Dez anos de Diplomatizzando,
quinze blogs em treze anos...
Paulo Roberto de Almeida
[Balanço geral
da escrevinhação, contabilidade do Diplomatizzando]
Eu me defino como um
“escrevinhador”, ou seja, alguém que vive, não da escrita, mas pela escrita,
com a escrita, para a escrita, isso como resultado de muita leitura, pois eu
também sou alguém que vive com os livros, pelos livros, para os livros. Ambas
atividades, ou posturas, são inseparáveis, totalmente indissociáveis, e entre
as duas perpassa uma postura de constante reflexão, que parte da observação das
coisas da vida, do panorama comparado do que fazem os países, do que eles
fizeram ao longo da história, e que também se combina com uma outra atitude
minha: a anotação constante das coisas que leio, das que observo, que atiçam
minha atenção, que despertam minha inteligência e que me levam aos caminhos de
mais leituras e mais escrevinhação.
Numa primeira fase da
vida, na era AC, ou seja, antes dos computadores, a escrita constituía o que o
nome diz: caligrafia própria em cadernos de notas, diversos, muitos,
sucessivos, numa determinada etapa divididos na várias áreas das humanidades
(história, sociologia, antropologia, marxismo, Brasil, etc.), um pouco mais
tarde, por meio de máquinas de escrever. Meu maior investimento nessa era AC
foi a aquisição de uma IBM elétrica de esfera, que junto com uma copiadora xerox,
ambas para fazer a tese de doutoramento, me custaram tanto quanto um carro
usado, a preços de Suíça.
Depois veio a era DC, depois
do computador, e todos eles foram Apple: por uma espécie de pecado original,
sempre fui um macmaníaco exclusivo e excludente, e isso aumentou tremendamente
a minha produtividade. Hesitei muito antes de investidor no meu primeiro
computador, também na Suíça (mas já numa segunda estada), e ele deve ter
custado quase tanto quanto um outro carro usado: era um MacIntosh Plus de segunda
mão, no qual tudo tinha de caber dentro de um disquete de 720 kb. Uma limitação
terrível para quem, como eu, que sempre escreveu demais, e não podia mesmo
caber num simples disquete. Meu segundo investimento nessa fase, portanto, ainda
no mesmo ano de 1987, foi a compra de um disco rígido externo, quando descobri
que a Irlanda, que até pouco antes parecia relativamente pobre, mas tinha se
transformado numa espécie de zona franca de acessórios de informática.
A escrevinhação aumentou
de forma exponencial a partir de então, dispensando completamente os cadernos
manuscritos para passar aos arquivos de computador (em diversos processadores
de texto, antes de aderir, enfim, ao inevitável Microsoft Word do desprezado
Bill Gates). O computador aumenta a produtividade, mas também facilita aquele
velho princípio do Lavoisier, segundo o qual trabalhos antigos são reciclados
na base do “save as” ou do “copy and paste”. Mas esta é outra questão, neste
balanço de uma outra questão, a passagem a outra era da minha escrevinhação: a
divulgação dos trabalhos em suportes cibernéticos, via internet, o que até
meados dos anos 1990 era feita exclusivamente por meio de correio eletrônico ou
de de sites improvisados.
Eu ingressei na era da
internet, AI, um pouco tardiamente, só no início dos anos 1990, na passagem de
Montevidéu, até o início de 1992, para Paris, em setembro de 1993, com uma
curta estada em Brasília no meio. Ainda na base do acesso discado, com as
dificuldades que se conhecem, e navegando lentamente pelo Netscape, o padrão e
quase único software de navegação da então nascente world wide web. Logo em
seguida, começaram ofertas de hospedagem gratuita, tipo Geocities, Tripod e
outros do gênero. Demoraram vários anos ainda para que eu criasse o meu próprio
domínio, e encontrasse meu próprio provedor de hospedagem, não que eu fosse um
conservador por natureza, ou arredio a novas tecnologias, mas é que sempre
recusei ler manuais e aprender linguagem html, ou de webdesign, mas isso foi
feito, de alguma forma antes da virado do século, do milênio, do bug do ano
2000 (que não me impressionou muito).
O site individual não é
exatamente uma forma de comunicação, apenas uma biblioteca aberta de forma
passiva à informação, a partir da qual é possível, se assim decidido, repassar materiais
a terceiros pela via do e-mail (o que nunca fiz), ou receber visitantes, que
podem, ou não, deixar sua marca direta ou indireta no site. Acabei adotando
essa TIC também de forma relutante, pois ela implica em certo trabalho de
construção, administração, alimentação, e só o fiz para não ter de ficar
respondendo individualmente às muitas demandas e questionamentos de leitores de
meus trabalhos, geralmente a propósito do Mercosul, da integração regional, ou
de temas de relações internacionais, de forma geral, ou de política externa e
diplomacia brasileira, em especial. O material estava disponibilizado e cada um
podia se servir à vontade, no formato de simples leitura ou no mais tradicional
“copy and paste” para trabalhos de curso. Enfim, sites acadêmicos são feitos
para isso mesmo.
A administração e a
alimentação de um site pessoal requerem, entretanto, um trabalho adicional,
para a transposição dos textos nos formatos adequados e o seu carregamento via
ferramentas especializadas, a organização dentro do site, etc. Esse trabalho
cansativo foi o que me motivou, também tardiamente, a adotar a tecnologia dos
blogs, o que só feito no final de 2005, o primeiro blog, que levava o meu nome,
num total de um dúzia deles, sucessivamente ou para finalidades específicas.
Incompetente como sou na administração desse tipo de ferramenta, acabei abrindo
novos blogs cada vez que o corrente apresentava algum problema de carregamento,
além de outros que procurei reservar para determinadas áreas de especialização
(resenhas de livros, textos de terceiros, eleições presidenciais, estada na
China, quando não para os meus próprios livros ou meu itinerário intelectual).
O fato é que o blog Diplomatizzando,
que sucedeu ao Diplomatizando, veio a luz num dia 17 de junho de 2006, tendo já
completado, portanto, dez anos de vida, sem que outros tenham deixado de
existir, e de coabitar nessa década, embora com cada vez menor recurso
gradativamente. Se eu fizer a contagem das postagens exclusivamente neste blog
principal, elas somaram, mais de 16.500, segundo a contagem do próprio blog,
número que deve ser somado às postagens nos blogs anteriores, ou antecedentes
(meu primeiro, sob o meu nome, um segundo, chamado de “Cousas Diplomáticas”, e
um terceiro, já designado como “Diplomatizando”). Como eu tinha o cuidado de
numerar cada postagem produzida, as postagens que antecederam este
Diplomatizzando alcançaram um número aproximado de 487, o que daria, portanto,
quase 17 mil inserções nesta sequência de blogs estritamente pessoais.
Se somo a isto todas as
demais postagens em blogs paralelos, isto é, aqueles especializados (Vivendo
com Livros, Textos, Book Reviews, DiplomataZ, Shanghai Express, Academia, e
mais dois dedicados respectivamente às eleições de 2006 e de 2010), chego a uma
totalização paralela superior a 2.800 postagens. Somando, portanto, esses
números de postagens a todos as demais, chego à uma conta de quase 20 mil
postagens desde dezembro de 2005, quando dei início a esta saraivada de
materiais. Ainda que grande parte do material seja transcrição de imprensa, ou
escritos diversos de terceiros, eles sempre exigem algum tratamento preliminar,
leitura pelo menos rápida, para algum comentário inicial, e depois postagem.
Tudo isso pode ser verificado no próprio blog Diplomatizzando, que traz
a listagem de todos os blogs sob a minha exclusiva responsabilidade.
Trata-se, sem nenhuma
dúvida, de um volume impressionante de produção, com comentários sempre
substantivos, muitas ilustrações e um diálogo unilateral com meus leitores, que
nunca me preocupei em ficar metrificando. Nessa produtividade cabe aliás contar
uma outra parte da “escrevinhação”, que é as respostas que sempre procurei dar
aos comentários feitos por leitores, sem esquecer as feitas através do site
pessoal, onde também existe um formulário de contato, através do qual recebo
perguntas, mensagens, que depois respondo por e-mail. Não posso assim, ser
acusado de não ser um um prolífico "escrevinhador". Pois bem, vejamos
isso agora.
Computando apenas meu blog Diplomatizzando, que teve
início em 17 de junho de 2006, já com a marca de 486 postagens anteriores (ou
seja, nos blogs antecedentes, como o Diplomatizando, com apenas um z, e dois
outros, anteriores), ele marcava, na data de ontem, 18 de junho de 2016, isto
é, dez anos e um dia depois, 16.693 postagens, o que dividido por 10 anos, ou
3.650 dias, indica uma produtividade de 4,7 postagens ao dia, ou cerca de 140
por mês no decurso dessa década.
Volto a lembrar que muitas dessas postagens foram
constituídas a partir de materiais de terceiros, ou seja, transcrições de
matérias da imprensa, relatórios, estudos, quaisquer tipos de informações que
julgo interessantes do ponto de vista do meu “público” – geralmente estudantes
e pesquisadores de relações internacionais e política externa do Brasil, com
uma grande extensão a todas as áreas da política internacional e da economia
mundial, latino-americana e brasileira – mas às quais eu sempre procurei
agregar um comentário antecedendo a transcrição dessas matérias. Talvez um
terço tenha sido de produção minha, também, de diversos tipos.
Em todas as minhas postagens, por mais leves ou
anódinas que possam ter sido, procurei preservar um determinado padrão de
qualidade, seja ao abordar reflexões sobre a vida diplomática até simples observações
sobre a vida diária, livros e quaisquer outros temas que interessam à
inteligência humana, numa linguagem que espero saborosa e ao mesmo tempo despretensiosa,
refletindo certa cultura e algum refinamento intelectual, como seu reproduzisse
uma espécie de equivalente digital dos antigos salões de debates do Ancien
Régime, ou da République des Lettres.
Abandonei, quase
completamente, todos os demais blogs, para concentrar-me quase exclusivamente
no Diplomatizzando, mas ainda preciso fazer não só um balanço mais preciso de
todos eles, como também empreender um esforço de recuperação de trabalhos
relevantes, que não tenham sido recuperados nos meus registros de trabalhos
originais. Penso isso, por exemplo, de muitos comentários a programas eleitorais
a partir dos dois blogs de campanhas presidenciais, ou no blog Shanghai
Express, quando me dediquei a entender a China por meio de comentários a
materiais os mais diversos. Em outros termos, minha produção pode ainda
aumentar, devido ao trabalho dos blogs, o que me parece natural, pois muitos
comentários poderiam preencher páginas e páginas de escritos substantivos, mas
que permaneceram inéditos, a não ser por essa via.
Mais recentemente, ano e
meio para trás, acabei aderindo também a uma outra ferramenta, o Facebook, que
evitei durante muito tempo, sempre sob a mesma escusa de não querer “perder
tempo” com “fofoca”, ou material “sem valor”, para poder empregar o máximo de
tempo na leitura de livros, jornais, revistas, e no meu vício eterno, a arte da
escrevinhação. Mas todos somos obrigados a nos render, em algum momento a esse
novo e universal instrumento, inclusive para poupar tempo, pois a ferramenta
permite alguma assemblagem de notícias diversas que de outra forma precisariam
ser buscadas a cada vez nos sites dos principais jornais e revistas: os colegas
de Facebook acabam nos trazendo essas notícias já selecionadas, uma vez que se
tenha selecionado os “bons amigos” e excluído os chatos e inconvenientes (e
como os há no FB).
Por fim, não há como
ignorar os instrumentos próprios de busca e recebimento de materiais diversos,
os assembladores de notícias – tipo Feedly, por exemplo – ou os alertas que
selecionamos segundo nossas próprias preferências: tenho vários conceitos ao abrigo
do Google Alert: política externa brasileira, diplomacia brasileira, história diplomática,
etc. Não esquecer tampouco as assinaturas em listas especializadas, tipo história
econômica, América Latina, e várias outras mais, ademais das remessas feitas
por think tanks de minha escolha. Tudo isso conforma uma massa impressionante
de materiais que entram continuamente em minha caixa de entrada, ou que pipocam
o tempo todo na tela, chamando a atenção para “leitura imediata”. Last, but not
the least, as mensagens das “amizades desconhecidas”, cultivadas por algum
motivo qualquer nas mesmas ferramentas. Sempre existe algum material que
encontra o caminho do blog Diplomatizzando.
Não tenho bolo ou
velinhas para soprar pelo décimo aniversário deste meu blog, que já faz parte,
acredito, da paisagem de diplomacia brasileira e de áreas afins, o que não
deixa de ser uma ocupação “didática” gratificante, ao lado das aulas regulares
que ministro na disciplina de Economia Política nos programas de mestrado e
doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília. OK, acho que basta
isso para comemorar dignamente os primeiros dez anos do Diplomatizzando. Longa
vida a esse pequeno espaço de liberdade, muitas vezes definido como um quilombo
de resistência intelectual em momentos sombrios da governança política, quando
quase fomos arrastados para um patrimonialismo de tipo gangster, por força das
opções eleitorais da maioria do povo. Creio que fiz a minha parte no trabalho
de resistência, e disso posso me orgulhar...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de junho de 2016
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