Com perdão da pergunta, mas ela me veio à mente imediatamente depois de ler a chamada da matéria, sem sequer ter lido ainda a própria, o que vou fazer ao mesmo tempo que vocês. Em todo caso, eu sempre reajo instintivamente quando vejo alguma ideia maluca sendo veiculada. Que me perdõem os leitores mas eu tenho alergia à burrice e ojeriza à estupidez, e o Brasil é palco para as duas coisas, em doses cavalares, daí a contundência do título deste post.
A chamada é a seguinte (no boletim eletrônico
Congresso em Foco):
Comissão de Seguridade aprova “bolsa estupro”
Medida institui compensação financeira às mulheres que optarem por ter filhos decorrentes de violência sexual. Grupos feministas criticam proposta, que desestimularia aborto.(
link para a matéria, que vou ler depois de formular minhas ideias, certamente pré-concebidas e maldosas).
Pois bem, vamos lá, o que eu teria de inteligente (se me permitem meus leitores) a dizer sobre essa chamada?
Em primeiro lugar, que o Brasil é um país certamente rico, nadando em dinheiro, estupendamente tão avançado que ele sequer sabe o que fazer de tanto dinheiro, e os legisladores saem por aí, distribuindo dinheiro a go-go, para todo mundo: bolsa-família, bolsa-gestante, bolsa-cárcere, bolsa-funeral, whatever. Você pensa e nossos geniais legisladores criam uma bolsa à sua medida e circunstância. Feliz o país que pode tratar assim tão generosamente os seus filhos varonis (só pode ser de uma mãe gentil), pois nem na Europa, reincidentemente relapsa e irresponsável, onde preferem lazer a trabalho (e deixam a segurança a cargo desses estúpidos americanos), eles conseguem imaginar todas essas formas de fazer aumentar a Felicidade Bruta do País (e bota bruta nisso).
Em segundo lugar, eu não sei quanto vai custar essa bolsa-estupro, mas meus modestos conhecimentos de economia me permitem prever (e aposto com quem quiser, toda a minha biblioteca -- my God -- que vai acontecer exatamente isso) que vai ser criado algo como um mercado paralelo de estupros: você finge que foi estuprada, vai na delegacia declarar que foi atacada assim e assim, não conhece o estuprador (um namorado da esquina, talvez até em família) e pede a bolsa-estupro...
Também não sei como vão aplicar a medida, mas provavelmente vão criar toda uma nova administração (a Estuprobras?) para cuidar das pobrezinhas estupradas...
Em terceiro lugar, eu confesso não entender a posição das "feministas brasileiras", que, segundo a chamada (atenção, estou sendo maldoso; não li a matéria ainda), "criticam proposta, que desestimularia aborto".
Uau!, que fantástico, inacreditável, impagável (estrito e lato senso).
Então, as feministas brasileiras não querem nada que desestimule o aborto? Elas pretendem que o aborto seja assim como, vejamos, fazer as unhas na manicure? Um serviço de livre disposição de qualquer cidadã que não deseje ter um filho (de estupro ou não)??? Eles são pela Abortobras? (sim, claro, tudo cai na conta do Estado, ou seja, no seu bolso).
Bem, depois de despejar todas as minhas ideias malucas, venho a ler a matéria, com vocês. Comentários inteligentes, como sempre, são bem vindos. Os outros, bem, sinceramente eu dispenso...
Paulo Roberto de Almeida
Comissão de Seguridade aprova “bolsa estupro”Reportagens Especiais
Renata Camargo
Congresso em FocoQuarta-Feira, 26 de Maio de 2010Medida institui compensação financeira às mulheres que optarem por ter filhos decorrentes de violência sexual e pode comprometer avanço de pesquisas com células-tronco.
Projeto prevê indenização para mães vítimas de estupro que optem por não abortar seus filhos
Sob forte polêmica, a Comissão de Seguridade Social da Câmara aprovou na semana passada um projeto de lei que, entre outras coisas, institui um benefício econômico para mulheres vítimas de estupro, que não desejam realizar aborto. A proposta, batizada por feministas como “bolsa estupro”, prevê o pagamento de benefício para mulheres violentadas que não tenham condições financeiras para cuidar da futura criança.
A proposta segue agora para a Comissão de Finanças e Tributação, onde será analisada a viabilidade financeira da matéria. De acordo com o texto aprovado, o Estado arcará com os custos do desenvolvimento e da educação da criança até que venha a ser identificado e responsabilizado o genitor (o estuprador) ou que a criança seja adotada por terceiros. Se identificado o responsável pelo estupro, ele, além de responder criminalmente, deverá pagar pensão ao filho por período a ser determinado.
A iniciativa foi recebida com protestos por entidades feministas favoráveis à legalização do aborto. Elas alegam que ao beneficiar mulheres vítimas da violência com uma ‘bolsa’, o Estado está sendo conivente com a violência. As entidades afirmam que a proposta abre pressupostos para que estupradores reivindiquem direitos de pai e que a intenção da iniciativa é dificultar o acesso de mulheres vítimas de estupro aos procedimentos públicos de aborto legal.
“Essa bolsa é uma forma das mulheres não recorrerem ao aborto legal. É uma iniciativa muito grave, pois dá a um criminoso os direitos de pai e, além disso, institui a tortura, já que a mulher será obrigada a ficar nove meses carregando o bebê vítima de estupro. Esse projeto é retrógrado e fundamentalista”, disse a coordenadora nacional da Articulação das Mulheres do Brasil e da Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, Rogéria Peixinho.
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Até agora são dois os comentários, felizmente inteligentes a essa matéria:
Myrian (26/05/2010 - 10h47):
Quanta à bolsa estupro, sugiro aos ilustres parlamentares que a debitem da conta corrente do estuprador, visto que o estupro não foi cometido pela totalidade dos brasileiros, muito menos pela ala feminina da população. Não auferimos prazer nenhum do ato e não vejo porque teremos que pagar por isso. Seria muito bem vinda a atitude, por parte dos parlamentares, de deixarem de enfiar a mão no bolso do povo como se fosse um saco sem fundo, porque não é. Já pagamos por inúmeras sarabandas. Queiram cobrar a conta dos responsáveis. A eleitora penhorada agradece.
Sobral (26/05/2010 - 10h42):
Difícil de entender a posição da coordenadora Rogéria Peixinho. Fica a impressão de que o ideal dos movimentos feministas é obrigar as mulheres ao aborto. Inicialmente eu entendia que estava sendo defendido o direito a escolha. Será que escolher o difícil caminho da superação, isentando a criança da punição por algo que não teve culpa (nem dolo), não é também uma escolha? Será que o Estado não pode assistir quem toma essa difícil e nobre iniciativa? Devemos então inventar uma sociedade onde as atitudes nobres devem ser ignoradas? Fico preocupado, pois se seguirmos o caminho proposto por esses movimentos, em poucos anos nada vai diferenciar os humanos dos outros animais (como esses movimentos gostam de nos classificar, simples animais).