutrinas de científicas, elas não passavam de uma escabrosa coleção de dados destinados a ocultar a verdade. Começando com a situação da classe operária na Inglaterra. Em um ensaio assinado por Engels, Marx se associa na descrição da vida dos operários nas fábricas em 1858, com dados de 1818 (portanto 40 anos depois), e ainda anteriores a uma lei de 1823, que criava inspeções governamentais e exigia condições sanitárias adequadas no ambiente de trabalho. Sua descrição da exploração impiedosa da classe operária não era encontrada no ambiente industrial, mas em alguns setores ainda atrasados da economia, como em padarias, olarias e confecções familiares e estabelecimentos do interior.
Uma das coisas decepcionantes em Marx foi a descoberta de que ele nunca entrou em uma indústria, nunca esteve envolvido com o ambiente de trabalho e sequer se arriscou a entrar em uma mina de carvão. E trabalhando com dados estatísticos, sua atitude era completamente anti-científica para um arauto do socialismo científico. Ele simplesmente ignorava os dados que contradissessem sua teoria já formada: a de que a expansão do capitalismo seria o seu próprio fim. Marx via no aumento e concentração do capital a causa de mais pobreza que, por sua vez, levaria à revolução que iria acabar com o capitalismo. A história mostrou que ocorreu exatamente o contrário, mas não depois da morte de Marx, porém durante seu próprio tempo. Em 1860, sob o capitalismo, os operários já tinham condições de vida bem melhores do que meio século antes.
Engels havia tentado provar que as condições de vida no século XVIII eram melhores do que na revolução industrial no século XIX, quando de fato eram piores. E a revolução industrial, ao dar emprego a milhares de camponeses expulsos da terra, foi uma tábua de salvação para eles.
Autoritário, Marx desprezava as conquistas graduais dos trabalhadores, e frequentemente insultava líderes operários que mostravam as melhorias obtidas por suas reivindicações e movimentos grevistas. Foi o caso de sua discussão com Lassalle, um líder judeu importante na social-democracia alemã de seu tempo. Da mesma forma com Proudhon, a quem acusou no ‘Miséria da Filosofia’ de infantilismo e de grosseira ignorância para com a economia. Um líder alemão, que havia se transladado para os EUA, chamado Hermann Kriege, e de lá havia proposto uma reforma agrária com a distribuição de 160 acres para cada agricultor acendeu a chama da ira de Marx, que desconhecendo totalmente a situação nos EUA, denunciou que eles podiam ser recrutados na base da promessa de terra, mas uma vez que a sociedade comunista se estabelecesse, a terra seria explorada coletivamente.
Sua visão messiânica do proletariado como o redentor da humanidade, sua presunção de ter descoberto as leis da história, o destino da humanidade, fizeram-no progredir cada vez mais em seus erros. Descartando tudo o que não se adequava aos seus propósitos, ele chegou a misturar messianismo com política. Um de seus críticos, o filósofo Karl Jasper, observou:
“O estilo dos textos de Marx não é a de um investigador... ele não cita exemplos ou fatos que possam ir contra a sua teoria, mas somente aqueles que claramente suportam ou confirmam aquilo que ele considera a verdade derradeira. A abordagem geral é a de justificação, não de investigação, porém é a justificação de alguma coisa proclamada como a verdade perfeita com a convicção não de um cientista, mas de um crente (p. 62)”.
“Marx é o caso do teórico cujas motivações não são o amor pela verdade, a busca do conhecimento per se. Ao contrário, seu trabalho é consequência de sua personalidade: seu apreço pela violência, seu apetite pelo poder, sua inabilidade em lidar com o dinheiro (p. 69)”.
Seu estilo de vida boêmio, indiferente aos outros, vivendo de empréstimos nunca quitados, levou-o a uma vida familiar repleta de dissabores. Sua própria mãe chegou a recusar-se a pagar suas dívidas, reduzindo suas relações ao mínimo.
“É atribuída a ela a observação amarga de que ‘Karl deveria se preocupar mais em acumular capital em vez de apenas escrever sobre ele’ (p. 74)“.
Johnson, por fim, desmascara a maior parte dos aforismos que tornaram Marx famoso: ‘os trabalhadores não têm um país’; ‘os proletários não têm nada a perder senão seus grilhões’ (Marat); ‘a religião é o ópio do povo’ (Heine); ‘a cada um conforme suas habilidades, a todos conforme suas necessidades’ (Louis Blanc); ‘trabalhadores de todos os países, uni-vos’ (Karl Schapper); e por fim a ‘ditadura do proletariado’ (Blanqui). Mas Marx foi capaz de produzir seus próprios aforismos como: “a ideia dominante de uma época é a ideia de sua classe dominante (p. 56)”.
Porém, a sentença de Johnson sobre Marx é impiedosa: Marx falhou porque foi anti-científico. Não podendo admitir a melhoria constante como uma natureza intrínseca do capitalismo, e tendo que se condicionar à visão messiânica de seu fim, ele terminou se revelando um intelectual fraudulento.
“Se Marx, então, embora em aparência um scholar, não foi motivado pelo amor da verdade, qual teria sido sua força energizante na vida? Para descobrir isso, temos que examinar mais detidamente seu caráter. É um fato, e em alguns casos um fato melancólico, que a produção massiva do intelecto não surge dos trabalhos abstratos do cérebro e da imaginação; eles estão profundamente enraizados na personalidade. Marx é um exemplo espetacular deste princípio. Já considerei a apresentação de sua filosofia como uma amálgama de sua visão poética, sua habilidade jornalística e seu academicismo. Mas também pode ser mostrado que seu conteúdo real pode estar relacionado com quatro aspectos de seu caráter: seu gosto pela violência, seu apetite pelo poder, sua inabilidade de lidar com dinheiro e, sobretudo, sua tendência em explorar os que estivessem à sua volta (p. 70)”.
Sua ficha como homem violento foi descrita pelos estudos do jovem Marx, seu envolvimento em brigas, duelos, discussões violentas, agressões na universidade e até detenção pela polícia por porte ilegal de arma. Sua propensão para discutir e se intrigar com os outros era notória. Ele não se continha em criticar os que lhe estavam próximos até que não os tivesse dominado totalmente. O irmão de Bruno Bauer chegou a escrever um poema sobre sua personalidade: “O amigo moreno de Trier em fúria atroz / Seu punho maldito fechado, enquanto ruge interminavelmente, / Como se dez mil demônios lhe suspendessem no ar (p. 70)”.
Marx tinha a pele pálida, era baixo e robusto e usava roupas escuras e desbotadas que lhe davam um aspecto de sujo. Johnson garante que, de acordo com descrições de contemporâneos, Marx raramente tomava banho. Johnson chega ao ponto de considerar que a violência em Marx era tal, que parte de seus livros teria sido escrita em estado de fúria. E que, se tivesse tomado o poder em algum lugar, certamente teria sido um ditador cruel e implacável. Bakunin, que foi amigo por um tempo e depois terrivelmente criticado por Marx, deu sua sentença patética: “Marx não acredita em Deus, mas acredita em si mesmo e faz com que todos o sirvam. Seu coração não está cheio de amor, mas de amargura e sente muito pouca simpatia pela raça humana (p. 73)”.
Curiosamente, as relações de Marx não eram a de quem tivesse compaixão para com seus semelhantes. Uma das empregadas da família, uma camponesa chamada Helen Demuth, foi criada de sua mulher escocesa para cuidar das crianças (apenas 2 filhas sobreviveram), e amante de Marx. Em 1951, ela teve um filho de Marx que, concebido às escondidas, foi criado por outra família. Nunca se soube até que ponto Jenny (sua mulher) soube disso. Mas o fato é que Marx permitiu que o filho visitasse a mãe uma vez por semana, entrando pela porta dos fundos. Marx nunca teve relações com esse filho, e mesmo se recusou a reconhecer a paternidade. Seu nome era Freddy, e sua mãe chamada Lenchen pela família, trabalhou toda a sua vida na casa dos Marx, sem nunca ter recebido um vintém.

Ibsen (1828 – 1906)

Ibsen foi uma extraordinária personalidade que enriqueceu o teatro do século XIX e que combinava um medo profundo e uma correspondente covardia com explosões de cólera. Johnson faz um estudo de sua personalidade como poeta e dramaturgo, que obcecado pela própria vaidade, sequioso de poder e dominação sobre os outros se tornava muitas vezes ridículo ao se apresentar vestido de medalhas que colecionava, em uma Noruega provinciana para os padrões escandinavos. Ibsen tinha um cuidado maníaco com o vestir e o apresentar-se. Sua maior paixão era sentir-se superior aos outros e ser cortejado pelo mundo social. O mais importante de sua obra é a luta pela liberação da mulher, que causou sensação com a peça ‘A Casa das Bonecas’, representada até hoje. Johnson acha que o ponto central em Ibsen é o homem seguir sua própria consciência, mesmo quando ela entra em choque com as convenções sociais.
Ibsen teve uma vida juvenil boêmia. No auge da fama, resolveu afastar-se dos homens e manter-se em uma ortodoxia ao ponto de se tornar uma caricatura. Mas o paradoxal é que por trás das ideias de libertação das cadeias que prendiam os seres humanos aos preconceitos, Ibsen sustentava um total desprezo pela democracia parlamentar, pelo governo da maioria, alegando que somente as minorias deveriam governar, pois a inteligência era reservada a poucos. Contraditório ao extremo, odiava os conservadores de seu país, mas invejava o governo despótico da Rússia. Aconselhava as pessoas a nunca falar de si mesmas para os outros e a guardar seus segredos só para si.

Tolstoi

Leon Tolstoi (1828 – 1910)

Tolstoi é um caso típico da alienação do gênio e da irascibilidade como criação artística. Johnson considera Tolstoi o mais ambicioso dos intelectuais que ele examinou. Servindo no exército, ainda jovem, Tolstoi escreveu:
“devo me acostumar com a ideia de que sou uma exceção, de que tanto estou à frente da minha época ou que eu sou uma dessas naturezas inadaptáveis, incongruentes, que nunca ficará contente (p. 110)”.
A força interior de Tolstoi provinha do fato de já ter nascido um escritor. Desde sua adolescência, a observação das pessoas e da natureza lhe predizia que sua missão seria a literatura. Mas ele entrava em conflito com seu próprio talento. Em pouco tempo suas preocupações lhe dispersavam do foco principal, acabando por descaracterizar toda a sua vida. Compulsivo, perdia somas incríveis de dinheiro no jogo, pois sua obsessão fatal era a roleta. Mesmo provindo de uma família de proprietários de terra, com centenas de camponeses vivendo na servidão, sua impulsividade com as próprias ideias não o permitia pensar nas consequências dos seus atos.
Sua vida pode ser cronometrada em uma fase mais criativa, e uma senilidade prolongada e de criações secundárias, algumas beirando o ridículo. Na fase literária mais importante, na década de 1860, Tolstoi escreveu ‘Guerra e Paz’ e, na década seguinte, ‘Ana Karenina’. Nos trinta anos seguintes de sua longa vida ele fez uma grande quantidade de coisas às quais atribuía prioridade moral mais importante. Para os aristocratas de todos os tempos, o ato de escrever é algo destinado aos seus inferiores.
Tal como Byron, que nunca considerou a poesia sua tarefa mais importante, Tolstoi trocou a literatura pela profecia, e se dedicou a causas tão extravagantes como criar uma nova religião e resolver o problema social da Rússia pela educação dos camponeses. No primeiro caso, chegou a atribuir-se o papel de um novo Messias. No segundo caso, chegou a fundar 70 escolas para camponeses no qual ele próprio assumiu o papel de pedagogo e educador. Conforme o seu entusiasmo por uma atividade ocupava toda a sua mente, o desprezo pelo que tinha feito lhe parecia uma coisa natural. A um poeta amigo chegou a dizer – em uma dessas fases – que escrever histórias era uma coisa ‘estúpida e vergonhosa (p. 114)’.
Johnson considera Tolstoi um caso típico da prática do auto-engano. Querendo fazer o que não estava moralmente qualificado, ele conduziu sua família para um “deserto de confusões (p. 114)”. Tinha um padrão de personalidade que Johnson descobriu como constitutivo dos intelectuais: apego pelo bem geral da humanidade e desprezo pelos indivíduos que lhe estão próximos. Do ponto de vista sexual, sua vida foi de uma devassidão alarmante. Somente um sentimento de culpa muito forte podia fazer alguém ser devasso e profeta ao mesmo tempo, um tema que depois seria explorado por André Gide.
Johnson descreve em detalhes as pessoas com quem Tolstoi se relacionava sexualmente, pois ele guardava suas confidências em um livro de anotações. Aos 34 anos casou-se com Sonya Behrs, que tinha apenas 18 anos. Tolstoi não acreditava no casamento, apesar de acreditar na família, e no último minuto, antes da cerimônia de suas núpcias, pegou sua noiva Sonya e saiu em lua-de-mel sem ir à cerimônia. Segundo Johnson, eles tiveram um dos piores (e mais bem registrados) casamentos da história.
"É uma das características dos intelectuais acreditar que segredos, especialmente os sexuais, são danosos. Tudo deve ser ‘aberto’. A tampa deve ser descoberta em cada uma das caixas de Pandora. Marido e mulher devem revelar tudo um ao outro... Tolstoi iniciou pedindo que sua esposa lesse seus diários, que tinham anotações de quinze anos passados. Ela ficou pálida ao descobrir que ele continha detalhes de toda a sua vida sexual, incluindo visitas a bordeis e cópulas com prostitutas, ciganas, mulheres nativas, suas próprias servas, e até mesmo amigas de sua mãe (p. 119)”.
Com esse comportamento, Johnson considera Tolstoi um monstro sexual. Sonya ficou 12 vezes grávida durante 22 anos. A maior parte dos filhos morreu nos primeiros meses de vida. Mas o pior de tudo é que ele tinha considerações variáveis sobre a sexualidade. Em certo momento, ele assumia posições extremamente conservadoras sobre as mulheres, contrariando as manifestações europeias de sua época sobre a emancipação feminina. Achava que as mulheres deveriam ser impedidas de ter uma profissão. Depois achava
“impossível querer que uma mulher avaliasse os sentimentos de seu amor exclusivo na base de um sentimento moral. Ela não faz isso, porque ela não possui um sentimento moral real, isto é, aquele que se coloca acima de tudo (p. 117)”.
Entretanto, em outras passagens, justificava a prostituição como uma profissão natural de uns poucos ‘chamados honráveis’ para as mulheres:
“Devemos permitir o intercurso sexual promíscuo, como muitos ‘liberais’ sugerem? Impossível! Seria a ruína da vida familiar. Para resolver o problema, a lei do desenvolvimento criou uma ‘ponte de ouro’ na forma da prostituta. Pense apenas em Londres sem suas 70.000 prostitutas! O que seria da decência e moralidade, como a vida familiar sobreviveria sem elas? Quantas meninas e mulheres permaneceriam castas? Não, eu acredito que a prostituição é necessária para a manutenção da família (p. 118)”.
Mas, à medida que avançamos no livro Intellectuals, vamos descobrindo que por trás da escolha do método existe um Johnson que viu em Tolstoi alguém que contrariava seus próprios objetivos de vida. Enquanto Johnson se tornou um escritor de grande sucesso, pela linha conservadora de seus temas cuidadosamente selecionados para lhe garantir prestígio, e com isso adquirir proventos financeiros muito superiores para os padrões de um simples jornalista, ele encontrou em Tolstoi, o aristocrata arrependido de seu próprio talento, alguém que na sua loucura associou o ato de escrever ao dinheiro (suas novelas haviam lhe recuperado financeiramente do passado de jogatina dissipativa e da venda de suas terras) que desprezava e ao casamento que detestava. Tolstoi detestava dinheiro. Na sua velhice, desempenhava o papel de conselheiro e guia espiritual. Johnson acha que a dificuldade em lidar com dinheiro tem alguma origem no caráter contraditório e destrambelhado dos Intellectuals.
Ora, Tolstoi era um russo profundamente enraizado de misticismo, aliás, uma herança acentuada desde sempre no caráter russo. Devido a esta tradição da cultura russa, sua fama fez com que centenas de pessoas peregrinassem até a sua casa – chamada Yasnaya Polyana – na região de Tula, a 14 km da cidade, para pedir conselhos. Alguns queriam uma benção, outros milagres para suas doenças. Convencido de sua missão redentora, Tolstoi os atendia, pregava o amor e a não violência, fazendo dele uma espécie de profeta da Rússia, na virada do século. Com suas longas barbas brancas, era visto como uma esperança de libertação para os milhões de camponeses ainda em estado de servidão. Nessa fase de sua vida, Tolstoi em vez de assumir o papel de escritor e orientador, encarnou a figura de seu amado povo camponês russo. Vestiu-se e viveu como um camponês: bombeava água para a casa, cortava lenha para a cozinha, limpava os quartos com as crianças, e fazia até sapatos para elas e botas para si mesmo. Mas não sendo um homem de persistência, tempos depois abandonava tudo. Sonya reclamava de seu caráter intempestivo, descuidado, que depois de algum tempo deixava as coisas em estado pior do que antes, como ocorreu com os cavalos que comprara, que morriam por maus tratos ou se esmilinguiam pelo esforço excessivo.
Um de seus trabalhos da última fase – quando seu talento literário tinha sido carcomido pelas preocupações messiânicas – foi uma crítica que escreveu sobre a obra de Shakespeare, acusando-o de mau escritor. Muitos anos depois, em 1947, George Orwell respondeu com outro artigo, (http://en.wikipedia.org/wiki/Lear,_Tolstoy_and_the_Fool) em que contesta Tolstoi com uma lição imperdível. Para Orwell, é insuficiente dizer se um escritor é bom ou mau conforme nossos gostos, ou o gosto de uma quantidade expressiva de pessoas. O que torna um escritor “grande” é a persistência de sua obra. E se Shakespeare sobreviveu durante 3 séculos e meio como um grande dramaturgo e poeta, isto por si só já garante a qualidade de sua obra. E com esse mesmo argumento arremete contra Tolstoi dizendo que obras como Anna Karenina e Guerra e Paz certamente merecerão o mesmo destino das obras de Shakespeare, mas não o artigo em que fala injustamente contra o bardo inglês. Para ele, a humanidade haveria de esquecer Tolstoi em sua tolice. E tal veredicto realmente aconteceu. Tolstoi permaneceu com suas obras mestres e desapareceu com suas tolices. Esse tem sido o destino de muitas obras de escritores que primam pela inconstância e pelas inquietações perturbadoras.

Hemingway (1899-1961), Brecht (1898-1956), Russell (1872-1970), Sartre (1905-1980) e outros, incluindo o próprio Johnson

A importância dos escritores para Johnson é seu papel como intelectual, isto é, como alguém que influenciou as gerações na adoção de novos estilos de vida, de novos valores sociais e de contestação à tradição judaico-cristã do Ocidente. Sendo um conservador convertido, Johnson achava que esses escritores tiveram uma vida repleta de auto-engano e infelicidade, o que é altamente contestável. O fato de Sartre e Russell não aceitarem o papel da monogamia não os tornaram mais infelizes: ao contrário, todos sempre aproveitaram ao máximo o fato de seus talentos serem recompensados por um grande interesse sexual por parte das “seguidoras”.
Como conservador, Johnson contestou o viés esquerdista da dupla Russell e Sartre na criação do Tribunal de Crimes de Guerra, que visava enquadrar a política norte-americana no Vietnã como genocídio. Mas quem viveu aquela época, e o rescaldo posterior à retirada norte-americana do sudeste asiático, sabe muito bem que a sociedade americana se penitenciou por ter se envolvido com aquela guerra. O “mea culpa” foi bradado por figura não menos importante como Robert MacNamara, o então secretário de estado dos presidentes Kennedy e Johnson.
Em Hemingway, temos o alcoólatra clássico e cheio de talento, que lentamente descende no inferno da perda e da depressão. Para Johnson, ele é a prova de que a decadência humana só pode ser superada por algo que não está na arte. E qual seria esse “algo”? Johnson não deixa claro, mas entendemos que se trata dos valores morais tradicionais. Mas se tais valores fossem compartilhados pelos artistas, nenhuma arte teria sido produzida. Eis aí a questão, o divisor d’água de sempre. A arte é em essência uma produção exponenciada pelo conflito humano, pelos tormentos morais, pelas culpas e inquietações. Por isso, um escritor não pode ser avaliado por sua vida, porém apenas por sua obra. E para os desgraçados, infelizes e malditos, sua obra não é mais do que um pedido de perdão.
Na análise de Brecht, Johnson afirma que “ele nunca retribuiu a afeição de sua mãe (p. 174)”. Mas isso pode ter sido colocado para criar a atmosfera moral para a disjunção entre o indivíduo e sua obra. Em Russell, vemos o mesmo tratamento:
“certamente Russell não foi um homem que tenha adquirido a experiência significativa da vida que a maioria das pessoas levava ou que tenha tido interesse nas opiniões e sentimentos da multidão (p. 198)”.
Este tipo de argumento tem sido recorrente. Como explicado antes, Johnson distingue no intelectual a característica de pouco apreço pelas pessoas simples que lhe cercam e um grande apego pelo povo na forma abstrata. Mas a essência do intelectual é o fato de que ele transcende as preocupações do homem comum em seu cotidiano. E cotidiano por cotidiano, o intelectual também tem o seu, que sendo altamente desinteressante e enfadonho, ele se reserva o direito de não ter que amplificá-lo com o cotidiano dos outros, que lhe parece banalidades gerais.
No caso da mulher de Russel, vemos uma determinação temerária:
“Assim, Lady Constance foi descartada e Dora forçada naquilo que ela chamou de ‘vergonha e desgraça do casamento (p. 215)’”.
Para Johnson, as mulheres de grandes escritores são sempre descartadas, ou seja, o interesse sexual é difamatório e não revelado. Com isso, termina em conclusões chocantes: “a década de 60 foi uma década infantil e Russell um dos espíritos representativos dela (p. 221)”. Infantil pelo Maio de 68, por Woodstock, pelo rock-and-roll ou pela bossa-nova?! Ora, uma sociedade liberal, ao viver um clima de rebelião nos campus universitários contra a guerra, especialmente por jovens nos EUA que não queriam ser recrutados, e por estudantes na França que queriam protestar contra o “maldito” capitalismo e se insurgiram contra o Poder e em nome da imaginação, por mais que isso possa ter retrospectivamente um ar de infantilismo, não pode ser reduzido a isso. Faltou a Johnson o entendimento do “espírito da época”, tão bem dissecado pelo sociólogo norte-americano Daniel Bell.
Em Sartre, vemos o caso de um intelectual sensacionalista que criou em torno de si um mito do filósofo pensante e ativista. Johnson garimpou nas mentiras de Sartre a revelação de sua personalidade, quando afirmava que lia 300 livros por ano, logo depois de deixar a universidade. Tendo um olho meio torto e dificuldades visuais, certamente seria o caso de ler quase um livro por dia, uma impossibilidade prática em qualquer circunstância.
Sentado no Café Flore, no inverno de 42-43, Sartre escrevia diariamente seu ‘O Ser e o Nada’ (L´Être e Le Neánt). Sobre as 722 páginas do livro, Johnson pateticamente prefere citar um comentário de Simone de Beauvoir, que fala de uma passagem em que Sartre cita os “buracos em geral, e outros que enfoca o ânus e o estilo de fazer amor à italiana (p. 231)”. Para mostrar que Sartre era um tipo autoritário e perverso, Johnson fala que Simone de Beauvoir tornou-se uma escrava dele desde o momento em que o conheceu até o dia de sua morte: “nos anais da literatura existem poucos casos piores de um homem explorar uma mulher (p. 235)”, um exagero que beira a carolice, ou quem sabe, a sandice.
Finalmente, Johnson consegue falar das falácias reais de Sartre, comprovando que seu método é a conjugação do puritanismo sexual com a difamação caluniosa da vida anti-familiar. É o caso da ambiguidade de Sartre com relação à União Soviética.
Johnson não consegue entender o caráter oportunista do mundo latino, onde incontáveis intelectuais fizeram fama na sombra dos respectivos Partidos Comunistas (no Brasil, temos Jorge Amado e outros tantos), como forma de dispor de um interminável exército de resenhadores de livros à disposição de seus prestigiados talentos e de uma idiotia intelectual que servia de base de apoio e admiradores. Na psicologia do oportunismo vigente ad eternum, tudo se passa no entendimento de que uma sociedade liberal tem que necessariamente ser tolerante com seus dissidentes, enquanto uma sociedade totalitária, a recíproca não é verdadeira. Como o aparelho midiático está nas mãos ou de tolerantes ou de saqueadores, então é melhor estar do lado dos saqueadores em acordo sobre o futuro incerto, mas proclamado como inexorável, do que dos tolerantes certos sobre um futuro duvidoso. Para a mentalidade das igrejinhas, o que importa é a posição do intelectual no âmbito da generalidade e não da particularidade, onde entra seu eu individual. Por isso, Sartre é a consumação da esperteza, o que não significa que não tivesse talento, apenas que seu talento não lhe renderia tanto quanto sua postura “moral” em favor de causas altamente demagógicas, como a de posar na rua distribuindo exemplares do jornaleco maoísta La Cause du People, não por concordar com seus termos, mas como a da eterna luta em favor da “ideia da liberdade de expressão”. Sartre foi um talento literário comprovado e um filósofo de poucas ideias e muito barulho.
Johnson chega ao ponto de revelar sua predisposição ao escrever o livro: falar sobre a degradação moral de espíritos que impingiram o hedonismo na busca de mudar a sociedade, que criaram a permissividade de nosso tempo, uma deterioração moral provocada pela militância cultural de homens como Connolly, Mailer, Tynan. Neste grupo estava Fassbinder, o cineasta alemão viciado em drogas e promíscuo (p. 330). James Baldwin – o famoso escritor negro norte-americano da segunda metade do século passado –, também entrou no clima da permissividade e do ódio aprovado dos anos 50. “Quanto mais ódio ele gerava, mais subserviência recebia. Os ecos de Rousseau eram incríveis (p. 336)”.
Baldwin associou-se aos intelectuais para os quais a violência era um ato legítimo daqueles que podiam ser definidos por sua raça, classe ou pobreza, como as vítimas da iniquidade social. O tema da violência justificada é uma das melhores análises de Johnson sobre o perfil dos intelectuais, incluindo aí Marx, Sartre e Rousseau. Vale para o espírito acadêmico que ronda as universidades e propala as cotas raciais.
Por fim, a obsessão de Johnson por detalhes da vida sexual dos intelectuais surpreende o leitor. Seria um comportamento inerente ao jornalismo sensacionalista inglês? O fato é que ao descrever a controvérsia do debate entre a escritora pró-soviética Lilian Hellman e Tallulah Bankhead, uma artista de teatro que era sua inimiga por razões de ciúmes sexuais, Hellman cita em sua autobiografia Pentimento que Bankehead insistia em mostrar aos visitantes o “gigantic erect penis (p. 296)” de seu marido.
Sobre Gollancz, um editor inglês marxista sem nenhum interesse maior fora da Grã-Bretanha, teria dito que sofria do sintoma do medo de perder o uso do pênis.
“Como Rouseau, ele era obcecado pelo seu pênis, embora por razões menos aparentes. Ele constantemente pegava no membro para inspecioná-lo, para verificar se mostrava sinais de doenças venéreas ou se estava no seu devido lugar. Em seu escritório, ele efetuava esta operação diversas vezes ao dia, próximo a uma janela congelada que ele acreditava estar totalmente opaca. O elenco no teatro do outro lado da rua pontificou que não era tão opaco assim e que seus hábitos eram perturbadores (p. 276)”.
Com semelhante interesse, ficamos sabendo que Marx raramente tomava banho ou se lavava. “Isto, e mais uma dieta imprópria podem explicar a verdadeira praga das manchas inchadas que lhe atormentaram durante um quarto de século. Elas aumentaram sua irritabilidade natural, e pareciam estar em seu ponto culminante enquanto escrevia ‘O Capital’. ‘Independente do que venha a acontecer’, - escreveu ele a Engels mortificado – ‘espero que a burguesia enquanto existir tenha motivos para se lembrar dos meus carbúnculos’ (p. 73)”.
Falando de Sartre, Johnson revelou que este teria planejado toda a sua carreira durante a ocupação nazista da França, em que Sartre foi deixado em paz e inclusive permitido encenar diversas peças de teatro em Paris. Pensando um pouco mais longamente, é provável que Johnson esteja fazendo uma projeção de si mesmo, quando de sua virada conservadora. Analisando sua bibliografia, encontrei The History of the Holly Land extraviado entre meus livros de língua inglesa. Que coincidência, pensei. Trata-se de uma excelente edição ilustrada, com fotos de lugares históricos e mapas da Terra Santa. Sabendo enfim quem era Johnson, procurei inutilmente alguma referência ao costume de tomar banho de Jesus, ou alguma descoberta especial sobre a vida sexual de Maria Madalena. Nadica de nada. Johnson, como se pode concluir, estava escrevendo para outra plateia, muito bem planejada.
E, ao ler seu perfil na Wikipédia, pude finalmente ter uma ideia de Johnson como uma personagem de seu próprio livro. Para surpresa dos leitores, ficamos sabendo que era casado, teve 4 filhos e uma amante durante onze anos, a escritora Gloria Stewart. Ao se separarem, a amante, que já conhecia as posições de Johnson sobre a família e a moral, reagiu como toda mulher abandonada: revelou seu caso e não esperou o troco. “Paul adorava levar palmadas e isso era uma parte importante do nosso relacionamento. Eu tinha que dizer que ele era um menino malcriado”. Em uma entrevista a Elizabeth Griece do The Telegraph (http://www.telegraph.co.uk/lifestyle/7800902/Paul-Johnson-After-70-you-begin-to-mellow.html), ao ser questionado sobre o fim do seu relacionamento com Gloria Stewart, Johnson saiu-se com essa pérola do infatigável estilo dos intelectuais: “Se você adquire fama é o tipo de coisa que pode acontecer. Você simplesmente esquece, tira da cabeça. É o que Shakespeare chamava de o lado sombrio, abismal e retrógrado do passado (the dark backward and abysm of the past)”. Nenhum dos intelectuais detestados e biografados por Johnson responderia melhor.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Stalin: um dos grandes monstros do seculo XX - Paul Johnson (livro)


BOOKS

 The Daily Beast, 
February 08, 2014

Why the World Cannot Forget Stalin

Even while Hitler and Mao still captivate the popular imagination, one of the great monsters of the 20th century recedes. Celebrated historian Paul Johnson on why he decided to write a new biography of the Soviet Union’s monstrous dictator.

johnson-stalin-cover
Stalin: The Kremlin Mountaineer By Paul Johnson $9.99. Amazon. ()


I have undertaken to write a new short life of Joseph Stalin because I have discovered that, among the young, he is insufficiently known. Whereas Hitler figures frequently in the mass media, and Mao Tse-tung’s memory is kept alive by the continuing rise in power of the communist state he created, Stalin has receded into the shadows. I shall bring him forth and shine on him the pitiless light of history.
Stalin was a monster, one of the outstanding monsters civilization has yet produced. I do not share the view, stridently put forward by Marx and Tolstoy, that individuals are unimportant in the shaping of historical events, which—they say—are the work almost entirely of huge, anonymous forces. On the contrary, I believe, along with most historical writers from Thucydides to Carlyle, that what happens to humanity as a result of human agency is profoundly influenced and often determined by the will of the few, sometimes the very few. It follows that these remarkable individuals need to be closely studied, to discover how they acquired and exercised power, and whether lessons can be learned for the benefit of mankind. That is the reason why I have written essays on Alexander the Great and Julius Caesar, and why I produced an admonitory biography of Napoleon Bonaparte. All three were immensely important in the history of their times, and for long after. Napoleon was particularly influential in shaping the history of the twentieth century. Thanks to the tragic decision of the Whig government in Britain to repatriate his body from St. Helena to France, and the malign determination of the French to treat him as a national hero and enshrine his body in the Invalides, Napoleon’s spirit and his methods have lived on. The First World War, which began the miseries of the modern world, was itself the embodiment of total warfare of the type his methods adumbrated. In the political anarchy that emerged from it, a new brand of ideological dictator took his type of government as a model: first in Russia, then in Italy, and finally in Germany. No dictator of the twentieth century, from Lenin, Stalin, Hitler, and Mao Tse-tung to minor tyrants like Kim Il Sung, Castro, Perón, Mengistu, Saddam Hussein, Ceauşescu, and Qaddaffi, was without distinctive echoes of the Napoleonic prototype. Collectively, this Napoleonic progeny of evil made the twentieth century the outstanding epoch of ideological oppression, mass murder, warfare on a colossal scale, and innovative technology that enabled humans to lie, deceive, and pervert the human mind to infernal purposes.
The world, then, should know about Stalin, and in my new book, I have tried to set forth the essence of his life, character, and career. It has been in some ways a grim task, but in performing it I have felt a powerful satisfaction in telling the truth, and in a brief and accessible compact form so that all, the young especially, to whom Stalin is but a name, can know and learn from it. Of the three egregious monsters the twentieth century produced, Hitler detonated the Second World War, which cost forty million lives, and was personally responsible for the murder of six million Jews; Mao Tse-tung killed seventy million of his compatriots by execution and starvation. The death toll for which Stalin must bear the blame is not easy to compute, but it cannot be less than twenty million. He was also the creator or refiner of many aspects of totalitarian rule, including what Solzhenitsyn called “the gulag archipelago,” itself the model for the Mao concentration camp complex, which once contained twenty-five million human beings and still houses many unfortunate millions.
Excerpted from Stalin by Paul Johnson. ©2014 by Paul Johnson. Published by Amazon Publishing. All Rights Reserved.

Acabo de comprar, pela Amazon:
Items OrderedPrice
Stalin: The Kremlin Mountaineer (Icons) (Kindle Single) [Kindle Edition, Pre-order]
By: Paul Johnson
Sold By: Amazon Digital Services, Inc.
$3.99

terça-feira, 9 de abril de 2013

Lady Thatcher, by Paul Johnson (WSJ)

The World-Changing Margaret Thatcher

Not since Catherine the Great has there been a woman of such consequence.

Margaret Thatcher had more impact on the world than any woman ruler since Catherine the Great of Russia. Not only did she turn around—decisively—the British economy in the 1980s, she also saw her methods copied in more than 50 countries. "Thatcherism" was the most popular and successful way of running a country in the last quarter of the 20th century and into the 21st.
Ronald Reagan and Margaret Thatcher at the White House in June 1982.
Her origins were humble. Born Oct. 13, 1925, she was the daughter of a grocer in the Lincolnshire town of Grantham. Alfred Roberts was no ordinary shopkeeper. He was prominent in local government and a man of decided economic and political views. Thatcher later claimed her views had been shaped by gurus like Karl Popper and Friedrich Hayek, but these were clearly the icing on a cake baked in her childhood by Councillor Roberts. This was a blend of Adam Smith and the Ten Commandments, the three most important elements being hard work, telling the truth, and paying bills on time.
Hard work took Miss Roberts, via a series of scholarships, to Grantham Girls' School, Somerville College, Oxford, and two degrees, in chemistry and law. She practiced in both professions, first as a research chemist, then as a barrister from 1954. By temperament she was always a scholarship girl, always avid to learn, and even when prime minister still carried in her capacious handbag a notebook in which she wrote down anything you told her that she thought memorable.

Related Video

Editorial page editor Paul Gigot on Margaret Thatcher’s legacy. Photo: AP
At the same time, she was intensely feminine, loved buying and wearing smart clothes, had the best head of hair in British politics and spent a fortune keeping it well dressed. At Oxford, punting on the Isis and Cherwell rivers, she could be frivolous and flirtatious, and all her life she tended to prefer handsome men to plain ones. Her husband, Denis Thatcher, whom she married in 1951 and by whom she had a son and daughter, was not exactly dashing but he was rich (oil industry), a capable businessman, a rock on which she could always lean in bad times, and a source of funny 19th-hole sayings.
Denis was amenable (or resigned) to her pursuing a political career, and in 1959 she was elected MP for Finchley, a London suburb. She was exceptionally lucky to secure this rock-solid Tory seat, so conveniently placed near Westminster and her home. She held the seat without trouble until her retirement 33 years later. Indeed, Thatcher was always accounted a lucky politician. Prime Minister Harold Macmillan soon (in 1961) gave her a junior office at Pensions, and when the Conservatives returned to power in 1970, she was fortunate to be allotted to the one seat in the cabinet reserved for a woman, secretary of state for education.
There she kept her nose clean and was lucky not to be involved in the financial and economic wreckage of the disastrous Ted Heath government. The 1970s marked the climax of Britain's postwar decline, in which "the English disease"—overweening trade-union power—was undermining the economy by strikes and inflationary wage settlements. The Boilermakers Union had already smashed the shipbuilding industry. The Amalgamated Engineers Union was crushing what was left of the car industry. The print unions were imposing growing censorship on the press. Not least, the miners union, under the Stalinist Arthur Scargill, had invented new picketing strategies that enabled them to paralyze the country wherever they chose.
Attempts at reform had led to the overthrow of the Harold Wilson Labour government in 1970, and an anti-union bill put through by Heath led to the destruction of his majority in 1974 and its replacement by another weak Wilson government that tipped the balance of power still further in the direction of the unions. The general view was that Britain was "ungovernable."
Among Tory backbenchers there was a growing feeling that Heath must go. Thatcher was one of his critics, and she encouraged the leader of her wing of the party, Keith Joseph, to stand against him. However, at the last moment Joseph's nerve failed him and he refused to run. It was in these circumstances that Thatcher, who had never seen herself as a leader, let alone prime minister, put herself forward. As a matter of courtesy, she went to Heath's office to tell him that she was putting up for his job. He did not even look up from his desk, where he was writing, merely saying: "You'll lose, you know"—a characteristic combination of bad manners and bad judgment. In fact she won handsomely, thereby beginning one of the great romantic adventures of modern British politics.
The date was 1975, and four more terrible years were to pass before Thatcher had the opportunity to achieve power and come to Britain's rescue. In the end, it was the unions themselves who put her into office by smashing up the James Callaghan Labour government in the winter of 1978-79—the so-called Winter of Discontent—enabling the Tories to win the election the following May with a comfortable majority.
Thatcher's long ministry of nearly a dozen years is often mistakenly described as ideological in tone. In fact Thatcherism was (and is) essentially pragmatic and empirical. She tackled the unions not by producing, like Heath, a single comprehensive statute but by a series of measures, each dealing with a particular abuse, such as aggressive picketing. At the same time she, and the police, prepared for trouble by a number of ingenious administrative changes allowing the country's different police forces to concentrate large and mobile columns wherever needed. Then she calmly waited, relying on the stupidity of the union leaders to fall into the trap, which they duly did.
She fought and won two pitched battles with the two strongest unions, the miners and the printers. In both cases, victory came at the cost of weeks of fighting and some loss of life. After the hard men had been vanquished, the other unions surrendered, and the new legislation was meekly accepted, no attempt being made to repeal or change it when Labour eventually returned to power. Britain was transformed from the most strike-ridden country in Europe to a place where industrial action is a rarity. The effect on the freedom of managers to run their businesses and introduce innovations was almost miraculous and has continued.
Thatcher reinforced this essential improvement by a revolutionary simplification of the tax system, reducing a score or more "bands" to two and lowering the top rates from 83% (earned income) and 98% (unearned) to the single band of 40%.
She also reduced Britain's huge and loss-making state-owned industries, nearly a third of the economy, to less than one-tenth, by her new policy of privatization—inviting the public to buy from the state industries, such as coal, steel, utilities and transport by bargain share offers. Hence loss-makers, funded from taxes, became themselves profit-making and so massive tax contributors.
This transformation was soon imitated all over the world. More important than all these specific changes, however, was the feeling Thatcher engendered that Britain was again a country where enterprise was welcomed and rewarded, where businesses small and large had the benign blessing of government, and where investors would make money.
As a result Britain was soon absorbing more than 50% of all inward investment in Europe, the British economy rose from the sixth to the fourth largest in the world, and its production per capita, having been half that of Germany's in the 1970s, became, by the early years of the 21st century, one-third higher.
The kind of services that Thatcher rendered Britain in peace were of a magnitude equal to Winston Churchill's in war. She also gave indications that she might make a notable wartime leader, too. When she first took over, her knowledge of foreign affairs was negligible. Equally, foreigners did not at first appreciate that a new and stronger hand was now in control in London. There were exceptions. Ronald Reagan, right from the start, liked what he heard of her. He indicated that he regarded her as a fellow spirit, even while still running for president, with rhetoric that was consonant with her activities.
Once Reagan was installed in the White House, the pair immediately reinvigorated the "special relationship." It was just as well. Some foreigners did not appreciate the force of what the Kremlin was beginning to call the Iron Lady. In 1982, the military dictatorship in Argentina, misled by the British Foreign Offices's apathetic responses to threats, took the hazardous step of invading and occupying the British Falkland Islands. This unprovoked act of aggression caught Thatcher unprepared, and for 36 hours she was nonplused and uncertain: The military and logistical objections to launching a combined-forces counterattack from 8,000 miles away were formidable.
But reassured by her service chiefs that, given resolution, the thing could be done, she made up her mind: It would be done, and thereafter her will to victory and her disregard of losses and risks never wavered. She was also assured by her friend Reagan that, short of sending forces, America would do all in its considerable power to help—a promise kept. Thus began one of the most notable campaigns in modern military and moral history, brought to a splendid conclusion by the unconditional surrender of all the Argentine forces on the islands, followed shortly by the collapse of the military dictatorship in Buenos Aires.
This spectacular success, combined with Thatcher's revival of the U.K. economy, enabled her to win a resounding electoral victory in 1983, followed by a third term in 1987. Thatcher never had any real difficulty in persuading the British electorate to back her, and it is likely that, given the chance, she would have won her fourth election in a row.
But it was a different matter with the Conservative Party, not for nothing once categorized by one of its leaders as the "stupid party." Some prominent Tories were never reconciled to her leadership. They included in particular the supporters of European federation, to which she was implacably opposed, their numbers swollen by grandees who had held high office under her but whom she had dumped without ceremony as ministerial failures. It was, too, a melancholy fact that she had become more imperious during her years of triumph and that power had corrupted her judgment.
This was made clear when she embarked on a fundamental reform of local-government finance. The reform itself was sensible, even noble, but its presentation was lamentable and its numerous opponents won the propaganda battle hands down. In the midst of this disaster, her Europhile opponents within her party devised a plot in 1990 to overthrow her by putting up one of their number (sacked from the cabinet for inefficiency) in the annual leadership election. Thatcher failed to win outright and was persuaded by friends to stand down. Thus ended one of the most remarkable careers in British political history.
Thatcher's strongest characteristic was her courage, both physical and moral. She displayed this again and again, notably when the IRA tried to murder her during the Tory Party Conference in 1984, and nearly succeeded, blowing up her hotel in the middle of the night. She insisted on opening the next morning's session right on time and in grand style. Immediately after courage came industry. She must have been the hardest-working prime minister in history, often working a 16-hour day and sitting up all night to write a speech. Her much-tried husband once complained, "You're not writing the Bible, you know."
She was not a feminist, despising the genre as "fashionable rot," though she once made a feminist remark. At a dreary public dinner of 500 male economists, having had to listen to nine speeches before being called herself, she began, with understandable irritation: "As the 10th speaker, and the only woman, I wish to say this: the cock may crow but it's the hen who lays the eggs."
Her political success once again demonstrates the importance of holding two or three simple ideas with fervor and tenacity, a virtue she shared with Ronald Reagan. One of these ideas was that the "evil empire" of communism could be and would be destroyed, and together with Reagan and Pope John Paul II she must be given the credit for doing it.
Among the British public she aroused fervent admiration and intense dislike in almost equal proportions, but in the world beyond she was recognized for what she was: a great, creative stateswoman who left the world a better and more prosperous place, and whose influence will reverberate well into the 21st century.

Mr. Johnson is a historian.
A version of this article appeared April 9, 2013, on page A15 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: The World-Changing Margaret Thatcher.

domingo, 3 de março de 2013

A pseudo teoria do aquecimento global - Paul Johnson

Os aderentes à "teoria" do aquecimento global não possuem, até o momento, provas realmente irrefutáveis sobre sua realização. Eles mostram evidências circunstancias que corroboram uma crença no fenômeno, mas tudo feito na base do alarmismo e das falsas suposições.
O historiador britânico restabelece um pouco de lógica ao debate (que na verdade não existe: quem acredita, faz disso um artigo de fé...).
Paulo Roberto de Almeida

The Real Way to Save the Planet


It is a pity Karl Popper did not live to see that Global Warming fitted perfectly into his model of a pseudo-theory.
The Copenhagen Summit was bound to fail if only because politicians are beginning to realize that ordinary voters do not believe in man-made Global Warming, as polls plainly show. They did not believe in Marxist Dialectical Materialism either, or Freudianism. These three pseudo-sciences have a lot in common, not least their ability to inspire a religious kind of belief in highly educated people who lack a genuine creed.
When I was an undergraduate the philosopher I studied most carefully was Karl Popper, especially his writings on the evaluation of evidence and criteria to distinguish a genuine scientific theory from a false one. He made two key points. First, a theory must include the falsifiability principle. It must be susceptible to empirical tests and, if it fails to meet them, be scrapped. He gave as an example of a genuine theory Einstein’s General Relativity of 1915. Einstein insisted that it must survive three practical tests, and if it failed any one of them be dropped as untrue. In fact it passed triumphantly all three, beginning in 1919, and many other since.
Popper argued that prima facie evidence of a bogus theory was the practice of altering or enlarging it, by its authors, to accommodate new evidence since its original formulation. This, he argued, had happened in the case of Marxism and, still more, Freudianism. Scientific theories, he argued, must be very precise and scientific to be of any use. Marxism and Freudianism were just portmanteau notions into which virtually any kind of phenomena could be made to fit. Hence Marxism led to political and economic disaster areas like the Soviet Union, and Freudianism to a stupendous waste of time and money.
It is a pity Popper did not live to see that Global Warming fit perfectly into his model of a pseudo-theory. It is vaguely and imprecisely formulated. It fails the falsifiability test, because all new evidence is made to fit by enlarging the theory. When originally formulated in the 1980s, Global Warming produced by man-made emissions would lead, it was argued, to much higher temperatures and desiccation. There would be a huge drop in rainfall and an imperative need to build seawater desalination plants. I recall an unusually dry summer (1987) in the English Lake District, normally rainy, was triumphantly presented as “absolute proof” of the theory. This autumn, the Lake District had an unusually wet spell, culminating in floods that engulfed the delightful town of Cockermouth, where Wordsworth was born. This was pounced upon by Global Warming “experts” as “absolute proof” of their theory, and paraded as such in Copenhagen.
The fact is that the theory has now been expanded to include any unusual form of weather, anywhere. Hot summers, warm winters — global warming. Cold weather at an unusual time of year — global warming. Drought, storms, floods — global warming. No snow on the ski slopes, sudden snow, out of season snow, very heavy snow — global warming. Of course in countries like Japan or the UK, where unusual, unpredictable, and tiresomely variable weather is the norm (it was first commented on in the UK by the Venerable Bede in the eighth century), the public does not swallow global warming, and polls show majorities of 55 to 60 percent reject it.
Of course vested interests accept it. It is regarded as a splendid way of damaging the American economy, by the same kind of left-wing intellectuals who supported the Club of Rome in the 1960s, which argued that world resources were on the brink of exhaustion. It is a form of pantheism and a useful emotional outlet for people who have renounced Judeo-Christianity. If someone is anti-American, left-liberal, and atheist, it is virtually certain he (or even she: women are notoriously more skeptical about it than men are) is a Global Warmer.
THEN AGAIN, GLOBAL WARMING NOW HAS a powerful, worldwide institutional substructure. If a media outlet has an environment correspondent, or a university a Department of Climate Studies, or a government a Ministry of Global Warming, those involved are certain to be not just believers but fanatical propagandists for the cause. Their livelihood depends on it. I calculate that the lobby now includes over 20,000 full-time, well-paid professionals whose entire life is spent in pushing “proofs.” The existence of this enormous phalanx of well-placed, articulate enthusiasts has inevitably led to the capture of powerful institutions — in Britain, for instance, the Meteorological Office, the Royal Society, and the BBC, together with many universities and newspapers. It used to be supposed that scientists, or those calling themselves such, were incorruptible and guided purely by genuine convictions based on objective evidence. But scientists behave just like politicians if the pressure and prizes make it worth their while to conform.
So vast sums of money will continue to be spent on an unproven and unprovable theory, predicting a global catastrophe from the realms of fantasy. The money could be much more profitably spent on space exploration. This is a genuine science and could turn out to be useful, even vital. The planet Earth, though not threatened with destruction by man-made global warming, is by no means indestructible. There are many unpredictable events within our solar system, and still more outside it, that could make Earth uninhabitable by humans. A meteorite of sufficient size could destroy it entirely. A giant sunspot could produce precisely the catastrophic climate change the lobby falsely claims is being created by man’s “emissions.” There are hundreds of fatal possibilities astrophysicists can imagine, and thousands more, no doubt, that could occur.
In the long term, it is desirable that the human race, faced with the prospect of extinction on Earth, should prepare an escape route for itself to another inhabitable planet. In order to do this we must explore the universe far more thoroughly and exhaustively than we have done up till now, and equally important, develop the concept of mass space travel and colonization schemes. Mankind has done this before, notably in the 15th century, when the threat of plague and starvation in Europe led to the successful crossing of the Atlantic and colonization in the Americas. We need to repeat the imaginative effort of the late medieval Spanish, Portuguese, and Genoans in navigation, technology, and courage, but on an infinitely greater scale. This would be a worthy cause for the united resources of the human race to combine in furthering — the colonization of the universe.
It may be a distant goal, but it is a practical one, and in pursuing it we would do more to unite the human race in purposeful activity than anything else so far proposed. By contrast, combating a largely imaginary threat of global warming is just as costly, as well as scientifically unsound, technologically impossible, and, not least, divisive. 

domingo, 6 de março de 2011

Why America Will Stay on Top - Paul Johnson, historiador britânico

Dito assim, parece mais uma receita para acomodar os americanos: "ah, nós somos inventivos, criativos, flexíveis, geniais, sempre vamos estar na frente de outros povos..."
Pode ser um caminho mais rápido para a decadência.
A China, que no momento é um caso absolutamente extraordinário na história econômica mundial, configura um caso inédito de crescimento econômico inacreditável para os padrões conhecidos combinado a uma das mais férreas ditaduras do cenário político mundial (nisso não muito diferente de seus padrões históricos, diga-se de passagem).
Mas a China não vai crescer assim o tempo todo e não será uma ditadura o tempo todo. Pode ser que ela venha a se tornar o país mais inovador do mundo, no futuro, quando parar de copiar, inventar seus próprios produtos, e se pautar pela liberdade irrestrita de opinião e de organização, o que ainda não é o caso (mas pode ser, antes ainda do que imaginamos).
Os americanos precisam continuar trabalhando duro, e aperfeiçoar-se educacionalmente, pois podem ficar para trás.
Em todo caso, a entrevista de Paul Johnson é interessante, tirando sua opinião sobre a Sarah Palin, uma das políticas mais idiotas que já encontrei no cenário americano (a concorrência é dura, pois os políticos americanos costumam ser singularmente idiotas).
Gostei da receita de Churchill quanto ao sucesso: conservação de energia...
Bem, a maior parte do que vai abaixo é pura opinião, mas ainda assim é interessante.
Paulo Roberto de Almeida

THE WEEKEND INTERVIEW - Paul Johnson, historian
Why America Will Stay on Top
By BRIAN M. CARNEY
The Wall Street Journal, MARCH 5, 2011, page A13

London - In his best-selling history of the 20th century, "Modern Times," British historian Paul Johnson describes "a significant turning-point in American history: the first time the Great Republic, the richest nation on earth, came up against the limits of its financial resources." Until the 1960s, he writes in a chapter titled "America's Suicide Attempt," "public finance was run in all essentials on conventional lines"—that is to say, with budgets more or less in balance outside of exceptional circumstances.

"The big change in principle came under Kennedy," Mr. Johnson writes. "In the autumn of 1962 the Administration committed itself to a new and radical principle of creating budgetary deficits even when there was no economic emergency." Removing this constraint on government spending allowed Kennedy to introduce "a new concept of 'big government': the 'problem-eliminator.' Every area of human misery could be classified as a 'problem'; then the Federal government could be armed to 'eliminate' it."

Twenty-eight years after "Modern Times" first appeared, Mr. Johnson is perhaps the most eminent living British historian, and big government as problem-eliminator is back with a vengeance—along with trillion-dollar deficits as far as the eye can see. I visited the 82-year-old Mr. Johnson in his West London home this week to ask him whether America has once again set off down the path to self-destruction. Is he worried about America's future?

"Of course I worry about America," he says. "The whole world depends on America ultimately, particularly Britain. And also, I love America—a marvelous country. But in a sense I don't worry about America because I think America has such huge strengths—particularly its freedom of thought and expression—that it's going to survive as a top nation for the foreseeable future. And therefore take care of the world."

Pessimists, he points out, have been predicting America's decline "since the 18th century." But whenever things are looking bad, America "suddenly produces these wonderful things—like the tea party movement. That's cheered me up no end. Because it's done more for women in politics than anything else—all the feminists? Nuts! It's brought a lot of very clever and quite young women into mainstream politics and got them elected. A very good little movement, that. I like it." Then he deepens his voice for effect and adds: "And I like that lady—Sarah Palin. She's great. I like the cut of her jib."

The former governor of Alaska, he says, "is in the good tradition of America, which this awful political correctness business goes against." Plus: "She's got courage. That's very important in politics. You can have all the right ideas and the ability to express them. But if you haven't got guts, if you haven't got courage the way Margaret Thatcher had courage—and [Ronald] Reagan, come to think of it. Your last president had courage too—if you haven't got courage, all the other virtues are no good at all. It's the central virtue."

***
Mr. Johnson, decked out in a tweed jacket, green cardigan and velvet house slippers, speaks in full and lengthy paragraphs that manage to be at once well-formed and sprinkled with a healthy dose of free association. He has a full shock of white hair and a quick smile. He has, he allows, gone a bit deaf, but his mind remains sharp and he continues to write prolifically. His main concession to age, he says, is "I don't write huge books any more. I used to write 1,000 printed pages, but now I write short books. I did one on Napoleon, 50,000 words—enjoyed doing that. He was a baddie. I did one on Churchill, which was a bestseller in New York, I'm glad to say. 50,000 words. He was a goodie." He's also written short forthcoming biographies of Socrates (another "goodie") and Charles Darwin (an "interesting figure").

Mr. Johnson says he doesn't follow politics closely anymore, but he quickly warms to the subject of the Middle East. The rash of uprisings across the Arab world right now is "a very interesting phenomenon," he says.

"It's something that we knew all about in Europe in the 19th century. First of all we had the French Revolution and its repercussions in places like Germany and so on. Then, much like this current phenomenon, in 1830 we had a series of revolutions in Europe which worked like a chain reaction. And then in 1848, on a much bigger scale—that was known as the year of revolutions."

In 1848, he explains, "Practically every country in Europe, except England of course . . . had a revolution and overthrew the government, at any rate for a time. So that is something which historically is well-attested and the same thing has happened here in the Middle East."

Here he injects a note of caution: "But I notice it's much more likely that a so-called dictatorship will be overthrown if it's not a real dictatorship. The one in Tunisia wasn't very much. Mubarak didn't run a real dictatorship [in Egypt]. Real dictatorships in that part of the world," such as Libya, are a different story.

As for Moammar Gadhafi, "We'll see if he goes or not. I think he's a real baddie, so we hope he will." The Syrian regime, he adds, "not so long ago in Hama . . . killed 33,000 people because they rose up." Then, "above all," there is Iran. "If we can get rid of that horrible regime in Iran," he says, "that will be a major triumph for the world."

Frank judgments like these are a hallmark of Mr. Johnson's work, delivered with almost child-like glee. Of Mahatma Gandhi, he wrote in "Modern Times": "About the Gandhi phenomenon there was always a strong aroma of twentieth-century humbug."

Socrates is much more to Mr. Johnson's liking. Whereas, in Mr. Johnson's telling, Gandhi led hundreds of thousands to death by stirring up civil unrest in India, all the while maintaining a pretense of nonviolence, Socrates "thought people mattered more than ideas. . . . He loved people, and his ideas came from people, and he thought ideas existed for the benefit of people," not the other way around.

In the popular imagination, Socrates may be the first deep thinker in Western civilization, but in Mr. Johnson's view he was also an anti-intellectual. Which is what makes him one of the good guys. "One of the categories of people I don't like much are intellectuals," Mr. Johnson says. "People say, 'Oh, you're an intellectual,' and I say, 'No!' What is an intellectual? An intellectual is somebody who thinks ideas are more important than people."

And indeed, Mr. Johnson's work and thought are characterized by concern for the human qualities of people. Cicero, he tells me, was not a man "one would have liked to have been friends with." But even so the Roman statesman is "often very well worth reading."

His concern with the human dimension of history is reflected as well in his attitude toward humor, the subject of another recent book, "Humorists." "The older I get," he tells me, "the more important I think it is to stress jokes." Which is another reason he loves America. "One of the great contributions that America has made to civilization," he deadpans, "is the one-liner." The one-liner, he says, was "invented, or at any rate brought to the forefront, by Benjamin Franklin." Mark Twain's were the "greatest of all."

And then there was Ronald Reagan. "Mr. Reagan had thousands of one-liners." Here a grin spreads across Mr. Johnson's face: "That's what made him a great president."

Jokes, he argues, were a vital communication tool for President Reagan "because he could illustrate points with them." Mr. Johnson adopts a remarkable vocal impression of America's 40th president and delivers an example: "You know, he said, 'I'm not too worried about the deficit. It's big enough to take care of itself.'" Recovering from his own laughter, he adds: "Of course, that's an excellent one-liner, but it's also a perfectly valid economic point." Then his expression grows serious again and he concludes: "You don't get that from Obama. He talks in paragraphs."

***
Mr. Johnson has written about the famous and notorious around the world and across centuries, but he's not above telling of his personal encounters with history. He is, he says, "one of a dwindling band of people who actually met" Winston Churchill.

"In 1946," he tells me, "he came up to my hometown because he was speaking at the Conservative Party conference up the road. And I managed to get in just as he was about to leave to make his speech. And I was 16. He seemed friendly, so I was inspired to say, 'Mr. Winston Churchill, sir, to what do you attribute your success in life?' And he said without any hesitation"—here Mr. Johnson drops his voice and puts on a passable Churchill impression—"'Conservation of energy. Never stand up when you can sit down. And never sit down when you can lie down,'" he relates with a laugh. "And I've never forgotten this," he says, "because as a matter of fact, it's perfectly good advice."

Here he adds the kicker: "Interestingly enough, Theodore Roosevelt, who had a lot in common with Winston Churchill in many ways, but was quite a bit older, said of him, 'Oh, that Winston Churchill, he is not a gentleman. He doesn't get to his feet when a lady enters the room.'"

Mr. Carney is editorial page editor of The Wall Street Journal Europe and the co-author of "Freedom, Inc." (Crown Business, 2009).