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terça-feira, 23 de julho de 2024

Banho de sangue e guerra civil na Venezuela? - Rubens Barbosa (Estadão)

  Opinião

Banho de sangue e guerra civil na Venezuela?

Em vista das incertezas que cercam o resultado da eleição presidencial venezuelana, é possível considerar quatro cenários

Rubens Barbosa

O Estado decS. Paulo, 23/07/2024 | 03h00

Na eleição presidencial da Venezuela, que será realizada no próximo domingo, a oposição tem chances reais de vitória contra o regime autoritário de Caracas. As pesquisas mostram vitória tanto da oposição como de Nicolás Maduro (certamente manipuladas).

O governo Maduro dificultou por todas as formas a indicação de um candidato competitivo de oposição. Dissidentes foram presos arbitrariamente, eleições foram fraudadas, eleitores foram cooptados com a distribuição de alimentos, 15 prefeitos contra o governo foram destituídos e 50 cabos eleitorais da oposição, nos últimos meses, foram presos. Por mudança de regras, apenas 1% dos 4,5 milhões de venezuelanos exilados, que poderiam votar no exterior (cerca de 25% do eleitorado nacional), poderá votar.

A oposição venezuelana, sempre dividida, conseguiu, inicialmente, unir-se em torno de María Corina Machado, que havia sido inabilitada pela Justiça Eleitoral de apresentar-se como candidata. Sua substituta, Corina Yoris, professora de 80 anos, por dificuldades técnicas colocadas pelo governo, não pôde inscrever-se, sendo substituída por Edmundo González, diplomata, sem participação política.

A eleição ocorre depois de conversações dos EUA, Brasil e países europeus com Maduro para realização de um pleito transparente e justo em troca da suspensão de algumas sanções econômicas impostas por Washington. Maduro aceitou os entendimentos e assinou com a oposição um acordo em Barbados em outubro, comprometendo-se a realizar uma eleição democrática. Pouco depois, rompeu o acordo com a desculpa de que os EUA não ajudaram a Venezuela a recuperar o acesso às contas internacionais congeladas, e as arbitrariedades continuaram. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, apresentou a Maduro e aos líderes da oposição a ideia de que o vencedor da eleição estendesse ao opositor alguma forma de anistia.

A situação às vésperas do pleito torna-se ainda mais confusa quando se observa que o governo Maduro retomou as conversas com os EUA, desconvidou a União Europeia a mandar observadores para a eleição e segue com os preparativos para eventual ataque à Guiana.

Os problemas com a cúpula do regime – investigação internacional por corrupção e abusos de direito, além de acusações dos EUA de narcoterrorismo – poderão dificultar eventual saída de Maduro, que conta com o apoio de grupos radicais (liderados pelo poderoso deputado Diosdado Cabello) e, até agora, das Forças Armadas.

Em vista das incertezas que cercam o resultado eleitoral, é possível considerar quatro cenários:

1) Vitória de Maduro: pelas informações disponíveis e pesquisas de opinião pública até aqui, a vitória de Maduro só poderá acontecer pela manipulação da apuração e dos resultados eleitorais, aceita pelo Conselho Eleitoral, controlado pelo governo. Com poucos observadores internacionais independentes – Carter Center, Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro –, essa atitude geraria forte reação internacional, imposição de novas sanções econômicas à Venezuela e nova onda de refugiados para o exterior.

2) Vitória da oposição: as pesquisas indicam ampla vitória de González, pela maciça participação da população, urbana e rural, votando contra o governo. Esse resultado pode ensejar uma reação antidemocrática de Maduro ao se recusar a aceitar a vitória da oposição, durante o período de transição de seis meses até a posse do novo governo, gerando grave crise institucional. Para acalmar a cúpula do governo, González poderia oferecer garantias confiáveis de segurança e uma possível anistia a Maduro e a algumas autoridades do regime para fazê-los desistir do poder. Sem anistia, dificilmente haverá transição. González não se pronunciou sobre essa questão, afirmando em artigo nesta semana que, se vitorioso, promoverá a reconciliação nacional.

3) Suspensão da eleição: o governo Maduro denunciou supostos “planos violentos e desestabilizadores”, com a interferência de agentes externos, especialmente dos EUA, e a ameaça de guerra civil, fatos que, junto com uma ação militar contra a Guiana, podem ser invocados para adiar a eleição.

4) Contestação da eleição: com as ameaças do governo e as denúncias da oposição de prisões e restrições violentas ao voto livre e democrático, é muito provável que qualquer resultado da eleição seja contestado por um dos lados, o que torna incerto o reconhecimento do vencedor no período de transição.

A reação do governo Maduro à voz das urnas pode representar um forte constrangimento ao governo do PT. Lula da Silva sempre apoiou Hugo Chávez e Maduro, classificando o regime atual de democrático, mas procurou influir junto ao governo de Caracas para garantir legitimidade das eleições pela transparência e lisura. Lula teria apoiado a proposta de anistia apresentada pelo presidente da Colômbia e teria insistido para que a União Europeia enviasse observadores para acompanhar a eleição e a apuração. Maduro agora fala em “banho de sangue e guerra civil” em caso de derrota na eleição. Lula declarou que vai reconhecer o resultado da eleição e que “se assustou com” a ameaça de Maduro. O governo brasileiro vai manter o apoio a Maduro se o resultado for contestado? A repercussão internacional poderá respingar na credibilidade do governo Lula e deixar exposta a baixa influência do Brasil na região.

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/banho-de-sangue-e-guerra-civil-na-venezuela/

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Venezuela: um banho de sangue em preparacao? Nao vai ser como a Ucrania, vai ser pior...

Na Ucrânia foram mais ou menos 70 a 100 mortos (apenas em Kiev), mas lá a população ocupou inteiramente a praça principal da cidade durante três meses, resistindo ao banho de sangue da última quinta-feira. Chegou um momento em que os resistentes da praça Maidan começaram a se armar com armas vindas de outras cidades, e aí os policiais do aparato repressivo desistiram de ir a uma luta que não lhes era nada simpática, e começava a ficar perigosa. Eles simplesmente se retiraram, ou seja, a repressão deixou de existir depois do banho de sangue.
Com essas mortes, uma troika europeia simplesmente deu um ultimatum ao presidente: marque eleições para sua saída. Ele até marcou, mas foi "renunciado" antes pelo Parlamento, que finalmente se decidiu a evitar mais mortes, afastando um boneco de Putin.
Na Venezuela, os manifestantes -- pacíficos, ou armados apenas de paus e pedras -- lutam não apenas contra todo o aparelho repressivo das forças policiais e militares, como também são atingidos por balas disparadas por mercenários, snipers, esbirros do regime, que também existiam na Ucrânia.
Mas, eles não podem contar com a divisão do Parlamento e sequer, muito menos, totalmente inexistente, a pressão dos países vizinhos, que vão assistir calados ao massacre de populares.
Não tenho nenhuma dúvida: um banho de sangue se aproxima. A população decente da Venezuela pagará um alto preço por protestar pacificamente contra a máfia de assassinos totalitários que se apossou do poder.
Para nossa vergonha, o Brasil permanecerá calado ante os crimes.
Raras vezes senti vergonha do meu país: uma delas foi durante a ditadura, quando me auto-exilei no exterior.
Esta pode ser outra.
Paulo Roberto de Almeida




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Middle Class Joins Protest

Middle Class Joins Protest

CreditMeridith Kohut for The New York Times
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SAN CRISTÓBAL, Venezuela — As dawn broke, the residents of a quiet neighborhood here readied for battle. Some piled rocks to be used as projectiles. Others built barricades. A pair of teenagers made firebombs as the adults looked on.
These were not your ordinary urban guerrillas. They included a manicurist, a medical supplies saleswoman, a schoolteacher, a businessman and a hardware store worker.
As the National Guard roared around the corner on motorcycles and in an armored riot vehicle, the people in this tightly knit middle-class neighborhood, who on any other Monday morning would have been heading to work or taking their children to school, rushed into the street, hurling rocks and shouting obscenities. The guardsmen responded with tear gas and shotgun fire, leaving a man bleeding in a doorway.


“We’re normal people but we’re all affected by what’s happening,” said Carlos Alviarez, 39, who seemed vaguely bewildered to find himself in the middle of the street where the whiff of tear gas lingered. “Look. I’ve got a rock in my hand and I’m the distributor for Adidas eyewear in Venezuela.”
The biggest protests since the death of the longtime leader Hugo Chávez nearly a year ago are sweeping Venezuela, rapidly expanding from the student protests that began this month on a campus in this western city into a much broader array of people across the country. On Monday, residents in Caracas, the capital, and other Venezuelan cities piled furniture, tree limbs, chain-link fence, sewer grates and washing machines to block roads in a coordinated action against the government.
Behind the outpouring is more than the litany of problems that have long bedeviled Venezuela, a country with the world’s largest oil reserves but also one of the highest inflation rates. Adding to the perennial frustrations over violent crime and chronic shortages of basic goods like milk and toilet paper, the outrage is being fueled by President Nicolás Maduro’s aggressive response to public dissent, including deploying hundreds of soldiers here and sending fighter jets to make low, threatening passes over the city.
On Monday, the state governor, who belongs to Mr. Maduro’s party, broke ranks and challenged the president’s tactics, defending the right of students to protest and criticizing the flyovers, a rare dissent from within the government.
Polarization is a touchstone of Venezuelan politics, which was bitterly divided during the 14-year presidency of Mr. Chávez, Mr. Maduro’s mentor. But while Mr. Chávez would excoriate and punish opponents, he had keen political instincts and often seemed to know when to back off just enough to keep things from boiling over.


Now Mr. Maduro, his chosen successor, who is less charismatic and is struggling to contend with a deeply troubled economy, has taken a hard line on expressions of discontent, squeezing the news media, arresting a prominent opposition politician and sending the National Guard into residential areas to quash the protests.
Two people were killed on Monday, including a man here in San Cristóbal who, according to his family, fell from a roof after guardsmen shot tear gas at him. There is disagreement on whether all the deaths nationwide cited by the government are directly associated with the protests, but the death toll is probably at least a dozen.
In this neighborhood, Barrio Sucre, residents said they were outraged last week when a guardsman fired a shotgun at a woman and her adult son, sending both to the hospital with serious wounds. In response, the residents built barricades to keep the guardsmen out. On Monday, after guardsmen made an early sortie into the neighborhood, firing tear gas and buckshot at people’s homes, the inflamed and sometimes terrified residents prepared to drive them back.
Across town, Isbeth Zambrano, 39, a mother of two, still fumed about the time two days earlier when the National Guard drove onto the street, where children were playing, and fired tear gas at residents. Now she sat in front of her apartment building, casually guarding a beer crate full of firebombs.
“We want this government to go away,” she said. “We want freedom, no more crime, we want medicine.” Around her neck, like a scarf, she wore a diaper printed with small teddy bears. It was soaked in vinegar, to ward off the effects of tear gas, in case of another attack.
Unlike the protests in neighboring Brazil last year, when the government tried to defuse anger by promising to fix ailing services and make changes to the political system, Mr. Maduro says the protesters are fascists conducting a coup against his government. He has largely refused to acknowledge their complaints, focusing instead on violence linked to the unrest. Here in Táchira State, he says the protests are infiltrated by right-wing Colombian paramilitary groups, and he has threatened to arrest the mayor of San Cristóbal.
Mr. Maduro’s stance is mirrored by the intensity among the protesters. While he has called for a national conference on Wednesday and some opposition politicians have urged dialogue, a majority of protesters here, most of them longtime government opponents, rejected that option.
“They’ve been mocking us for 15 years, sacking the country,” said Ramón Arellano, 54, a government worker, while a burning refrigerator in the street behind him blotted out the sky with a cone of black smoke. “A dialogue from one side while the other turns a deaf ear, that’s not fair.”
Like most of the protesters here, Mr. Arellano said he wanted a change of government. Protesters say that could be achieved by having Mr. Maduro resign, or be removed through a recall election or changes to the Constitution.
Mr. Maduro says he will not leave office, and he continues to have wide support among those loyal to Mr. Chávez’s legacy.
This state, and especially San Cristóbal, the state capital, are longtime opposition strongholds. The opposition presidential candidate, Henrique Capriles, received 73 percent of the vote in San Cristóbal when he ran against Mr. Maduro last April.
A city of 260,000, San Cristóbal was almost completely shut down on Monday. Residents had set up dozens of barricades all around town. In many areas, residents set out nails or drove pieces of rebar into the pavement, leaving them partly exposed, to puncture tires.
In Barrio Sucre, Escarlet Pedraza, 19, showed two motorcycles that she said had been crushed by National Guard troops, who drove armored vehicles over them. She recorded the event on her cellphone camera.
Later, residents burned tires and threw rocks at guardsmen, who advanced and entered a side street, firing tear gas and shotguns directly at the houses.
The guardsmen broke open a garage door in one house and smashed the windshield of a car inside. The house next door filled with tear gas and the family inside, including two young children, choked in the fumes. “I’m indignant,” said Victoria Pérez, the mother, weeping. “This is getting out of hand. It’s arrogance, it’s a desire for power.”
A student, his face covered with a cloth, kicked angrily at a house where a pro-government family lives, shouting at them to join the protest. Other residents rushed in to stop him.

Nearby, a neighbor, Teresa Contreras, 53, flipped through the channels on her television, showing how there was no coverage of the violence, a sign, she said, of the government control over the news media.
Earlier, Andrea Altuve, 38, a teacher, watched the preparations for the coming battle, with people adding to barricades and children pouring gasoline into beer bottles for makeshift bombs.
“It looks like a civil war,” she said. “They are sending the National Guard into the neighborhoods out of fear.”