Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Transcrevo, sem comentários no momento, excelente relatório feito pelo professor Francisco Roque de Oliveira, sobre o colóquio recentemente realizado na Biblioteca Nacional de Portugal, em torno da obra no exílio do mais insigne representante da historiografia luso-brasileira do século XX. Paulo Roberto de Almeida
Nos dias 10 e 11 de Maio de 2018 decorreu na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, o Simpósio Internacional Jaime Cortesão: escritos e geografias do exílio.Tratou-se de uma iniciativa conjunta do CEG-Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa e do CHAM-Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores, em parceria com a Biblioteca Nacional de Portugal. Esta reunião foi realizada no âmbito das actividades do Projecto de Investigação FCT/CAPES «Saberes geográficos e geografia institucional: influência e relações recíprocas entre Portugal e o Brasil no século XX», desenvolvido no Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, e do grupo de investigação Leitura e Formas de Escrita do CHAM.
Este Simpósio propôs-se reunir os mais recentes resultados da investigação que vem sendo realizada em torno da obra do autor de Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid e da História do Brasil nos velhos mapas. Pretendeu-se também aprofundar o conhecimento sobre os sucessivos contextos de exílio que Jaime Cortesão enfrentou na Europa e no Brasil durante mais de 30 anos, com destaque para aqueles que decorreram na Espanha republicana e no Rio de Janeiro das décadas de 1940 e 1950. Esta iniciativa foi ainda pensada como uma oportunidade para reflectir sobre o importante legado de Cortesão enquanto editor e tradutor, assim como para analisar o estado actual dos projectos de edição da sua obra, tanto em Portugal como no Brasil.
A escolha da Biblioteca Nacional de Portugal para local de realização deste Simpósio representou um gesto simbólico. Jaime Cortesão (1884–1960) foi o mais destacado director da então chamada Biblioteca Nacional de Lisboa durante a I República Portuguesa (1910–1926). A partir de 1919, quando foi nomeado para esse cargo, Cortesão teve oportunidade de executar aí um notável trabalho de reorganização administrativa e técnica e – sobretudo – de doutrinação cultural e cívica, tendo sido saneado em 1927, na sequência da instauração da ditadura militar em Portugal. Médico por formação e escritor por vocação, este intelectual multifacetado foi poeta e ficcionista, dramaturgo e escritor de viagens, pedagogo das Universidades Populares das primeiras décadas do século XX e, finalmente, o historiador-geógrafo que realizou a síntese entre a historiografia dos Annales de Lucien Febvre e Marc Bloch e a geografia humana de Camille Vallaux e Jean Brunhes aplicada à história de Portugal e do seu império.
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Cortesão foi estudado como um protagonista, entre outros, de uma brilhante diáspora política e científica que tem inúmeras afinidades com a diáspora republicana espanhola que se viu obrigada a reinventar-se nas Américas na mesma época, fazendo frutificar aí as suas competências intelectuais e o seu cosmopolitismo.
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Jaime Cortesão foi também um homem de acção política muito empenhado e, por isso mesmo, sempre muito temido pela ditadura portuguesa. Os atribulados anos da sua permanência em Espanha e França, entre 1927 e 1940, representam a experiência de um dos principais protagonistas de exílio republicano português acossado e disperso entre Madrid, Barcelona, o sul de França e Paris. Banido para o Brasil por ordem de Salazar, em 1940, Cortesão relançou no Rio de Janeiro o magistério e as pesquisas que fizeram dele a mais importante figura da historiografia luso-brasileira do século XX. Regressado definitivamente a Portugal em 1957, foi eleito presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e proposto como candidato à Presidência da República pela oposição não comunista organizada sob a égide do Directório Democrato-Social, indigitação essa que declinou. Preso uma última vez por motivos políticos quando contava já 74 anos de idade, foi libertado na sequência de uma intensa campanha internacional de protesto encabeçada pela imprensa brasileira. Depois de reinstaurada da democracia em Portugal, Cortesão seria reintegrado na função pública a título póstumo, restituindo-se-lhe então as honras e dignidades de que fora arbitrariamente privado, como se lê no Decreto-Lei 275, de 14 de Agosto de 1980, que determinou esta reparação moral.
Através do estudo de algumas das principais peças da obra de Jaime Cortesão, os participantes neste Simpósio tiveram oportunidade de inquirir aspectos associados à duradoura marca deixada na ciência e na universidade portuguesas por força dos exílios e de toda a série constrangimentos mais discretos, mas nem por isso menos eficazes, impostos pela ditadura à actividade científica e ao saber em geral. Nesse sentido, Cortesão foi também estudado como um protagonista, entre outros, de uma brilhante diáspora política e científica que tem inúmeras afinidades com a diáspora republicana espanhola que se viu obrigada a reinventar-se nas Américas na mesma época, fazendo frutificar aí as suas competências intelectuais e o seu cosmopolitismo. O Simpósio estruturou-se em três mesas distintas, precedidas por uma sessão de abertura e uma conferência inaugural, conforme a sequência que passamos a resenhar.
Usaram da palavra na sessão de abertura os directores dos dois Centros de investigação organizadores – Mário Vale pelo CEG e João Paulo Oliveira e Costa pelo CHAM –, Carlos Kessel, chefe do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Lisboa, Vera Lucia Amaral Ferlini, responsável pela Cátedra Jaime Cortesão da Universidade de São Paulo e Instituto Camões, para além de Francisco Roque de Oliveira, pela comissão organizadora do Simpósio. A lição inaugural esteve a cargo de Joaquim Romero Magalhães (Universidade de Coimbra), que dissertou sobre «O desconhecido Brasil, de los comienzos a 1799, de Jaime Cortesão (1956)». Trata-se de uma obra que apareceu integrada no volume 26 da Historia de América y de los Pueblos Americanos dirigida por Antonio Ballesteros y Berreta, publicada em Barcelona pela Editorial Salvat. Sabe-se que a mesma obra teve origem num contrato assinado ainda em 1933, quando Cortesão vivia exilado em Madrid e cuja concretização em livro seria protelada pelas vicissitudes da Guerra Civil de Espanha e da II Guerra Mundial.
A primeira mesa do Simpósio foi subordinada ao tema «Jaime Cortesão, editor e edições», tendo sido preenchida por duas comunicações que articularam a principal actividade de Cortesão enquanto publicista durante a I República Portuguesa e o seu contributo como editor e tradutor ao longo das décadas seguintes. Daniel Pires (Centro de Estudos Bocageanos e CLEPUL-Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa) trouxe uma comunicação sobre «Jaime Cortesão, o Grupo da Biblioteca e a Seara Nova», tendo apresentado uma carta desconhecida na qual o escritor e jornalista Raul Proença – chefe da Divisão dos Serviços Técnicos da Biblioteca Nacional durante a Direcção de Cortesão – se insurge contra a censura imposta na sequência do golpe militar do 28 de Maio de 1926, que instituiu a ditadura em Portugal. Coube a Daniel Melo (CHAM) apresentar «Jaime Cortesão enquanto promotor da edição e da leitura», sumariando a fecunda actividade que decorreu entre a colaboração de Cortesão com o movimento cultural Renascença Portuguesa e o magistério da Universidade Popular do Porto, em 1914, e o seu trabalho como editor literário no Brasil, passando pelo compromisso que teve com a Associação Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura, em particular por via da participação nos Congressos Internacionais de Escritores pela Defesa da Cultura de 1935 (Paris) e 1937 (Valência-Madrid-Barcelona-Paris).
A segunda mesa foi dedicada à «Escrita da História», agrupando quatro comunicações. Vera Ferlini apresentou «Jaime Cortesão: novas dimensões para a História de São Paulo». Partindo das obras A Fundação de São Paulo – Capital Geográfica do Brasil (1955), Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid (1952–1961) e Raposo Tavares e a Formação Territorial do Brasil (1958), Ferlini salientou o modo como as mesmas dialogaram com as perspectivas historiográficas do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) e as teses de alguns dos seus notáveis historiadores brasileiros de então, como Afonso d’Escragnolle Taunay e Sérgio Buarque de Holanda. Renato Amado Peixoto (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) centrou a sua intervenção intitulada «Oxymoron: Cortesão, Varnhagen, o Meridiano de Tordesilhas e a representação da Formação do Brasil» numa perspectiva equivalente a essa. Neste caso, tratou-se de confrontar alguns dos conteúdos consolidados na historiografia brasileira do século XIX, que se repercutiram duradouramente na construção programática da identidade nacional através do ensino da Geografia e da História, com algumas das teses que Cortesão gizou para explicar o processo de formação territorial deste país e que formalizou em dois projectos editorais organizados no âmbito do Ministério das Relações Exteriores do Brasil: o Atlas Histórico do Brasil (1959) e a História do Brasil nos velhos mapas (1957–1971).
«Os irmãos Jaime e Armando Cortesão. Dos exílios e das polémicas historiográficas na expansão atlântica» constituiu o título escolhido por Rui S. Andrade (Centro de História da Universidade de Lisboa), numa comunicação centrada em algumas das mais relevantes teorias que estes dois historiadores desenvolveram ao longo de décadas no quadro de um esforço intelectual mais vasto, com raízes fundas na historiografia do século XIX, e de que são exemplo a chamada «política do sigilo» e o suposto descobrimento pré-colombino da América pelos portugueses. Como ilustrou Andrade, tais teorias estiveram na origem de um intenso debate travado entre os irmãos Cortesão e diversos académicos anglo-saxónicos, assim como com alguns dos seus pares portugueses e brasileiros, constituindo um dos aspectos mais interessantes, mas também mais controversos do seu legado. A fechar a sessão, José Manuel Garcia (Academia Portuguesa da História) apresentou «Os Descobrimentos Portugueses de Jaime Cortesão: balanço de uma carreira historiográfica». Como o título indicia, tratou-se de uma abordagem àquela que constitui a última grande empresa historiográfica de Cortesão, vista aqui, simultaneamente, como ponto de chegada e síntese monumental de cerca de quatro décadas de carreira no domínio da história da expansão portuguesa.
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Entre as sucessivas iniciativas aglutinadoras da oposição portuguesa no exílio dinamizadas por Jaime Cortesão, destacou-se a União dos Antifascistas Portugueses Residentes em Espanha, criada em Madrid depois da vitória eleitoral da Frente Popular, em Fevereiro de 1936, e a Delegação da Frente Popular Portuguesa instituída em Barcelona com apoio do governo republicano e da Generalitat da Catalunha.
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A última mesa do Simpósio agrupou três comunicações à volta do tema genérico «Geografias do exílio». Cristina Clímaco (Université Paris 8) leu «O exílio europeu de Jaime Cortesão e a luta antifascista (1927–1940)», descrevendo e contextualizando os períodos de permanência de Cortesão em Espanha e França na sequência da sua participação na frustrada revolta de Fevereiro de 1927 contra a ditadura militar portuguesa e o papel que lhe coube como dinamizador de sucessivas iniciativas aglutinadoras da oposição no exílio. Entre estas, Clímaco destacou a União dos Antifascistas Portugueses Residentes em Espanha, criada em Madrid depois da vitória eleitoral da Frente Popular, em Fevereiro de 1936, e a Delegação da Frente Popular Portuguesa instituída em Barcelona com apoio do governo republicano e da Generalitat da Catalunha. Francisco Roque de Oliveira (CEG-Universidade de Lisboa), Roger Lee de Jesus (Universidade de Coimbra) e Rui S. Andrade apresentaram «Abraça-te o teu irmão muito amigo: a correspondência entre Jaime e Armando Cortesão», tendo sintetizado o conteúdo do extenso conjunto de cartas dispersas pelos arquivos de Lisboa, Coimbra e Rio de Janeiro através das quais se podem seguir as vicissitudes do exílio durante muito tempo partilhado pelos irmãos Cortesão, os contextos que os enquadraram, assim como o desenvolvimento das respectivas obras científicas, designadamente no domínio da história da cartografia, cujo interesse partilharam. Por último, Aquilino Machado (CEG-Universidade de Lisboa) expôs «Do Vera Cruz ao Brasil: entre a viagem de Aquilino Ribeiro e as geografias do exílio de Jaime Cortesão», comunicação centrada nos registos autógrafos e na documentação existente sobre a deslocação de Aquilino Ribeiro ao Brasil, em 1952, e o círculo de sociabilidades do exílio político português aí radicado com o qual este escritor manteve importantes contactos.
Em sessão extraordinária que decorreu no início do segundo dia de trabalhos, Roger Lee de Jesus introduziu os dois únicos registos sonoros de Jaime Cortesão editados em disco no final da década de 1950. De seguida, o mesmo Roger Lee de Jesus e Francisco Roque de Oliveira apresentaram o Diaporama que elaboraram a partir da longa entrevista concedida por Cortesão ao jornalista Igrejas Caeiro em 1958 e então emitida pelo Rádio Clube Português. Na mesma ocasião, foi exibido na sala Multimédia da Biblioteca Nacional o episódio do documentário À Porta da História dedicado a Jaime Cortesão. Realizado por Jorge Paixão da Costa para a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) em 2015, este episódio foi gentilmente cedido para exibição não comercial durante o Simpósio pela Ukbar Filmes. Paralelamente, os Serviços da Biblioteca Nacional de Portugal, coordenados por Manuela Rêgo, organizaram uma pequena mostra bibliográfica que reuniu algumas das mais importantes obras de Jaime Cortesão nos domínios da historiografia – sobretudo sobre o Brasil –, da crónica de viagens, do registo memorialístico de guerra e da poesia.
CENTRODEESTUDOSGEOGRÁFICOSDAUNIVERSIDADEDELISBOA. Saberes geográficos e geografia institucional: influência e relações recíprocas entre Portugal e o Brasil no século XX, Projecto Convénio FCT-CAPES, 2016–2018, Proc. 44.1.00 CAPES/8513/14–7. <http://www.ceg.ulisboa.pt/saberesgeograficos/>
OLIVEIRA, Francisco Roque de. A «Ilha Brasil» de Jaime Cortesão: ideias geográficas e expressão cartográfica de um conceito geopolítico. Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. [En línea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 25 febrero 2017, Vol. XXII, nº 1.191. <http://www.ub.edu/geocrit/b3w-1191.pdf>
Francisco Roque de Oliveira é investigador do Centro de Estudos Geográficos e professor no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.
A cartografia Cartografia do Brasil nas colecções da Biblioteca Nacional foi um projecto de levantamento e descrição da cartografia manuscrita e impressa relativa ao Brasil, existente nas colecções das Áreas de Cartografia, Iconografia e Divisão de Reservados da Biblioteca Nacional. O projecto, da responsabilidade da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e da Biblioteca Nacional, foi desenvolvido ao longo de dois anos (1998-2000) no âmbito das comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil.
O objectivo principal do projecto foi conhecer e divulgar a documentação cartográfica existente nas colecções da Biblioteca Nacional. Foram objecto de levantamento sistemático os documentos cartográficos, manuscritos e impressos, das colecções de Reservados, de Cartografia e de Iconografia. O período cronológico abrangido situou-se entre 1700 e 1822. A partir de 1700, pelo facto do século XVIII ser, por excelência, o tempo do Brasil na História da Cartografia Portuguesa; até 1822 porque a data da independência do território constitui, por si só, um marco cronológico com repercussões na responsabilidade e origem da cartografia oficial posterior .
Do levantamento realizado foram identificados e seleccionados trezentos e setenta e nove mapas, que deram origem a trezentas e trinta e três descrições bibliográficas, uma vez que alguns mapas se encontram subordinados a um título comum e, por essa razão, foram descritos em segundo nível. São mapas de autores portugueses e estrangeiros, incluindo reedições e variantes do mesmo mapa. Trata-se de um conjunto de mapas avulsos e de mapas oriundos de diferentes tipos de publicações, tais como livros de viagens, histórias gerais, atlas ou, ainda, mapas soltos ou conjuntos de mapas, que foram retirados das obras em que foram originalmente publicados. Foram contemplados os mapas desde a escala da planta de edifício até à escala da inserção do Brasil na América do Sul.
Este Projecto contou com a coordenação científica do Professor João Carlos Garcia, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e com a colaboração de especialistas de diferentes áreas do saber, designadamente com uma equipa de investigadores e bolseiros da Comissão Nacional para os Descobrimentos Portugueses das áreas de História da Cartografia, História do Brasil e Geografia Histórica; na Biblioteca Nacional, contou com a coordenação biblioteconómica da responsável da Área de Cartografia e envolveu uma equipa de funcionários, de diferentes áreas, entre os quais, os Bibliotecários que têm a seu cargo as colecções estudadas [Ficha técnica].
Procurou-se, assim, que a comunidade científica pudesse contar com uma obra de referência que disponibilizasse toda a informação resultante do estudo das colecções analisadas, informação essa que foi disponiblizada, de uma forma organizada e sistemática, de acordo com as normas internacionais em vigor, ISBD-CM (International Standard Bibliographic Description for Cartographic Materials).
Os resultados deste projecto consubstanciaram-se nas seguintes publicações e eventos:
The project The Cartography of Brazil in the Collections of the National Library consisted in a systematic inventory and description of all the manuscript and printed maps related to eighteenth-century Brazil that existed in the Special Collections of the National Library (Map Department, Manuscript and Rare Book Department, Prints and Drawings Department). This project was developed for two years (1998-2000) and was the outcome of a joint initiative of the National Library and the former National Commission for the Commemoration of the Portuguese Discoveries (CNCDP), in the context of the celebration of the five hundred years of the “discovery” of Brazil by Pedro Álvares Cabral in 1500.
The main goal of this project was to make an inventory of the eighteenth-century maps of Brazil existing in the collections of the National Library in order to make them available to the public. The printed and manuscript maps were selected from the collections kept in the Map Department, the Prints and Drawings Department, and the Rare Books and Manuscript Department. The maps are dated from 1700 to 1822. This time span can be easily explained, as the eighteenth-century corresponds to the most important period of Portuguese cartographic production concerning Brazil. The choice of the independence year of Brazil as the end of the period covered is due to the fact that it represented an important landmark, which also led to relevant changes concerning both the responsible agents and the production of official cartography. [Credits]
The project was scientifically coordinated by Professor João Carlos Garcia from the Geography Department of the University of Oporto, and had the collaboration of a research group that included researchers specialised in different areas, namely in History of Cartography, History of Brazil and Historical Geography, and scholars funded by the CNCDP. In the National Library, the project was coordinated by the curator of the Map Division, especially in what concerned all the matters related to librarianship, and also involved the librarians in charge of the different collections as well as other specialised staff with different technical responsibilities.
Another aim of this project was to make available to all the scientific community a work of reference that would comprise all the information that resulted from the study of the collections in an organised and systematic form, according to the established international norms or ISBD (International Standard Bibliographic Description).
The results of the project correspond to the following publications and events:
Este catálogo tem por base um levantamento sistemático realizado nas colecções especiais da Biblioteca Nacional (Reservados, Iconografia e Cartografia). Foram identificados e seleccionados 379 mapas, que deram origem a 333 descrições bibliográficas, uma vez que alguns mapas se encontram subordinados a um título comum e, por essa razão, foram descritos em segundo nível. São mapas de autores portugueses e estrangeiros, incluindo reedições e variantes do mesmo mapa. Trata-se de um conjunto de mapas avulsos e de mapas oriundos de diferentes tipos de publicações, tais como livros de viagens, histórias gerais, atlas ou, ainda, mapas soltos ou conjuntos de mapas, que foram retirados das obras em que foram originalmente publicados. Foram contemplados os mapas desde a escala da planta de edifício até à escala da inserção do Brasil na América do Sul.
Digital Catalogue
The research was carried out in the holdings of the National Library’s Special Collections (Manuscript and Rare Book Department, Prints and Drawings Department and Map Department), resulted in 333 records corresponding to a total of 379 maps, as some of them belong to the same work and were jointly catalogued. This group of maps are from Portuguese and foreign mapmakers and include different versions and editions of the same map. The catalogue comprises single maps and maps that were included in different kinds of publications like travel books, general histories, atlases, as well as loose maps, or factitious compilations of maps, that is to say, volumes of sets of maps bound together which were found out of the context of their original publications. It includes a great diversity of cartographic objects depicted in different scales, from the scale of a building plan to the scale of a general map of Brazil as part of South America.
A Cartografia do Brasil nas Colecções da Biblioteca Nacional (1700-1822) | Exposição
No caso do Brasil, o processo ideológico de identificacão do território de colonização portuguesa com a "Nova Lusitania" está indissociavelmente ligado à sua crescente importancia política e económica, que se verificou ao longo dos séculos XVII e XVIII, processo esse que ocorreu paralelo às sucessivas tentativas de atribuição de identidade e a construção do sentimento de unidade espacial, manifestando-se no pensamento político, na produção historiográfica, geográfica e cartográfica.
A exposição A Nova Lusitânia, que esteve patente na Biblioteca Nacional entre 23 de Novembro de 2000 e 21 Fevereiro de 2001, foi um dos resultados mais relevantes do projecto de inventariação da cartografia setecentista do Brasil, tendo permitido divulgar a qualidade e a diversidade dos mapas que se guardam na Biblioteca Nacional a um público mais vasto.
De um universo de mais de trezentos mapas foram seleccionados cerca de oitenta de entre os mais representativos, na sua maioria mapas impressos, mas também alguns manuscritos. Foram, assim, expostos quer mapas avulsos, quer mapas insertos em atlas ou outras obras, como descrições geográficas, livros de viagens, relatos de embaixadores, de militares ou de viajantes, de grande e de pequena escala, e de dimensões diferentes, que incluem desde pequenos mapas, que servem de ilustrações de livros, aos grandes mapas parietais da América do Sul.
Os mapas seleccionados foram organizados em cinco núcleos, em que procurámos reconstituir dentro da Biblioteca Nacional outras tantas bibliotecas setecentistas, onde cada um dos mapas, ou dos volumes que os contêm, poderiam ter estado antes de chegar até nós.