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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Depois da assistencia publica nacional, a internacional


Primeiro a matéria, depois meus comentários:

Petistas apoiam Dilma na defesa de 'bolsa família' global 
Boletim da Liderança do PT na CD, 7/11/2011, INF 4813

A presidenta Dilma Rousseff manifestou apoio a uma antiga proposta da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para estabelecer uma espécie de programa de renda mínima global, em moldes semelhantes ao programa brasileiro do Bolsa Família. A declaração ocorreu, na última semana, durante reunião da cúpula do G20, em Cannes, na França. “O Brasil tem uma experiência exitosa de enfrentar a crise com inclusão social e geração de empregos”, afirmou Dilma enfatizando que a inclusão de 40 milhões de brasileiros na classe média foi não somente um impositivo moral, mas também uma questão de eficiência econômica”, afirmou
O vice-líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que o programa serve de exemplo para o mundo. “Os resultados do Bolsa Família, criado e desenvolvido no governo do ex-presidente Lula e, atualmente, aperfeiçoado pela presidenta Dilma, atestam que o Brasil tem a solução para resolver o problema de um bilhão de pessoas que vivem na miséria no mundo”, destacou.

Imposto Mundial - Dilma também manifestou simpatia à proposta da OIT, de criação de um imposto mundial sobre operações financeiras para bancar programas sociais. “O Brasil não se opõe a uma taxa financeira mundial se isso for consenso entre os países a favor da ampliação dos investimentos sociais”, afirmou. O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, elogiou a posição da presidenta. “Esse apoio mostra que a presidenta Dilma está preocupada não apenas com os assuntos relativos a macro economia, mas também, na resolução dos problemas sociais, que podem ser viabilizados com a adoção de um imposto para taxar operações financeiras, principalmente as de caráter especulativo”, ressaltou.

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Agora meus comentários (PRA):

Governo do PT e petistas querem universalizar a assistência pública

No início do seu governo, aliás, até mesmo antes da inauguração do seu governo, o presidente Lula quis universalizar um programa, criado no papel pelos assessores econômicos do PT e que sequer havia sido ainda testado na prática: era o famoso Fome Zero, que Lula queria transformar em Fome Zero Universal.
Não é preciso dizer que foi um fracasso completo, não apenas no Brasil, mas igualmente no mundo, onde ele nem chegou a decolar por falta de apoios suficientes.
No caso do Brasil, era um programa mal concebido, mal administrado e focado no que seria uma população fantástica de “desnutridos”, num momento em que o IBGE anunciava que o número de obesos, no Brasil, era muito maior do que o de supostos famélicos.
Enfim, todos sabem o que aconteceu com o Fome Zero brasileiro: ele morreu de morte morrida e de morte matada, ingloriosamente, tendo sido absorvido, mas apenas em suas facetas financeiras pelo Bolsa Família, uma assemblagem de programas existentes herdados do governo anterior – o que os petistas nunca reconheceram, diga-se de passagem – mas ele foi, obviamente vendido, aqui e no exterior, como tendo tido enorme sucesso. Enfim, todos sabem que o maior sucesso do governo petista é mesmo a propaganda, ainda que a custa de enormes recursos despejados nas agências de publicidade.
O Fome Zero Universal foi um rotundo fracasso, não tendo passado sequer das etapas preliminares, uma vez que ele duplicava diversos programas existentes no mundo, administrados seja pela FAO – Programa Mundial de Alimentos – seja pelo PNUD (em diversos programas assistenciais alimentares, emergenciais ou “normais”. Lula foi avisado disso, e seu governo foi chamado a associar-se a um dos programas já existentes, tal como administrados pela ONU: ora, se a intenção era acabar com a fome no mundo, por que não contribuir com isso.
Não: Lula e o governo brasileiro insistiram que pretendiam ter um programa exclusivo, associado ao Fome Zero brasileiro e recusaram-se a associar-se aos programas em curso.
Não é preciso dizer, tampouco, que esse Fome Zero Universal nem chegou a decolar. Pereceu nos escombros dos projetos ambiciosos e irrealizáveis.
Em seu lugar, o governo Lula teve de contentar-se com um magro programa de aquisição de medicamentos anti-Aids, para a África, a ser financiado por uma nova taxa sobre os transportes aéreos que o governo brasileiro nunca chegou a implementar, e acabou esquecendo nas gavetas do Congresso.

Agora, não contente de pregar projetos que apenas refletem os fantasmas habituais dos petistas e associados, o governo brasileiro reincide pregando mais um projeto de assistência pública universal, achando que o que ele conduz no plano nacional deve necessariamente servir para toda a humanidade.

E quanto ao apoio do Brasil a um imposto sobre transações financeiras internacionais?
Considero a ideia, ou a sugestão, completamente estapafúrdia, sem sentido, no plano econômico – já que taxação de qualquer tipo apenas encarece o custo do bem ou serviço que se pretende intercambiar – e sem qualquer utilidade do ponto de vista brasileiro, aliás totalmente prejudicial aos interesses nacionais.
Pensemos: se o Brasil é, e continuará sendo, pelo futuro previsível, um país importador de capitais, por que encarecer essa tomada de recursos no plano externo com um imposto voluntário? Para encarecer os empréstimos ou emissões de bônus?

Já escrevi algo a respeito neste post:

Reproduzo aqui o essencial:
Temos o IOF, claro, mas ele é feito para evitar o excesso de fluxos exclusivamente financeiros entrando no Brasil, que podem multiplicar o meio circulante, causar inflação e "aproveitar" nossas taxas de juros excessivamente altas (mas aqui os culpados somos nós mesmos, certo?; se oferecemos taxas generosas de juros aos emprestadores de capital, depois não podemos reclamar que eles chegam justamente para aproveitar isso).
Mas o assunto agora é adotar não mais um imposto interno (que isso podemos e sabemos fazer como ninguém), e sim uma regra multilateral, não determinada por nós, de taxação sobre capitais financeiros sabe-se lá com quais alíquotas, para quais tipos de capital, e com qual destinação, exatamente. Ou seja, IOF somos nós que aplicamos, quanto e quando assim o decidirmos. Taxa Tobin, ou qualquer outro nome, seria uma baliza comum, ao qual o Brasil aderiria. Mas por que, e com quais objetivos?
A mim, me parece completamente estapafúrdia a ideia. Se nos abrimos a capitais financeiros, é porque, supostamente, precisamos acolher capitais, de todos os tipos: IED, aplicações em bolsa, ou emissões globais, ou seja, empréstimos soberanos.
Que diabos teríamos como vantagem taxar esse capital que queremos atrair?
Confesso que não entendi.
Se os países europeus pretendem taxar esses fluxos porque os governos irresponsáveis gastaram muito dinheiro do contribuinte, já não conseguem arrecadar mais por meio de impostos sobre a população, e decidem então tirar uma casquinha do sistema bancário (que será paga pelos contribuintes e usuários do sistema, não tenham dúvida disso), que diabos teríamos nós como interesse seguir a mesma política de taxação?
Por que deveríamos dar um tiro no pé apenas por que outros o estão fazendo?
Política maluca essa...

Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Expandindo o Estado assistencialista: construindo um Brasil inviavel

Não se trata de considerar que os gastos do Bolsa Família são orçamentariamente insuportáveis, porque não o são: representam menos da metade, talvez uma quarta parte do "Bolsa-Empresários" e do ajutório a banqueiros, que o governo promove por diferentes meios e mecanismos de transferência de dinheiro para quem já é rico. O governo sempre fez isso e continua fazendo.
Trata-se simplesmente da criação de uma mentalidade assistencialista que vai dividir o Brasil em duas nações: a dos assistidos e a dos pagantes, sendo que os primeiros já se consideram titulares de um direito irrevogável, como se constata abaixo.

Beneficiários do Bolsa Família querem mais
Folha.com, 11.08.2010

Setenta e oito por cento dos beneficiários do Programa Bolsa Família preferem a expansão do número de atendidos e outros 22% defendem o aumento do valor do benefício.

Isso é o que revela pesquisa encomendada pelo MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Entre as pessoas que estão fora do programa, 85% defendem a inclusão de mais famílias e 15% preferem que o valor do benefício seja aumentado.

Somando beneficiários e não atendidos, 82% responderam pela expansão, contra 18% que optaram pelo aumento do repasse do programa.

A pesquisa avaliou também se as famílias têm dificuldades para cumprir as exigências do programa, como permanência das crianças na escola e vacinação em dia.

Do total de entrevistados, 81% responderam não enfrentar problemas no cumprimento das condições exigidas pelo Bolsa Família.

Entre as famílias urbanas, 84% disseram não ter dificuldade, contra 71% das que vivem no meio rural. Mais de 90% dos entrevistados sabe e entende quais são os critérios para ingressar no programa, conforme a pesquisa.

O Ifpri (Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares), responsável pela pesquisa, ouviu famílias beneficiárias e não contempladas pelo programa.

O objetivo é medir os efeitos provocados pelo programa nas condições de vida dos beneficiários.

As famílias beneficiária ou não atendidas pelo programa foram ouvidas em 2005 e em 2009. Na primeira rodada, foram entrevistadas 15.426 famílias em 269 municípios.

Em 2009, cerca de 11 mil famílias foram novamente entrevistadas. De acordo com os pesquisadores, a perda de amostra ocorre por dificuldades em localizar as famílias, mas foi considerada dentro dos padrões.

A maioria dos dados divulgados hoje se referem à avaliação de 2009. O programa atende hoje a 12,6 milhões de famílias.

domingo, 11 de julho de 2010

Brasil: a caminho de uma economia inviavel

O Brasil está construindo um estado assistencialista, um estado-mamãe, a partir de programas políticos alimentados com o dinheiro de todos os cidadãos contribuintes, que são todos aqueles que tem renda suficiente a partir de seu trabalho e empreendedorismo, administrado por políticos que estão simplemente à caça de votos.
Não apenas isso: o Brasil está sendo dividido em linhas raciais e, sobretudo, entre uma nação de pagadores e uma nação de assistidos.
Esse é o caminho mais rápido para a decadência econômica, o que quer que digam os que acham uma maravilha esses gestos de solidariedade bem intencionada (em favor dos políticos, obviamente).
Como é possível ter um terço da nação sob assistência pública?
Como fomos chegar a esse absurdo?
Mistura de demagogia com irresponsabilidade, certamente.
Vamos pagar um alto preço por isso, em termos de menos crescimento, de bloqueio de reformas, de mediocridade dos serviços públicos, de crise nos sistemas previdenciário e de saúde, até uma grande crise de confiança na nação, e talvez uma decadência estilo Argentina ou Inglaterra (antes de Margareth Tatcher) exemplar...
Paulo Roberto de Almeida

A bolsa dos votos
Gaudêncio Torquato
O Estado de S.Paulo, 11 de julho de 2010

Nem bem a campanha eleitoral ganha as ruas, petistas e tucanos afinam as trombetas para anunciar: "A bolsa é nossa." Ambos disputam a paternidade do Bolsa-Família, gigantesco ímã capaz de atrair votos para seus candidatos à Presidência da República. Não seria mais útil se cada partido apresentasse modos de aperfeiçoar esse programa de distribuição de renda, de forma a torná-lo meio, e não um fim em si mesmo? Mas se brigam pela paternidade, qual deve ser apontado como pai do programa-símbolo da era Lula? Sob o amparo bíblico do rei Salomão, vale anotar que ambas as siglas estão por trás da ideia original, eis que exemplos pioneiros e simultâneos de políticas de combate à pobreza foram o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM) e o Bolsa-Escola, implantados em 1995 e patrocinados, respectivamente, por um tucano, o prefeito Magalhães Teixeira, de Campinas, e pelo então petista Cristovam Buarque, no governo do Distrito Federal. Pouco antes, em 1993, o sociólogo Betinho levantava a bandeira da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida.

Vieram, depois, os desdobramentos. No ciclo FHC, José Serra criou o Bolsa-Alimentação e o ministro da Educação na época, Paulo Renato Souza, sob a supervisão da antropóloga Ruth Cardoso, instalava o Bolsa-Escola e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. A era Lula abriu o malsucedido Fome Zero, que deu lugar à unificação dos programas de distribuição de renda, surgindo assim o Bolsa-Família, hoje poderoso canal que despeja nos lares de 12,4 milhões de famílias (totalizando 49,2 milhões de beneficiários) cerca de R$ 13 bilhões. Feitos os devidos créditos, aos candidatos sobra o desafio de dizer o que e como farão para melhorar a eficácia daquela ação, cujo caráter paternalista é duramente criticado por não apresentar portas de saída do ciclo da pobreza. Os candidatos começam a campanha dizendo que a questão social está no cerne de suas preocupações. A ex-ministra Dilma Rousseff argumenta que a condição para o Brasil galgar o patamar das nações desenvolvidas está na erradicação da miséria. Serra, por sua vez, recebeu de seu partido a proposta de elevar o valor do Bolsa-Família ao teto de R$ 255. Hoje esse valor vai de R$ 22 a R$ 200.

Ora, prometer continuar com o programa ou elevar simplesmente a quantia recebida pelas famílias parecem medidas eleitoreiras. Importa, sobretudo, saber que alternativas os presidenciáveis vislumbram para evitar que o Bolsa-Família se perpetue como moeda de troca nos instantes eleitorais e possa transformar-se em ferramenta de desconstrução do círculo vicioso da exclusão social. É um erro tratar do Bolsa-Família sem considerar outras frentes voltadas para as metas de inclusão e desenvolvimento autossustentável das populações. Deveriam complementar o programa de segurança alimentar ações nas áreas de saúde e educação e políticas de articulação e integração dos setores produtivos das regiões. No tocante à educação, a radiografia da qualidade do ensino no País, exposta com a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), pode ser o ponto de partida para a construção da ponte que liga a base assistencialista a outros vetores mais centrais da cidadania. O aluno de uma escola pública, como se viu, está três anos atrás do aluno de uma escola particular, mesmo com tempo maior de estudo. Já a qualidade do ensino brasileiro caiu em mais de mil municípios no ano passado, apesar de as médias nacionais terem subido entre 2007 e 2009.

Sem educação de qualidade será mantido o status quo do assistencialismo. Essa é a indicação que passa pela unanimidade dos especialistas. Como disse Mandela, "a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo". Revolução educacional não é uma utopia. Bom exemplo é Cajuru, cidade de 22 mil habitantes na região de Ribeirão Preto, com orçamento de R$ 33 milhões, dos quais R$ 12 milhões vão para a educação. Cajuru conseguiu a média mais alta do Ideb - 8,6 -, numa escala de 0 a 10, contando com um corpo de 200 professores, 136 dos quais fizeram curso de Pedagogia, e com escolas modernas e bem aparelhadas. Ali não há evasão escolar. O Brasil arcaico, como se pode aduzir, está preso à carcomida estrutura educacional. Neste ponto, cabe arrematar: o desenvolvimento autossustentado do País só ocorrerá quando a população tiver, a partir da educação, acesso ao pleno emprego, à renda e ao consumo.

A iniciativa privada, por sua vez, há de ser convocada para a tarefa de colaborar com os programas de elevação social, principalmente os que buscam inserir as pessoas no mercado de trabalho. Em alguns Estados nascem experiências interessantes. Grupos privados, abrindo uma portinha de saída para o Bolsa-Família, implantam sistemas de seleção de trabalhadores, com perfis predefinidos, dando preferência aos beneficiários do programa. Há casos de pessoas que ganhavam R$ 120 e passaram a ter um salário de R$ 1 mil. No interior de Minas Gerais, no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso, essa alternativa passa a ser adotada. Trata-se de iniciativa pioneira que engaja nichos produtivos sediados nas regiões cobertas pelos programas assistenciais do governo. Outros exemplos dão conta da oferta de crédito e assistência técnica a grupos dispostos a iniciar um pequeno negócio. Com a prosperidade do empreendimento as pessoas podem dispensar o benefício. Vale lembrar que em muitos municípios se desenvolve muita resistência à inserção no mercado por causa da cultura de acomodação propiciada pela bolsa. Beneficiários declinam de ofertas de emprego nas municipalidades - serviços de limpeza de ruas, por exemplo - por não desejarem perder o auxílio do governo. Essa é uma faceta dos danos gerados pelo programa. E que, infelizmente, dá vazão ao lamuriento canto de Gonzagão: "Mas, doutô, uma esmola a um homem qui é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão." Hoje, mais vicia do que mata de vergonha.

JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP E CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO